O som da porta se abrindo lentamente fez Clara se sentar na cama, o coração acelerado. Leonardo entrou no quarto, sua expressão sombria e indecifrável. Ele parou perto da porta por um momento, observando-a.
— Clara, precisamos conversar — disse ele, a voz baixa, carregada de tensão. Clara sentiu o peito apertar, o eco das revelações recentes ainda a perturbava. O peso da mentira a sufocava, e ela o encarou com desconfiança. — O que você quer, Leonardo? — perguntou Clara, sua voz trêmula. — Já mentiu o suficiente para mim. Leonardo suspirou, passando as mãos pelo cabelo, desconfortável. Ele sabia que não havia mais espaço para adiar a verdade. — Eu sei que você está com raiva, Clara. E você tem razão. Eu menti, e foi errado. Mas agora não há outra saída — admitiu ele, hesitante. Clara balançou a cabeça, incrédula. — Não há outra saída? — ela repetiu, a voz ficando mais firme. — Você me enganou, Leonardo. Eu me casei com você achando que você era outra pessoa! Como pode me pedir para continuar com isso? Leonardo se aproximou devagar, sentando-se numa cadeira ao lado da cama. Sua voz abaixou, quase como um sussurro. — Eu fiz isso porque não tive escolha. A situação era complicada, e eu sei que é difícil de entender. Mas, Clara, o que está feito não pode ser desfeito — ele olhou para ela, tentando apelar para sua compreensão. — Por favor, ouça o que eu tenho a dizer. Clara cruzou os braços, o rosto endurecido. — Não vou mentir para Vinícius — disse ela, com os olhos fixos nele. — Eu não vou participar dessa farsa. Leonardo respirou fundo, seu olhar sério. — Se você não fizer o que estamos pedindo, Vinícius vai pensar que você também estava por trás do acidente — ele deixou a ameaça pairar no ar. — E ele não vai hesitar em destruir você. Clara piscou, surpresa pela seriedade no tom de Leonardo. Ela mal conhecia Vinícius, mas as palavras de Leonardo a deixaram com medo. — Como assim? — murmurou ela. — O que você está insinuando? Leonardo se inclinou para frente, sua voz ainda mais grave. — Vinícius não é o tipo de homem que perdoa facilmente. Se ele descobrir a verdade, vai acreditar que você foi cúmplice de tudo, e ele não vai parar até acabar com sua vida. E eu não quero ver isso acontecer — disse ele, abaixando o olhar, quase como se estivesse genuinamente preocupado. Clara hesitou, sentindo o medo crescer dentro dela, mas ainda não estava pronta para ceder. — E o que você espera que eu faça? Mentir para ele pelo resto da minha vida? — perguntou Clara, a voz mais frágil agora, mas ainda resistente. Leonardo tentou se aproximar, tocando de leve o ombro de Clara. — Não. Não para sempre. Apenas até resolvermos isso. Quando ele voltar, vai estar confuso. Você precisa ser paciente. Diga que vocês se casaram, que foi tudo real — ele a olhou intensamente. — Porque, de certa forma, foi. Só precisa ser Vinícius na mente dele, não eu. Clara ficou em silêncio por alguns segundos, a raiva e a confusão travando uma batalha dentro dela. — Eu não vou mentir, Leonardo — repetiu ela, mas sua voz não era mais tão firme. Leonardo se aproximou, tocando a mão dela suavemente, sua voz quase desesperada. — Por favor, Clara. Não quero que você se machuque — disse ele, sua voz soando quase suplicante. — Se você não fizer isso, Vinícius vai pensar o pior de você. Ele não vai hesitar antes de acabar com tudo... e isso inclui sua família. Clara sentiu o estômago revirar ao ouvir essas palavras. Ela olhou nos olhos de Leonardo, tentando encontrar uma saída. — Minha família...? — perguntou ela, quase em um sussurro. Leonardo assentiu, seu olhar agora pesado de culpa. — Minha mãe não vai pensar duas vezes antes de envolver sua família nisso. Eu... eu não posso protegê-los se você não colaborar. Você sabe como ela é. Clara baixou o olhar, sentindo-se cada vez mais encurralada. Não se tratava apenas dela. Recusar-se significava colocar sua família em perigo. — Então, se eu não seguir o plano... — ela respirou fundo, lutando para se controlar. — Vocês vão machucar as pessoas que eu amo? Leonardo tocou a mão dela suavemente, a voz quase desesperada. — Não é isso que queremos, Clara. Mas essa é a única maneira de proteger você e eles. Vinícius não pode saber a verdade... ainda. Clara mordeu o lábio, as lágrimas ameaçando escorrer. Ela estava sem opções, e mesmo que odiasse admitir, sabia que Leonardo estava certo. Ela respirou fundo, tentando manter a calma. — O que eu preciso dizer a ele? — perguntou finalmente, derrotada. Leonardo soltou o ar lentamente, como se tivesse tirado um peso dos ombros. — Diga a verdade sobre o casamento. Foi real, Clara. Só que, para Vinícius, precisa ser ele no lugar de quem realmente estava lá — explicou ele, levantando-se. — Diga que vocês se casaram em segredo porque ele quis assim. E que passaram dias juntos depois da cerimônia. Se ele disser que não se lembra, culpe o acidente. Clara balançou a cabeça, ainda tentando processar tudo. — E se ele não acreditar? — perguntou, a voz trêmula. Leonardo fez uma pausa antes de responder. — Ele vai acreditar. Nós garantiremos isso. Clara o observou sair, sua mente girando com as implicações da conversa. Ela sabia que não tinha escolha, mas a culpa e o medo já a corroíam por dentro. Ela teria que seguir o plano... pelo menos por enquanto. Mas, no fundo, Clara sabia que Vinícius descobriria a verdade. E quando isso acontecesse, ela não sabia como sobreviveria à fúria dele.Vinícius Albuquerque, aos 30 anos, era um homem de presença imponente e charme irresistível. Com 1,85 m de altura e físico atlético, sua postura naturalmente exalava confiança. Seus cabelos castanho-claros curtos e lisos, junto com seus penetrantes olhos verde-mel, muitas vezes pareciam carregar segredos. A mandíbula forte e bem marcada adicionava ao seu rosto uma seriedade que poucos conseguiam ignorar. Com ou sem terno, ele sempre atraía olhares por onde passava. Agora, sentado na cama do hospital, sua habitual imponência parecia atenuada pelas dores nas costelas e pelo cansaço evidente. Os olhos, que antes transmitiam segurança, estavam distantes, perdidos na paisagem lá fora enquanto ele tentava assimilar os acontecimentos recentes. Ao lado dele, sentada com a postura tranquila, estava Júlia, a mulher que o resgatou após o acidente. Aos 27 anos, Júlia era dona de uma beleza discreta, que emanava uma simplicidade natural. Seus longos cabelos castanhos eram, na maioria das vezes, p
O sol já estava começando a descer no horizonte, tingindo o céu de tons de laranja e rosa. Vinícius estava em pé ao lado da cama, os movimentos ainda cautelosos devido às costelas machucadas, enquanto Júlia dobrava com cuidado as roupas que ele usaria na viagem de volta. A decisão de partir havia sido tomada; já se passaram alguns dias desde que Henrique tinha ligado falando sobre o casamento, mesmo com o conselho dos médicos para que ele ficasse mais alguns dias. Vinícius sabia que não podia adiar mais. Júlia, por sua vez, tentava disfarçar o incômodo que sentia ao vê-lo ir embora. Ela sabia que ele tinha assuntos urgentes para resolver, mas uma parte dela desejava que ele ficasse mais um pouco. Ao longo dos dias em que cuidara dele, uma conexão havia se formado, e agora a ideia de se despedir era mais difícil do que ela imaginara. — Acho que é isso — disse ela, entregando a camisa dobrada para ele com um sorriso tímido. — Você está pronto para partir? Vinícius assentiu, vestindo
O avião pousou suavemente, e Vinícius sentiu um leve desconforto ao se mover no assento, as costelas machucadas ainda o incomodavam. Ele suspirou, ansioso para sair daquela situação e entender o que estava realmente acontecendo. O acidente ainda estava fresco em sua mente, mas o que mais o perturbava era o mistério que envolvia seu suposto casamento com Clara. Quando saiu do aeroporto, avistou Henrique esperando por ele perto do carro, com uma expressão contida, mas familiar. Henrique era seu advogado e amigo de longa data. Sempre direto e discreto, Henrique sabia como lidar com situações delicadas. Vinícius avançou até ele, sentindo o peso da situação aumentar. — Vinícius! — Henrique disse, com um sorriso controlado ao apertar sua mão. — Como você está, meu amigo? — Melhorando — respondeu Vinícius, sem muita emoção. — Ainda tentando juntar os pedaços. Henrique assentiu, abrindo a porta do carro para ele. — Imagino que deve ser confuso voltar depois de tudo isso — disse Henri
Enquanto Vinícius tentava se ajustar à nova realidade de seu casamento com Clara, a porta da sala se abriu de repente. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção. Gisele, aos 28 anos, era uma mulher sofisticada e de beleza impressionante. Seus cabelos ruivos e ondulados caíam até os ombros, destacando ainda mais seus penetrantes olhos azuis. Com cerca de 1,70 m de altura, Gisele possuía um corpo elegante e esguio, sempre realçado por trajes finos e bem escolhidos. Sua presença era marcante, com uma postura impecável e um andar confiante que nunca passava despercebido. Ela sempre fora uma amiga leal e próxima de Vinícius, e a família dele frequentemente falava sobre o potencial deles como casal. — Vinícius! — ela gritou, correndo em sua direção, como se estivesse desesperada para garantir que ele realmente estava ali, vivo. Vinícius ficou congelado por um segundo. Gisele sempre foi uma presença constante em sua vida. Antes do acidente, havia um carinho sutil e
Clara sentou-se na beirada da cama, os nervos à flor da pele após a conversa com Leonardo. As palavras dele ainda ecoavam em sua mente, e o medo de que sua vida estivesse prestes a desmoronar crescia a cada segundo.Ela mal teve tempo de processar as ameaças quando ouviu o som da porta se abrindo lentamente. Seu coração disparou. Vinícius entrou no quarto, sua expressão serena, mas com os olhos afiados.— Clara, precisamos conversar — disse ele, com uma voz calma, mas carregada de curiosidade e desconfiança.Clara sentiu o peito apertar. O confronto que ela tanto temia estava se aproximando.— Eu trabalho como aeromoça — disse, tentando sorrir levemente. — Foi assim que nos encontramos naquele voo para Valença.Vinícius franziu o cenho.— Lembro da viagem... — disse ele, devagar. — Mas não sabia que você era aeromoça.Clara assentiu, esforçando-se para manter a compostura.— Sim, eu estava trabalhando no voo. Você pediu meu telefone na volta. Foi aí que começamos a nos ver.Vinícius f
O silêncio continuava pesado no quarto. Vinícius, deitado ao lado de Clara, mantinha-se imóvel, lutando contra seus próprios pensamentos. Mas era Clara quem se sentia mais sufocada pela presença dele, mesmo que ele não se movesse. Virada de costas, Clara tentava encontrar uma posição confortável. A cada pensamento que tinha, o peso no peito aumentava. Sabia que estava jogando um jogo perigoso. E, a cada minuto ao lado dele, o fardo da mentira tornava-se insuportável. "Como vou sair disso?" Ela mordeu o lábio, inquieta. "Como vou pedir o divórcio sem levantar suspeitas?" Clara entendia que o divórcio seria o fim da farsa, mas não via outra saída. Talvez, se jogasse bem suas cartas, conseguisse convencer Vinícius de que o casamento não estava funcionando. Afinal, eles mal se conheciam, e a falta de lembranças dele poderia ser sua desculpa perfeita. "Mas como ele reagiria?" Seu coração acelerou. "Será que ele acreditaria? Ou isso só pioraria as coisas?" Mesmo assim, Clara não c
O jantar havia terminado, e Vinícius continuava observando Clara com a mesma intensidade. O silêncio entre eles era quase sufocante, mas ele não estava disposto a deixar as coisas como estavam. Clara sentia o olhar dele sobre si, e cada segundo que passava aumentava a pressão. Cada movimento dela parecia calculado, e o ar ao redor deles se tornava mais pesado a cada instante. Depois de um momento, Vinícius finalmente quebrou o silêncio. — Clara — disse ele, com a voz baixa, mas firme. — Precisamos conversar sobre o que realmente está acontecendo aqui. Clara congelou. A conversa que vinha temendo havia chegado, e agora não havia mais como escapar. Por dentro, ela sentia como se estivesse prestes a desmoronar, cada palavra que dizia era uma faca que cortava sua própria carne. O medo de falhar, de não conseguir escapar, pulsava em suas veias como uma corrente elétrica. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. "Talvez esse seja o momento," pensou, sentindo o coração acele
Clara ainda estava sentada à mesa, tentando processar a conversa com Vinícius. O alívio por ter mencionado o divórcio estava misturado com a crescente ansiedade sobre o que viria a seguir. Ela sabia que a desconfiança de Vinícius estava apenas começando, e que ele não desistiria tão facilmente de encontrar respostas. Mais do que isso, o medo pulsava em seu peito — o medo de que ele descobrisse tudo. A voz de Leonardo ecoava em sua mente. "Se ele descobrir a verdade, Clara... Ele vai acabar com você e com sua família. Ele é implacável." As palavras dele faziam sua respiração acelerar. Vinícius sempre pareceu tão calmo, mas, segundo Leonardo, o homem à sua frente era muito mais perigoso do que ela poderia imaginar. De repente, o som de seu celular vibrando quebrou o silêncio. Relutante, Clara pegou o aparelho e viu o contato salvo como "amor" aparecer na tela. Um nó se formou em seu estômago. Sem querer, ela desbloqueou o telefone e abriu a mensagem. “Estou com saudades de