Quando o carro estacionou em frente à casa de seus pais, Clara sentiu o coração acelerar. Seus pensamentos estavam confusos e pesados, e a ideia de encarar Marta e Luciano a fazia sentir um medo crescente. Ela sabia que não podia contar toda a verdade, mas, ao mesmo tempo, estava prestes a colocar todos em uma situação delicada.Vinícius, sempre observador, desceu do carro e esticou os braços como quem estuda o ambiente. Ele parecia calmo, quase descontraído, mas Clara sabia que, por trás daquela fachada, ele estava tentando reunir informações, entender cada detalhe daquele mundo que Clara havia criado para ele.Clara saiu logo depois, tentando esconder o nervosismo que crescia dentro de si.— Pai, mãe — disse Clara com uma voz hesitante, forçando um sorriso. — Eu estava com saudades.Marta deu um abraço em Clara, o sorriso em seus lábios tremeu por um breve instante antes de se recompor. Luciano manteve a postura mais rígida, mas ambos estenderam as mãos em um cumprimento que pare
Assim que chegaram à pousada, a tensão entre Clara e Vinícius parecia mais palpável do que nunca. O silêncio entre eles era denso, apenas interrompido pelo som suave de seus passos ecoando pelos corredores de madeira da pousada. A viagem de volta da casa dos pais de Clara havia sido tranquila demais, e isso só alimentava o desconforto que ela sentia. Vinícius, sempre observador, parecia estar esperando o momento certo para falar algo.Quando finalmente chegaram ao quarto, Clara imediatamente foi até a janela, afastando as cortinas e olhando para a paisagem noturna. Ela precisava de alguns segundos para pensar. As perguntas de Vinícius durante o jantar ainda reverberavam em sua mente. Ele estava sempre explorando, sondando, mas com aquela delicadeza que fazia parecer que era um homem perdido tentando lembrar do passado.Ela sentiu o peso da culpa novamente. A mentira que ela estava sustentando a consumia por dentro, e agora, estar ali com ele, na pousada onde supostamente teriam pass
Na manhã seguinte, Clara acordou com a luz suave entrando pelas cortinas da pousada. Os lençóis macios e o silêncio tranquilo do lugar a fizeram esquecer, por um breve instante, o turbilhão de pensamentos e a confusão que carregava. Mas, aos poucos, as memórias do dia anterior retornaram, trazendo de volta o peso da situação em que se encontrava.Ainda deitada, ela ouviu uma batida leve na porta, seguida pela voz de Vinícius.— Clara, o café da manhã já foi servido. Está pronta?Clara olhou em volta, notando a bandeja posta sobre a mesa ao lado da janela, com frutas, pães e uma chaleira de café quente. Havia algo quase romântico naquele cenário, o que a fez hesitar por um momento.— Já vou — respondeu ela, levantando-se devagar e vestindo o robe que estava ao lado da cama.Ao abrir a porta, Vinícius já estava sentado em uma das cadeiras perto da janela, parecendo relaxado e confortável. Ele ergueu a cabeça quando a viu, esboçando um sorriso gentil.— Bom dia — disse ele suavemente, c
A trilha era suave, com o som dos pássaros ao fundo e o cheiro fresco das árvores. Clara caminhava ao lado de Vinícius, e pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que podia respirar sem sentir o peso de tudo o que a cercava.O sol brilhava suavemente através das copas das árvores, iluminando o caminho à frente. Vinícius parecia mais relaxado também, e por um momento, Clara se permitiu pensar que talvez, apenas talvez, as coisas pudessem ser simples entre eles.— Você sempre gostou de trilhas? — perguntou Vinícius, quebrando o silêncio com um sorriso leve.Clara olhou para ele, surpresa pela pergunta tranquila.— Sim, na verdade, eu sempre adorei. É algo que me faz sentir... livre — respondeu ela, com um toque de nostalgia em sua voz. — E você? É fã de natureza ou prefere a cidade?Vinícius riu baixinho, encolhendo os ombros enquanto caminhava ao lado dela.— Sempre fui mais da cidade, confesso. Mas acho que estou começando a entender o apelo. Há algo de reconfortante em caminhar p
O silêncio entre Clara e Vinícius estava carregado, mas dessa vez, não com as tensões de desconfiança ou manipulação que Clara normalmente sentia. Havia algo mais sutil. Depois do beijo inesperado durante a trilha, o ar ao redor parecia diferente, mais denso, como se ambos estivessem cientes de algo que não poderia ser desfeito.Após a trilha, eles retornaram à pousada, onde a luz suave da tarde criava um ambiente acolhedor. O jantar seria em algumas horas, mas, por enquanto, o tempo parecia suspenso.Clara se permitiu relaxar um pouco enquanto entravam no quarto.A caminhada havia trazido um tipo de paz temporária, e ela, por mais que tentasse resistir, não conseguia negar a sensação de estar menos pressionada com Vinícius. Ele parecia ter abaixado a guarda por um momento, e ela pôde ver algo mais humano nele.Vinícius, por sua vez, observava Clara de maneira diferente. Aquela descontração, o riso ocasional que ela deixava escapar, mesmo que tímido, mexia com ele de uma maneira que
Assim que saiu do quarto, Vinícius fechou a porta com cuidado e respirou fundo, não para processar qualquer sentimento, mas para manter o foco no plano que havia traçado. Tudo estava funcionando como ele queria, e cada passo que dava com Clara o aproximava de descobrir a verdade. Ele não podia se distrair, e sentimentos estavam fora de questão naquele momento.Caminhando pelos corredores da pousada, pegou o celular e discou rapidamente o número de Henrique. Não havia tempo a perder.— Vinícius? Tudo está indo conforme o planejado? — a voz de Henrique soou, objetiva.— Sim — respondeu Vinícius em um tom frio. — As câmeras estão instaladas?Henrique fez uma breve pausa.— Sim, tudo como você pediu. As câmeras foram instaladas discretamente pela casa. Temos visão dos principais cômodos, inclusive áreas externas. Se Clara fizer qualquer movimento suspeito, você será o primeiro a saber.Vinícius assentiu, ainda atento ao seu redor.— Ótimo. Fique atento e me avise sobre qualquer novidade
Vinícius deu um passo à frente, estendendo a mão para Clara.— Vamos dar uma volta? — sugeriu ele, num tom suave.Clara hesitou por um segundo, mas logo aceitou. Segurou a mão dele, e juntos saíram para caminhar pelo jardim da pousada.O silêncio entre eles era confortável. A brisa da noite soprava suavemente, e Clara sentia um breve alívio do peso que a acompanhava nos últimos dias.— Eu sempre gostei de lugares assim — disse Vinícius, quebrando o silêncio. — A tranquilidade me faz esquecer... por um momento.— Esquecer o quê? — Clara perguntou, sem pensar.Vinícius riu baixinho, mas não respondeu diretamente.— Às vezes, a vida nos dá mais perguntas do que respostas. Mas você parece em paz agora.Clara olhou para o céu, evitando os olhos dele.— Acho que por um momento, sim... — respondeu, mas logo desviou o olhar de novo. — Mas é difícil relaxar de verdade.Vinícius parou de andar e a puxou suavemente para perto. Clara sentiu o toque dele, firme, mas não invasivo.— Você está segur
Vinícius olhou para Clara enquanto caminhavam lentamente pelas ruas tranquilas de Valença. O sol estava suave, e a brisa trazia uma sensação de leveza, quase relaxante.— Essa é sua cidade? — ele perguntou, a curiosidade clara no tom de voz.Clara assentiu, deixando um sorriso tímido surgir.— Sim. Tudo aqui tem um ritmo diferente... mais calmo, menos pressa. Gosto disso. — Ela olhou ao redor, observando as poucas pessoas nas ruas.— Posso entender o apelo — disse Vinícius, observando o entorno. — Às vezes, é bom estar longe da agitação.O silêncio que se seguiu foi confortável. Clara se pegou relaxando, aproveitando a caminhada. Ao lado de Vinícius, o peso dos últimos dias parecia um pouco menos intenso. Talvez fosse o ar de sua cidade natal, talvez a companhia... ela não sabia ao certo.— Você vinha muito aqui? — Vinícius quebrou o silêncio, apontando para uma pequena livraria na esquina.Clara sorriu ao ver o lugar.— Sempre. Passava horas nessa livraria. — Ela olhou para a fachada