Basicamente o homem à sua frente acabava de atribuir a ele o cargo de assassino.
— Quem são essas pessoas? — perguntou, ainda assustado com o último diálogo — Eu não vou matá-las!
— Se não matá-las, você morre, Sanz! São apenas obstáculos… Você não queria ser como seu pai? Seu trabalho é tirá-los do caminho da Árvore o mais rápido possível — Marcos afirmou, deixando a sala.
Klaus estava sem chão, não esperava se tornar um assassino e nem ser confrontado com a informação de que o pai era um, mas como poderia fugir agora daquele empreendimento bizarro que descobria aos poucos ser a Árvore?
O rapaz ficou ali até amanhecer e já que estava muito tarde, seguiu para o salão principal, mas notou uma movimentação incomum no corredor, alguém gritava e era voz de uma mulher.
O rapaz não gostava de se meter nos problemas de Marcos, mas aquilo cheirava mal. Sabendo agora que a Árvore não possuía nenhum apreço pela moralidade, aquilo cheirava péssimo… Abaixou-se na meia-parede que antecedia o balcão para entender melhor o que acontecia.
— Então é você?! — Marcos perguntou à mulher, que implorava para ser liberta:
— Me soltem, eu não sei nada do que está falando!
— Ah… Você sabe…
— Eu não conheço o senhor! Eu estou falando a verdade!
— O que está acontecendo aqui?! — interrompeu Klaus, levantando-se e indo em direção a eles.
— O que ainda está fazendo aqui?! — o homem perguntou e Klaus insistiu:
— Eu fiz uma pergunta!
— Ela sabe demais — afirmou um dos capangas.
— E como descobriu? — perguntou o rapaz.
— Eu sou uma cartomante, leio cartas… — respondeu a mulher.
— Trouxeram uma cartomante pra cá? É isso mesmo que eu ouvi? —
Indagou Klaus, mais cético que uma porta.— Por favor, levem a mulher! — Marcos exigiu.
Klaus teve uma péssima certeza:
— Vai matá-la?
— Eu usaria um termo mais suave, mas já que você prefere esse… — o homem grisalho suspirou irônico.
Os capangas levaram a mulher que se debatia para uma sala e, enquanto Klaus nutria uma sincera preocupação, Marcos observava indiferente.
— Quem revelou que ela sabe demais? — o rapaz perguntou.
— Se está pensando que eu vou dizer… — sussurrou o homem — Apenas faça o seu trabalho, Sanz, e não terá problemas comigo.
O homem deixou o local, se afastando do rapaz que passava a compreender Otto ter se referido a 000Pater como uma enrascada.
Klaus pegou do bolso aquele papel entregue por Marcos, no qual haviam muitos nomes e se virou como pôde. O primeiro nome era Pablo Fernandez, líder ativista de uma ONG que passaria pela cidade no dia seguinte.
Pois é, deveria matá-lo… Como isso soava doloroso agora, como soava doloroso saber que Eduardo Sanz, o pai, era um assassino e que ele agora não conseguiria escapar desse destino.
Klaus foi embora para a sua casa e na noite posterior seguiu tristonho e vazio ao Hotel Ingremo, onde o ativista estava hospedado. Deveria matá-lo e sumir misteriosamente com o corpo, mas não queria fazer isso. Ficou por três horas mirando o crânio do sujeito com um rifle espanhol de precisão, mas o dedo nunca chegava no gatilho. Por um momento, o jovem, que ainda era jovem, preferia morrer a tirar a vida daquele homem.
Sem sucesso, o rapaz foi embora para o seu apartamento. Cidadezinha vazia, vidinha vazia. Otto se esforçara tanto para poupá-lo… Por que diabos achou que sabia alguma coisa?
Marcos parecia de início um sujeito interessante, mas simplesmente lhe entregava uma bomba para segurar em suas mãos.
Outra vez, o Sanz contemplou aquele papel cheio de nomes, cheio de sangue e não teve esperança alguma. A caixa de livros que Marcos lhe entregara estava ali com a mesma poeira do seu escritório, não teve tempo de olhar os livros, mas o que eles diriam? “Beba sangue, pequeno monstrinho, beba o sangue dos seus inimigos, aqueles que você não se deu sequer ao trabalho de conhecer” — pensava angustiado.
Abaixo da lista de nomes, no entanto, Klaus percebia um rabisco de caneta que assinalava uma página que deveria ser lida do livro “A casa das Serpentes”. Provavelmente Marcos estava de brincadeira com ele para mandá-lo a página mil e noventa e quatro daquele livro.
O que teria naquela porcaria de livro? Auto ajuda para jovens assassinos? Procedimentos de assassinato que não deixam pistas? Rituais macabros? Nada disso lhe ajudaria agora, mas já que estava em uma situação caótica, foi ler o livro.
Diferente do que pensou, “A casa das Serpentes” parecia um bom livro e continha entre as páginas um debate filosófico muito bem feito. À primeira vista, não compreendeu o porque Marcos havia citado aquele livro, mas então seguiu para a página mencionada e percebeu que aquela página continha apenas três linhas de término de um capítulo e o que seguia esse trecho era uma espécie de recado escrito à caneta:
“Klaus Sanz, espero que ainda não tenha feito nenhuma besteira. É preciso manter a pose em uma sociedade secreta, as sombras são muitas e elas escutam pelas paredes, não quero que se torne um assassino de verdade, quero que faça o que o seu pai fazia, quero que disfarce de maneira impecável a vida dessas pessoas para que acreditem que elas estão mortas. Do contrário você e elas serão mortos de verdade por outros atiradores. Não conte isso a ninguém, me encontre no Velho Beira-Mar às nove e cinquenta e quatro da noite.”
Pois é, o rapaz estava tão angustiado que deixou o homem esperando e seguiu seu caminho de sniper fracassado. Se soubesse, não teria ido ao hotel Ingremo. Por sorte, pelo menos, não havia feito estrago.
Era praticamente meia-noite e alguém batia à porta, era Marcos.
— Boa noite, Sanz!
— Olá, Sr. Town.
— Posso entrar? — o homem perguntou.
— Claro.
O homem olhava Klaus com alguma ansiedade, imaginava talvez que tivesse assassinado o ativista.
— Por que não me encontrou no Velho Beira-Mar? — Marcos indagou, sentando-se na poltrona.
— Posso ser sincero? Depois de ter me atribuído o cargo de assassino, eu tive até medo de ler os livros que me indicou — Klaus desabafou.
— E seguiu com um rifle de precisão para o Ingremo?
— E não consegui matá-lo — Klaus respondeu, cabisbaixo porque lhe voltava por um momento a sensação de fraqueza.
— Eu, no seu lugar, não teria pensado duas vezes.
— Por que você é assim? Não dá pra saber se você é bom ou ruim, não dá pra confiar em você!
— Eu vou ajudá-lo, Sanz. Eu sou um demônio, cometi erros imperdoáveis na minha vida e vou pagar muito caro por isso, mas não quero condenar outras pessoas ao mesmo fim que o meu. Eu tenho uma vingança e você é o único aliado que eu consigo ter.
— Passou pela sua cabeça que talvez eu não quisesse me envolver nisso?
— Você já está envolvido nisso desde que nasceu, Sanz.
O silêncio ficou no ar.
Se o ativista sumisse misteriosamente, o movimento certamente perderia força. Ao minar aquele movimento, reduziria a pressão dos governos quanto ao controle das armas que entravam e saíam do país.
Esclarecida a situação e o cargo de pseudo assassino que agora Marcos o atribuía, o rapaz seguiu seu caminho, não matou Pablo, mas o convenceu a esconder-se em um refúgio, de forma a fazer com que ficasse óbvio que ele estava morto, mesmo que ele estivesse, na verdade, vivo.
Seguindo a lógica de Marcos e o método do próprio pai de lidar com esse encargo, utilizou desse subterfúgio com todos os nomes restantes na lista, que envolvia ativistas, políticos, artistas, autoridades religiosas e até mesmo integrantes de bandas de rock que ousaram se pronunciar, ainda que de maneira tímida, contrários aos interesses da Árvore.
O rapaz permanecia na fábrica por uma parte do dia e nos bastidores exercia sua nova função. Em um dia gelado, na fábrica de Sevilha, Otto se aproximava dele:
— E então? Você está bem?
— Estava certo… — Klaus desabafou, sem conseguir encará-lo.
— Eu sinto muito — Otto concluiu, percebendo que Klaus agia de maneira muito semelhante a Eduardo Sanz.
— Por que não contou tudo desde o princípio?
— Eu o confrontei sim, Sanz, mas achou que eu estivesse louco, me acusou de passar tempo demais com a sua avó, de dar lado a teorias conspiracionistas, agora suporte as consequências das suas escolhas.
Klaus se manteve em um silêncio. Otto estava certo, fez o possível para tirar aquela ideia da cabeça dele, mas ele não quis ouvi-lo porque nada parecia mais interessante naquele momento do que entrar pelas portas da 000Pater.
— O que eu ia dizer? — Otto quebrou o silêncio, tentando lembrar-se de algo — Ah… sim. Se encontrar Vitor ou Marcos, os avise que as câmeras das salas de energia estão com defeito, Clópis avisou que a faxineira nova não foi muito cuidadosa com a limpeza e danificou a fiação.
— Avisarei assim que puder… Só uma pergunta: o que aconteceu com a faxineira? — Klaus perguntou curioso.
— Ela está morta, Klaus. Foi vítima de uma descarga elétrica. Se os fios derreteram, deve imaginar que…
— Não precisa continuar… — O rapaz se surpreendeu com a fatalidade, não desejando imaginar os detalhes.
— Ah… Tem outra coisa… faça meditações se puder, lembro que seu pai tinha pesadelos horríveis e isso não melhorava com o tempo — Otto sugeriu, saindo em seguida da presença dele.
Era possível perceber que o homem tentava ainda cuidar dele. O semblante do amigo deixava algo muito claro… não estava feliz com as escolhas do Sanz, mas sempre que pudesse estaria ao seu lado.
O rapaz ficou ali por um tempo apenas raciocinando sobre suas últimas ações, não tinha ninguém com quem conversar, não tinha nada de fervoroso em mente, além dos dois papéis opostos que desempenhava e não estava feliz com isso.
“Que vida há em viver se escondendo?” — Pensou.
Era tomado às vezes pelos pensamentos mais feitores, pensamentos que o castigavam e chegou a conclusão de que o que fazia era desastroso, independente de quaisquer resquícios de moralidade ou bondade que o seu coração lhe permitia.
Tudo era injusto. Ao passo que se alegrava a cada vida que poupava, condenava uma outra. Ao passo que destorcia a ordem do líder, Marcos cumpria o seu desejo, afinal não estavam mortas as pessoas, mas estavam fora do caminho.
Por um momento, viver não parecia interessante porque já não se reconhecia nas pessoas que via no espelho, nem no monstro nem no herói, todas as duas personalidades eram facetas cruéis de si mesmo, vampirescas e destruidoras de tudo que poderia ter sido. Marcos queria redimir, talvez, a sua alma, mas e ele? O que tinha a ver com isso? Se acaso tudo desse errado, o que ele faria?
Passado o devaneio e o surto interno de angústia, o rapaz seguiu para a sala de Vitor para passar o recado de Otto, mas percebeu que ele conversava com Marcos sobre alguma coisa. Não gostava de se intrometer, mas não evitou o desejo de ouvir sobre o que falavam.
— O rei deu aval para matá-la. A cartomante é uma mulher comum, Vitor. Penso que tenha sido uma perda de tempo sequestrá-la. Fiquei um tempo dando voltas com a sua esposa pela cidade para evitar que ela atrapalhasse o plano.
— E o baralho? … — o homem perguntou.
— Nós procuramos por todo canto e só haviam baralhos esotéricos, não havia sequer um “baralho de jogos” como tinham mencionado na gravação.
— Você chegou a ouvir essa gravação?
— Uma parte… — Marcos evitou.
— Espero que não tenha se comovido com a análise esotérica sobre você — Vitor o insultou.
— Sabe que não ligo… Mas, talvez, Carl Hug esteja envolvido nisso. Ele era a única pessoa capaz de mover pauzinhos e fazer mágicas aqui e ali… não me admira que tenha manipulado o baralho da mulher.
— Se me lembro bem, você explodiu o cassino com ele… — Vitor lembrou.
— Eu tinha certeza de que ele estava morto, mas a cartomante mencionou um baralho que simplesmente não existe.
— Talvez eu consiga alguma informação com Morgana, mas te chamei aqui porque gostaria de tratar de outro assunto.
— Pois bem… seja direto — Marcos exigiu.
— Gostaria que demitisse Klaus, não gostei dele.
— Deveria saber que na Árvore não há demissões…
— Porque diabos colocou alguém na Árvore sem me consultar? — Vitor ficou indignado — Posso conseguir outro assassino ainda melhor…
— Eu poderia cogitar isso, mas não estou disposto… Se quer saber, só contratei o Sanz — deixou escapar inadvertidamente — porque estávamos precisando de assassinos e, como o pai, ele tem ótimas habilidades com o gatilho.
— Você está errado, Marcos, está muito errado em colocar outro Sanz aqui dentro!
— Acho que é melhor continuar cuidando das negociações, Sr. Casferati. Klaus é um atirador exímio, o melhor que temos e não vou abrir mão dele. Ele só sai da Árvore morto.
— O que o rei pensa sobre manter um Sanz como atirador? — o homem perguntou indignado e curioso.
— Se Sarbeth souber quem ele é, vai matá-lo como matou os Sanz… — Marcos gargalhou — Deve saber melhor do que ninguém que eles não viajaram naquele acidente…
— Isso quer dizer que enganou o líder? — Vitor perguntou, desacreditado.
— Por uma boa causa.
— Isso vai contra as regras da Árvore! — o homem pontuou.
— Pois é… Mas diante de muitas tentativas infrutíferas da nossa parte — Marcos se referia as tentativas dele e as tentativas de Vitor — de encontrar um bom atirador nos últimos meses, seria compreensível se eu contratasse o filho de um bom atirador, ainda que este tivesse sido morto por traição. Mas já que quer falar sobre ir contra as regras… se me lembro bem, também tem uma cláusula bem interessante no código de conduta que envolve a proibição de envenenar a esposa sem autorização prévia da Árvore. O Senhor leu tudo? — Marcos deu o troco, recordando-se da aparência das mãos de Morgana na noite do sequestro da cartomante — Doses sutis de Aspauto deixam as bordas das unhas muito avermelhadas, não é?
— Você me enoja, Sr. Town! — Vitor Casferati sentia-se irritado por ter sido descoberto.
— Eu diria o mesmo sobre você.
Klaus não conseguia acreditar que estava trabalhando indiretamente para o inimigo, aquele que assassinou os pais. Aquilo o atingia como um soco certeiro na boca do estômago, suas mãos tremiam de raiva. Estava imóvel, estava explodindo, suas certezas estavam se desintegrando e os seus pesadelos, aos poucos, se transmutavam em uma realidade perigosa…
Ainda que Marcos não quisesse revelar o sobrenome dele, tivesse feito isso por um descuido e ocultasse o comportamento de Klaus perante Victor para conseguir manter seu plano discreto, não ter revelado ao rapaz que Sarbeth era o assassino dos seus pais, havia sido uma atitude muito traiçoeira da parte dele.
Estava destruído…
Para o ódio, a vingança seria um bom remédio, já para o coração… não parecia haver conserto para aquele coração.
Um casamento fracassadoMORGANA ACORDOU UM POUCO TARDE, tarde demais para se dar conta de que o esposo que ficava semanas fora de casa, já tinha ido para o trabalho. Não sabia os motivos pelos quais havia dormido por mais de quatorze horas. Talvez estivesse depressiva, pois o homem já não lhe dava tanta importância, parecia que os tais sentimentos ardentes de antes ficavam desérticos e gelados, sobrevivendo às vezes em uma palavra vazia e outra.Ela o amava, mas aquele relacionamento já não era mais o que prometia ser no início, já não era mais semelhante aos filmes de paixão que costumam deixar os corações dos jovens em chamas, estava em frangalhos.O casamento fracassava a cada dia e a mulher conservava no íntimo uma insolúvel intuição de que o marido lhe escondia algo. Essa impressão se nutria a cada experiência cotidiana, ficava nas perguntas não respondidas, nas perguntas respondidas com raiva ou descaso. Será que Vitor havia se apaixonado por outra mulher? Quem seria a serigaita
Marta e OféliaNO MANICÔMIO, a Senhora Marta e Ofélia conversavam sobre as lembranças que possuíam. Ao menos naquele cômodo, não havia quem as criticasse, conheciam melhor do que ninguém as dores uma da outra.Perder alguém era difícil, mas era ainda pior arcar com a tarja que as encobria, o adesivo de loucas, a determinação de apodrecer ali, até o último instante da vida, por jurar algo impossível que havia acontecido na frente dos seus olhos.O lugar ganhava uma nova enfermeira, que era loira e um pouco mais velha do que Ofélia, vestia branco e sorria pelos corredores, era a única talvez que não se sentia no inferno que percorria a cabeça dos pacientes.A enfermeira, no entanto, passando pelo corredor, se aproximou das mulheres, tocando o braço de Ofélia de uma maneira muito peculiar.— Não acredito… — suspirou a mulher.— Silêncio! — angustiou-se a enfermeira, percebendo que havia sido indiscreta.Ofélia estava pasma e Marta, que estava confusa, resolveu tentar compreender a situaç
Acordando em outro lugarKLAUS SENTIU FORMIGAMENTOS nas costas quando enfim acordou em um lugar densamente neblinado e sombrio, que inicialmente o fez esfregar os olhos, não conseguindo acreditar que estava naquele lugar ou que aquele lugar de fato existia.A terra era escura e úmida, as plantas oscilavam entre o verde-musgo e o preto, os céus eram cinzentos e as nuvens pairavam como uma fumaça cinzenta sobre todo o território.Aquele lugar era imenso e as suas partes mais elevadas eram preenchidas no solo por uma notável bruma indiminuta. Sem dúvidas, percorreria um caminho confuso e difícil, no qual não era possível saber em todo tempo o que havia abaixo de seus pés.Parte das suas memórias eram confusas, não se recordava de muita coisa, seu maior questionamento era o lugar onde estava, ao menos naquele instante, pois só tinha aquele vazio íngreme a vista, ao qual todos os detalhes não pareciam facilmente revelados.Caminhou por ali como o ponteiro de um relógio, às voltas, em círcu
Oslen: O mundo do SaroteuHAVIA UM PEQUENO PEDAÇO DE SOLO no meio da escuridão vazia de um espaço esquecido e sem propósito, onde a única paisagem era uma árvore em um território cinza.Um homem, passeava como de costume pelo terreno escuro em direção à árvore, lugar de seu repouso. E então, em um desses dias, foi visto por Taus, o espírito que escondia o sol da face da Terra.Eram anos muito turbulentos no mundo do qual o espírito vinha e a falta de consciência fazia com que aquele ser desejasse se afastar. Ele havia criado os humanos com todos os poderes que eles precisavam para permanecerem completos e ao se desfazer da consciência, a raiz de todos eles, aos poucos, se esqueciam de que tinham poderes e predominava dentro deles um vazio cruel que causava destruição.No entanto, ao ver o homem repousando naquela árvore em meio à escuridão completa, seu coração se confundiu quanto ao desejo de abandonar a Terra e se afastar das suas criações, percebeu que nem tudo o que vinha de uma d
Histórias de bruxaAslie terminava de contar a história de Oslen, enquanto Klaus a encarava um pouco confuso:— Vocês acreditam mesmo nisso? — ele perguntou.— Da mesma forma que você acredita no que acredita.— E esta figueira que dizem? Tenho a impressão de nunca ter visto.— Eu a vi uma vez, mas não me lembro onde estava — Aslie desabafou.A bruxa encontrava na fragilidade do atirador sem arma bom ouvinte, até deixava escapar que ameaçara Lóbus certa vez de algo improvável, não podia transformá-lo em sapo.O rapaz que antes evitava Aslie, agora não conseguia tirar seus olhos da moça. Pouco importava se era uma ótima ou uma péssima bruxa. Ao passo que a conhecia, ficar perto dela se tornava a cada dia mais instigante.Aquele contato começava a surtir os primeiros raios de sol, milagroso talvez em causar sorrisos tímidos em pedra bruta, pois aqueles jovens não sorriam costumeiramente e agora os lábios, se pudessem enxergá-los… Como estavam ficando bobos…As paixões fazem dessas coisa
Mal de famíliaSENTINDO-SE PÉSSIMA diante do último acontecimento e temerosa de que o pai fizesse uma grande besteira, Aslie levou o rapaz para o cemitério báltico, local no qual o exército de Alftór foi encontrado morto, antes mesmo da guerra programada.A bruxa não trazia o Sanz por acaso àquele lugar. Possivelmente, o cristal havia sido usado para exterminar aquele exército e por isso ainda emanava alguma energia daquela parte do território, por isso a presença de flores, pequenos animais e alguma vegetação. Próximo dali também havia uma gruta e muitas casas em ruínas, isso poderia servir de esconderijo até que conseguisse pensar em algo. Etéro certamente não a ouviria, apenas Lóbus poderia fazer alguma coisa, mas já estava farto de esperar por explicações, fora claro: queria detalhes, precisava saber exatamente o que trazia o rapaz ali.Todas as vezes que Aslie perguntava algo sobre o seu passado, “Marcos” fugia da pergunta e isso tornava o diálogo com Lóbus quase impossível. Se o
Decifrando KlausCOMO ERA DE SE ESPERAR, Aslie só poderia estar na caverna de Lóbus, local pelo qual agora o rapaz nutria certa “inconveniência”, palavra essa que quem vos fala substituiria sem reservas pela palavra “ciúmes”.O gigante se mostrara um bom amigo, mas isso não o impedia de recear pelas possibilidades, uma vez que não seria novidade se, por ela, Lóbus também conservasse aspirações românticas. O rapaz sentia medo de entrar ali (e tomar outra pancada na cabeça?) e se deparar com o pior: suas tão recentes e reconfortantes expectativas amorosas se desfazerem à sua frente.Assim que o rapaz entrou, percebeu que aquela sensação anterior era apenas uma paranoia sua. Lóbus cochilava debruçado frente a um extenso livro enquanto Aslie se encontrava do lado direito da estante de artefatos fabricando alguma coisa.— O que está fazendo? — Klaus perguntou.— Lóbus emprestou seu laboratório, Klaus. Andei estudando a sua tatuagem… — Aslie revelou cabisbaixa.— E por que essa cara? — o ra
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