Sentada no meio-fio, abracei meus joelhos, me sentindo completamente perdida e desorientada.— O que nós vamos fazer agora? — minha voz soou fraca, quase um sussurro.Jesse, com uma expressão desesperada, andava de um lado para o outro na calçada, as mãos enterradas nos cabelos, como se estivesse à beira de um colapso.— Vamos ter que esperar até amanhã — disse ele, a voz embargada pela frustração.— Esperar não vai adiantar nada! Eu não tenho 400 dólares para pagar a multa, e, adivinha — gritei, a raiva transbordando nas palavras zangadas — Você jogou a merda do meu celular pela janela!Revistei meus bolsos freneticamente, encontrando apenas um papel de bala e uma nota de 20 dólares amassada. Tirei a nota, sacudindo-a na direção de Jesse, que tinha olhos cor de mel cheios de angústia.Ele revirou os bolsos e puxou a carteira.— Só tenho 50 dólares.— Isso não cobre nem uma noite num hotel. Estamos em apuros.A realidade da situação me atingiu como um soco no estômago. Jesse me arrast
Tudo bem. Talvez eu estivesse mesmo um pouco fora de mim. Na verdade, provavelmente gritei com Jesse por ter desperdiçado todo o nosso dinheiro, e também com os seguranças do cassino que, ironicamente, gritavam para que eu parasse de gritar. Os efeitos dos Dry Martinis que consumi não eram exatamente propícios para a lucidez, e eu sabia disso. E sim, talvez, em um momento de pura loucura, tenha apontado o dedo na cara do chefe de segurança. A última imagem que tenho do Cassino é a dura realidade do chão frio da calçada, sentindo minha dignidade tão destroçada quanto meu traseiro após sermos expulsos de forma humilhante. — Eu te disse que era uma péssima ideia! — resmunguei, sacudindo a poeira do meu short com um misto de raiva e frustração. — Mas claro, você tinha que ser tão teimoso. Jesse me ignorou completamente, continuando a caminhar pela calçada com passos firmes e apressados. — “Eu sei o que estou fazendo, Jane” — imitei sua voz com sarcasmo, balançando as mãos no ar. — E
Nossa fuga frenética nos levou por uma rua lateral, e viramos na primeira esquina. A dor lancinante em meus pés, ainda aprisionados nos saltos altos, era quase insuportável. Correr com aqueles sapatos era um desafio, especialmente sem o suporte adequado para o arco do pé.Finalmente, paramos em uma área mais isolada, longe das luzes cintilantes dos cassinos e boates. Ofegante, comecei a rir incontrolavelmente, uma risada espontânea e libertadora. Jesse, por outro lado, me observava com uma expressão carrancuda. Ele colocou seu paletó sobre meus ombros novamente, como se só então percebesse minha indumentária de stripper.— O que há de errado com você? — perguntou ele, limpando o suor da testa com o dorso da mão.Encostei-me na parede, vestindo o paletó azul de Jesse e abotoando-o. Vegas realmente era a cidade do pecado, e eu definitivamente não queria ser confundida com uma stripper novamente. A noite estava quente, e eu só conseguia pensar em um banho refrescante e numa cama para des
Parecia uma brincadeira de mau gosto. Eu estava lá, em uma situação quase inacreditável, e agora descobria que só havia um quarto disponível na Pousada da tia Mae - um quarto de funcionários, não menos. A explicação era um congresso de caminhoneiros que ocupava metade dos quartos do que carinhosamente chamavam de pensão. Tia Mae, que mais parecia ter idade para ser minha avó do que tia de alguém, circulava pelo local com sua pele curtida pelo tempo e um sorriso amarelado. A cada dois minutos, ela aparecia, inquirindo se Jesse precisava de algo, o que me deixava incrivelmente irritada.A única vantagem era que o jantar estava incluído no preço da estadia, que me custou apenas 70 dólares. Diante da nossa situação financeira, essa notícia era um alívio. Além disso, o aroma da comida, embora gorduroso e longe de ser saudável, era inegavelmente tentador. Eu estava ansiosa para saciar minha fome, apesar da atmosfera estranha e um tanto sufocante da pensão.Enquanto me sentava para jantar, n
A noite em Las Vegas tem sua própria magia, um espetáculo deslumbrante de luzes cintilantes que parecem dançar contra o pano de fundo do deserto escuro. A grandiosidade dos cassinos na Strip, com seus shows luminosos e arquitetura imponente, atraem os olhares de todos que passam. Por um instante, enquanto caminhava pelas calçadas movimentadas, eu me deixava hipnotizar pela beleza das fontes do Bellagio e pela imponente réplica da Torre Eiffel no Paris Las Vegas. Era fácil se perder nesse transe de luzes e esquecer do mundo ao redor.No entanto, a realidade logo se impunha, lembrando-me de que estávamos em uma situação desafiadora. A cidade brilhante e fervilhante à minha volta parecia um contraste cruel com nossa atual condição – sem um lugar para ficar, sob o calor abrasador de quarenta graus no meio da noite. Por um momento, me perguntei se aquilo era algum tipo de purgatório, uma seção do inferno feita para testar minha sanidade.Uma garota normal talvez estivesse aproveitando as f
Ally nunca está no quarto as três da manhã, eu sinceramente não entendo o que ela faz para se manter de pé, já que parece nunca dormir. Ela faz muito isso, some quando eu mais preciso dela. Ai meu deus Ally, eu vou matar você.— Oi Ally, sou eu de novo. Se ouvir essa mensagem por favor atenda a droga do telefone ou vou ligar para a polícia.Enfio a cabeça debaixo do travesseiro e grito apertando o telefone contra a orelha. Rolo cama sentindo os caroços do colchão mais do que gasto, olho para o teto encarando as rachaduras escuras na tinta branca. Quando está quente sempre caem lascas de tinta gasta no meu cabelo, o que é péssimo, porque parece mais que eu tenho um sério problema com caspa.Na maior parte das vezes, este alojamento velho e apertado me irrita, eu não sei bem o porquê, talvez seja somente a terrível saudade de casa que me assola todas as noites solitárias. Não há uma só manhã que eu não acorde com as costas tortas e me encaro no espelho, questionando a mim mesma se eu fi
Com o fim do semestre, as férias de verão se tornam uma realidade cada vez mais próxima. Estou ansiosa, por vezes, quase me esqueço que toda a minha vida não é resumida a este campus e a um punhado de tarefas chatas. Sim, eu tenho uma vida lá fora, e é surreal imaginar que tudo parece em pausa enquanto sigo minha vida acadêmica pouco turbulenta e sem muitas surpresas.Em alguns dias, entrarei em meu carro e não vou parar até que esteja em casa. Algumas horas de estrada serão o suficientes para fazer com que eu deixe toda a tensão da faculdade para trás por uns bons dias e finalmente possa ver os meus pais. Sinto tanta falta de tudo, sinto falta de toda aquela gente e da minha estranha cidade pequena onde tudo parecia definitivamente mais simples.— Céus — Alessia resmungou tirando sua franja ruiva do rosto — Você não está brava comigo ainda, está?Olho para ela com o canto do olho e arrumo minha última mala. Sexta retornamos para casa, sei que ainda tenho algum tempo para me preparar,
Ótimo.Certamente fiquei mais perdida do que os esquilos que Alessia chutou pela janela quando fizeram ninho debaixo da minha cama.— Não acredito — Alessia jogou-se contra a cama e colocou as mãos nas laterais do rosto — Eu não acredito, eu...Olho para Jesse, de pé, ao lado da porta, com os pés cruzados me perguntando se ficariam bravos por quebrarmos as regras do dormitório. Certamente, aquele nem era o nosso maior problema no momento.Quero dizer, meu namorado simplesmente aparece do nada e não cogita nem sequer me avisar? Eu não sei mais que tipo de relação estamos mesmo vivendo, nem mesmo uma ligação, SMS ou sinal de fumaça. Silêncio absoluto por algum tempo e de súbito Jesse brota na porta do meu prédio pedindo para ver Alessia? Como supostamente eu devo me sentir?A resposta é simples: nada feliz.— O que está havendo? — eu perguntei sacudindo os braços meio furiosa porque ninguém me ousou me explicar o que estava acontecendo.— Ross foi preso noite passada — Jesse falou.— Aq