O que será que Renato estaria pensando? Estava tão quieto, tinha-a evitado a viagem inteira. Já estavam na Bélgica e se lhe dirigiu duas palavras, fora muito. Bem, deixa Renato prá lá se não quer falar com ela. O problema era dele, deve ser paixão recolhida, pensou Suzana. Será que alguém, finalmente, conseguiu fisga-lo? Renato saía com as mulheres mais lindas que já tinha visto, mas nunca se prendeu a ninguém. Seria bom se ele amasse de verdade uma mulher. Mal sabia Suzana que estava bem perto da verdade.
Suzana! O que está acontecendo com você? Está todo mundo te esperando. Ela olhou em volta cheia de vergonha; tinha saído para o seu mundo particular, de novo. Desculpe, gente. É que estou extasiada. Estava maravilhosamente frio na Bélgica e o carro que os esperava tinha aquecedor. Graças a Deus! Passaram pela fronteira logo após Henrique resolver alguns contratos em Bruxelas. Deram outra parada de meia hora, em Lens, cidade do norte da França, a 199 Km de Paris. Depois, partiram em direção à Saint-Denis, onde ficariam hospedados. Quando o carro estacionou em frente a uma mansão, e Henrique anunciou que dormiriam ali, duas noites, Tadeu, o contrabaixista não se conteve e perguntou de quem era aquela casa. Henrique respondeu que era a residência de inverno dos Mouras. Suzana estava embasbacada até agora; dentro de uma banheira com sais perfumados, teve a resposta que tanto a incomodava. Realmente, os Mouras tinham uma ótima situação financeira mas, por que será que eles tinham se interessado por ela? Poderiam ter a melhor cantora que quisessem; ela era totalmente desconhecida, ainda que tivesse uma ótima voz. Quando terminasse essa turnê, ela teria bastante coisa para conversar com eles. À noite, no jantar, ela não viu Renato. Ouviu quando alguém perguntou por ele a Henrique. Mas não conseguiu ouvir a resposta. Tomaram uma sopa de camarão, com entrada; depois, provaram o mais suculento carneiro que comeu em toda sua vida. Suzana pegou várias vezes Henrique olhando para ela; ficou incomodada e, pior, reparou que ele também não estava muito à vontade. Depois do jantar, foram para a sala de jogos; menos Suzana, que foi para a sala do piano. Estava tocando a algum tempo quando sentiu que alguém a olhava. Virou-se e deparou com um par de olhos mais azuis que já tinha visto. Não pare! Pediu o desconhecido. Nunca vi tamanho sentimento! Bem que meu primo falou a verdade sobre você. Ela levantou-se e se apresentou. Prazer, Suzana Ribeiro. Então você é a Suzana! De novo aquela frase. Depois de cinco anos, ela novamente a irritou. Sim, ela mesma, por quê? Desculpe-me, Suzana, sou Antônio, primo de Henrique e moro na Europa. Eu digo assim porque nunca paro em um lugar muito tempo, mas quase nunca saio da Europa. Henrique, cinco anos atrás, me falou de você. Eu não acreditei que fosse tão maravilhosa assim. Vejo que me enganei, você é mais. Já está armando seu bote, Tonho? Suzana se assustou com Renato logo atrás de seu primo. Cuidado, Suzana, esse é o mais galanteador garanhão que já conheci na vida. Eu perco pra você de longe, primo, em matéria de mulher. Com licença, rapazes, vou me retirar. Foi mesmo um prazer te conhecer, Antônio. Sem dar tempo deles retrucarem, saiu bem rápido para o seu quarto. O que estava acontecendo com ela? Quando viu Renato vestido daquele jeito, ficou totalmente sem ar. Ele estava de smoking, a blusa era rendada, que em qualquer homem ficaria meio efeminado, mas não em Renato. Estava aberta no peito como se ele estivesse acabado de chegar. Meu Deus! Acho que estava ficando louca. Suzana rolou na cama a noite toda, sem, contudo, conseguir dormir. Que droga! Ela simplesmente não conseguia parar de pensar em Renato. No dia seguinte, pegaram o trem urbano, na estação de Saint-Denis-Porte de Paris e foram conhecer Paris. Suzana ficou extasiada ao atravessar a ponte Alexandre III. Ela estava cruzando Sena! O passeio seria ótimo se pelo menos cinco em cinco minutos o seu olhar não procurasse o de Renato. Eles quase não se falaram desde a conversa da noite anterior. Antônio era todo gentileza para Suzana, e pela primeira vez ela notou que Renato não se intrometeu. Pelo contrário, ficou bem longe dela. Antônio lhe contou algumas coisas de Renato e de sua mãe. Talvez, por isso, ele não deixava nenhuma mulher tomar conta de seu coração. Henrique tinha sofrido muito com a mãe de Renato. Era uma mulher fútil e caprichosa. Tinha se separado de seu pai, para ficar com um rico empresário. Na época, os Moura não tinham a situação financeira que tinham hoje. Antônio admirava Renato, ela constatou isso. Apesar das brincadeiras, eles se respeitavam e sabiam o que tinham passado, de onde saíram. Antônio era totalmente o inverso de Renato. Era loiro, dos olhos bem azuis, magro e estatura mediana. Era muito bonito, já Renato, era moreno, olhos cinza esverdeados, era alto, os cabelos negros compridos davam-lhe um ar de um amante muito exigente, nossa! O que estava acontecendo com ela; desde que iniciaram a viagem, começou a pensar e reparar coisas em Renato que jamais imaginou. Se ele soubesse o que ela estava pensando, o que será que faria? Dar-lhe-ia uma bronca, falando para não confundir as coisas, ou a pegaria e a beijaria, devagarinho e passaria a mão pelo seu corpo, lentamente, e diria palavras cheias de sedução...Suzana! Renato estava bem perto dela, agora, e a olhava como se pudesse ver seus pensamentos. Todos já entraram para ver Notre Dame, você não vai? Ela não conseguia responder; ficou olhando para ele, como se só agora pudesse perceber a verdade que sempre esteve diante dela e, nunca quis admitir. Estava e sempre esteve apaixonada por Renato, desde aquele momento que o viu pela primeira vez!!! Meu Deus! Renato nunca poderia descobrir isso. Aquelas mulheres lindas com as quais ele saía. Suzana não chegava nem aos pés delas. Suzana era morena, nem alta, nem baixa; seus olhos eram cor de mel, os cabelos pretos, cortados bem curtos, seu corpo curvilíneo, mas ela se achava meio cheinha. Mas o seu grande trunfo era a boca, bem desenhada e carnuda, parecia estar sempre pronta para ser beijada. Não que ela soubesse disso, aliás, sempre se achou sem graça, desde pequena, quando sofria com as brincadeiras maldosas dos colegas de escola. Vivia olhando tanto para o passado que não reparou q
Antônio veio cumprimentar Suzana, eufórico, elogiando-a muito. Despediu-se dela com um abraço e um beijo, dizendo que tudo daria certo. Teria que partir de manhã, mas que adorou tê-la conhecido. Suzana passeava sozinha. Eu estou em Paris, lugar que sempre quis conhecer e não estou aproveitando nada e ainda estou triste. Porque eu tenho sempre que sonhar com o impossível Mas uma voz falava baixinho no seu íntimo: Para você, algum tempo atrás, era impossível estar aqui, mas não tem nada a ver uma coisa com a outra. Ela retrucava consigo mesmo. Quer saber? Eu vou aproveitar. Estou na Europa e vou fazer jus a esse momento. E vou começar agora, não vou voltar tão cedo pra aquele hotel! Suzana tinha cantado quatro noites, direto. Renato não veio mais e ela não o tinha visto depois daquela noite. Saíra cedo do hotel e deixara recado na portaria, para o Henrique, que voltaria tarde. E era isso que faria. Estava entrando no hotel, quando aquele homem alto veio em sua direção.
Suzana afundou a cabeça no travesseiro, tentando esquecer tudo que tinha se passado. Tudo, não. Com vergonha, ela recordava. Não conseguia esquecer da boca de Renato na sua. Das mãos dele no seu corpo. Ele disse que ela era linda! Ainda que ele falasse pra todas, ela se convenceu que com ela, era diferente. Tomou analgésico, tranquilizante e adormeceu, não antes de tentar se convencer que odiava Renato.Suzana acordou quase na hora do almoço, com a campainha tocando, insistentemente. Abriu a porta e Henrique entrou. Suzana, eu não vou sair desse quarto até você me contar o que está acontecendo!Henrique, por favor, eu não tive uma noite muito boa. Foi exatamente o que me disse Renato, hoje pela manhã, antes de viajar de volta para o Brasil. Renato já foi? Por quê? Eu que teria que ir, mas Renato falou que ele iria, pois o clima não estava muito bom entre vocês. Era melhor ficarem longe um do outro. Já foi tarde. Olha como você está falando, Suzana. Nem parece a mulher que eu
Suzana cantou naquela noite como se Renato estivesse ali. Teve vários bilhetes e buquês de fãs que a acompanharam desde a primeira noite que cantou. Teve que sair escoltada pela banda. Henrique estava muito preocupado. O que foi, Henrique, não está feliz? Estou, querida, mas sinto saudade do Renato. Já estavam em Tourcoin a quatro noites e Renato ainda não retornou. Suzana fez o que só ela poderia fazer. Henrique estava sofrendo muito, pois Renato nunca se ausenta quando a banda estava em tourneé. Renato fazia um duo, com Henrique no piano, que era de emocionar qualquer um. E ele não tocou nenhuma vez nesta turnê. Suzana tomou uma decisão. Chegando ao seu quarto ligou para o Brasil. O telefone tocou várias vezes, mas ela não desistiu. Renato poderia até estar acompanhado. Ela falaria com ele do mesmo jeito. No sexto toque ele atendeu. Seu coração bateu forte quando ouviu a sua voz. Renato? Renato, está me ouvindo? É Suzana. Sei que você não está querendo me ver nem pintada a o
Renato olhou para Suzana e ela sentiu um frio na espinha. Como o amava, como o amava. Entrando em seu quarto, foi direto para o armário escolher o que vestiria. Hoje, eu vou contar para o Renato que o amo. Não importa se ele não sente o mesmo. Pelo menos ele vai entender porque eu estava tão estranha. Depois do almoço falarei com ele. Quando Suzana se aproximou da mesa em que estava os Mouras, Renato, que estava de cabeça baixa ouvindo o que o pai lhe dizia, olhou na direção dela. Seu coração bateu tão forte que ele pensou que iria explodir. Ela estava linda! Nunca a tinha visto de vestido. Colocara um modelo justo que mostrava todas as curvas de seu corpo. Tinha se bronzeado artificialmente e a roupa branca valorizava. Ficou parado, estupidamente parado. Seu pai, rindo e colocando a mão embaixo de seu queixo, disse: Viu, querida? Olha só o que fez com ele! Suzana, totalmente sem graça, deu um leve empurrão em Henrique e sentou-se. Virou para Renato antes de perder a coragem.
Suzana acordou lentamente. Estava com dores por todo corpo. O que será que tinha acontecido? Lembrava que estava esperando Renato voltar ao seu quarto e percebera a presença de alguém, mas quem? Olhou em volta, assustada, onde estava? A porta se abriu, lentamente e, para desespero dela, deparou-se com o olhar estranho de Patrick. Não gostou do que viu. Bonjour, mademoiselle. Ça va bien? O que estou fazendo aqui, senhor? Já pedi que não me chamasse assim, Suzana. Quero saber o que está acontecendo. Corajosa! Como se não bastasse as outras características. Não estou interessada em seus elogios, senhor. Quero saber quem me trouxe para cá e por quê. Eu trouxe e você vai ficar comigo, para sempre. Nunca! Você é louco. Vão procurar por mim! Eu nunca ficarei com você, está me ouvindo? O seu namoradinho tem sorte. Eu queria que ele entrasse no quarto. Tinha uma bala esperando por ele, mas não vai faltar oportunidade. O que você quer de mim? Nem me conhece!
Sr Renato estamos fazendo tudo que é possível para encontrar alguma pista sobre a srta Suzana.Então faça o impossível!Precisa se acalmar Sr. assim não vamos resolver nada.Estamos sem descanso, a Srta Suzana é a nossa prioridade no momento.Henrique olhou para seu filho que estava completamente desesperado.Vamos Renato, precisamos voltar para o Hotel e pensar em novas estratégias.Eles haviam trocado de hotel e levado tudo de Suzana também.Pai, o que vou fazer? Já tem dias que a Suzana foi sequestrada pelo maníaco do Patrick e o investigador está o seguindo e não conseguimos prova nenhuma.É assustador meu filho, eu sei. Mas pelo menos sabemos aonde ele está. Eu tenho certeza que ele não conseguiu o seu intento com ela ainda.Do que está falando Pai? Se aquele monstro encostar na Suzana você sabe que vou matá-lo.Estamos lutando contra o tempo, Patrick está sendo controlado pela polícia, então ele não deve ir até onde prendeu a Suzana agora.Henrique estava muito assustado com toda
Suzana jamais imaginou, nem nos seus melhores sonhos, que estaria andando pelas ruas de Paris, visitando o Louvre, olhando cada pedacinho de Notre Dame, comendo croissant na estação do TVG, olhando aquelas mulheres lindas, e homens charmosos caminhando rápido e em silêncio. Com o olhar deslumbrado, Suzana observava os cabelos de cores exóticas. A pele dos franceses era bem alva e fazia contraste com sua cor morena. Sim, estava na França. E por Deus, tiraria o máximo daquela experiência! Suzana, que tal irmos para a França? Precisamos reciclar e participar de alguns workshops que estarão acontecendo no mês de outubro, em Toulouse. Renato falava e gesticulava muito quando tinha coisas a fazer. Era um costume hereditário, ela diria. Seu pai, o produtor e arranjador da banda onde Suzana cantava e tocava, usava pouco as palavras, mas em compensação, suas mãos eram insubstituíveis não só na comunicação, como nos arranjos e na prática do seu instrumento. PARIS! Parecia que alguém tinha g