Quando Vinícius chegou em casa naquela noite, encontrou Clara já sentada no sofá, aparentemente tranquila. Ele tirou o blazer, colocou sobre o encosto do sofá, e então se aproximou de forma descontraída. — Como foi seu dia? — perguntou Vinícius, mantendo o tom casual e despreocupado. — Fez alguma coisa hoje? Clara olhou para ele por um momento, ponderando sobre o que dizer, mas decidiu manter a calma. — Nada demais. Saí um pouco para caminhar — respondeu ela, tentando manter a naturalidade na voz. Vinícius assentiu, sem demonstrar qualquer sinal de desconfiança, mas, internamente, ele processava cada detalhe da resposta dela. — Bom. Caminhar faz bem — disse ele, oferecendo um pequeno sorriso. Clara retribuiu o sorriso com um leve aceno de cabeça, mas o silêncio entre eles logo começou a crescer, como se ambos estivessem evitando qualquer assunto mais profundo. Vinícius, mantendo sua estratégia de observação, decidiu não pressionar mais. — Se precisar de alguma coisa, esta
Quando Clara acordou no quarto de hóspedes, o sol já começava a iluminar o espaço. Ela sabia que provavelmente Vinícius já havia saído. O distanciamento entre eles era evidente.Ela pegou o celular ao lado da cama e rapidamente discou o número de sua mãe. Enquanto o telefone chamava, sentiu uma pontada de ansiedade.— Oi, mãe — disse ela quando sua mãe atendeu. — Como estão as coisas? Já conseguiram avançar com a mudança?A voz de sua mãe, cansada, mas tranquila, respondeu:— Estamos quase terminando, Clara. Estamos só esperando o caminhão chegar com a mudança. Até o fim da tarde ele chega.Clara sentiu um pequeno alívio em saber que seus pais estavam longe de Valença, isso a deixava mais tranquila, mas a pressão que sentia por tudo o que acontecia ainda pesava sobre ela.— Isso é ótimo. Fico mais aliviada sabendo que vocês estão a salvo — disse Clara, tentando esconder a tensão em sua voz.Sua mãe fez uma pausa antes de continuar.— Filha, você está bem? Parece tão preocupada...Clar
Naquela manhã, o sol mal havia nascido quando Clara ouviu uma batida suave na porta. Surpresa por não esperar ninguém tão cedo, ela foi até a entrada e abriu a porta. Suzana estava ali, impecável como sempre, com um olhar que misturava determinação e algo mais sinistro. — Podemos conversar, Clara? — perguntou Suzana, em um tom de falsa doçura. Clara hesitou, mas sabia que recusar seria inútil. Ela a convidou para entrar, e logo as duas estavam novamente na varanda, onde Suzana gostava de discutir seus planos sem que ninguém mais pudesse ouvir. — O que você quer agora? — Clara perguntou, com um tom de cansaço evidente. Suzana sorriu levemente, como se estivesse no controle total da situação. — Vim apenas te lembrar de que as coisas ainda não estão resolvidas. Sei que Leonardo e você querem desistir de tudo, mas... você sabe que não é tão simples assim. — Suzana deu uma olhada ao redor antes de continuar. — Eu ainda estou de olho, Clara. Se você tentar escapar desse plano, seus
O quarto parecia sufocante. Clara sentia o peso da decisão que precisava tomar. O olhar de Vinícius era implacável, misturando raiva, confusão e um toque de dor que ela não suportava ver. Ele merecia a verdade, mas como poderia contar sem colocar a vida dele em risco? Ela respirou fundo, tentando controlar as lágrimas. — Vinícius... eu... — começou, mas a voz falhou. — Fala logo, Clara! — ele exigiu, impaciente, dando mais um passo à frente. — Do que você está falando? O que você e Leonardo estão escondendo? Clara desviou o olhar, tentando encontrar coragem para falar. O silêncio entre eles era denso, pesado, quase insuportável. Cada segundo que passava deixava Vinícius mais impaciente e ela mais desesperada. — Não posso te dizer tudo, Vinícius. Pelo menos, não agora — sussurrou, sabendo que essa resposta apenas aumentaria a fúria dele. — Não pode ou não quer? — Vinícius estreitou os olhos, como se estivesse tentando decifrá-la. — Você realmente acha que eu vou aceitar isso
Ela respirou fundo, tentando reunir forças.— Eu não quero esconder nada de você, mas... tem coisas que são maiores do que eu, do que nós.Vinícius passou a mão pelo rosto, exasperado.— Chega de enigmas, Clara. Eu só quero a verdade. Seja lá qual for.Clara hesitou por um instante, mas antes que pudesse continuar, o som do celular dele vibrando na mesa interrompeu o momento. Ambos olharam para o aparelho, e o nome Leonardo apareceu na tela.O olhar de Vinícius endureceu instantaneamente. Ele pegou o celular e recusou a ligação, largando-o na mesa com mais força do que pretendia.— Eu não acredito nisso... — murmurou, a voz baixa e cheia de frustração. — Como você espera que eu confie em você quando ele não para de te procurar?Clara sentiu o chão se abrir sob seus pés. Ela precisava falar, precisava explicar, mas como? Vinícius já estava à beira do limite.— Não é o que você está pensando, Vinícius. Não tem nada entre mim e o Leonardo. Vinícius soltou uma risada amarga.— Então por
Clara ficou no sofá por um longo tempo, envolvida em uma tempestade de emoções. A casa, silenciosa, agora parecia sufocante. As palavras de Vinícius ecoavam em sua mente como um veredito final: "Eu não vou perdoar isso. Nunca."Ela sabia que não poderia ficar parada. Precisava pensar no próximo passo, precisava garantir que sua família e Vinícius estivessem seguros. Mesmo que ele não quisesse mais vê-la, ela ainda o amava e não poderia permitir que Suzana e Leonardo vencessem.Com esforço, Clara se levantou e foi até o quarto de hóspedes. Precisava descansar, mas seu coração estava tão inquieto que não conseguia sequer fechar os olhos. Cada vez que tentava, a expressão de raiva e decepção de Vinícius invadia seus pensamentos.Vinícius entrou no escritório e fechou a porta com força, tentando controlar a avalanche de emoções que o consumia. A raiva, a traição e a confusão se misturavam em sua mente, formando um turbilhão que ele não sabia como administrar.Ele se sentou na poltrona e p
Vinícius fechou a pasta com um estalo e se levantou, ajeitando o blazer como se estivesse pronto para uma missão. Clara o observava com apreensão, ainda sentada à frente dele.— Levante-se. Eu mesmo vou te mostrar onde você vai trabalhar — disse Vinícius, com um tom firme e inquestionável.Clara sentiu um nó na garganta. Não era uma sugestão; era uma ordem. Sem escolha, ela se levantou e o seguiu silenciosamente para fora da sala.Os corredores da empresa estavam tranquilos, mas a tensão entre eles era palpável. Vinícius não disse uma palavra enquanto caminhavam lado a lado, e Clara se sentia sufocada pela frieza dele. Finalmente, eles chegaram a uma sala ao lado do escritório principal de Vinícius.— Aqui será seu espaço — disse ele, abrindo a porta. O escritório era elegante e bem equipado, com uma mesa ampla, janelas grandes que traziam a luz da manhã e equipamentos prontos para uso.Clara ficou parada por um momento, tentando se acostumar com a ideia de trabalhar tão perto dele.—
— Alô? — A voz do outro lado da linha era fria e distante. — Aqui é Suzana Albuquerque, madrasta de Vinícius. Descobrimos recentemente que vocês se casaram. Clara sentiu o coração disparar, como se estivesse caindo em um abismo profundo. O mundo ao seu redor se tornou um borrão enquanto as palavras de Suzana ecoavam em sua mente. A ideia de perder Vinícius a fazia sentir um peso no peito que nunca havia conhecido antes, uma pressão que a fazia respirar com dificuldade. — Eu... sim, nos casamos — respondeu Clara, a voz hesitante, mal conseguindo conter o tremor. — O que aconteceu? Suzana fez uma pausa, e Clara ouviu sua respiração pesada antes de ela responder, sem qualquer traço de emoção. — Ele sofreu um acidente de avião. Já faz dois dias que estamos à procura — continuou Suzana, como se estivesse falando sobre o tempo. — Achei que você deveria vir. A palavra “acidente” ecoou na mente de Clara, como um sino que badalava em seu coração. O desespero começou a se instalar, e um fri