cap.4

Cap.4

Scarlett Mozart.

— você é cheia de fibra, senhorita, mas você não tem escolha — comentou com sorriso de canto, percebi um pouco de maldade, como se pensasse em algo sombrio.

— Eu posso fazer minhas próprias escolhas, basta eu dar um jeito — disse indiferente me levantando, segui até a mesa de meu pai mexendo no tabuleiro de xadrez. — é o que dizem meu caro, no jogo de xadrez a peça mais forte é a dama — comentei de forma fria pegando a peça do tabuleiro. — todas as peças trabalham para proteger o rei, mas a dama é a peça temida, ninguém quer está na reta dela, e ela pode simplesmente derrubar o rei — disse chutando o rei para fora do tabuleiro com a minha dama, ele apenas deu o meio sorriso e se inclinou pegando a peça do chão, seu olhar se voltou a mim feroz com um sorriso confiante.

— Isso é o que veremos — murmurou colocando a peça novamente no tabuleiro começando a arrumar. — jogou mal desde que invés de jogar o rei adversário para fora, jogou o seu rei, ah… esperta, entendi — comentou me olhando surpreso. — vamos ver se é tão boa, porém ninguém nunca ganha de mim em nenhuma partida

— Meu pai me ensinou a jogar.

— Então você vai perder, seu pai é um péssimo jogador — comentou me chamando para jogar então me sentei na poltrona de meu pai.

— quantas partidas?

— para?

— não jogo nada de graça

— quer quanto?

— já tenho muito dinheiro para herdar do meu pai vadio

— como é, deveria respeitar o seu pai mocinha

— ele trabalha para máfia, não sei o que homens desse tipo tem de dignidade — disse irritada, não me levem a mal, odeio a máfia de tal modo, pelo simples fato de nos obrigar a servir os homens como escravas, se eu não conseguir ir para a faculdade, então não valerá de nada ser tão inteligente, quero fazer isso valer a pena.

— você vai se casar com um mafioso

— E ele vai ter que decidir se me mata ou me dá o divorcio, só existem dois caminhos — disse com convicção, ele me encarou com as sobrancelhas erguidas.

— Qual a sua idade mesmo?

— tenho quinze anos

— a inteligência deixa as mulheres complicadas e espertas demais

— e isso não é um problema…

— é uma benção — Disse de forma sincronizada com a minha fala, fiquei perplexa. — O que foi? Não tenho paciência para pessoas ignorantes, no mínimo tem que ter um pouco de noção da vida — comentou movendo sua peça.

— Ok… três partidas e cada um pode escolher uma coisa — disse analisando sua jogada.

— Tenho certeza que você não ganha de mim, e gosto da ideia, apesar de ser uma criança, é muito astuta, se eu ganhar, você vai me ajudar a ter proximidade de Aysha.

— mas se perder terá que esperar ela se acostumar com a ideia do casamento

— já fazem dois anos

— e ela continua amedrontada

— o que há de errado?

— Nós ouvimos coisas ruins sobre você, ela tem pavor de você, pânico, você é o pior monstro na cabeça dela

— Ela não está errada, então faça silêncio e jogue, esse é o nosso trato.

Sinceramente tenho a sensação que eu não devia ter feito isso, serão três partidas de xadrez, cada uma vale o pedido, sendo que podemos anular o pedido do outro, eu ganhei a primeira, então ele tem que deixar Aysha decidir sem a pressionar, mesmo que ela tenha que sair do colégio, mas a segunda ele ganhou, eu tenho que ajudar a mudar a visão de Aysha, minhas pernas estão tremendo, quem ganhar anula o pedido o outro.

— Senhor Henry… — Entrou meu pai perdendo a fala quando me viu, lá vem o diabo em minha direção. — sua pirralha! Venha aqui — Bradou me arrastando pela orelha, enquanto seguro em seu braço me contorcendo de dor depois de ter derrubado algumas peças estragando o jogo.

— Não precisa machucar a criança — suspirou Henry de forma fria olhando para o tabuleiro bagunçado, credo! Se eu fosse meu pai eu corria que nem lebre. — bom… a Aysha está com medo, então vou sair agora, preciso trocar umas palavras com o senhor, trouxe o novo contrato para que a senhorita Scarlett assine, já que rasgou o primeiro.

— Está bem — disse me arrastando para fora e batendo a porta, apenas dei de ombros e segui meu caminho.

Segui até a área dos fundos da casa, tem uma antiga casa de cachorro, meu antigo e favorito lugar, santuário do meu dante, ele morreu quando eu tinha 10 anos, eu só tenho essa casa ainda porque escandalizei e briguei então eles permitiram, ainda tenho a fotografia dele ao meu lado colada a velha parede de madeira já gasta, puxei o saco de ração que estava escondido ali, e coloquei em um carrinho, na verdade uma tábua com rodinhas com uma corda amarrada, tenho que andar por meia hora até chegar ao canil, mas isso é fichinha para mim.

Minha casa não fica em um lugar muito mordendo, tem uma estrada asfaltada, mas quando olho de um lado a outro é mais árvores do que casas, claro… tem alguns casarões, é uma área privada, enfim… um lugar insuportável para uma criança como eu viver.

Seguia tranquilamente até perceber que vinha um carro e começa a seguir lentamente, confesso que minhas pernas tremeram de medo, mas vou fingir que não estou vendo, caso sair, corro floresta adentro o mais rápido que eu puder, ninguém pode correr mais rápido que eu nessa redondeza.

— Droga — resmunguei quando , seja quem for atrás daquele vidro fumê, começou a buzinar.

— Você não presta atenção quando está andando na rua? — perguntou uma voz abaixando o vidro.

— Ah… senhor — comentei me inclinando para o encarar encostando na sua janela. — se essa porta abrisse eu correria floresta adentro o mais rápido que trovão, sabe correr?

— melhor do que imagina — respondeu frio.

— eu corro muito mais

— se sabe jogar xadrez tão bem, certeza que sabe correr, odeio perder, vamos! te dou uma carona — disse saindo do carro.

— Se você odeia perder, e perdeu para mim, óbvio que não vou entrar no seu carro — disse desconfiada voltando a pegar minha cordinha para começar arrastar, até começar a puxar e sentir o carrinho leve que nem uma pena.

“Merda, lá vai ele com o saco de ração o jogando no porta-malas, o cara tem um carro luxuoso todo automático, apertou um botãozinho e o enfadonho abriu e engoliu a minha ração.

— Pensa demais, já vi que tenho que analisar as coisas antes de falar qualquer palavra com você, então entre senhorita, que eu não vou fazer mal a irmã da minha futura esposa — disse abrindo a porta, até parecia que ele sorria, mas foi só impressão minha, seu sorriso até onde conheci trazia um pouco de maldade, e isso me deixa na cognitiva, quem é Henry? — para onde está indo?

— é em um canil, ele é logo depois dessa estrada — expliquei no banco dos fundos.

— ah sim, canil do Afonso?

— Sim, esse mesmo, conhece?

— não só passo em frente, não gosto de animais, me dar alergia

— desumano e cruel realmente

— mas… eu tenho um irmão que cria até lobos, dezenas deles — comentou me analisando pelo retrovisor, mas essa parada de criar lobos é bem interessante.

— legal — fingi indiferença.

— mas porque está indo naquele lugar imundo e velho?

— não é velho, é o lar de muitos animais, além disso… afonso salva muitos cachorros de serem sacrificados.

— é o controle de pragas, devem ser sacrificados

— Não é culpa dele existir gente podre que nem vocês… — ele freou de vez me fazendo bater o rosto contra a cadeira. Senti uma dor intensa na ponta do nariz. — estou começando a entender porque seu pai te bater tanto

— você só o viu me bater uma vez

— não, houve algumas vezes que ele te bateu por esconder a Aysha, confesso que eu me divirto

— ata, obrigada pela consideração, Aysha também se diverte

— você não se importa? Parece fazer as coisas de propósito, você tem uma boa casa, tem uma boa família, tem de tudo…

— e já fui rebaixada da minha classe duas vezes e agora depois de esta concluindo meu último ano voltei duas séries de novo, e agora querem me enfiar em um casamento que eu não quero, além de que ele não quer que eu entre para a universidade e nem se quer me deixar ter um animal de estimação, isso é bom para você senhor Henry? — perguntei irritada com os braços cruzados chutando a sua cadeira.

— bom… por esse lado parece ruim, quem sabe meu marido não deixe você ter um cachorrinho e cursar a faculdade — comentou indiferente.

— eu vou é matar meu futuro marido, enterrar no fundo do quintal e fugir para as montanhas depois que eu pegar o cachorro que eu escolhi no canil, e viverei feliz para sempre — bradei enquanto ele para o carro em frente ao canil

— doida de pedra e é tão nova, talvez as porradas que seu pai te dar, além disso pare de usar esses batons, são horríveis

— gosto da cor vermelha

— mas seu batom é terrível, quem te deu?

— comprei com algumas economias — expliquei e saímos do carro, ele tirou toda a minha trabalha de seu porta-malas e segui embora sem olhar para trás ou agradecer, bom… agora tenho outras coisas para pensar, esse é um dos últimos sacos de ração que tenho esse mês, já que meu pai tomou meu cartão da mesada, tenho que parar de ser tão rebelde, mas ele me deixa tão revoltada, sempre me tira tudo e a Scarlett nem sequer me empresta um centavo, às vezes é um pouquinho cansativo.

— Senhorita Scarlett — chamou Afonso, ele é um rapaz de 25 anos, cursa medicina veterinária e cuida de animais de rua, é meio complicado cuidar desses animais e lidar com os estudos, mas ele se esforça bastante.

— Ola, eu trouxe esse… na verdade é o único que tenho após minha mesada ser cortada, queria poder ajudar mais — disse lamentando.

— Você tem me ajudado muito, não se preocupe, tem algumas pessoas que também vão ajudar a manter esses animais vivos, vamos começar a arrecadar alguns donativos.

— posso ajudar, sei que não tenho mais dinheiro, mas o que tiver de fazer, eu faço, sou útil? — perguntei animada.

— obvio que sim, minha namorada também está aqui hoje, ela também estuda medicina, lembra?

— sim, a laura, bom… eu tenho que ir agora, se não meu pai vem atrás, mas amanhã estou de volta para saber mais — na verdade… eu queria ver meu choro, mas conheço a laura, meu plano foi super frustrado agora, é voltar para casa para a madame não achar que eu estou paquerando seu namorado.

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