7 - Precisamos Conversar

Antes que Vinícius pudesse reagir à conversa com Clara, a porta da sala se abriu de repente. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção.

— Vinícius! — ela gritou, correndo em sua direção, como se estivesse desesperada para garantir que ele realmente estava ali, vivo.

Vinícius ficou congelado por um segundo. Gisele sempre foi uma presença constante em sua vida. Amiga de infância, eles cresceram juntos, e a família dele sempre imaginou que acabariam se casando. Mas algo sempre o impediu de avançar.

Antes que pudesse reagir, Gisele o envolveu em um abraço desesperado, apertando-o como se quisesse garantir que ele era real.

— Não acredito que você está vivo! — disse ela, a voz embargada de alívio. — Achei que tinha te perdido para sempre.

Vinícius, pego de surpresa, devolveu o abraço, tentando manter a calma. Sentia o peso do momento, e a intensidade dos sentimentos de Gisele nunca havia sido tão clara. Clara, até então ao seu lado, deu um passo para trás, observando a cena com desconforto.

— Gisele... — Vinícius murmurou, mantendo o papel de alguém tentando se lembrar de tudo. — Estou bem. Foi um acidente, mas estou aqui.

Gisele se afastou um pouco, ainda segurando os ombros de Vinícius com força. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Quando Henrique me contou que você estava vivo, eu vim o mais rápido que pude. Não podia acreditar!

Vinícius percebeu que Gisele não sabia nada sobre Clara, e isso só complicaria a situação. Ele lançou um olhar rápido para Clara, que estava desconcertada, mas ainda silenciosa. A tensão na sala aumentou.

— Estou feliz que você veio, Gisele — disse Vinícius, tentando controlar a situação. — Mas há muitas coisas que ainda não me lembro. Preciso de tempo.

Gisele finalmente notou Clara. Seus olhos se voltaram para ela, e a dor de Gisele se transformou em uma mistura de confusão e desconfiança.

— Quem é ela? — perguntou Gisele, a voz baixa, carregada de curiosidade e uma pontada de ciúmes.

Vinícius hesitou, buscando a melhor forma de introduzir Clara. Ele sabia que qualquer movimento precipitado poderia comprometer seu plano.

— Gisele, essa é Clara... minha esposa — disse Vinícius lentamente, observando a reação de Gisele.

O choque foi instantâneo. Gisele deu um passo para trás, os olhos arregalados.

— Esposa? — ela repetiu, incrédula. — Como assim, sua esposa?

O silêncio na sala tornou-se ensurdecedor. Clara olhou para Gisele, sem saber como reagir àquela invasão repentina. O rosto de Gisele alternava entre descrença e dor.

— Como assim, Vinícius? — insistiu Gisele, sua voz subindo um pouco. — Você nunca mencionou nada sobre se casar. Como isso aconteceu?

Vinícius precisava manter o controle. Fingiu incerteza, esfregando a testa como se estivesse realmente confuso.

— Gisele, eu não sei como te explicar isso — disse ele, com a voz embargada. — Minha memória está falha desde o acidente. Há muitas coisas que ainda não consigo lembrar. O casamento... Clara...

Ele olhou para Clara, buscando confirmação.

— Estou tentando entender tudo isso.

Clara, percebendo que a situação estava saindo de controle, decidiu falar.

— Nós nos casamos pouco antes do acidente, Gisele — explicou Clara, a voz suave. — Foi uma cerimônia discreta. Decidimos não contar a ninguém imediatamente. Com tudo o que aconteceu, Vinícius ainda está tentando se lembrar dos detalhes.

Gisele olhou para Clara, processando as palavras, mas seus olhos revelavam incredulidade. Ela não conseguia aceitar o que estava ouvindo.

— Isso não faz sentido — disse Gisele, com a voz trêmula. — Vinícius, você nunca mencionou nada sobre se casar. Como eu não sabia disso?

Vinícius suspirou, tentando manter o tom conciliador.

— Como eu disse, Gisele, há muitas coisas que não fazem sentido para mim também. Talvez seja consequência do acidente. Não lembro de muitos detalhes... sobre o casamento, sobre Clara. Mas preciso confiar no que ela está dizendo até que eu consiga recuperar a memória.

Gisele, abalada, passou a mão pelos cabelos, tentando conter a frustração e a dor. Era difícil ver Vinícius, alguém por quem ela nutria sentimentos profundos, envolvido com outra mulher.

— Eu só... — Gisele começou, respirando fundo. — Eu só preciso entender o que está acontecendo.

Vinícius se aproximou de Gisele, tentando acalmá-la.

— Eu entendo, Gisele — disse ele, com voz suave. — Também estou tentando entender. Prometo que vou esclarecer tudo. Só preciso de tempo.

Ela olhou para ele, dividida entre emoção e razão. Sabia que não era o momento para confrontá-lo diretamente, mas a frustração estava à flor da pele.

— Tudo bem — disse Gisele, finalmente cedendo. — Eu só... não estava preparada para isso. Vou dar um tempo para vocês conversarem, mas não se esqueça, Vinícius, eu estou aqui por você. Sempre estive.

Ela lançou um último olhar para Clara antes de sair da sala. O silêncio que se seguiu era sufocante. Vinícius ficou parado por alguns segundos, observando Gisele sair, antes de voltar sua atenção para Clara.

— Isso está se complicando mais do que eu esperava — disse ele, com um brilho nos olhos, mantendo o tom calmo, mas carregado de determinação. — Acho que podemos continuar de onde paramos.

Clara assentiu, tentando manter a calma, mas sentia que o controle da situação estava escapando de suas mãos.

Enquanto Clara se afastava com Vinícius, o corredor silencioso da mansão parecia sufocá-la. Vinícius sabia que estava lidando com algo muito maior, e cada movimento precisava ser calculado.

Ao chegar ao quarto, Vinícius abriu a porta e fez um sinal para Clara entrar. Ela hesitou por um momento, mas logo passou por ele, claramente exausta pela tensão que dominava o ambiente.

Enquanto ela se sentava na cama, o peso das mentiras parecia maior do que nunca. Vinícius sabia que aquele era o momento de finalmente começar a juntar as peças.

— Nós temos muito o que conversar, Clara — disse ele, fechando a porta atrás de si. Sua voz era suave, mas havia uma firmeza inegável em seu tom. Ele sabia que dessa vez, nenhuma verdade poderia permanecer oculta.

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