Capítulo VII

Finalmente o dia do jantar planejado por Vênus tinha chegado. Tudo já estava organizado, deixando assim, o dia livre para as duas irmãs se dedicarem a si mesmas para o evento tão aguardado.

Pela manhã, as duas adolescentes estavam em uma terma particular. Elas se banhavam nuas sob a suave luz do sol primaveril, em uma água morna perfumada com óleos e flores. Entre rosas, lichias e magnólias as deusas relaxavam e conversavam.

– Vênus, você tem certeza que vai partir em treinamento? – No fundo de seu coração, Athena ainda queria fazer a irmã desistir de seus planos.

– Tenho sim, irmã. Não há outra coisa que eu mais queira no momento.

– Me diga, por favor, o que te fez desejar isso? – Athena queria entender o motivo que impulsionava Vênus a seguir por esse caminho imprevisível.

Vênus ficou em silêncio por um tempo. Suspirou. Recordou-se da noite em que quase tinha sido ferida por um estranho, da jovem que a alertara sobre os perigos da noite e do medo e desalento que ainda sentia.

– Querida irmã, eu não compreendo por que você e papai querem me manter afastada do mundo, presa em meu templo. Mas confesso que tenho consciência de que foi errado eu fugir. Minha escolha teve consequências. Percebi que sou tola e fraca.

Athena ficou surpresa com as palavras e seriedade de sua irmã.

– Alguém te fez algum mal? – Athena estava temerosa de que algo ruim tivesse acontecido com sua irmã nas noites que ela fugia.

– Não. Ninguém me fez nenhum mal. Não se preocupe, irmã. Porém, aprendi que coisas ruins podem acontecer a qualquer momento e eu não estou preparada para enfrentá-las. Não tenho dúvidas de que papai é um deus poderoso e você sempre está cercada de soldados dispostos a dar a vida por você. Mas, e eu? Eu não tenho ninguém que lute por mim ou comigo.

De repente, Vênus entristeceu-se. Athena se comoveu com as palavras inesperadas de sua irmã. Não imaginava que ela se sentisse tão amargurada.

– Vênus, você não está sozinha. Eu sempre estarei ao seu lado. Meus soldados são seus também.

– Ora, Athena! Como podem ser meus soldados se não tem permissão sequer para me olhar? Eles nem podem falar comigo. Obedecem somente às suas ordens.

– Eu vou pensar numa forma de reverter essa situação. Acredite, tudo que está acontecendo está sendo bem difícil para eu administrar. Você está se rebelando, garotinha!

Vênus sorriu. Athena começou a jogar água em seu rosto e as duas ficaram ali brincando como no passado, como duas meninas ingênuas.

***

A noite havia chegado e com ela a bela lua cheia que transformou o pátio da recepção numa admirável pintura pitoresca. Tochas decorativas iluminavam os caminhos e os convidados começaram a chegar. Todos os convocados compareceram e estavam ansiosos, curiosos e felizes por finalmente conhecer a outra jovem deusa do Monte Olimpo.

Tebas estava lutando contra sua gravata borboleta que parecia querer estrangulá-lo. Rindo do melhor amigo, Milo se pôs em frente ao desajeitado jovem e refez perfeitamente o nó, deixando o mais velho dos soldados encabulado e corado.

– Espero que não vire rotina esse tipo de evento. Detesto essa roupa. – Tebas estava muito desconfortável.

– Relaxa, soldado. Depois, há de ter muita ajuda para tirar isso tudo. – Milo o cutucava apontando para as criadas que estavam admiradas com a elegância dos jovens guerreiros.

Tebas ficou animado num instante e se alinhou com orgulho. A atenção deles logo se voltou para a entrada, pois chegaram Shakina, Iolo e Amú, acompanhados por seu mestre Moshi.

Estavam muito felizes com a presença do senhor que os treinou e os formou soldados de Olímpia. Era como um pai para aqueles meninos órfãos que sobreviveram em meio a desesperança.

– Olha só quem encontramos na cidade! – Amú disse a Tebas e Milo que logo abraçaram seu mestre.

– Não acredito que até o senhor foi convocado? Após o jantar poderíamos lutar um pouco para relembrar os bons tempos!

– Tempos em que eu te dava uma surra, rapaz! – Moshi deu um puxão de orelha em Tebas.

– Que isso, mestre! – Tebas ficou envergonhado.

– Muita coragem a sua chamar o mestre para o combate. Nem sequer treina mais. Vai cair em segundos. – Milo comentou.

– Que isso, cara! Você é meu amigo ou não? – Tebas deu um pescoção em Milo.

– Só estou falando a verdade. Vai com calma.

– Muito me admira um discípulo meu fora de forma. E você, Milo, treina diariamente?

– Bem, mestre, diariamente é bem complicado sabe! – Milo ficou sem jeito de dizer que não treinava mais também.

– Soldados, prestem atenção! Treinar é fundamental. Mantém o condicionamento vital. Se precisarem agir, estarão prontos.

– Mas prontos para quê? Não acontece nada nesse lugar? Quem seria imbecil de se meter a besta com Zeus? – Tebas replicou.

– Não hajam como tolos, soldados. Eis que vos digo: o momento da batalha está mais próximo do que vocês imaginam.

Os cinco soldados ficaram intrigados com a fala do mestre. Mas naquele instante chegou Arantis, quebrando o incômodo silêncio que havia se instalado entre eles.

– Boa noite, soldados! – Arantis logo reconheceu o mestre e fez reverência. – Boa noite, mestre Moshi. É uma honra conhecê-lo!

– Boa noite. Você é o atual campeão do Grande Torneio de Olímpia, não é?

– Sim. Sou Arantis! Protetor de Athena. – Arantis estava todo orgulhoso de seu posto.

– E me diga uma coisa, Arantis, você treina todos os dias?

Arantis foi pego de surpresa com o questionamento. Os cinco soldados o fitaram aguardando sua resposta.

– Não, senhor. – Arantis respondeu quase sussurrando.

Mestre Moshi bufou e se pôs a caminhar em direção à mesa reservada para ele.

– Que vergonha, hein, tampinha. E você ainda se diz protetor de Athena. – Tebas deu um cascudo em Arantis.

– Deixe o rapaz em paz, Tebas. – Shakina se manifestou. – Todos nós estamos em dívida com nossos treinamentos.

Naquele momento a criada Marine solicitou atenção dos convidados, pois as anfitriãs logo entrariam no salão.

Os seis soldados e o mestre Moshi se posicionaram de frente para e entrada principal, a fim de recepcionar Athena e Vênus. Eles receberam bebidas para celebrar a chegada das duas.

Marine anunciou a entrada de Athena. Ela estava em um lindo vestido azul em dois tons, com decote coração e alças bem fininhas. Apesar de não se sentir muito à vontade com aquele tipo de roupa, não podia negar que sua irmã sabia valorizar o corpo feminino ao construir suas belas roupas, trazendo confiança e empoderamento a quem as vestisse.

Quando entrou, foi muito elogiada por sua beleza e elegância. Todos brindaram à Athena. Arantis ficou particularmente encantado com a deusa e ficou feliz por ter ido bem vestido e ficar à altura de sua querida senhora.

Era chegada, finalmente, a hora de Vênus ser apresentada. Marine prosseguiu:

– Amigos, depois de anos vivendo sob a proteção dos deuses é com muito prazer que vos apresento a deusa da beleza e do amor: Vênus!

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