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6 - Retorno à Mansão

O avião pousou suavemente, e Vinícius sentiu um leve desconforto ao se mover no assento, as costelas machucadas ainda o incomodavam. Ele suspirou, ansioso para sair daquela situação e entender o que estava realmente acontecendo. O acidente ainda estava fresco em sua mente, mas o que mais o perturbava era o mistério que envolvia seu suposto casamento com Clara.

Quando saiu do aeroporto, avistou Henrique esperando por ele perto do carro, com uma expressão contida, mas familiar. Henrique era seu advogado e amigo de longa data. Sempre direto e discreto, Henrique sabia como lidar com situações delicadas. Vinícius avançou até ele, sentindo o peso da situação aumentar.

— Vinícius! — Henrique disse, com um sorriso controlado ao apertar sua mão. — Como você está, meu amigo?

— Melhorando — respondeu Vinícius, sem muita emoção. — Ainda tentando juntar os pedaços.

Henrique assentiu, abrindo a porta do carro para ele.

— Imagino que deve ser confuso voltar depois de tudo isso — disse Henrique, enquanto entrava no carro e ligava o motor. — Como foi a viagem?

— Tranquila, mas não estou aqui para falar da viagem — Vinícius respondeu, direto. — O que está acontecendo, Henrique? Que história é essa de casamento que eu não me lembro de ter acontecido. Clara... como isso é possível?

Henrique manteve os olhos na estrada, mas Vinícius notou o leve desconforto no rosto do amigo. Havia algo na postura de Henrique que o deixava inquieto.

— É complicado, Vinícius — começou Henrique, escolhendo as palavras com cuidado. — Clara tem estado ao seu lado desde o acidente. Ela... realmente acredita que vocês estão casados. Eu não sei os detalhes exatos, mas ela está convencida disso.

Vinícius estreitou os olhos, sentindo o incômodo aumentar.

— Convencida? Como assim? Eu nunca me casei, Henrique. Por que ela estaria dizendo isso?

Henrique suspirou, parecendo ponderar sobre o que diria a seguir.

— Não sei, Vinícius. Talvez seja o choque do acidente, talvez seja outra coisa. Mas Clara... ela tem se mostrado muito preocupada com você. Talvez você tenha perdido algum detalhe antes do acidente. A questão é: ela acredita que esse casamento aconteceu.

Vinícius permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando as palavras do amigo. Havia mais por trás disso. Ele sabia que Henrique estava escondendo algo, mas ainda não sabia o que era.

— Vou precisar descobrir por conta própria — murmurou Vinícius, cruzando os braços. — Mas não vou cair nessa facilmente.

— Eu sei que você vai investigar tudo, Vinícius — disse Henrique, tentando parecer casual. — Só... tente dar uma chance à Clara. Ela parece genuinamente preocupada com você.

Vinícius não respondeu, seus pensamentos estavam muito longe da conversa. Algo estava errado, e ele estava determinado a descobrir o que.

Quando chegaram à casa, Vinícius desceu do carro com cuidado, ainda sentindo as costelas latejarem. Henrique ficou ao lado dele, observando enquanto caminhavam até a entrada.

Assim que entrou na sala de estar, Vinícius viu Clara o esperando. Ela sorriu, visivelmente aliviada ao vê-lo.

— Vinícius! — disse ela, a voz carregada de emoção. — Eu estava tão preocupada.

Sabrina, a irmã mais nova, foi a primeira a correr para ele, abraçando-o com entusiasmo. Ela era filha do mesmo pai, mas de mães diferentes. Seu Albuquerque, pai de Vinícius, se casou duas vezes. Do primeiro casamento nasceu Vinícius, e sua mãe faleceu quando ele ainda era muito jovem.

Pouco depois, seu Albuquerque casou-se novamente com Suzana, e desse casamento nasceu Leonardo, que tinha dois anos de diferença de Vinícius. Mais tarde, porém, seu Albuquerque teve um caso com sua secretária, Amanda Silva, resultando no nascimento de Sabrina.

Ele reconheceu Sabrina como sua filha, mas Suzana nunca aceitou a ideia de separação e conseguiu reverter a situação, mantendo-se casada. Amanda desapareceu logo depois, e, por mais que seu Albuquerque a procurasse, nunca a encontrou novamente.

— Que bom que você voltou, irmão! — exclamou Sabrina, com um sorriso brilhante. — Estava com tanto medo de nunca mais te ver.

Vinícius retribuiu o abraço da irmã, sentindo a sinceridade dela. Sabrina sempre fora a mais emotiva, o que fazia contraste com a tensão que pairava no ar.

Logo atrás dela, estavam Suzana e Leonardo. Suzana, com sua postura rígida e olhar crítico, sorriu de maneira forçada.

— É bom ter você de volta, Vinícius — disse ela, mantendo sua compostura habitual.

Leonardo, o irmão do meio, também se aproximou, apertando a mão de Vinícius com força.

— Fico aliviado que esteja aqui. — A voz de Leonardo era contida, mas havia um ar de genuína preocupação.

— Estamos todos aliviados com o seu retorno, querido — completou Suzana.

Vinícius acenou com a cabeça, mas seu foco estava em Clara. Ele precisava entender o que estava acontecendo.

— Como está se sentindo? — perguntou Clara, aproximando-se dele, a voz suave, mas cheia de expectativa.

Vinícius a observou por um segundo antes de responder.

— Estou... melhor — disse ele, escolhendo as palavras com cuidado. — Mas ainda confuso sobre algumas coisas.

Clara assentiu, como se esperasse por essa resposta.

— O acidente foi terrível, Vinícius. É normal que você tenha lacunas na memória — disse ela, tentando parecer compreensiva. — Mas estou aqui para te ajudar. Vamos superar isso juntos.

— Sobre isso... — Vinícius começou, cauteloso. — Eu ainda não consigo me lembrar de tudo. Algumas coisas não fazem sentido.

Clara se aproximou mais, segurando a mão dele com suavidade.

— Isso é normal, querido — disse ela, com um tom tranquilizador. — Nós nos casamos, sim. Foi uma cerimônia simples, como você queria. Decidimos manter tudo em segredo por um tempo, até que as coisas se acalmassem. As memórias vão voltar, tenho certeza.

Vinícius manteve sua expressão neutra, mas por dentro, sabia que algo estava errado. Mesmo assim, decidiu não confrontá-la diretamente.

— Talvez — disse ele, esfregando a testa como se estivesse confuso. — Mas por enquanto, estou tendo dificuldade de aceitar isso.

Clara apertou a mão dele novamente, tentando transmitir conforto.

— Não se preocupe. Eu estou aqui, e vou te ajudar a lembrar de tudo — respondeu ela, com um sorriso suave.

Vinícius assentiu, fingindo aceitar, mas por dentro calculava cada movimento. Ele precisava descobrir a verdade por trás dessa história.

Por enquanto, jogaria o jogo de Clara. Era a melhor forma de encontrar as respostas.

Antes que pudesse fazer sua próxima jogada, um som de passos apressados veio do corredor. A porta da sala se abriu de repente com um estrondo. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção.

— Vinícius! — a voz dela ecoou pela sala, cheia de urgência.

Vinícius olhou para Clara por um breve momento. O jogo estava prestes a ficar muito mais complicado.

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