Capítulo VI

Vênus estava jogada em sua cama, com os pés agitados balançando de um lado ao outro, ora olhando para o teto ora observando de cabeça para baixo o vestido que estava no manequim. Era o que ela tinha feito para sua irmã. “Perfeito”, ela refletiu.

Mas ao se dar conta de que faltavam apenas dois dias para o jantar e ela nem sequer tinha começado a fazer a própria vestimenta, ficou nervosa. Como faria algo que a deixasse bela e ao mesmo tempo ocultasse seu rosto?

Seus pensamentos se perderam nesse pedido incompreensível de Athena. Não podia ter espelhos, as pessoas não podiam vê-la. Por quê?

Tinha certeza de que era bela. Por um instante chegou a pensar que talvez a irmã tivesse inveja de sua beleza. Franziu a testa e levantou-se abruptamente como se quisesse espantar aqueles pensamentos tolos.

– Minha irmã me ama! Há de ter outro motivo. Agora o que importa é fazer algo triunfal para mim. – Discutiu sozinha, a deusa do amor.

Havia alguns livros sobre a escrivaninha de Vênus. Voltou a folhear todos. Eram sobre artes e vestimentas. Parava sempre em um determinado livro que ilustrava uma mulher com um vestido longo, vermelho vibrante e um lenço dourado em volta da cabeça. Nesse livro era contado, em forma de poesia, a ascensão de uma odalisca no antigo Império Turco-Otomano. Ficou intrigada, imaginando como seria o rosto daquela jovem que mesmo sendo retratada em várias páginas, sempre estava oculta sob lenços e véus.

Repentinamente sentiu-se inspirada. Começou a desenhar o croqui daquilo que se tornaria a sua vestimenta.

***

Na véspera da cerimônia, Athena foi conversar com seu pai.

– Com licença, papai! Posso entrar?

– Claro, minha filha.

– Por que deixou que Vênus seguisse adiante nessa intenção de aprender a lutar?

– Minha querida Athena, nós sabíamos que um dia teríamos que libertar Vênus de sua clausura para que ela por fim encarasse o seu destino. E o desejo dela de querer aprender a lutar vem do seu inconsciente de deusa que a está alertando para situações futuras. Dessa forma, também vai parar de ficar saindo por aí encantando mortais. Ela vai manter-se ocupada e com certeza vai amadurecer.

– O senhor realmente acredita que ela vai levar a sério esse desejo?

– Tanto acredito que dei meu consentimento. E espero que você também acredite nela. Athena, sua irmã precisa muito de sua ajuda, por tudo que nós sabemos que já aconteceu e principalmente pelo que está por vir.

– Está certo, papai. Já dei meu voto de confiança para Vênus. Farei tudo que puder para auxilia-la.

Athena se despediu de Zeus e retornou para seu templo. O poderoso deus sentiu que Athena ainda não estava plena de convicções sobre as intenções de Vênus.

A deusa do amor vivia no Monte Olimpo desde que era um bebê. Mas Athena nasceu em um dos vilarejos de Olímpia e lá viveu, como uma criança comum, até seus oito anos. Foi nessa época que sua consciência despertou para quem realmente ela era: a deusa da justiça.

Dessa forma, Zeus que acompanhava seu desenvolvimento à distância, a acolheu no Monte Olimpo cedendo-lhe um templo.

Ao conhecer Vênus, que tinha nove anos, as duas não se entenderam de cara. Nessa época Athena e Vênus compartilhavam personalidades agressivas.

Diante de tantos conflitos entre as irmãs, Zeus temia que elas não aceitassem uma a outra e acabassem se odiando. Assim, o convívio inicial delas não durou muito tempo.

Zeus aprisionou as duas em pequenas celas individuais onde elas deveriam meditar e refletir sobre seu comportamento e obediência.

Inconformadas, as duas meninas aprenderam da maneira mais difícil que não valeria a pena entrar em conflito, principalmente desagradando vosso pai.

Após quarenta dias, Zeus as libertou sob a condição de jamais brigarem novamente.

Aquele castigo assustador fora o suficiente para Athena se tornar obediente. Para Vênus, foi um ultraje. Jamais tinha sido castigada até que aquela menina definida como sua irmã tinha surgido em sua vida. O que lhe restava, era fingir obediência e suportar aquela convivência forçada.

Na mesma época em que as duas irmãs passaram a viver juntas no Monte Olimpo, cinco jovens meninos estavam treinando arduamente com o mestre Moshi, um poderoso aliado de Zeus e de passado desconhecido. Esses garotos foram educados para se tornarem soldados de Olímpia, denominação àqueles que deveriam dedicar suas vidas a proteger os deuses do Monte Olimpo.

Alguns anos depois, quando Athena tinha dez anos, ela teve uma lembrança terrível de sua última reencarnação. Imediatamente ela buscou auxílio com Zeus. Foi então que o deus do trovão confirmou para sua filha que todas as suas lembranças eram reais e solicitou que, independente do comportamento de Vênus, fosse paciente com sua irmã.

Athena acatou o pedido de seu pai. Mesmo após o castigo, Vênus ainda confrontava a irmã com frequência, mas como Athena não reagia as suas provocações, logo as duas começaram a conviver em paz. Athena sempre observava Vênus para tentar visualizar as boas qualidades que Zeus dizia que ela tinha, contudo, quando tentava se aproximar dela sempre era rejeitada.

Quando Vênus tinha por volta de dez anos, Zeus decidiu enclausura-la em definitivo. A menina demonstrava uma personalidade intratável e imersa em um profundo ressentimento. Foi um choque para a menina quando se deu conta de que seu próprio pai a confinou. Durante vários dias ela gritou em desespero, chorou, quebrou tudo que estava ao seu alcance, porém, ninguém vinha atender suas súplicas. Se passaram semanas, meses, anos. Por um tempo, Vênus se conformou.

Certo dia, ao se dar conta de uma nova habilidade que sua filha mais velha vinha adquirindo, Zeus solicitou que Vênus presenteasse sua irmã com o vestido mais encantador que ela pudesse criar. Como a tarefa era de seu agrado, Vênus assim o fez. Ao entregar o vestido para Athena, a deusa da justiça ficou encantada com o presente inesperado e com o gesto. Abraçou sua irmã que surpreendentemente retribuiu o abraço. Em agradecimento, Athena deu a Vênus o seu mais belo colar de pérolas. Desde então, a convivência das duas tem sido pacífica.

E também, desde essa época, Zeus e Athena compartilham um segredo a respeito do passado de Vênus.

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