Enquanto Vinícius tentava se ajustar à nova realidade de seu casamento com Clara, a porta da sala se abriu de repente. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção.
Gisele, aos 28 anos, era uma mulher sofisticada e de beleza impressionante. Seus cabelos ruivos e ondulados caíam até os ombros, destacando ainda mais seus penetrantes olhos azuis. Com cerca de 1,70 m de altura, Gisele possuía um corpo elegante e esguio, sempre realçado por trajes finos e bem escolhidos. Sua presença era marcante, com uma postura impecável e um andar confiante que nunca passava despercebido. Ela sempre fora uma amiga leal e próxima de Vinícius, e a família dele frequentemente falava sobre o potencial deles como casal. — Vinícius! — ela gritou, correndo em sua direção, como se estivesse desesperada para garantir que ele realmente estava ali, vivo. Vinícius ficou congelado por um segundo. Gisele sempre foi uma presença constante em sua vida. Antes do acidente, havia um carinho sutil entre eles, um tipo de intimidade que flertava com a linha entre amizade e algo mais. Mas algo sempre o impediu de avançar para um relacionamento sério. Antes que pudesse reagir, Gisele o envolveu em um abraço desesperado, apertando-o como se quisesse garantir que ele era real. — Não acredito que você está vivo! — disse ela, a voz embargada de alívio. — Achei que tinha te perdido para sempre. Vinícius, pego de surpresa, devolveu o abraço, tentando manter a calma. Sentia o peso do momento, e a intensidade dos sentimentos de Gisele nunca havia sido tão clara. Clara, até então ao seu lado, deu um passo para trás, observando a cena com desconforto. — Gisele... — Vinícius murmurou, mantendo o papel de alguém tentando se lembrar de tudo. — Estou bem. Foi um acidente, mas estou aqui. Gisele se afastou um pouco, ainda segurando os ombros de Vinícius com força. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. — Quando Henrique me contou que você estava vivo, eu vim o mais rápido que pude. Não podia acreditar! Vinícius percebeu que Gisele não sabia nada sobre Clara, e isso só complicaria a situação. Ele lançou um olhar rápido para Clara, que estava desconcertada, mas ainda silenciosa. A tensão na sala aumentou. — Estou feliz que você veio, Gisele — disse Vinícius, tentando controlar a situação. — Mas há muitas coisas que ainda não me lembro. Preciso de tempo. Gisele finalmente notou Clara. Seus olhos se voltaram para ela, e a dor de Gisele se transformou em uma mistura de confusão e desconfiança. — Quem é ela? — perguntou Gisele, a voz baixa, carregada de curiosidade e uma pontada de ciúmes. Vinícius hesitou, buscando a melhor forma de introduzir Clara. Ele sabia que qualquer movimento precipitado poderia comprometer seu plano. — Gisele, essa é Clara... minha esposa — disse Vinícius lentamente, observando a reação de Gisele. O choque foi instantâneo. Gisele deu um passo para trás, os olhos arregalados. — Esposa? — ela repetiu, incrédula. — Como assim, sua esposa? O silêncio na sala tornou-se ensurdecedor. Clara olhou para Gisele, sem saber como reagir àquela invasão repentina. O rosto de Gisele alternava entre descrença e dor. — Como assim, Vinícius? — insistiu Gisele, sua voz subindo um pouco. — Você nunca mencionou nada sobre se casar. Como isso aconteceu? Vinícius precisava manter o controle. Fingiu incerteza, esfregando a testa como se estivesse realmente confuso. — Gisele, eu não sei como te explicar isso — disse ele, com a voz embargada. — Minha memória está falha desde o acidente. Há muitas coisas que ainda não consigo lembrar. O casamento... Clara... Ele olhou para Clara, buscando confirmação. — Estou tentando entender tudo isso. Clara, percebendo que a situação estava saindo de controle, decidiu falar. — Nós nos casamos pouco antes do acidente, Gisele — explicou Clara, a voz suave. — Foi uma cerimônia discreta. Decidimos não contar a ninguém imediatamente. Com tudo o que aconteceu, Vinícius ainda está tentando se lembrar dos detalhes. Gisele olhou para Clara, processando as palavras, mas seus olhos revelavam incredulidade. Ela não conseguia aceitar o que estava ouvindo. — Isso não faz sentido — disse Gisele, com a voz trêmula. — Vinícius, você nunca mencionou nada sobre se casar. Como eu não sabia disso? Vinícius suspirou, tentando manter o tom conciliador. — Como eu disse, Gisele, há muitas coisas que não fazem sentido para mim também. Talvez seja consequência do acidente. Não lembro de muitos detalhes... sobre o casamento, sobre Clara. Mas preciso confiar no que ela está dizendo até que eu consiga recuperar a memória. Gisele, abalada, passou a mão pelos cabelos, tentando conter a frustração e a dor. Era difícil ver Vinícius, alguém por quem ela nutria sentimentos profundos, envolvido com outra mulher. — Eu só... — Gisele começou, respirando fundo. — Eu só preciso entender o que está acontecendo. Vinícius se aproximou de Gisele, tentando acalmá-la. — Eu entendo, Gisele — disse ele, com voz suave. — Também estou tentando entender. Prometo que vou esclarecer tudo. Só preciso de tempo. Ela olhou para ele, dividida entre emoção e razão. Sabia que não era o momento para confrontá-lo diretamente, mas a frustração estava à flor da pele. — Tudo bem — disse Gisele, finalmente cedendo. — Eu só... não estava preparada para isso. Vou dar um tempo para vocês conversarem, mas não se esqueça, Vinícius, eu estou aqui por você. Sempre estive. Ela lançou um último olhar para Clara antes de sair da sala. O silêncio que se seguiu era sufocante. Vinícius ficou parado por alguns segundos, observando Gisele sair, antes de voltar sua atenção para Clara. — Isso está se complicando mais do que eu esperava — disse ele, com um brilho nos olhos, mantendo o tom calmo, mas carregado de determinação. — Acho que podemos continuar de onde paramos. Clara assentiu, tentando manter a calma, mas sentia que o controle da situação estava escapando de suas mãos. Enquanto Clara se afastava com Vinícius, o corredor silencioso da mansão parecia sufocá-la. Vinícius sabia que estava lidando com algo muito maior, e cada movimento precisava ser calculado. Ao chegar ao quarto, Vinícius abriu a porta e fez um sinal para Clara entrar. Ela hesitou por um momento, mas logo passou por ele, claramente exausta pela tensão que dominava o ambiente. Enquanto ela se sentava na cama, o peso das mentiras parecia maior do que nunca. Vinícius sabia que aquele era o momento de finalmente começar a juntar as peças. — Nós temos muito o que conversar, Clara — disse ele, fechando a porta atrás de si. Sua voz era suave, mas havia uma firmeza inegável em seu tom. Ele sabia que dessa vez, nenhuma verdade poderia permanecer oculta.Clara sentou-se na beirada da cama, os nervos à flor da pele após a conversa com Leonardo. As palavras dele ainda ecoavam em sua mente, e o medo de que sua vida estivesse prestes a desmoronar crescia a cada segundo.Ela mal teve tempo de processar as ameaças quando ouviu o som da porta se abrindo lentamente. Seu coração disparou. Vinícius entrou no quarto, sua expressão serena, mas com os olhos afiados.— Clara, precisamos conversar — disse ele, com uma voz calma, mas carregada de curiosidade e desconfiança.Clara sentiu o peito apertar. O confronto que ela tanto temia estava se aproximando.— Eu trabalho como aeromoça — disse, tentando sorrir levemente. — Foi assim que nos encontramos naquele voo para Valença.Vinícius franziu o cenho.— Lembro da viagem... — disse ele, devagar. — Mas não sabia que você era aeromoça.Clara assentiu, esforçando-se para manter a compostura.— Sim, eu estava trabalhando no voo. Você pediu meu telefone na volta. Foi aí que começamos a nos ver.Vinícius f
O silêncio continuava pesado no quarto. Vinícius, deitado ao lado de Clara, mantinha-se imóvel, lutando contra seus próprios pensamentos. Mas era Clara quem se sentia mais sufocada pela presença dele, mesmo que ele não se movesse. Virada de costas, Clara tentava encontrar uma posição confortável. A cada pensamento que tinha, o peso no peito aumentava. Sabia que estava jogando um jogo perigoso. E, a cada minuto ao lado dele, o fardo da mentira tornava-se insuportável. "Como vou sair disso?" Ela mordeu o lábio, inquieta. "Como vou pedir o divórcio sem levantar suspeitas?" Clara entendia que o divórcio seria o fim da farsa, mas não via outra saída. Talvez, se jogasse bem suas cartas, conseguisse convencer Vinícius de que o casamento não estava funcionando. Afinal, eles mal se conheciam, e a falta de lembranças dele poderia ser sua desculpa perfeita. "Mas como ele reagiria?" Seu coração acelerou. "Será que ele acreditaria? Ou isso só pioraria as coisas?" Mesmo assim, Clara não c
O jantar havia terminado, e Vinícius continuava observando Clara com a mesma intensidade. O silêncio entre eles era quase sufocante, mas ele não estava disposto a deixar as coisas como estavam. Clara sentia o olhar dele sobre si, e cada segundo que passava aumentava a pressão. Cada movimento dela parecia calculado, e o ar ao redor deles se tornava mais pesado a cada instante. Depois de um momento, Vinícius finalmente quebrou o silêncio. — Clara — disse ele, com a voz baixa, mas firme. — Precisamos conversar sobre o que realmente está acontecendo aqui. Clara congelou. A conversa que vinha temendo havia chegado, e agora não havia mais como escapar. Por dentro, ela sentia como se estivesse prestes a desmoronar, cada palavra que dizia era uma faca que cortava sua própria carne. O medo de falhar, de não conseguir escapar, pulsava em suas veias como uma corrente elétrica. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. "Talvez esse seja o momento," pensou, sentindo o coração acele
Clara ainda estava sentada à mesa, tentando processar a conversa com Vinícius. O alívio por ter mencionado o divórcio estava misturado com a crescente ansiedade sobre o que viria a seguir. Ela sabia que a desconfiança de Vinícius estava apenas começando, e que ele não desistiria tão facilmente de encontrar respostas. Mais do que isso, o medo pulsava em seu peito — o medo de que ele descobrisse tudo. A voz de Leonardo ecoava em sua mente. "Se ele descobrir a verdade, Clara... Ele vai acabar com você e com sua família. Ele é implacável." As palavras dele faziam sua respiração acelerar. Vinícius sempre pareceu tão calmo, mas, segundo Leonardo, o homem à sua frente era muito mais perigoso do que ela poderia imaginar. De repente, o som de seu celular vibrando quebrou o silêncio. Relutante, Clara pegou o aparelho e viu o contato salvo como "amor" aparecer na tela. Um nó se formou em seu estômago. Sem querer, ela desbloqueou o telefone e abriu a mensagem. “Estou com saudades de
No dia seguinte, Vinícius chegou ao prédio da empresa, sentindo o peso do tempo que havia se passado desde que estivera ali pela última vez. Ele havia se afastado por conta do acidente, mas agora era hora de retomar o controle. Ao entrar no escritório, os funcionários o cumprimentaram com surpresa e respeito. Seu retorno causava burburinho nos corredores, mas Vinícius estava focado em outra questão. Assim que chegou à sua sala, Vinícius pegou o telefone e ligou para Henrique. — Henrique, preciso que venha até minha sala o quanto antes — disse Vinícius, em tom direto. Poucos minutos depois, Henrique apareceu à porta, com sua postura sempre atenta. — Que bom te ver de volta, Vinícius — cumprimentou Henrique, com um sorriso contido. — É bom estar de volta, mas tenho coisas mais urgentes para resolver do que reuniões de negócios. Sente-se — respondeu Vinícius, apontando para a cadeira à sua frente. Henrique se acomodou, percebendo a seriedade no rosto do amigo. — O que está acontec
O final da tarde já começava a cair quando o telefone de Vinícius vibrou em sua mesa de trabalho. Ele atendeu imediatamente — era Henrique. Sentado em sua sala na empresa, Vinícius aguardava essa ligação o dia inteiro, certo de que a investigação revelaria as falhas nos registros do casamento com Clara, que ele acreditava ser uma farsa. Ele atendeu rapidamente, tentando manter a calma, apesar do nervosismo crescente. — Henrique — disse ele, direto. — O que você descobriu? Do outro lado da linha, Henrique respirou fundo antes de responder. — Vinícius, eu fiz o que me pediu. Investiguei o cartório, conferi os registros, e... bem, os documentos estão todos em ordem. Vinícius franziu a testa, sentindo o coração acelerar. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, processando a informação. — O que você quer dizer com 'tudo em ordem'? — perguntou ele, incrédulo. — Quero dizer que, legalmente, o casamento de vocês é válido. Os papéis estão assinados, os registros confere
O jantar continuava, e a conversa fluía de maneira mais suave do que Clara imaginara. O ambiente, o vinho e a atenção de Vinícius sobre ela estavam começando a quebrar as barreiras que ela havia erguido desde o início. Ainda assim, uma sombra de medo pairava em sua mente. Clara, mesmo relutante, começou a relaxar, mas uma parte dela permanecia alerta, como se cada palavra trocada fosse um passo em direção ao abismo. Vinícius serviu mais vinho para ambos, o líquido rubro brilhando sob as luzes suaves do restaurante. Ele a observava com atenção, percebendo que, embora ela tentasse parecer mais à vontade, havia algo que ainda a mantinha distante, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos. — Parece que o vinho está ajudando a aliviar um pouco da tensão, não é? — comentou Vinícius, com um sorriso discreto, levantando a taça em um brinde casual. Clara forçou um sorriso, levantando a taça. — Sim, acho que está — admitiu ela, permitindo-se relaxar um pouco mais, mas sentind
O beijo entre eles havia terminado, mas o eco de sua intensidade ainda pairava no ar. Clara, ofegante, sentia o coração acelerado enquanto tentava processar o que havia acabado de acontecer. Vinícius a olhava com uma expressão suave, mas calculada. Cada movimento dele parecia meticulosamente pensado para aproximá-la ainda mais, para fazê-la confiar. Ele segurou o rosto de Clara com delicadeza, seus olhos fixos nos dela, como se quisesse transmitir uma conexão profunda. Mas, por dentro, Vinícius estava atento a cada reação dela. Sabia que precisava continuar jogando seu papel para que ela baixasse a guarda. — Clara — começou ele, com a voz baixa e carregada de uma tristeza bem ensaiada. — Eu me sinto tão mal por ter esquecido tudo. Me sinto culpado por não lembrar de você, do nosso passado. Parece que estou perdendo algo que deveríamos estar construindo juntos. Clara sentiu um nó se formar em sua garganta. As palavras de Vinícius a atingiram de maneira inesperada. Por um lad