Dois meses passaram. Athena estava introspectiva nos últimos dias. A mansidão da irmã à preocupava. Diante disso, chamou Amú.
– Em que posso ser útil, minha senhora?
– Como está a Vênus?
– Ultimamente ela está bem entretida com sua arte. Tem pedido materiais diversos com bastante frequência.
– Que bom! E como estão as coisas pela cidade?
– Os demais soldados não reportaram nenhum problema. Porém, há relatos de que uma entidade misteriosa tem surgido nos arredores do cais às noites de luar.
– E como descrevem tal entidade?
– Aqueles que a veem apenas dizem ser belíssima e encantadora. Os contatos são muito rápidos.
– Então é uma entidade feminina? – Athena ficou muito intrigada. – As pessoas conseguem interagir com ela?
– Sim, minha senhora! Os relatos são muito breves e todos provenientes de homens. A entidade surge e em poucos minutos desaparece. Apesar de deixar os indivíduos atordoados e com vagas lembranças, não faz mal a ninguém.
– Entendi. Faça-me o favor de convocar Shakina, Iolo, Tebas e Milo. Quero que reforcem a segurança do Palácio.
– A senhora acha que corremos perigo?
– É apenas uma medida preventiva. Vou tratar pessoalmente desse assunto e verificar que entidade é essa que tem surgido nos nossos domínios e quais suas intenções. Vá e reforce imediatamente a segurança.
– Sim, senhora!
Amú foi prontamente para seu posto de vigia e redigiu uma carta para seus companheiros, soldados de Olímpia. Entregou para o jovem mensageiro Mimi que partiu para enviar a seguinte mensagem:
“Aos Caros Soldados de Olímpia,
Venho a vós comunicar oficialmente que Athena solicita que todos retornem ao palácio para reagrupamento imediato e definição de novas atribuições.
Atenciosamente,
Amú”
Ao anoitecer, já se encontravam no salão principal do Palácio de Athena, Amú, Tebas, Milo, Shakina e Iolo. Todos ouviram atentamente as instruções de Athena referente ao novo posicionamento dos soldados que antes circulavam pelo perímetro de Olímpia.
Após o pronunciamento de Athena, eles foram jantar juntos.
– Será que teremos um pouco de emoção por aqui finalmente? – Disse Tebas saboreando o vinho.
– Não deve ser nenhum pouco emocionante encontrar uma entidade que aparece e desaparece em minutos. – Resmungou Milo.
– Se for tão linda quanto dizem, talvez valha a pena. – Tebas disse sorrindo batendo nas costas do amigo Milo.
– Athena deixou bem claro que vai resolver esse assunto pessoalmente. Nosso dever é apenas reforçar a segurança do Palácio. – Retrucou Shakina.
– Que assim seja feita a vontade dos deuses! Um brinde meus amigos! – Bufou Tebas, visivelmente embriagado e levantando sua taça ao ar.
Apenas Milo brindou com o soldado avinhado, esvoaçando a bebida fermentada por sobre a mesa ao tilintar de suas taças.
Após a rápida refeição, os soldados se posicionaram em seus novos postos. Amú continuou guardando a entrada para os aposentos de Vênus. Shakina ficou diante do templo de Zeus. Milo com a responsabilidade de proteger o templo de Athena. Iolo ficou aos arredores do jardim principal. E Tebas na base do Monte Olimpo.
Em segredo, Athena solicitou que o jovem Arantis, um soldado honorário, fosse até a cidade para investigar os fatos relacionados a tal entidade que surgira em Olímpia.
***
Vênus não fazia ideia dos rumores que estavam circulando pela cidade a respeito de suas visitas ao cais de Olímpia. Muito menos sabia da movimentação dos soldados de Athena por todo o palácio que habitava.
Ainda em clausura, ela completou quinze anos e vinha preparando uma linda vestimenta para sair e comemorar. Dessa vez, teria coragem de se aproximar mais e manter um diálogo com quem encontrasse.
Quando estava pronta para fugir, avistou pela janela uma sombra. Havia alguém no jardim. Resolveu esperar. E assim esperou por toda a noite, até adormecer. Ficou frustrada, pois não conseguiu sair.
Por mais duas noites sua saída foi impedida devido à presença daquela pessoa que não se ausentava. Vênus se deu conta de que algo havia mudado. Decidiu chamar Athena. Amú comunicou o desejo de Vênus a Athena, apesar de já ser madrugada.
Assim, Vênus foi autorizada a se encontrar com sua irmã.
– Aonde você vai assim? – Athena se espantou com a aparência da irmã.
Vênus estava com um vestido negro, tomara que caia bem justo e curto, e com uma longa calda que tinha um belíssimo efeito esvoaçante quando ela se movimentava. E também usava algumas flores brancas naturais no cabelo que estava solto e ondulado.
– Eu vou sair! E apenas quero te notificar que nem você nem mais ninguém vai me impedir. Eu cansei de ser prisioneira nesse lugar. – Vênus estava temerosa com a reação da irmã, porém muito segura e determinada.
– Eu não vou permitir que saia.
– Então, terá que me prender à força.
Vênus se dirigiu a saída e imediatamente Athena se pôs à sua frente. As duas irmãs se encaravam e uma forte tensão tomava conta do Monte Olimpo. Pressentindo que algo pior poderia acontecer entre as duas, Zeus surgiu surpreendendo as filhas.
– Athena! Haja com a sabedoria, minha filha. Vale a pena enfrentar sua irmã?
Compreendendo a mensagem que seu pai estava tentando lhe passar, Athena respirou fundo e deu um passo para o lado, permitindo que Vênus saísse.
A deusa do amor olhou para sua irmã, que estava de cabeça baixa, e depois para seu pai que lhe dera as costas. Ficou entristecida com a situação, mas estava decidida a se libertar e não perderia essa chance por nada.
– Não fique triste, Athena. Nós dois sabíamos que um dia não conseguiríamos mais prender Vênus.
– Eu sei, papai. Mas essa situação me deixa muito desconfortável. O que há de ser dela?
– Fique calma. Ela vai voltar.
Enquanto Zeus consolava Athena, a jovem Vênus percorreu os corredores do palácio afim de buscar um novo sentido para sua vida. Ao passar rapidamente por Iolo, o soldado se assustou com o vulto da bela correndo desesperadamente e gritou para que ela parasse. Em vão. Quando ele ameaçou correr atrás dela, ouviu uma voz o chamando.– Espere, Iolo!– Você viu aquilo? Quem era?– Era Vênus. E Athena deu ordens de não irmos atrás dela.– Como assim? O que está acontecendo aqui?– Vênus é a entidade que tem aparecido na cidade. Arantis foi designado para investigar o que estava acontecendo em nosso território. De alguma forma ela vinha fugindo sem que eu me desse conta. E agora, parece que se rebelou e os deuses não conseguem mais mantê-la aprisionada.– E o que faremos agora?– As ordens não mudaram. Devemos manter nossos postos e vigilância.– Está certo. – Iolo observou o caminho pelo qual Vênus tinha escapado e retornou para sua posição.Vênus adorava as noites de lua cheia porque todos p
Athena ficou atônita com o pedido da irmã. Por um instante a fitou. Vênus estava eufórica e ansiosa por ouvir sua resposta.– Me diga Vênus: de onde surgiu essa ideia repentina de querer lutar?A deusa do amor suspirou. Não queria dizer para a irmã o que tinha se passado com ela naquela madrugada. Provavelmente ouviria um prolongado sermão.– Minha querida, irmã... o que posso dizer é que realmente estou determinada a aprender a lutar e persistirei até alcançar meu objetivo. – Vênus respondeu muito séria. Apesar disso, Athena ainda não acreditava nas intenções dela. Mas como a amava muito, resolveu apoia-la.– Está bem. O que eu posso fazer para ajudá-la?– Gostaria que você me ajudasse a organizar um jantar para me apresentar aos soldados de Olímpia.– O quê? Nem pensar.– Qual o problema, Athena?– Você está tentando inventar meios de fugir de sua clausura. Por isso veio com essa história sem cabimento de querer lutar.– Eu não estou inventando nada. Já ficou bem claro que eu não ac
Vênus estava jogada em sua cama, com os pés agitados balançando de um lado ao outro, ora olhando para o teto ora observando de cabeça para baixo o vestido que estava no manequim. Era o que ela tinha feito para sua irmã. “Perfeito”, ela refletiu.Mas ao se dar conta de que faltavam apenas dois dias para o jantar e ela nem sequer tinha começado a fazer a própria vestimenta, ficou nervosa. Como faria algo que a deixasse bela e ao mesmo tempo ocultasse seu rosto?Seus pensamentos se perderam nesse pedido incompreensível de Athena. Não podia ter espelhos, as pessoas não podiam vê-la. Por quê?Tinha certeza de que era bela. Por um instante chegou a pensar que talvez a irmã tivesse inveja de sua beleza. Franziu a testa e levantou-se abruptamente como se quisesse espantar aqueles pensamentos tolos.– Minha irmã me ama! Há de ter outro motivo. Agora o que importa é fazer algo triunfal para mim. – Discutiu sozinha, a deusa do amor.Havia alguns livros sobre a escrivaninha de Vênus. Voltou a fol
Finalmente o dia do jantar planejado por Vênus tinha chegado. Tudo já estava organizado, deixando assim, o dia livre para as duas irmãs se dedicarem a si mesmas para o evento tão aguardado.Pela manhã, as duas adolescentes estavam em uma terma particular. Elas se banhavam nuas sob a suave luz do sol primaveril, em uma água morna perfumada com óleos e flores. Entre rosas, lichias e magnólias as deusas relaxavam e conversavam.– Vênus, você tem certeza que vai partir em treinamento? – No fundo de seu coração, Athena ainda queria fazer a irmã desistir de seus planos.– Tenho sim, irmã. Não há outra coisa que eu mais queira no momento.– Me diga, por favor, o que te fez desejar isso? – Athena queria entender o motivo que impulsionava Vênus a seguir por esse caminho imprevisível.Vênus ficou em silêncio por um tempo. Suspirou. Recordou-se da noite em que quase tinha sido ferida por um estranho, da jovem que a alertara sobre os perigos da noite e do medo e desalento que ainda sentia.– Quer
Todos ficaram apreensivos, esperando pela entrada da deusa. Caminhando delicadamente, Vênus surgiu, trajando um encantador vestido charmeuse cor de vinho, de um ombro só, bem marcado na cintura e com uma fenda na perna direita. Parecia uma sereia, estava muito sedutora. Para completar o seu visual, usava contas de pérolas em seu lindo cabelo castanho claro, levemente ondulado. Para ocultar seu rosto, como sua irmã havia pedido, ela usava um lenço semitransparente que cobria seu nariz e boca.A jovem parou por um instante e fez uma reverência aos convidados, sem nada falar. Continuou sua caminhada até chegar no local em que sua irmã estava.Athena ficou estarrecida com as vestes de Vênus. Sussurrou ao ouvido dela:– Está vestida de uma forma muito ousada.– Que bom que você gostou, irmãzinha. Você está linda também. – Vênus respondeu de forma sarcástica esperando que a irmã se contivesse.Um brinde foi feito em nome de Athena e Vênus.A aparência da jovem Vênus deixou a todos estontead
Na manhã seguinte, ao som do canto melodioso de vários pintassilgos que rodeavam por entre o jardim e a janela do quarto de Vênus, ela ainda se encontrava em sono profundo.Estranhando que a irmã ainda não tinha aparecido, conforme tinham combinado, Athena foi procurá-la em seu templo.Ao encontrar Vênus, ainda debruçada em sua cama e toda descoberta, Athena suspirou. Sentou-se ao lado dela e começou a balançar seu tronco a fim de que despertasse.– Acorde, Vênus! – Athena falou com doçura.Vênus despertou aos poucos.– Irmã?– Levante, vamos! Você já está atrasada para seu compromisso.– Ah! Não! Perdi a hora.Vênus deu um salto da cama e correu para tomar um banho. Athena a acompanhou e continuou conversando com a bela.– Gostou do jantar?– Eu adorei, irmã. Foi inesquecível. Gostei de todos, foram muito amáveis comigo. Fiquei tão feliz que custei a pegar no sono. É tão bom poder desfrutar da companhia de outras pessoas.– É verdade. Foi uma noite muito agradável mesmo. E você já de
Enquanto isso, no antigo campo de treinamento dos soldados, localizado em uma zona isolada na base do monte Olimpo, Iolo aguardava a chegada do mestre Moshi, conforme tinha sido avisado logo pela manhã pelo mensageiro Mimi. Ele estava bastante curioso para saber o que o mestre queria apenas com ele. Naquele momento, o jovem soldado estava bastante inquieto. A cerimônia da noite passada o tinha deixado estremecido. Vênus tomava todo o seu ser. O sentimento que tinha era de que estava enfeitiçado. Mal sabia ele o que o esperava.Perdido em seus pensamentos, avistou duas pessoas se aproximando. Logo reconheceu mestre Moshi.– A que devo a honra de ser convocado por meu mestre? – Iolo se levantou e logo fez uma reverência ao senhor.– Vim em nome de Athena, soldado! Fiquei encarregado de te dar uma missão.Iolo o ouvia atentamente sem dar atenção a acompanhante do mestre Moshi que continuou:– Essa menina que está aqui comigo se chama Ayume e foi designada pelos deuses para ser treinada c
Naquela manhã, mal o sol tinha surgido, Iolo já estava a porta do alojamento de Vênus. Ele batia insistentemente, mas ela não respondia. Vênus estava tão cansada que resistia a despertar. No susto, ouviu a voz de seu mestre e respondeu que já sairia. Rapidamente colocou o elmo na cabeça e saiu ainda com os olhos inchados. Ao encontrar Iolo, ele já parecia aborrecido.– Quando eu vir te encontrar, é para você já estar pronta!– Sim, mestre.– Vem comigo!Iolo começou a caminhar em direção à floresta.– Para onde vamos?– Para o seu local de treinamento.Vênus não conseguia acompanhar o ritmo de Iolo. O equipamento de proteção pesava bastante para ela. Mas tinha percebido uma vantagem em ficar para trás. Observava cada centímetro do corpo bem esculpido de Iolo. Ele usava uma calça preta que estava justa ao corpo e destacava sua boa forma. Ele também usava um colete semelhante ao dela, mas sem elmo, cotoveleiras ou joelheiras. Para ela, aquela caminhada estava sendo bem desgastante. Mata