Capítulo V

Athena ficou atônita com o pedido da irmã. Por um instante a fitou. Vênus estava eufórica e ansiosa por ouvir sua resposta.

– Me diga Vênus: de onde surgiu essa ideia repentina de querer lutar?

A deusa do amor suspirou. Não queria dizer para a irmã o que tinha se passado com ela naquela madrugada. Provavelmente ouviria um prolongado sermão.

– Minha querida, irmã... o que posso dizer é que realmente estou determinada a aprender a lutar e persistirei até alcançar meu objetivo. – Vênus respondeu muito séria. Apesar disso, Athena ainda não acreditava nas intenções dela. Mas como a amava muito, resolveu apoia-la.

– Está bem. O que eu posso fazer para ajudá-la?

– Gostaria que você me ajudasse a organizar um jantar para me apresentar aos soldados de Olímpia.

– O quê? Nem pensar.

– Qual o problema, Athena?

– Você está tentando inventar meios de fugir de sua clausura. Por isso veio com essa história sem cabimento de querer lutar.

– Eu não estou inventando nada. Já ficou bem claro que eu não aceitarei mais ficar presa em meu templo e você vai ter que digerir isso. Eu vou aprender a lutar! É o que realmente anseio de todo meu ser.

Athena sentiu toda a determinação de Vênus emanando de seu corpo.

– Para que você quer conhecer os soldados?

– Papai me disse que daqui a alguns meses acontecerá um torneio, no qual será escolhido um soldado honorário que te servirá pelo período de um ano. Eu quero participar desse torneio e preciso de um mestre para me treinar.

Athena ficou espantada. Realmente sua irmã já tinha um plano e estava convicta de sua vontade.

– Você quer que um dos soldados seja seu mestre?

– Isso mesmo, irmã. Quero conhecê-los, para escolher qual deles será meu mestre. Meu objetivo é vencer o Grande Torneio de Olímpia.

– Isso é um absurdo, Vênus. Esse torneio é perigoso. Caso haja uma ínfima probabilidade de você vencer, terá que me servir!

– Acho que esse prêmio é bem estranho mesmo. – Vênus sorriu. – Mas de fato te servirei ao conquistar a vitória.

– Não brinque com essas coisas, Vênus. – Athena estava muito séria. – Um deus jamais deve servir outro.

– Não me importo em te servir porque te amo. Acredite em mim. Eu vou aprender a lutar e vencerei esse torneio.

Athena ficou tocada com as palavras sinceras da irmã. A abraçou.

– Ainda estou temerosa com essa situação. Mas para seguir adiante precisamos da permissão de nosso pai.

– Eu já conversei com papai. E ele aceitou minha decisão.

– Sem restrições?

– Sem restrições!

Athena suspirou. Caminhou de um lado para outro enquanto refletia sobre tudo que sua irmã estava querendo fazer.

– Se é assim, vou te ajudar. Mas com duas condições.

– E o que seria?

– Você não vai mostrar o seu rosto para os soldados e também não vai revelar sua identidade durante o torneio.

– Espera aí! Por que os soldados não podem ver meu rosto? Existe alguma lei que os proíba?

Athena ficou constrangida.

– É apenas uma questão de respeito.

– E por que eu devo ser mais respeitada que você? Quando você está em conferência com seus soldados se dirige a eles diretamente, sem ocultar seu rosto, e eles olham abertamente para você.

Athena já não tinha mais argumentos para convencer a irmã.

– Por favor, Vênus! Se queres que eu te ajude nesse jantar, oculte seu rosto.

Vênus revirou os olhos e achou mais viável acatar o desejo da irmã do que perder mais tempo com discussões.

– Tudo bem. Eu pensarei em algo para chegar nesse jantar de forma oculta. E quanto a segunda condição eu aceito.

– Obrigada, irmã. Assim acredito que podemos começar a planejar esse jantar, certo?

– Ah! Athena! Você é a melhor irmã do mundo.

– Foi com essa carinha que você convenceu nosso pai a fazer essas coisas infundadas, hein?!

As duas sorriram e se abraçaram. E Athena estava realmente disposta a ajudar a irmã na esperança de que ela amadurecesse.

A reclusão de Vênus fez com que ela crescesse com a mentalidade de uma criança. Inocente. Inconsequente.

Mesmo não estando totalmente convicta de que Vênus seguiria em frente com seu desejo, Athena estava muito empolgada organizando a recepção para apresentação da irmã aos seus soldados. Ela planejou todo o cardápio e decoração do jantar. Há muito tempo não se sentia tão feliz.

Arantis, que sempre estava próximo a Athena, também se alegrara ao ver sua deusa tão comprometida com tarefas triviais. Ele nunca tinha visto Athena sorrir ou fazer algo diferente de meditar ou comandar seus soldados. Pensou que ela estava feliz por ter a irmã mais próxima dela. Entendia bem aquele sentimento.

Há alguns meses Arantis tinha se tornado um soldado honorário. Ele era o campeão mais recente do Grande Torneio de Olímpia. Como premiação, recebeu a honra de servir Athena pelo período de um ano.

Desde então, não retornou mais para seu lar. Estava o tempo todo ao lado de Athena e por ela adquiriu imenso carinho. Sua única missão, protege-la com sua própria vida.

Já Vênus, ficou responsável pela criação dos convites, escolha das músicas e a elaboração do seu vestido e de sua irmã.

Zeus observava tudo com muito bom gosto e aprovação. Ele determinou que a celebração à deusa Vênus fosse à próxima lua cheia, uma alusão a entidade misteriosa que vagava pelas noites belas de luar. Todos tinham, então, poucas semanas para organizar tudo.

Quando os convites ficaram prontos, Mimi foi chamado para entrega-los aos soldados.

No alojamento dos soldados, eles estavam agrupados definindo suas tarefas diárias. Mimi chegou e os surpreendeu. Sem nada falar, o ágil menino entregou para cada soldado um envelope mediano, em tons de ocre e adornado com estampas florais. Dele era exalado um perfume amadeirado e estava lacrado com um selo em forma de estrela.

Os soldados não reconheceram o selo e antes que pudessem perguntar a Mimi de quem era, o menino já havia desaparecido.

Puseram-se a abrir o envelope e dentro dele encontraram um cartão que tinha escrito, em uma caligrafia belíssima:

“Gostaria de convidá-los, prezados soldados, a participar de um jantar em homenagem a deusa Vênus. A celebração acontecerá no primeiro dia do ciclo da lua cheia. É indispensável o uso de traje gala.”

– Ora, ora... Jamais imaginaria receber um convite desses. – Disse Tebas coçando a nuca.

– Verdade. Uma homenagem à deusa Vênus. Será que a veremos? – Milo estava tão intrigado quanto seus colegas.

– Você sabia disso, Amú? – Iolo questionou o colega.

– Não. Ultimamente Vênus tem circulado livremente pelos templos. A convivência entre ela e Athena está bem diferente.

– Bota diferente nisso! Até jartarzinho com os soldados vai rolar. – Tebas fazia caras e bocas pensando onde iria conseguir um traje gala.

– Finalmente vamos conhecer a deusa Vênus. – Disse Iolo.

– Como vamos conhece-la senão podemos olhar para as fuças dela? – Tebas falava em tom de deboche.

– De fato será um evento desafiador. – Shakina refletia.

– Seria conveniente pedirmos orientação à Athena para não ter a possibilidade de agirmos com desrespeito com a senhorita Vênus. – Refletiu Amú.

– Se ela não nos desrespeitar primeiro, não é? Até hoje não engoli aquela história de entidade misteriosa que vaga pelas noites de luar encantando os pobres mortais do sexo masculino. – Tebas riu estridentemente.

 – Tebas, respeite os deuses! – Shakina o repreendeu.

– Ah! Toda glória e louvor aos deuses. – Tebas gritou ironicamente e saiu para seus afazeres.

– Esse infeliz já deve ter enchido a cara! – Disse Iolo.

– Não fale de um companheiro pelas costas, soldado. – Milo saiu, dando o recado e um tapinha nas costas de Iolo.

– Não se preocupem! Falarei a respeito desse jantar com Athena e em breve retorno para mais instruções. – Amú partiu para seu posto.

Shakina e Iolo também partiram para seus postos com a mesma curiosidade de seus companheiros: poderiam enfim ver a deusa Vênus?

A águia de Zeus ficou com a missão de entregar um convite especial. Ela viajou até a ilha Chrissi para encontrar Moshi, o grande mestre que havia treinado os soldados de Olímpia.

– Veja só o que o céu me traz! – Moshi acariciou a águia enquanto pegava o envelope. – Saudações, meu caro, Zeus.

Moshi sabia que Zeus poderia vê-lo e ouvi-lo através daquela águia. Ele leu atentamente aquele convite. Arqueou a sobrancelha grisalha e sua feição se tornou tensa.

E com todos devidamente convidados, bastava apenas aguardar o grande evento chegar.

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