O sol já estava começando a descer no horizonte, tingindo o céu de tons de laranja e rosa.
Vinícius estava em pé ao lado da cama, os movimentos ainda cautelosos devido às costelas machucadas, enquanto Júlia dobrava com cuidado as roupas que ele usaria na viagem de volta. A decisão de partir havia sido tomada; já se passaram alguns dias desde que Henrique tinha ligado falando sobre o casamento, mesmo com o conselho dos médicos para que ele ficasse mais alguns dias. Vinícius sabia que não podia adiar mais. Júlia, por sua vez, tentava disfarçar o incômodo que sentia ao vê-lo ir embora. Ela sabia que ele tinha assuntos urgentes para resolver, mas uma parte dela desejava que ele ficasse mais um pouco. Ao longo dos dias em que cuidara dele, uma conexão havia se formado, e agora a ideia de se despedir era mais difícil do que ela imaginara. — Acho que é isso — disse ela, entregando a camisa dobrada para ele com um sorriso tímido. — Você está pronto para partir? Vinícius assentiu, vestindo a camisa devagar. — Sim, acho que sim — respondeu ele, enquanto ajeitava as mangas. — Embora eu ainda sinta que preciso de mais alguns dias de descanso, não posso esperar mais. Preciso voltar e resolver essa confusão toda. Júlia cruzou os braços, tentando parecer mais firme do que se sentia. — Eu entendo. Você tem coisas importantes para resolver, mas... — Ela hesitou por um momento, o sorriso nos lábios desaparecendo por alguns segundos. — Só espero que você não esteja se forçando a sair antes da hora. Vinícius parou por um segundo, olhando para ela. Havia algo genuíno na preocupação dela, e ele sentiu uma onda de gratidão. — Você realmente se preocupou comigo, não é? — ele disse, com um sorriso suave, os olhos brilhando de reconhecimento. — Claro que sim — respondeu ela, sem hesitar. — Eu sou a responsável por você estar vivo agora, não sou? Os dois riram levemente, mas o peso da despedida ainda pairava no ar. Júlia voltou a observá-lo, sentindo que precisava dizer algo a mais, mas as palavras pareciam escapar. — Eu... agradeço por tudo o que fez por mim, Júlia — disse Vinícius, quebrando o silêncio. — Se não fosse por você, eu não estaria aqui. Sei que parece pouco o que posso te oferecer em troca, mas... quero que saiba que, se algum dia precisar de algo, qualquer coisa, você pode me procurar. Ele tirou o telefone do bolso e, com gestos rápidos, colocou o número dela em seu celular e ofereceu o dele. — Aqui está — ele continuou, estendendo o aparelho para ela. — Meu número. Me ligue se precisar de ajuda, de qualquer coisa. Não importa quando ou onde. Eu devo isso a você. Júlia pegou o telefone, surpresa com o gesto. Ela olhou para o número dele gravado na tela, um calor estranho invadindo seu peito. Ele era grato, mas além disso, havia algo mais. Ele estava oferecendo uma forma de continuar em contato, um vínculo que ela não esperava. — Eu... não sei o que dizer — murmurou ela, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. — Mas, obrigada. Não sei se algum dia vou precisar, mas... é bom saber que tenho com quem contar. Vinícius sorriu de volta, pegando sua mala e a pendurando no ombro com cuidado. Ele caminhou até a porta, mas parou por um instante, voltando-se para ela mais uma vez. — Não se esqueça de mim, hein? — disse ele, num tom brincalhão, mas com um leve toque de seriedade. — Talvez um dia eu volte para agradecer da maneira certa. Júlia riu, mas havia um brilho triste em seus olhos. — Não tem como esquecer, Vinícius. Cuidar de você... bem, foi uma experiência única. Os dois se encararam por um breve momento, uma conexão silenciosa preenchendo o espaço entre eles. Por mais que fossem de mundos completamente diferentes, algo havia se formado ali, um entendimento mútuo de gratidão e respeito. — Cuide-se, Júlia — disse ele, finalmente. — E me procure se precisar. Vou lhe ajudar, mesmo estando longe. Júlia assentiu, enquanto Vinícius saía pela porta do hospital, a silhueta dele se afastando lentamente pelo corredor. Ela ficou parada ali por um instante, observando até ele desaparecer de vista, o coração levemente apertado. No fundo, Júlia sabia que a despedida havia sido necessária. Mas, mesmo assim, não pôde deixar de sentir que aquela história ainda não havia terminado. Ao olhar pela janela, observando o sol se pôr, ela percebeu que o dia estava chegando ao fim, mas sua mente estava longe, pensando no que o futuro poderia reservar para ambos.O avião pousou suavemente, e Vinícius sentiu um leve desconforto ao se mover no assento, as costelas machucadas ainda o incomodavam. Ele suspirou, ansioso para sair daquela situação e entender o que estava realmente acontecendo. O acidente ainda estava fresco em sua mente, mas o que mais o perturbava era o mistério que envolvia seu suposto casamento com Clara. Quando saiu do aeroporto, avistou Henrique esperando por ele perto do carro, com uma expressão contida, mas familiar. Henrique era seu advogado e amigo de longa data. Sempre direto e discreto, Henrique sabia como lidar com situações delicadas. Vinícius avançou até ele, sentindo o peso da situação aumentar. — Vinícius! — Henrique disse, com um sorriso controlado ao apertar sua mão. — Como você está, meu amigo? — Melhorando — respondeu Vinícius, sem muita emoção. — Ainda tentando juntar os pedaços. Henrique assentiu, abrindo a porta do carro para ele. — Imagino que deve ser confuso voltar depois de tudo isso — disse Henri
Enquanto Vinícius tentava se ajustar à nova realidade de seu casamento com Clara, a porta da sala se abriu de repente. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção. Gisele, aos 28 anos, era uma mulher sofisticada e de beleza impressionante. Seus cabelos ruivos e ondulados caíam até os ombros, destacando ainda mais seus penetrantes olhos azuis. Com cerca de 1,70 m de altura, Gisele possuía um corpo elegante e esguio, sempre realçado por trajes finos e bem escolhidos. Sua presença era marcante, com uma postura impecável e um andar confiante que nunca passava despercebido. Ela sempre fora uma amiga leal e próxima de Vinícius, e a família dele frequentemente falava sobre o potencial deles como casal. — Vinícius! — ela gritou, correndo em sua direção, como se estivesse desesperada para garantir que ele realmente estava ali, vivo. Vinícius ficou congelado por um segundo. Gisele sempre foi uma presença constante em sua vida. Antes do acidente, havia um carinho sutil e
Clara sentou-se na beirada da cama, os nervos à flor da pele após a conversa com Leonardo. As palavras dele ainda ecoavam em sua mente, e o medo de que sua vida estivesse prestes a desmoronar crescia a cada segundo.Ela mal teve tempo de processar as ameaças quando ouviu o som da porta se abrindo lentamente. Seu coração disparou. Vinícius entrou no quarto, sua expressão serena, mas com os olhos afiados.— Clara, precisamos conversar — disse ele, com uma voz calma, mas carregada de curiosidade e desconfiança.Clara sentiu o peito apertar. O confronto que ela tanto temia estava se aproximando.— Eu trabalho como aeromoça — disse, tentando sorrir levemente. — Foi assim que nos encontramos naquele voo para Valença.Vinícius franziu o cenho.— Lembro da viagem... — disse ele, devagar. — Mas não sabia que você era aeromoça.Clara assentiu, esforçando-se para manter a compostura.— Sim, eu estava trabalhando no voo. Você pediu meu telefone na volta. Foi aí que começamos a nos ver.Vinícius f
O silêncio continuava pesado no quarto. Vinícius, deitado ao lado de Clara, mantinha-se imóvel, lutando contra seus próprios pensamentos. Mas era Clara quem se sentia mais sufocada pela presença dele, mesmo que ele não se movesse. Virada de costas, Clara tentava encontrar uma posição confortável. A cada pensamento que tinha, o peso no peito aumentava. Sabia que estava jogando um jogo perigoso. E, a cada minuto ao lado dele, o fardo da mentira tornava-se insuportável. "Como vou sair disso?" Ela mordeu o lábio, inquieta. "Como vou pedir o divórcio sem levantar suspeitas?" Clara entendia que o divórcio seria o fim da farsa, mas não via outra saída. Talvez, se jogasse bem suas cartas, conseguisse convencer Vinícius de que o casamento não estava funcionando. Afinal, eles mal se conheciam, e a falta de lembranças dele poderia ser sua desculpa perfeita. "Mas como ele reagiria?" Seu coração acelerou. "Será que ele acreditaria? Ou isso só pioraria as coisas?" Mesmo assim, Clara não c
O jantar havia terminado, e Vinícius continuava observando Clara com a mesma intensidade. O silêncio entre eles era quase sufocante, mas ele não estava disposto a deixar as coisas como estavam. Clara sentia o olhar dele sobre si, e cada segundo que passava aumentava a pressão. Cada movimento dela parecia calculado, e o ar ao redor deles se tornava mais pesado a cada instante. Depois de um momento, Vinícius finalmente quebrou o silêncio. — Clara — disse ele, com a voz baixa, mas firme. — Precisamos conversar sobre o que realmente está acontecendo aqui. Clara congelou. A conversa que vinha temendo havia chegado, e agora não havia mais como escapar. Por dentro, ela sentia como se estivesse prestes a desmoronar, cada palavra que dizia era uma faca que cortava sua própria carne. O medo de falhar, de não conseguir escapar, pulsava em suas veias como uma corrente elétrica. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. "Talvez esse seja o momento," pensou, sentindo o coração acele
Clara ainda estava sentada à mesa, tentando processar a conversa com Vinícius. O alívio por ter mencionado o divórcio estava misturado com a crescente ansiedade sobre o que viria a seguir. Ela sabia que a desconfiança de Vinícius estava apenas começando, e que ele não desistiria tão facilmente de encontrar respostas. Mais do que isso, o medo pulsava em seu peito — o medo de que ele descobrisse tudo. A voz de Leonardo ecoava em sua mente. "Se ele descobrir a verdade, Clara... Ele vai acabar com você e com sua família. Ele é implacável." As palavras dele faziam sua respiração acelerar. Vinícius sempre pareceu tão calmo, mas, segundo Leonardo, o homem à sua frente era muito mais perigoso do que ela poderia imaginar. De repente, o som de seu celular vibrando quebrou o silêncio. Relutante, Clara pegou o aparelho e viu o contato salvo como "amor" aparecer na tela. Um nó se formou em seu estômago. Sem querer, ela desbloqueou o telefone e abriu a mensagem. “Estou com saudades de
No dia seguinte, Vinícius chegou ao prédio da empresa, sentindo o peso do tempo que havia se passado desde que estivera ali pela última vez. Ele havia se afastado por conta do acidente, mas agora era hora de retomar o controle. Ao entrar no escritório, os funcionários o cumprimentaram com surpresa e respeito. Seu retorno causava burburinho nos corredores, mas Vinícius estava focado em outra questão. Assim que chegou à sua sala, Vinícius pegou o telefone e ligou para Henrique. — Henrique, preciso que venha até minha sala o quanto antes — disse Vinícius, em tom direto. Poucos minutos depois, Henrique apareceu à porta, com sua postura sempre atenta. — Que bom te ver de volta, Vinícius — cumprimentou Henrique, com um sorriso contido. — É bom estar de volta, mas tenho coisas mais urgentes para resolver do que reuniões de negócios. Sente-se — respondeu Vinícius, apontando para a cadeira à sua frente. Henrique se acomodou, percebendo a seriedade no rosto do amigo. — O que está acontec
O final da tarde já começava a cair quando o telefone de Vinícius vibrou em sua mesa de trabalho. Ele atendeu imediatamente — era Henrique. Sentado em sua sala na empresa, Vinícius aguardava essa ligação o dia inteiro, certo de que a investigação revelaria as falhas nos registros do casamento com Clara, que ele acreditava ser uma farsa. Ele atendeu rapidamente, tentando manter a calma, apesar do nervosismo crescente. — Henrique — disse ele, direto. — O que você descobriu? Do outro lado da linha, Henrique respirou fundo antes de responder. — Vinícius, eu fiz o que me pediu. Investiguei o cartório, conferi os registros, e... bem, os documentos estão todos em ordem. Vinícius franziu a testa, sentindo o coração acelerar. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, processando a informação. — O que você quer dizer com 'tudo em ordem'? — perguntou ele, incrédulo. — Quero dizer que, legalmente, o casamento de vocês é válido. Os papéis estão assinados, os registros confere