O avião pousou suavemente, e Vinícius sentiu um leve desconforto ao se mover no assento, as costelas machucadas ainda o incomodavam. Ele suspirou, ansioso para sair daquela situação e entender o que estava realmente acontecendo. O acidente ainda estava fresco em sua mente, mas o que mais o perturbava era o mistério que envolvia seu suposto casamento com Clara.
Quando saiu do aeroporto, avistou Henrique esperando por ele perto do carro, com uma expressão contida, mas familiar. Henrique era seu advogado e amigo de longa data. Sempre direto e discreto, Henrique sabia como lidar com situações delicadas. Vinícius avançou até ele, sentindo o peso da situação aumentar. — Vinícius! — Henrique disse, com um sorriso controlado ao apertar sua mão. — Como você está, meu amigo? — Melhorando — respondeu Vinícius, sem muita emoção. — Ainda tentando juntar os pedaços. Henrique assentiu, abrindo a porta do carro para ele. — Imagino que deve ser confuso voltar depois de tudo isso — disse Henrique, enquanto entrava no carro e ligava o motor. — Como foi a viagem? — Tranquila, mas não estou aqui para falar da viagem — Vinícius respondeu, direto. — O que está acontecendo, Henrique? Que história é essa de casamento que eu não me lembro de ter acontecido. Clara... como isso é possível? Henrique manteve os olhos na estrada, mas Vinícius notou o leve desconforto no rosto do amigo. Havia algo na postura de Henrique que o deixava inquieto. — É complicado, Vinícius — começou Henrique, escolhendo as palavras com cuidado. — Clara tem estado ao seu lado desde o acidente. Ela... realmente acredita que vocês estão casados. Eu não sei os detalhes exatos, mas ela está convencida disso. Vinícius estreitou os olhos, sentindo o incômodo aumentar. — Convencida? Como assim? Eu nunca me casei, Henrique. Por que ela estaria dizendo isso? Henrique suspirou, parecendo ponderar sobre o que diria a seguir. — Não sei, Vinícius. Talvez seja o choque do acidente, talvez seja outra coisa. Mas Clara... ela tem se mostrado muito preocupada com você. Talvez você tenha perdido algum detalhe antes do acidente. A questão é: ela acredita que esse casamento aconteceu. Vinícius permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando as palavras do amigo. Havia mais por trás disso. Ele sabia que Henrique estava escondendo algo, mas ainda não sabia o que era. — Vou precisar descobrir por conta própria — murmurou Vinícius, cruzando os braços. — Mas não vou cair nessa facilmente. — Eu sei que você vai investigar tudo, Vinícius — disse Henrique, tentando parecer casual. — Só... tente dar uma chance à Clara. Ela parece genuinamente preocupada com você. Vinícius não respondeu, seus pensamentos estavam muito longe da conversa. Algo estava errado, e ele estava determinado a descobrir o que. Quando chegaram à casa, Vinícius desceu do carro com cuidado, ainda sentindo as costelas latejarem. Henrique ficou ao lado dele, observando enquanto caminhavam até a entrada. Assim que entrou na sala de estar, Vinícius viu Clara o esperando. Ela sorriu, visivelmente aliviada ao vê-lo. — Vinícius! — disse ela, a voz carregada de emoção. — Eu estava tão preocupada. Sabrina, a irmã mais nova, foi a primeira a correr para ele, abraçando-o com entusiasmo. Ela era filha do mesmo pai, mas de mães diferentes. Seu Albuquerque, pai de Vinícius, se casou duas vezes. Do primeiro casamento nasceu Vinícius, e sua mãe faleceu quando ele ainda era muito jovem. Pouco depois, seu Albuquerque casou-se novamente com Suzana, e desse casamento nasceu Leonardo, que tinha dois anos de diferença de Vinícius. Mais tarde, porém, seu Albuquerque teve um caso com sua secretária, Amanda Silva, resultando no nascimento de Sabrina. Ele reconheceu Sabrina como sua filha, mas Suzana nunca aceitou a ideia de separação e conseguiu reverter a situação, mantendo-se casada. Amanda desapareceu logo depois, e, por mais que seu Albuquerque a procurasse, nunca a encontrou novamente. — Que bom que você voltou, irmão! — exclamou Sabrina, com um sorriso brilhante. — Estava com tanto medo de nunca mais te ver. Vinícius retribuiu o abraço da irmã, sentindo a sinceridade dela. Sabrina sempre fora a mais emotiva, o que fazia contraste com a tensão que pairava no ar. Logo atrás dela, estavam Suzana e Leonardo. Suzana, com sua postura rígida e olhar crítico, sorriu de maneira forçada. — É bom ter você de volta, Vinícius — disse ela, mantendo sua compostura habitual. Leonardo, o irmão do meio, também se aproximou, apertando a mão de Vinícius com força. — Fico aliviado que esteja aqui. — A voz de Leonardo era contida, mas havia um ar de genuína preocupação. — Estamos todos aliviados com o seu retorno, querido — completou Suzana. Vinícius acenou com a cabeça, mas seu foco estava em Clara. Ele precisava entender o que estava acontecendo. — Como está se sentindo? — perguntou Clara, aproximando-se dele, a voz suave, mas cheia de expectativa. Vinícius a observou por um segundo antes de responder. — Estou... melhor — disse ele, escolhendo as palavras com cuidado. — Mas ainda confuso sobre algumas coisas. Clara assentiu, como se esperasse por essa resposta. — O acidente foi terrível, Vinícius. É normal que você tenha lacunas na memória — disse ela, tentando parecer compreensiva. — Mas estou aqui para te ajudar. Vamos superar isso juntos. — Sobre isso... — Vinícius começou, cauteloso. — Eu ainda não consigo me lembrar de tudo. Algumas coisas não fazem sentido. Clara se aproximou mais, segurando a mão dele com suavidade. — Isso é normal, querido — disse ela, com um tom tranquilizador. — Nós nos casamos, sim. Foi uma cerimônia simples, como você queria. Decidimos manter tudo em segredo por um tempo, até que as coisas se acalmassem. As memórias vão voltar, tenho certeza. Vinícius manteve sua expressão neutra, mas por dentro, sabia que algo estava errado. Mesmo assim, decidiu não confrontá-la diretamente. — Talvez — disse ele, esfregando a testa como se estivesse confuso. — Mas por enquanto, estou tendo dificuldade de aceitar isso. Clara apertou a mão dele novamente, tentando transmitir conforto. — Não se preocupe. Eu estou aqui, e vou te ajudar a lembrar de tudo — respondeu ela, com um sorriso suave. Vinícius assentiu, fingindo aceitar, mas por dentro calculava cada movimento. Ele precisava descobrir a verdade por trás dessa história. Por enquanto, jogaria o jogo de Clara. Era a melhor forma de encontrar as respostas. Antes que pudesse fazer sua próxima jogada, um som de passos apressados veio do corredor. A porta da sala se abriu de repente com um estrondo. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção. — Vinícius! — a voz dela ecoou pela sala, cheia de urgência. Vinícius olhou para Clara por um breve momento. O jogo estava prestes a ficar muito mais complicado.Enquanto Vinícius tentava se ajustar à nova realidade de seu casamento com Clara, a porta da sala se abriu de repente. Gisele Amorim entrou como um furacão, o rosto tomado pela emoção. Gisele, aos 28 anos, era uma mulher sofisticada e de beleza impressionante. Seus cabelos ruivos e ondulados caíam até os ombros, destacando ainda mais seus penetrantes olhos azuis. Com cerca de 1,70 m de altura, Gisele possuía um corpo elegante e esguio, sempre realçado por trajes finos e bem escolhidos. Sua presença era marcante, com uma postura impecável e um andar confiante que nunca passava despercebido. Ela sempre fora uma amiga leal e próxima de Vinícius, e a família dele frequentemente falava sobre o potencial deles como casal. — Vinícius! — ela gritou, correndo em sua direção, como se estivesse desesperada para garantir que ele realmente estava ali, vivo. Vinícius ficou congelado por um segundo. Gisele sempre foi uma presença constante em sua vida. Antes do acidente, havia um carinho sutil e
Clara sentou-se na beirada da cama, os nervos à flor da pele após a conversa com Leonardo. As palavras dele ainda ecoavam em sua mente, e o medo de que sua vida estivesse prestes a desmoronar crescia a cada segundo.Ela mal teve tempo de processar as ameaças quando ouviu o som da porta se abrindo lentamente. Seu coração disparou. Vinícius entrou no quarto, sua expressão serena, mas com os olhos afiados.— Clara, precisamos conversar — disse ele, com uma voz calma, mas carregada de curiosidade e desconfiança.Clara sentiu o peito apertar. O confronto que ela tanto temia estava se aproximando.— Eu trabalho como aeromoça — disse, tentando sorrir levemente. — Foi assim que nos encontramos naquele voo para Valença.Vinícius franziu o cenho.— Lembro da viagem... — disse ele, devagar. — Mas não sabia que você era aeromoça.Clara assentiu, esforçando-se para manter a compostura.— Sim, eu estava trabalhando no voo. Você pediu meu telefone na volta. Foi aí que começamos a nos ver.Vinícius f
O silêncio continuava pesado no quarto. Vinícius, deitado ao lado de Clara, mantinha-se imóvel, lutando contra seus próprios pensamentos. Mas era Clara quem se sentia mais sufocada pela presença dele, mesmo que ele não se movesse. Virada de costas, Clara tentava encontrar uma posição confortável. A cada pensamento que tinha, o peso no peito aumentava. Sabia que estava jogando um jogo perigoso. E, a cada minuto ao lado dele, o fardo da mentira tornava-se insuportável. "Como vou sair disso?" Ela mordeu o lábio, inquieta. "Como vou pedir o divórcio sem levantar suspeitas?" Clara entendia que o divórcio seria o fim da farsa, mas não via outra saída. Talvez, se jogasse bem suas cartas, conseguisse convencer Vinícius de que o casamento não estava funcionando. Afinal, eles mal se conheciam, e a falta de lembranças dele poderia ser sua desculpa perfeita. "Mas como ele reagiria?" Seu coração acelerou. "Será que ele acreditaria? Ou isso só pioraria as coisas?" Mesmo assim, Clara não c
O jantar havia terminado, e Vinícius continuava observando Clara com a mesma intensidade. O silêncio entre eles era quase sufocante, mas ele não estava disposto a deixar as coisas como estavam. Clara sentia o olhar dele sobre si, e cada segundo que passava aumentava a pressão. Cada movimento dela parecia calculado, e o ar ao redor deles se tornava mais pesado a cada instante. Depois de um momento, Vinícius finalmente quebrou o silêncio. — Clara — disse ele, com a voz baixa, mas firme. — Precisamos conversar sobre o que realmente está acontecendo aqui. Clara congelou. A conversa que vinha temendo havia chegado, e agora não havia mais como escapar. Por dentro, ela sentia como se estivesse prestes a desmoronar, cada palavra que dizia era uma faca que cortava sua própria carne. O medo de falhar, de não conseguir escapar, pulsava em suas veias como uma corrente elétrica. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. "Talvez esse seja o momento," pensou, sentindo o coração acele
Clara ainda estava sentada à mesa, tentando processar a conversa com Vinícius. O alívio por ter mencionado o divórcio estava misturado com a crescente ansiedade sobre o que viria a seguir. Ela sabia que a desconfiança de Vinícius estava apenas começando, e que ele não desistiria tão facilmente de encontrar respostas. Mais do que isso, o medo pulsava em seu peito — o medo de que ele descobrisse tudo. A voz de Leonardo ecoava em sua mente. "Se ele descobrir a verdade, Clara... Ele vai acabar com você e com sua família. Ele é implacável." As palavras dele faziam sua respiração acelerar. Vinícius sempre pareceu tão calmo, mas, segundo Leonardo, o homem à sua frente era muito mais perigoso do que ela poderia imaginar. De repente, o som de seu celular vibrando quebrou o silêncio. Relutante, Clara pegou o aparelho e viu o contato salvo como "amor" aparecer na tela. Um nó se formou em seu estômago. Sem querer, ela desbloqueou o telefone e abriu a mensagem. “Estou com saudades de
No dia seguinte, Vinícius chegou ao prédio da empresa, sentindo o peso do tempo que havia se passado desde que estivera ali pela última vez. Ele havia se afastado por conta do acidente, mas agora era hora de retomar o controle. Ao entrar no escritório, os funcionários o cumprimentaram com surpresa e respeito. Seu retorno causava burburinho nos corredores, mas Vinícius estava focado em outra questão. Assim que chegou à sua sala, Vinícius pegou o telefone e ligou para Henrique. — Henrique, preciso que venha até minha sala o quanto antes — disse Vinícius, em tom direto. Poucos minutos depois, Henrique apareceu à porta, com sua postura sempre atenta. — Que bom te ver de volta, Vinícius — cumprimentou Henrique, com um sorriso contido. — É bom estar de volta, mas tenho coisas mais urgentes para resolver do que reuniões de negócios. Sente-se — respondeu Vinícius, apontando para a cadeira à sua frente. Henrique se acomodou, percebendo a seriedade no rosto do amigo. — O que está acontec
O final da tarde já começava a cair quando o telefone de Vinícius vibrou em sua mesa de trabalho. Ele atendeu imediatamente — era Henrique. Sentado em sua sala na empresa, Vinícius aguardava essa ligação o dia inteiro, certo de que a investigação revelaria as falhas nos registros do casamento com Clara, que ele acreditava ser uma farsa. Ele atendeu rapidamente, tentando manter a calma, apesar do nervosismo crescente. — Henrique — disse ele, direto. — O que você descobriu? Do outro lado da linha, Henrique respirou fundo antes de responder. — Vinícius, eu fiz o que me pediu. Investiguei o cartório, conferi os registros, e... bem, os documentos estão todos em ordem. Vinícius franziu a testa, sentindo o coração acelerar. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, processando a informação. — O que você quer dizer com 'tudo em ordem'? — perguntou ele, incrédulo. — Quero dizer que, legalmente, o casamento de vocês é válido. Os papéis estão assinados, os registros confere
O jantar continuava, e a conversa fluía de maneira mais suave do que Clara imaginara. O ambiente, o vinho e a atenção de Vinícius sobre ela estavam começando a quebrar as barreiras que ela havia erguido desde o início. Ainda assim, uma sombra de medo pairava em sua mente. Clara, mesmo relutante, começou a relaxar, mas uma parte dela permanecia alerta, como se cada palavra trocada fosse um passo em direção ao abismo. Vinícius serviu mais vinho para ambos, o líquido rubro brilhando sob as luzes suaves do restaurante. Ele a observava com atenção, percebendo que, embora ela tentasse parecer mais à vontade, havia algo que ainda a mantinha distante, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos. — Parece que o vinho está ajudando a aliviar um pouco da tensão, não é? — comentou Vinícius, com um sorriso discreto, levantando a taça em um brinde casual. Clara forçou um sorriso, levantando a taça. — Sim, acho que está — admitiu ela, permitindo-se relaxar um pouco mais, mas sentind