Sophie

Sophie Narrando

Faz dois meses que estou desesperada procurando trabalho. Acabou meu seguro-desemprego e a empresa onde trabalhei por quatro anos decretou falência. Pelo menos pagaram todos os nossos direitos, graças a Deus. Usei a rescisão e o meu FGTS pra dar entrada no nosso apartamento. A Lizandra também usou o dela e entrou como segunda compradora. Agora estamos morando num apê de dois quartos. Cada uma tem seu cantinho, mas não dá pra viver só esperando ela pagar tudo, muito menos as despesas do mês.

Saio todos os dias cedo. Chuva, sol, tanto faz. De segunda a domingo, corro atrás de emprego. Nos finais de semana, estou fazendo um bico de garçonete numa hamburgueria aqui na Barra. O pessoal lá é legal, mas o que ganho mal dá pra cobrir metade das contas. Mesmo assim, não posso parar.

Hoje, enquanto caminhava com meu maço de currículos na mão, dei uma risada sozinha.

— Já pensou se me chamassem pra trabalhar na Ferraz Engenharia? — falei comigo mesma, com um sorriso cansado no rosto.

Foi por essa imobiliária que conseguimos comprar o apartamento. Deixei meu currículo lá semana passada. Seria um sonho, né? Mas, como eu mesma respondi em voz alta:

— Eles não vão dar desconto na parcela só porque eu trabalho lá. — Ri sozinha, meio louca mesmo, olhando pro céu nublado.

Entrei em mais uma empresa, entreguei meu currículo, agradeci pela atenção. Não sei se ainda espero retorno das entrevistas que fiz. Teve aquela gerente que parecia simpática, prometeu me ligar.

— Vamos marcar pra semana que vem, tá? — ela disse, sorrindo.

— Pode deixar, estarei disponível todos os dias — respondi, animada.

Mas isso foi há duas semanas. Nenhum sinal dela.

Voltei a andar pelas ruas da Barra, meus pés já latejando. Entrei em mais um café, pedi um copo de água e aproveitei pra perguntar se estavam contratando.

— Infelizmente não, moça — o atendente respondeu com gentileza. — Mas posso guardar seu currículo.

— Já ajuda. Obrigada mesmo.

Entreguei mais alguns papéis, revisei as vagas nos sites pelo celular, e nada. A cada "em breve entraremos em contato", eu sinto meu coração apertar mais.

Cheguei em casa no fim da tarde. Lizandra ainda estava no trabalho. Me joguei no sofá e olhei ao redor. Nosso cantinho. Nosso sonho realizado. Mas que luta está sendo mantê-lo. Não quero decepcionar ninguém, muito menos a mim mesma.

Peguei o celular e mandei uma mensagem pra ela:

— Amiga, vou sair amanhã de novo. Ainda tenho alguns lugares pra tentar.

Ela respondeu rápido, como sempre:

— Você vai conseguir, Sophie. Eu sei disso. Não desanima.

Fechei os olhos por um momento e respirei fundo. Talvez amanhã seja o dia. Talvez a sorte resolva sorrir pra mim. Porque desistir, ah, isso eu não sei fazer.

Tomei um banho e fui direto preparar o jantar. Lizandra chegou logo depois, e jantamos juntas. Conversamos um monte de bobagens, rimos tanto que até esqueci das preocupações. É nesses momentos que percebo o quanto sou grata por ter ela na minha vida. Liz é aquele tipo de pessoa que torna tudo mais leve, mesmo nos dias mais difíceis. Quando terminou de comer, ela me olhou com os olhos quase fechando de cansaço.

— Vou deitar, amiga. Hoje o dia foi puxado.

— Vai lá, Liz. Eu cuido da cozinha.

Ela sorriu com gratidão e foi descansar. Lavei a louça, limpei a pia, deixei tudo em ordem. Amanhã é mais um dia de luta em busca de trabalho, e não gosto de sair deixando bagunça.

Acordei cedo, segui minha rotina matinal, me arrumei como sempre. Mas, antes mesmo de sair de casa, meu telefone tocou. O coração acelerou no mesmo instante quando vi o número desconhecido. Atendi.

— Alô?

— Olá, é a secretária do senhor Ferraz, CEO da Ferraz Engenharia. A senhorita está disponível para uma entrevista?

— Sim! Claro que sim.

— Ótimo. A entrevista será hoje, às 17 horas.

Achei o horário meio estranho, confesso. Nunca fui chamada para uma entrevista tão tarde assim. Mas aceitei na hora. Assim que desliguei, mandei mensagem pra Liz.

Miga, fui chamada pra entrevista na Ferraz!

Ela respondeu na hora, cheia de emojis e animação. Passamos a manhã trocando mensagens e comemorando. Fiquei o resto do dia em casa, descansando. A empresa não fica longe do nosso apartamento, então saí às 16h e cheguei às 16h20. Assim que me apresentei na recepção, me encaminharam para uma sala.

Lá estavam outras dezenove mulheres. Todas bem vestidas, seguras, algumas até com cara de executiva. Entregamos nossos currículos, respondemos perguntas. Foi uma seleção tensa. Ao final, só quatro nomes foram chamados. O meu estava entre eles. Me senti aliviada, feliz. Quem sabe não é agora?

A secretária apareceu novamente.

— O senhor Ferraz só poderá atender após as 20 horas. Por favor, aguardem.

Só me restava esperar e ver no que aquilo tudo ia dar.

A recepcionista me conduziu até a sala envidraçada no último andar da Ferraz Engenharia. O coração batia forte no peito, mas mantive a postura. Estava prestes a ser entrevistada por Ethan Ferraz, o CEO mais temido e admirado. Seu olhar frio e postura impecável me intimidaram no instante em que entrei.

— Senhor Ferraz, esta é Sophie Collins — anunciou a recepcionista, antes de se retirar.

Ele sequer levantou os olhos do tablet.

— Sente-se.

Obedeci em silêncio. Meus dedos estavam entrelaçados sobre o colo, tentando esconder o nervosismo.

— Vejo aqui que tem experiência com organização de agendas e viagens internacionais — disse, finalmente erguendo os olhos. O olhar dele era cirúrgico. Como se conseguisse ver além do currículo.

— Sim, senhor. Trabalhei por quatro anos como assistente executiva em uma multinacional. Lidava diretamente com o presidente da empresa.

— Por que saiu?

— A empresa decretou falência.

Ele assentiu levemente, como se já soubesse a resposta. Depois, deslizou o tablet sobre a mesa, me encarando.

— Como lida com pressão?

— Bem. Sou organizada, pró-ativa e consigo manter o foco mesmo sob estresse.

— Detesto desculpas. Prefiro soluções. Está disposta a trabalhar fora do horário comercial, se necessário?

— Estou.

— E quanto à discrição? Confidencialidade é essencial nesta função.

— Tenho total compromisso com isso. Acredito que confiança é construída com atitudes, não com palavras — Respondi, olhando firme.

Ele me observou por longos segundos. Não havia sorrisos, nem simpatia. Só uma análise calculista por trás daqueles olhos cinzentos.

— Muito bem. Agradeço por vir. Entraremos em contato.

Saí da sala com a sensação de ter passado por um interrogatório. Mas, ao mesmo tempo, havia um brilho estranho nos olhos dele, como se eu tivesse causado uma boa impressão.

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