Capítulo II

Já na madrugada, a deusa da beleza ainda não tinha conseguido dormir. Se revirava de um lado para o outro na cama. As nuvens se dissiparam e a forte luz do luar voltou a irradiar, iluminando o quarto dela. Sentindo-se chamada pelo astro noturno, ela foi até a janela e admirou aquele esplêndido corpo celeste.

– Você é livre para percorrer esse imenso céu. E eu?

A jovem garota suspirou desanimada. Sem muito o que fazer, começou a observar os jardins e mais abaixo pequenos pontos distantes de luz. Era Olímpia, o reino dos deuses. A bela desejou ser livre, com todo seu coração e alma.

E na impulsividade de seus catorze anos, ela decidiu sair de seu refúgio para ver como eram as pessoas que estavam tão próximas dela. Do alto da janela de seu templo, a visão do jardim. Pular seria impossível, devido à altura. A única forma de se arriscar a sair seria pela lateral, onde havia uma oliveira. Mas, por se tratar de uma árvore de baixa estatura, só serviria para suavizar sua queda. Para retornar, deixaria improvisado alguns lençóis amarrados para servirem de corda.

Subiu, então, no peitoril da estreita janela. Estava com muito medo. Olhou novamente para a lua e pediu forças para seguir em frente. Tremendo muito, ela se esgueirou pela lateral da construção e no que achou que já tinha condições, saltou de uma só vez engolindo a seco o grito de pavor. Ao sentir seu corpo tocar a folhagem, fechou os olhos e com suas delicadas mãos tentou agarrar os galhos.

Seu plano não funcionou como esperava. Aterrissou de bruços no espesso tronco da árvore. Estava bastante dolorida. Mas, a alegria por ter conseguido sair de seus aposentos era maior do que qualquer dor que pudesse estar sentindo.

Imediatamente pulou até o chão e correu. Correu desesperadamente com medo de ser descoberta. Foi em direção à base da montanha, onde se localizava a cidade. Sem rumo, ela acabou chegando ao cais. As ruelas desconhecidas pareciam um labirinto para a menina. Estava ofegante e ávida por conhecer o local.

De repente, um homem que vagava sozinho se aproximou dela. Ela estava parada sob a luz da lua cheia, e ele se encantou imediatamente dizendo algumas palavras bonitas. Vênus ficou maravilhada com a fascinação dele por ela. Apreciou muito aquela sensação.

Mas, quando o homem tentou tocá-la, ela se desesperou e partiu muito assustada de volta pelo caminho que havia feito. No entanto, toda aquela mistura de intensas sensações, inflamou seu ego e ela ansiava ser desejada novamente.

Muito exaurida, ao chegar sob a janela de seus aposentos, percebeu que daria muito trabalho escalar até o topo. Mas precisava fazer isso rapidamente, pois os céus já davam indícios de que a manhã logo chegaria.

Subiu a oliveira a fim de alcançar o lençol. Se agarrou e começou a projetar seu corpo para cima. Buscou energia de sua alma para aguentar a escalada. Seus braços tremiam e parecia que a qualquer momento ela escorregaria de encontro ao chão. Muito persistente, ela conseguiu, mas tinha certeza de que se quisesse sair de novo deveria melhorar sua estratégia.

Ao pular para dentro, ouviu Amú.

– Bom dia, senhorita! O desjejum vai ser servido.

– Só um momento, Amú. Estou no banho.

Vênus despiu-se rapidamente e pôs-se a limpar seu corpo. Sentiu uma leve ardência em vários arranhões espalhados por seus braços e pernas. Precisaria de uma roupa que cobrisse esses pequenos ferimentos.

Muito rápida, ela se preparou e sentou-se à mesinha próxima a janela, autorizando que a criada trouxesse a refeição. Aproveitou o momento e ditou para ela uma lista de materiais que ela gostaria que fossem providenciados.

Aparentemente ninguém percebeu a ausência da deusa do amor naquela madrugada.

Os dias passaram com Vênus criando novas vestimentas para si mesma e, nas noites, ela elaborava uma corda com encaixes para os pés. Assim suas saídas seriam facilitadas.

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