5 - Eu Devo Isso a Você

O sol já estava começando a descer no horizonte, tingindo o céu de tons de laranja e rosa.

Vinícius estava em pé ao lado da cama, os movimentos ainda cautelosos devido às costelas machucadas, enquanto Júlia dobrava com cuidado as roupas que ele usaria na viagem de volta.

A decisão de partir havia sido tomada, mesmo com o conselho dos médicos para que ele ficasse mais alguns dias. Vinícius sabia que não podia adiar mais.

Júlia, por sua vez, tentava disfarçar o incômodo que sentia ao vê-lo ir embora. Ela sabia que ele tinha assuntos urgentes para resolver, mas uma parte dela desejava que ele ficasse mais um pouco.

Ao longo dos dias em que cuidara dele, uma conexão havia se formado, e agora a ideia de se despedir era mais difícil do que ela imaginara.

— Acho que é isso — disse ela, entregando a camisa dobrada para ele com um sorriso tímido. — Você está pronto para partir?

Vinícius assentiu, vestindo a camisa devagar.

— Sim, acho que sim — respondeu ele, enquanto ajeitava as mangas. — Embora eu ainda sinta que preciso de mais alguns dias de descanso, não posso esperar mais. Preciso voltar e resolver essa confusão toda.

Júlia cruzou os braços, tentando parecer mais firme do que se sentia.

— Eu entendo. Você tem coisas importantes para resolver, mas... — Ela hesitou por um momento, o sorriso nos lábios desaparecendo por alguns segundos. — Só espero que você não esteja se forçando a sair antes da hora.

Vinícius parou por um segundo, olhando para ela. Havia algo genuíno na preocupação dela, e ele sentiu uma onda de gratidão.

— Você realmente se preocupou comigo, não é? — ele disse, com um sorriso suave, os olhos brilhando de reconhecimento.

— Claro que sim — respondeu ela, sem hesitar. — Eu sou a responsável por você estar vivo agora, não sou?

Os dois riram levemente, mas o peso da despedida ainda pairava no ar. Júlia voltou a observá-lo, sentindo que precisava dizer algo a mais, mas as palavras pareciam escapar.

— Eu... agradeço por tudo o que fez por mim, Júlia — disse Vinícius, quebrando o silêncio. — Se não fosse por você, eu não estaria aqui. Sei que parece pouco o que posso te oferecer em troca, mas... quero que saiba que, se algum dia precisar de algo, qualquer coisa, você pode me procurar.

Ele tirou o telefone do bolso e, com gestos rápidos, colocou o número dela em seu celular e ofereceu o dele.

— Aqui está — ele continuou, estendendo o aparelho para ela. — Meu número. Me ligue se precisar de ajuda, de qualquer coisa. Não importa quando ou onde. Eu devo isso a você.

Júlia pegou o telefone, surpresa com o gesto. Ela olhou para o número dele gravado na tela, mas ainda não sabia como responder à generosidade de Vinícius. Ela sentiu um calor estranho invadir seu peito.

Ele era grato, mas além disso, havia algo mais. Ele estava oferecendo uma forma de continuar em contato, um vínculo que ela não esperava.

— Eu... não sei o que dizer — murmurou ela, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. — Mas, obrigada. Não sei se algum dia vou precisar, mas... é bom saber que tenho com quem contar.

Vinícius sorriu de volta, pegando sua mala e a pendurando no ombro com cuidado. Ele caminhou até a porta, mas parou por um instante, voltando-se para ela mais uma vez.

— Não se esqueça de mim, hein? — disse ele, num tom brincalhão, mas com um leve toque de seriedade. — Talvez um dia eu volte para agradecer da maneira certa.

Júlia riu, mas havia um brilho triste em seus olhos.

— Não tem como esquecer, Vinícius. Cuidar de você... bem, foi uma experiência única.

Os dois se encararam por um breve momento, uma conexão silenciosa preenchendo o espaço entre eles. Por mais que fossem de mundos completamente diferentes, algo havia se formado ali, um entendimento mútuo de gratidão e respeito.

— Cuide-se, Júlia — disse ele, finalmente. — E me procure se precisar. Vou estar por perto, mesmo de longe.

Júlia assentiu, enquanto Vinícius saía pela porta do hospital, a silhueta dele se afastando lentamente pelo corredor. Ela ficou parada ali por um instante, observando até ele desaparecer de vista, o coração levemente apertado.

No fundo, Júlia sabia que a despedida havia sido necessária. Mas, mesmo assim, não pôde deixar de sentir que aquela história ainda não havia terminado.

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