Clara engoliu em seco ao ouvir as palavras de Vinícius. Seu corpo enrijeceu com a ideia de uma viagem inesperada, e sua mente começou a correr, pensando em todas as possíveis armadilhas que essa "surpresa" poderia esconder.— Uma viagem? Para onde? — perguntou ela, tentando manter o tom neutro, mas sem conseguir esconder o receio.Vinícius se inclinou levemente, como se apreciasse a reação dela. Seus olhos, sempre tão calculadores, mantinham aquele brilho enigmático.— Vamos para um lugar especial, que tenho certeza de que vai nos fazer bem — respondeu ele, evitando dar detalhes. — Vai ser uma surpresa até o último momento. Apenas se prepare para sair daqui em algumas horas.Clara desviou o olhar, mordendo o lábio em um gesto nervoso. Tudo parecia acontecer rápido demais. Não havia tempo para planejar, não havia tempo para se preparar. E, o mais aterrorizante, ela não sabia como se livrar dessa situação. Mas, diante de Vinícius, sentia que recuar agora só levantaria ainda mais suspeit
Após o café da manhã, Clara subiu para se preparar. Ela precisava encontrar uma maneira de manter as aparências quando chegasse à pousada e, mais ainda, quando visse os pais. Como explicar essa mudança repentina, sem levantar suspeitas?Enquanto terminava de arrumar a mala, Vinícius entrou no quarto para pegar algumas coisas.— Está tudo bem? — perguntou ele, notando o olhar distante de Clara.Ela assentiu rapidamente.— Sim, só... não esperava essa viagem. Mas é bom, acho que preciso disso também — disse ela, tentando soar convincente.Vinícius sorriu levemente.— Que bom. Vai nos fazer bem. Eu realmente gostaria de lembrar desses momentos que tivemos lá.Clara sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele sempre parecia tão calmo, tão certo do que dizia, que às vezes era difícil saber onde terminava a verdade e começava a manipulação. Mas dessa vez, ele não parecia estar jogando; havia uma tristeza genuína em sua voz.— Vamos sair em breve — disse ele, pegando a mala. — Estarei espera
O carro percorreu lentamente a estrada de paralelepípedos enquanto Clara observava o cenário passar pela janela. O verde ao redor, as colinas e o ar puro contrastavam com o peso que ela sentia no peito. Sua mente estava distante, repleta de pensamentos sobre como lidar com tudo que estava por vir.Quando finalmente chegaram à pousada, Clara sentiu o coração acelerar. A Pousada das Oliveiras, com suas paredes de pedra e decoração rústica, permanecia exatamente como ela se lembrava. O lugar onde ela e Leonardo passaram a lua de mel agora era palco de um reencontro forçado com o homem que acreditava ser seu marido.Assim que o carro parou, o funcionário da pousada se aproximou prontamente, recebendo-os com um sorriso solícito.— Bem-vindos! Vocês devem ser os Cavalcante. Tudo já está preparado para vocês. Por favor, sigam-me até o quarto — disse o homem, conduzindo-os em direção à entrada principal.Clara permaneceu em silêncio, tentando disfarçar o nervosismo que crescia dentro dela.
Quando o carro estacionou em frente à casa de seus pais, Clara sentiu o coração acelerar. Seus pensamentos estavam confusos e pesados, e a ideia de encarar Marta e Luciano a fazia sentir um medo crescente. Ela sabia que não podia contar toda a verdade, mas, ao mesmo tempo, estava prestes a colocar todos em uma situação delicada.Vinícius, sempre observador, desceu do carro e esticou os braços como quem estuda o ambiente. Ele parecia calmo, quase descontraído, mas Clara sabia que, por trás daquela fachada, ele estava tentando reunir informações, entender cada detalhe daquele mundo que Clara havia criado para ele.Clara saiu logo depois, tentando esconder o nervosismo que crescia dentro de si.— Pai, mãe — disse Clara com uma voz hesitante, forçando um sorriso. — Eu estava com saudades.Marta deu um abraço em Clara, o sorriso em seus lábios tremeu por um breve instante antes de se recompor. Luciano manteve a postura mais rígida, mas ambos estenderam as mãos em um cumprimento que pare
Assim que chegaram à pousada, a tensão entre Clara e Vinícius parecia mais palpável do que nunca. O silêncio entre eles era denso, apenas interrompido pelo som suave de seus passos ecoando pelos corredores de madeira da pousada. A viagem de volta da casa dos pais de Clara havia sido tranquila demais, e isso só alimentava o desconforto que ela sentia. Vinícius, sempre observador, parecia estar esperando o momento certo para falar algo.Quando finalmente chegaram ao quarto, Clara imediatamente foi até a janela, afastando as cortinas e olhando para a paisagem noturna. Ela precisava de alguns segundos para pensar. As perguntas de Vinícius durante o jantar ainda reverberavam em sua mente. Ele estava sempre explorando, sondando, mas com aquela delicadeza que fazia parecer que era um homem perdido tentando lembrar do passado.Ela sentiu o peso da culpa novamente. A mentira que ela estava sustentando a consumia por dentro, e agora, estar ali com ele, na pousada onde supostamente teriam pass
Na manhã seguinte, Clara acordou com a luz suave entrando pelas cortinas da pousada. Os lençóis macios e o silêncio tranquilo do lugar a fizeram esquecer, por um breve instante, o turbilhão de pensamentos e a confusão que carregava. Mas, aos poucos, as memórias do dia anterior retornaram, trazendo de volta o peso da situação em que se encontrava.Ainda deitada, ela ouviu uma batida leve na porta, seguida pela voz de Vinícius.— Clara, o café da manhã já foi servido. Está pronta?Clara olhou em volta, notando a bandeja posta sobre a mesa ao lado da janela, com frutas, pães e uma chaleira de café quente. Havia algo quase romântico naquele cenário, o que a fez hesitar por um momento.— Já vou — respondeu ela, levantando-se devagar e vestindo o robe que estava ao lado da cama.Ao abrir a porta, Vinícius já estava sentado em uma das cadeiras perto da janela, parecendo relaxado e confortável. Ele ergueu a cabeça quando a viu, esboçando um sorriso gentil.— Bom dia — disse ele suavemente, c
A trilha era suave, com o som dos pássaros ao fundo e o cheiro fresco das árvores. Clara caminhava ao lado de Vinícius, e pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que podia respirar sem sentir o peso de tudo o que a cercava.O sol brilhava suavemente através das copas das árvores, iluminando o caminho à frente. Vinícius parecia mais relaxado também, e por um momento, Clara se permitiu pensar que talvez, apenas talvez, as coisas pudessem ser simples entre eles.— Você sempre gostou de trilhas? — perguntou Vinícius, quebrando o silêncio com um sorriso leve.Clara olhou para ele, surpresa pela pergunta tranquila.— Sim, na verdade, eu sempre adorei. É algo que me faz sentir... livre — respondeu ela, com um toque de nostalgia em sua voz. — E você? É fã de natureza ou prefere a cidade?Vinícius riu baixinho, encolhendo os ombros enquanto caminhava ao lado dela.— Sempre fui mais da cidade, confesso. Mas acho que estou começando a entender o apelo. Há algo de reconfortante em caminhar p
O silêncio entre Clara e Vinícius estava carregado, mas dessa vez, não com as tensões de desconfiança ou manipulação que Clara normalmente sentia. Havia algo mais sutil. Depois do beijo inesperado durante a trilha, o ar ao redor parecia diferente, mais denso, como se ambos estivessem cientes de algo que não poderia ser desfeito.Após a trilha, eles retornaram à pousada, onde a luz suave da tarde criava um ambiente acolhedor. O jantar seria em algumas horas, mas, por enquanto, o tempo parecia suspenso.Clara se permitiu relaxar um pouco enquanto entravam no quarto.A caminhada havia trazido um tipo de paz temporária, e ela, por mais que tentasse resistir, não conseguia negar a sensação de estar menos pressionada com Vinícius. Ele parecia ter abaixado a guarda por um momento, e ela pôde ver algo mais humano nele.Vinícius, por sua vez, observava Clara de maneira diferente. Aquela descontração, o riso ocasional que ela deixava escapar, mesmo que tímido, mexia com ele de uma maneira que