O silêncio continuava pesado no quarto. Vinícius, deitado ao lado de Clara, mantinha-se imóvel, lutando contra seus próprios pensamentos. Mas era Clara quem se sentia mais sufocada pela presença dele, mesmo que ele não se movesse. Virada de costas, Clara tentava encontrar uma posição confortável. A cada pensamento que tinha, o peso no peito aumentava. Sabia que estava jogando um jogo perigoso. E, a cada minuto ao lado dele, o fardo da mentira tornava-se insuportável. "Como vou sair disso?" Ela mordeu o lábio, inquieta. "Como vou pedir o divórcio sem levantar suspeitas?" Clara entendia que o divórcio seria o fim da farsa, mas não via outra saída. Talvez, se jogasse bem suas cartas, conseguisse convencer Vinícius de que o casamento não estava funcionando. Afinal, eles mal se conheciam, e a falta de lembranças dele poderia ser sua desculpa perfeita. "Mas como ele reagiria?" Seu coração acelerou. "Será que ele acreditaria? Ou isso só pioraria as coisas?" Mesmo assim, Clara não c
O jantar havia terminado, e Vinícius continuava observando Clara com a mesma intensidade. O silêncio entre eles era quase sufocante, mas ele não estava disposto a deixar as coisas como estavam. Clara sentia o olhar dele sobre si, e cada segundo que passava aumentava a pressão. Cada movimento dela parecia calculado, e o ar ao redor deles se tornava mais pesado a cada instante. Depois de um momento, Vinícius finalmente quebrou o silêncio. — Clara — disse ele, com a voz baixa, mas firme. — Precisamos conversar sobre o que realmente está acontecendo aqui. Clara congelou. A conversa que vinha temendo havia chegado, e agora não havia mais como escapar. Por dentro, ela sentia como se estivesse prestes a desmoronar, cada palavra que dizia era uma faca que cortava sua própria carne. O medo de falhar, de não conseguir escapar, pulsava em suas veias como uma corrente elétrica. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura. "Talvez esse seja o momento," pensou, sentindo o coração acele
Clara ainda estava sentada à mesa, tentando processar a conversa com Vinícius. O alívio por ter mencionado o divórcio estava misturado com a crescente ansiedade sobre o que viria a seguir. Ela sabia que a desconfiança de Vinícius estava apenas começando, e que ele não desistiria tão facilmente de encontrar respostas. Mais do que isso, o medo pulsava em seu peito — o medo de que ele descobrisse tudo. A voz de Leonardo ecoava em sua mente. "Se ele descobrir a verdade, Clara... Ele vai acabar com você e com sua família. Ele é implacável." As palavras dele faziam sua respiração acelerar. Vinícius sempre pareceu tão calmo, mas, segundo Leonardo, o homem à sua frente era muito mais perigoso do que ela poderia imaginar. De repente, o som de seu celular vibrando quebrou o silêncio. Relutante, Clara pegou o aparelho e viu o contato salvo como "amor" aparecer na tela. Um nó se formou em seu estômago. Sem querer, ela desbloqueou o telefone e abriu a mensagem. “Estou com saudades de
No dia seguinte, Vinícius chegou ao prédio da empresa, sentindo o peso do tempo que havia se passado desde que estivera ali pela última vez. Ele havia se afastado por conta do acidente, mas agora era hora de retomar o controle. Ao entrar no escritório, os funcionários o cumprimentaram com surpresa e respeito. Seu retorno causava burburinho nos corredores, mas Vinícius estava focado em outra questão. Assim que chegou à sua sala, Vinícius pegou o telefone e ligou para Henrique. — Henrique, preciso que venha até minha sala o quanto antes — disse Vinícius, em tom direto. Poucos minutos depois, Henrique apareceu à porta, com sua postura sempre atenta. — Que bom te ver de volta, Vinícius — cumprimentou Henrique, com um sorriso contido. — É bom estar de volta, mas tenho coisas mais urgentes para resolver do que reuniões de negócios. Sente-se — respondeu Vinícius, apontando para a cadeira à sua frente. Henrique se acomodou, percebendo a seriedade no rosto do amigo. — O que está acontec
O final da tarde já começava a cair quando o telefone de Vinícius vibrou em sua mesa de trabalho. Ele atendeu imediatamente — era Henrique. Sentado em sua sala na empresa, Vinícius aguardava essa ligação o dia inteiro, certo de que a investigação revelaria as falhas nos registros do casamento com Clara, que ele acreditava ser uma farsa. Ele atendeu rapidamente, tentando manter a calma, apesar do nervosismo crescente. — Henrique — disse ele, direto. — O que você descobriu? Do outro lado da linha, Henrique respirou fundo antes de responder. — Vinícius, eu fiz o que me pediu. Investiguei o cartório, conferi os registros, e... bem, os documentos estão todos em ordem. Vinícius franziu a testa, sentindo o coração acelerar. Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos, processando a informação. — O que você quer dizer com 'tudo em ordem'? — perguntou ele, incrédulo. — Quero dizer que, legalmente, o casamento de vocês é válido. Os papéis estão assinados, os registros confere
O jantar continuava, e a conversa fluía de maneira mais suave do que Clara imaginara. O ambiente, o vinho e a atenção de Vinícius sobre ela estavam começando a quebrar as barreiras que ela havia erguido desde o início. Ainda assim, uma sombra de medo pairava em sua mente. Clara, mesmo relutante, começou a relaxar, mas uma parte dela permanecia alerta, como se cada palavra trocada fosse um passo em direção ao abismo. Vinícius serviu mais vinho para ambos, o líquido rubro brilhando sob as luzes suaves do restaurante. Ele a observava com atenção, percebendo que, embora ela tentasse parecer mais à vontade, havia algo que ainda a mantinha distante, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos. — Parece que o vinho está ajudando a aliviar um pouco da tensão, não é? — comentou Vinícius, com um sorriso discreto, levantando a taça em um brinde casual. Clara forçou um sorriso, levantando a taça. — Sim, acho que está — admitiu ela, permitindo-se relaxar um pouco mais, mas sentind
O beijo entre eles havia terminado, mas o eco de sua intensidade ainda pairava no ar. Clara, ofegante, sentia o coração acelerado enquanto tentava processar o que havia acabado de acontecer. Vinícius a olhava com uma expressão suave, mas calculada. Cada movimento dele parecia meticulosamente pensado para aproximá-la ainda mais, para fazê-la confiar. Ele segurou o rosto de Clara com delicadeza, seus olhos fixos nos dela, como se quisesse transmitir uma conexão profunda. Mas, por dentro, Vinícius estava atento a cada reação dela. Sabia que precisava continuar jogando seu papel para que ela baixasse a guarda. — Clara — começou ele, com a voz baixa e carregada de uma tristeza bem ensaiada. — Eu me sinto tão mal por ter esquecido tudo. Me sinto culpado por não lembrar de você, do nosso passado. Parece que estou perdendo algo que deveríamos estar construindo juntos. Clara sentiu um nó se formar em sua garganta. As palavras de Vinícius a atingiram de maneira inesperada. Por um lad
Vinícius entrou em casa mais cedo do que de costume, a expressão neutra, como sempre, mas com uma certa leveza nos movimentos. Clara, que estava sentada no sofá, distraída, levantou o olhar assim que ele entrou.Algo nela imediatamente percebeu que havia uma diferença nele, especialmente ao notar que ele não estava mais usando a tipoia no braço. Ele parecia... livre. Sem as limitações físicas que o acidente lhe impusera.— Você tirou a tipoia — comentou Clara, com um leve sorriso, tentando soar casual. — Está completamente recuperado?Vinícius caminhou em direção à cozinha, colocando as chaves sobre a bancada e pegando uma garrafa de vinho. Ele olhou para Clara com um leve brilho nos olhos, algo diferente do Vinícius que ela havia se acostumado a lidar nas últimas semanas.— Sim, finalmente — respondeu ele, servindo duas taças de vinho. — O médico me liberou. A costela também já está curada. Acho que estou pronto para voltar à vida normal.Clara observou enquanto ele trazia as taças a