O jantar continuava, e a conversa fluía de maneira mais suave do que Clara imaginara. O ambiente, o vinho e a atenção de Vinícius sobre ela estavam começando a quebrar as barreiras que ela havia erguido desde o início. Ainda assim, uma sombra de medo pairava em sua mente. Clara, mesmo relutante, começou a relaxar, mas uma parte dela permanecia alerta, como se cada palavra trocada fosse um passo em direção ao abismo. Vinícius serviu mais vinho para ambos, o líquido rubro brilhando sob as luzes suaves do restaurante. Ele a observava com atenção, percebendo que, embora ela tentasse parecer mais à vontade, havia algo que ainda a mantinha distante, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos. — Parece que o vinho está ajudando a aliviar um pouco da tensão, não é? — comentou Vinícius, com um sorriso discreto, levantando a taça em um brinde casual. Clara forçou um sorriso, levantando a taça. — Sim, acho que está — admitiu ela, permitindo-se relaxar um pouco mais, mas sentind
O beijo entre eles havia terminado, mas o eco de sua intensidade ainda pairava no ar. Clara, ofegante, sentia o coração acelerado enquanto tentava processar o que havia acabado de acontecer. Vinícius a olhava com uma expressão suave, mas calculada. Cada movimento dele parecia meticulosamente pensado para aproximá-la ainda mais, para fazê-la confiar. Ele segurou o rosto de Clara com delicadeza, seus olhos fixos nos dela, como se quisesse transmitir uma conexão profunda. Mas, por dentro, Vinícius estava atento a cada reação dela. Sabia que precisava continuar jogando seu papel para que ela baixasse a guarda. — Clara — começou ele, com a voz baixa e carregada de uma tristeza bem ensaiada. — Eu me sinto tão mal por ter esquecido tudo. Me sinto culpado por não lembrar de você, do nosso passado. Parece que estou perdendo algo que deveríamos estar construindo juntos. Clara sentiu um nó se formar em sua garganta. As palavras de Vinícius a atingiram de maneira inesperada. Por um lad
Vinícius entrou em casa mais cedo do que de costume, a expressão neutra, como sempre, mas com uma certa leveza nos movimentos. Clara, que estava sentada no sofá, distraída, levantou o olhar assim que ele entrou.Algo nela imediatamente percebeu que havia uma diferença nele, especialmente ao notar que ele não estava mais usando a tipoia no braço. Ele parecia... livre. Sem as limitações físicas que o acidente lhe impusera.— Você tirou a tipoia — comentou Clara, com um leve sorriso, tentando soar casual. — Está completamente recuperado?Vinícius caminhou em direção à cozinha, colocando as chaves sobre a bancada e pegando uma garrafa de vinho. Ele olhou para Clara com um leve brilho nos olhos, algo diferente do Vinícius que ela havia se acostumado a lidar nas últimas semanas.— Sim, finalmente — respondeu ele, servindo duas taças de vinho. — O médico me liberou. A costela também já está curada. Acho que estou pronto para voltar à vida normal.Clara observou enquanto ele trazia as taças a
Depois de um silêncio desconfortável, Vinícius se afastou lentamente. Ele sabia que Clara estava escondendo algo, mas percebia que precisava ser paciente. Já havia começado a colocar seus planos em ação, pedindo discretamente a Henrique para monitorar detalhes sobre Clara.Clara, sentindo a tensão crescer a cada segundo, levantou-se do sofá e foi para o quarto. Ela precisava de espaço para pensar e tentar manter o controle da situação. Seu coração batia acelerado, e o medo de ser desmascarada por Vinícius a consumia.Assim que chegou ao quarto, sentiu o celular vibrar no bolso. Com mãos trêmulas, pegou o aparelho e viu uma mensagem de Leonardo:"Clara, precisamos conversar. Não aguento mais essa situação. Você acha que ele vai descobrir tudo? Me responda. Preciso falar com você."Clara se sentou na beira da cama, o celular ainda em suas mãos. As palavras de Leonardo pareciam pulsar na tela, ameaçando desmoronar tudo. Ela sabia que um passo em falso poderia ser fatal. Vinícius estav
Na manhã seguinte, Clara desceu as escadas devagar, imersa em pensamentos confusos. A tensão entre ela, Vinícius e Leonardo a consumia. O cheiro de café recém-passado invadiu o ambiente, um contraste com o turbilhão de emoções dentro dela. Ao entrar na cozinha, ela se deparou com uma mulher preparando o café da manhã. Era uma figura que não reconhecia, o que a fez franzir o cenho. Vinícius estava sentado à mesa, observando o movimento com uma xícara de café nas mãos. Ao perceber a presença de Clara, ele se levantou levemente e sorriu, como se aquele fosse um dia comum. — Ah, Clara — começou ele, gesticulando em direção à mulher na cozinha. — Quero te apresentar Dona Marisa. Ela trabalhou comigo por muitos anos antes... de tudo. Agora que as coisas estão se estabilizando, achei melhor trazê-la de volta para cuidar da casa. Marisa, essa é Clara. Dona Marisa, uma senhora de aparência acolhedora, virou-se para Clara com um sorriso caloroso e estendeu a mão. — É um prazer conhecê-l
Clara saiu do restaurante com os passos rápidos, o coração batendo forte no peito. Ela não sabia se era a culpa ou o medo que a dominava naquele momento. Sabrina parecia tão genuína em suas palavras sobre Vinícius, como se ele fosse um homem cuidadoso e protetor. Isso contrastava completamente com o que Leonardo havia dito sobre ele. No entanto, as palavras de Leonardo ainda ecoavam em sua mente, despertando um medo profundo.Enquanto caminhava em direção à saída norte do shopping, Clara olhava para os lados, certificando-se de que ninguém a estivesse seguindo. Sabrina já havia partido, e esse era o momento que ela sabia que não poderia evitar: encontrar-se com Leonardo.Assim que se aproximou do local combinado, viu Leonardo à distância, encostado em uma parede, com as mãos nos bolsos e um semblante sério. Ele a observava com olhos atentos, o que fez Clara hesitar por um momento antes de continuar.Quando finalmente se aproximou, Leonardo se afastou da parede e caminhou até ela, se
Clara subiu as escadas sentindo o peso de tudo o que havia acontecido naquele dia. O encontro com Leonardo tinha deixado sua mente em um turbilhão. A culpa, o medo, a manipulação... Tudo a pressionava. Quando chegou ao quarto, ela mal conseguiu se manter de pé. Deitou-se na cama sem nem se preocupar em tirar os sapatos. O cansaço emocional a dominava. Ela fechou os olhos e tentou desligar sua mente. O silêncio do quarto parecia um alívio, mas a sensação de que algo estava fora do controle ainda a incomodava. Mesmo assim, em poucos minutos, a exaustão a venceu, e Clara adormeceu profundamente. Vinícius chegou em casa mais cedo do que o esperado, o ambiente calmo e silencioso. Ele subiu as escadas e encontrou Clara deitada, ainda de roupa, completamente apagada. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios enquanto a observava. Ele sabia que Clara estava evitando algumas conversas, e isso o fazia se sentir ainda mais no controle da situação. Aproximou-se da cama e, com um leve toque n
Clara engoliu em seco ao ouvir as palavras de Vinícius. Seu corpo enrijeceu com a ideia de uma viagem inesperada, e sua mente começou a correr, pensando em todas as possíveis armadilhas que essa "surpresa" poderia esconder.— Uma viagem? Para onde? — perguntou ela, tentando manter o tom neutro, mas sem conseguir esconder o receio.Vinícius se inclinou levemente, como se apreciasse a reação dela. Seus olhos, sempre tão calculadores, mantinham aquele brilho enigmático.— Vamos para um lugar especial, que tenho certeza de que vai nos fazer bem — respondeu ele, evitando dar detalhes. — Vai ser uma surpresa até o último momento. Apenas se prepare para sair daqui em algumas horas.Clara desviou o olhar, mordendo o lábio em um gesto nervoso. Tudo parecia acontecer rápido demais. Não havia tempo para planejar, não havia tempo para se preparar. E, o mais aterrorizante, ela não sabia como se livrar dessa situação. Mas, diante de Vinícius, sentia que recuar agora só levantaria ainda mais suspeit