Suzana jamais imaginou, nem nos seus melhores sonhos, que estaria andando pelas ruas de Paris, visitando o Louvre, olhando cada pedacinho de Notre Dame, comendo croissant na estação do TVG, olhando aquelas mulheres lindas, e homens charmosos caminhando rápido e em silêncio. Com o olhar deslumbrado, Suzana observava os cabelos de cores exóticas. A pele dos franceses era bem alva e fazia contraste com sua cor morena. Sim, estava na França. E por Deus, tiraria o máximo daquela experiência!
Suzana, que tal irmos para a França? Precisamos reciclar e participar de alguns workshops que estarão acontecendo no mês de outubro, em Toulouse. Renato falava e gesticulava muito quando tinha coisas a fazer. Era um costume hereditário, ela diria. Seu pai, o produtor e arranjador da banda onde Suzana cantava e tocava, usava pouco as palavras, mas em compensação, suas mãos eram insubstituíveis não só na comunicação, como nos arranjos e na prática do seu instrumento. PARIS! Parecia que alguém tinha gritado dentro de sua mente. Sempre foi apaixonada pela França. Na escola, a maioria dos seus colegas de classe escolheu a língua inglesa; Suzana optou pela francesa. Algumas amigas tentaram persuadi-la, mas foi irredutível. Ah! Passearia pelo Sena naqueles barcos-restaurantes. Não teria dinheiro para grandes extravagâncias, mas, mal podia esperar para olhar o rio, estaria realizada! Suzana! Estou falando com você! Onde você está? Renato a olhava meio irritado. Eu já estou em Paris, Renato! Dançou Suzana. Nós vamos a trabalho, não se empolgue tanto. Teremos alguns shows para fazer em várias cidades. Sabe como, não é? Sim, sabia. Sua vida era cantar, tocar, dar aula, o seu dia normalmente era muito exaustivo. Imagine! Tendo que participar de palestras, shows. Por outro lado, agora não tinha dúvidas de que era para isso que tinha nascido. Sim, Renato, eu sei como é! Mas nada do que diga vai me tirar a alegria de saber que eu, Suzana Ribeiro, vou pisar na França, terra tão sonhada! Renato nutria uma paixão por Suzana e qualquer homem que chegava perto, ele sempre estava lá para afastá-lo. Ela não desconfiava o que significava esse cuidado, pois nunca tinha se interessado por alguém de verdade, e Renato, no fundo, se preocupava realmente e se considerava responsável por ela. Suzana lhe tinha um grande carinho. No dia da viagem parecia que tinha dado uma espécie de torpor em Suzana. Ela fazia os últimos preparativos mecanicamente, como se não fosse ela que estivesse de partida para a França. Fariam escala na Bélgica. Um carro alugado pelos Mouras os esperaria para leva-los aonde ficariam hospedados. Henrique a esperava e, com sempre, brincou com Suzana e a fez relaxar. Ele dizia que ela era o seu patinho que se fazia de feio, mas que no dia que resolvesse virar cisne, seria arrebatador. Henrique sempre acreditou em Suzana. Até mesmo quando ela não acreditava. Suzana tinha uma família de sete irmãos, era a caçula, eram bem humildes e o único que tinha saído do país uma vez, foi seu irmão, três anos mais velho, através do quartel, pois era do primeiro esquadrão de aviação do Exército. Suzana sempre cantou; desde menina tinha a voz rouca, contralto nato e tinha uma aceitação muito grande, não percebida por ela. Henrique falou que nesta viagem ela seria o trunfo, pois o seu estilo e timbre não era comum na Europa. Enquanto todos se movimentavam, excitados pela viagem, Renato estava calado, não era costume, pois dava recomendações à Suzana o tempo todo, quando viajavam com a banda. Mas, agora, algo o incomodava, parecia que esta viagem ia ser diferente. Renato sempre soube que de uma hora para outra, Suzana seria descoberta pelo público e, sinceramente, não sabia se suportaria dividi-la com o mundo. Já tinha lhe dito que seria conhecida mundialmente, mas ela não deu muito ênfase ao fato. Ah! Suzana, se soubesse...Se olhasse com atenção...Os Mouras tinham um padrão de vida que ninguém sabia dizer se eram ricos ou não, pois eram muito simples na sua maneira de viver. Andavam com roupas de estilo, mas nunca com extravagância, eram elegantes em tudo, estavam sempre informados da última moda, conheciam pessoas de influência, mas não davam muita importância a isso. Uma vez tinham sido convidados para uma festa na casa presidencial, mas se desculparam e não foram. Era realmente difícil de saber em que pé andavam as coisas. Suzana se lembrou da vez em que Henrique quis produzi-la e divulga-la no país. Ela dissera que não estava preparada. Renato nada comentou na hora em que foi feita a proposta, mas depois, por acaso o ouviu falar para o pai que fosse devagar, pois lá fora estava cheio de lobos e ela era preciosa e ingênua demais para ser lançada naquele momento. Foi então que ela descansou e realmente confiou nos Mouras. Sabia que independente de dinheiro, eles também pensavam no seu bem estar. Isso foi no primeiro a
O que será que Renato estaria pensando? Estava tão quieto, tinha-a evitado a viagem inteira. Já estavam na Bélgica e se lhe dirigiu duas palavras, fora muito. Bem, deixa Renato prá lá se não quer falar com ela. O problema era dele, deve ser paixão recolhida, pensou Suzana. Será que alguém, finalmente, conseguiu fisga-lo? Renato saía com as mulheres mais lindas que já tinha visto, mas nunca se prendeu a ninguém. Seria bom se ele amasse de verdade uma mulher. Mal sabia Suzana que estava bem perto da verdade. Suzana! O que está acontecendo com você? Está todo mundo te esperando. Ela olhou em volta cheia de vergonha; tinha saído para o seu mundo particular, de novo. Desculpe, gente. É que estou extasiada. Estava maravilhosamente frio na Bélgica e o carro que os esperava tinha aquecedor. Graças a Deus! Passaram pela fronteira logo após Henrique resolver alguns contratos em Bruxelas. Deram outra parada de meia hora, em Lens, cidade do norte da França, a 199 Km de Paris. Depois, par
Suzana! Renato estava bem perto dela, agora, e a olhava como se pudesse ver seus pensamentos. Todos já entraram para ver Notre Dame, você não vai? Ela não conseguia responder; ficou olhando para ele, como se só agora pudesse perceber a verdade que sempre esteve diante dela e, nunca quis admitir. Estava e sempre esteve apaixonada por Renato, desde aquele momento que o viu pela primeira vez!!! Meu Deus! Renato nunca poderia descobrir isso. Aquelas mulheres lindas com as quais ele saía. Suzana não chegava nem aos pés delas. Suzana era morena, nem alta, nem baixa; seus olhos eram cor de mel, os cabelos pretos, cortados bem curtos, seu corpo curvilíneo, mas ela se achava meio cheinha. Mas o seu grande trunfo era a boca, bem desenhada e carnuda, parecia estar sempre pronta para ser beijada. Não que ela soubesse disso, aliás, sempre se achou sem graça, desde pequena, quando sofria com as brincadeiras maldosas dos colegas de escola. Vivia olhando tanto para o passado que não reparou q
Antônio veio cumprimentar Suzana, eufórico, elogiando-a muito. Despediu-se dela com um abraço e um beijo, dizendo que tudo daria certo. Teria que partir de manhã, mas que adorou tê-la conhecido. Suzana passeava sozinha. Eu estou em Paris, lugar que sempre quis conhecer e não estou aproveitando nada e ainda estou triste. Porque eu tenho sempre que sonhar com o impossível Mas uma voz falava baixinho no seu íntimo: Para você, algum tempo atrás, era impossível estar aqui, mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. Ela retrucava consigo mesmo. Quer saber? Eu vou aproveitar. Estou na Europa e vou fazer jus a esse momento. E vou começar agora, não vou voltar tão cedo pra aquele hotel! Suzana tinha cantado quatro noites, direto. Renato não veio mais e ela não o tinha visto depois daquela noite. Saíra cedo do hotel e deixara recado na portaria, para o Henrique, que voltaria tarde. E era isso que faria. Estava entrando no hotel, quando aquele homem alto veio em sua direção.
Suzana afundou a cabeça no travesseiro, tentando esquecer tudo que tinha se passado. Tudo, não. Com vergonha, ela recordava. Não conseguia esquecer da boca de Renato na sua. Das mãos dele no seu corpo. Ele disse que ela era linda! Ainda que ele falasse pra todas, ela se convenceu que com ela, era diferente. Tomou analgésico, tranquilizante e adormeceu, não antes de tentar se convencer que odiava Renato.Suzana acordou quase na hora do almoço, com a campainha tocando, insistentemente. Abriu a porta e Henrique entrou. Suzana, eu não vou sair desse quarto até você me contar o que está acontecendo!Henrique, por favor, eu não tive uma noite muito boa. Foi exatamente o que me disse Renato, hoje pela manhã, antes de viajar de volta para o Brasil. Renato já foi? Por quê? Eu que teria que ir, mas Renato falou que ele iria, pois o clima não estava muito bom entre vocês. Era melhor ficarem longe um do outro. Já foi tarde. Olha como você está falando, Suzana. Nem parece a mulher que eu
Suzana cantou naquela noite como se Renato estivesse ali. Teve vários bilhetes e buquês de fãs que a acompanharam desde a primeira noite que cantou. Teve que sair escoltada pela banda. Henrique estava muito preocupado. O que foi, Henrique, não está feliz? Estou, querida, mas sinto saudade do Renato. Já estavam em Tourcoin a quatro noites e Renato ainda não retornou. Suzana fez o que só ela poderia fazer. Henrique estava sofrendo muito, pois Renato nunca se ausenta quando a banda estava em tourneé. Renato fazia um duo, com Henrique no piano, que era de emocionar qualquer um. E ele não tocou nenhuma vez nesta turnê. Suzana tomou uma decisão. Chegando ao seu quarto ligou para o Brasil. O telefone tocou várias vezes, mas ela não desistiu. Renato poderia até estar acompanhado. Ela falaria com ele do mesmo jeito. No sexto toque ele atendeu. Seu coração bateu forte quando ouviu a sua voz. Renato? Renato, está me ouvindo? É Suzana. Sei que você não está querendo me ver nem pintada a o
Renato olhou para Suzana e ela sentiu um frio na espinha. Como o amava, como o amava. Entrando em seu quarto, foi direto para o armário escolher o que vestiria. Hoje, eu vou contar para o Renato que o amo. Não importa se ele não sente o mesmo. Pelo menos ele vai entender porque eu estava tão estranha. Depois do almoço falarei com ele. Quando Suzana se aproximou da mesa em que estava os Mouras, Renato, que estava de cabeça baixa ouvindo o que o pai lhe dizia, olhou na direção dela. Seu coração bateu tão forte que ele pensou que iria explodir. Ela estava linda! Nunca a tinha visto de vestido. Colocara um modelo justo que mostrava todas as curvas de seu corpo. Tinha se bronzeado artificialmente e a roupa branca valorizava. Ficou parado, estupidamente parado. Seu pai, rindo e colocando a mão embaixo de seu queixo, disse: Viu, querida? Olha só o que fez com ele! Suzana, totalmente sem graça, deu um leve empurrão em Henrique e sentou-se. Virou para Renato antes de perder a coragem.
Suzana acordou lentamente. Estava com dores por todo corpo. O que será que tinha acontecido? Lembrava que estava esperando Renato voltar ao seu quarto e percebera a presença de alguém, mas quem? Olhou em volta, assustada, onde estava? A porta se abriu, lentamente e, para desespero dela, deparou-se com o olhar estranho de Patrick. Não gostou do que viu. Bonjour, mademoiselle. Ça va bien? O que estou fazendo aqui, senhor? Já pedi que não me chamasse assim, Suzana. Quero saber o que está acontecendo. Corajosa! Como se não bastasse as outras características. Não estou interessada em seus elogios, senhor. Quero saber quem me trouxe para cá e por quê. Eu trouxe e você vai ficar comigo, para sempre. Nunca! Você é louco. Vão procurar por mim! Eu nunca ficarei com você, está me ouvindo? O seu namoradinho tem sorte. Eu queria que ele entrasse no quarto. Tinha uma bala esperando por ele, mas não vai faltar oportunidade. O que você quer de mim? Nem me conhece!