Ethan Narrando Cheguei na empresa às sete em ponto, como de costume. Gosto da rotina, da previsibilidade das manhãs. Mas hoje havia algo diferente no ar. Assim que as portas do elevador se abriram, fui invadido pelo perfume dela. Doce, elegante, marcante. O tipo de aroma que fica preso na pele e na memória.Nossos olhares se cruzaram por uma fração de segundo. Sophie estava sentada em sua mesa, como sempre impecável, mas havia algo no jeito como me olhou, algo que me atingiu como um soco no estômago.Passei por ela sem dizer uma palavra. Não confio na minha voz quando estou assim, bagunçado por dentro. Entrei na minha sala, fechei a porta e só então percebi que estava prendendo o ar. Soltei, devagar, tentando me recompor.Sentei à minha mesa e encarei a tela do computador por alguns minutos, sem realmente ver nada. Era impossível ignorar o peso daquela madrugada, o gosto do beijo dela ainda vivo na minha boca, o vazio que senti ao acordar e perceber que ela não estava mais lá.Ouvi t
Ethan narrando Me chamo Ethan Ferraz, tenho 38 anos e sou CEO da maior construtora do país: a Ferraz Engenharia. Sou engenheiro civil por formação e, acima de qualquer título que carrego, sou apaixonado pela minha profissão. Dizem que o amor é cego. Mas eu diria que, às vezes, ele é estúpido. Eu, sou conhecido por Conduzir a maior construtora do país, conhecido como um estrategista implacável, o tubarão branco do mercado imobiliário, caí feito um amador nas armadilhas de um sentimento que, hoje, me envergonha. Eu me casei por amor. Acreditei que havia encontrado minha parceira de vida, alguém que construiria ao meu lado não apenas um império, mas também um lar. Penélope era filha de um dos meus maiores investidores. Linda, elegante, com um sorriso sedutor que fazia qualquer um esquecer o mundo ao redor. Ela me encantou. Me fez rir, sonhar, planejar. Em pouco tempo, me vi completamente entregue. Pedi sua mão, organizei um casamento digno de contos de fadas, e, por um tempo, vi
Me chamo Sophie Collins, tenho 26 anos e sou formada em Recursos Humanos. Sou loira, Olhos azuis e magra. Aquele padrão que agrada os olhos. Mas isso não significa nada para mim, a vida é muito mais do que os olhos conseguem enxergar. Hoje posso dizer que conquistei algo que muita gente subestima: a minha liberdade. Ainda não alcancei todos os meus sonhos, mas ter chegado até aqui viva, lúcida e com força para contar minha história, já é, sem dúvidas, a minha maior vitória. Quando eu tinha apenas doze anos, perdi meu pai. Ele era meu herói, minha referência, e sua morte deixou um buraco irreparável em mim. Logo depois, a nossa vida virou do avesso. Em menos de um ano, minha mãe se casou novamente. Na época, eu só queria que ela fosse feliz, que encontrasse alguém que cuidasse dela, de nós. E, no início, foi exatamente isso que ele parecia: um homem tranquilo, educado, gentil. Eu o chamava de "tio" por respeito, mesmo sem me sentir confortável. Mas com o tempo, esse “tio” revelou qu
Ethan Narrando O som do despertador ecoa pelo quarto antes mesmo que o sol ouse atravessar as cortinas. Meu braço se move mecanicamente até o aparelho sobre a mesa de cabeceira. A tela pisca com uma frase que eu mesmo programei: “Mais um dia de CEO.” — Como se eu precisasse de lembrete — murmuro com desdém, desligando o alarme. Me sento na beira da cama, esfregando o rosto com as mãos. Não porque esteja cansado, mas por puro hábito. Descanso é um luxo que não me permito, não quando carrego uma das maiores construtoras do país nas costas. Me levanto, caminho até o banheiro e encaro o reflexo no espelho. O olhar frio. Racional. Calculista. Escovo os dentes em silêncio. O barulho da água corrente é a única trilha sonora da minha manhã. Tomo um banho rápido, gelado. Sempre gelado. Acorda os músculos e a mente. De volta ao quarto, o closet já está aberto. Minhas camisas estão perfeitamente alinhadas por cor e tecido. Escolho uma branca, engomada, e combino com um terno azul-marinho
Sophie Narrando Faz dois meses que estou desesperada procurando trabalho. Acabou meu seguro-desemprego e a empresa onde trabalhei por quatro anos decretou falência. Pelo menos pagaram todos os nossos direitos, graças a Deus. Usei a rescisão e o meu FGTS pra dar entrada no nosso apartamento. A Lizandra também usou o dela e entrou como segunda compradora. Agora estamos morando num apê de dois quartos. Cada uma tem seu cantinho, mas não dá pra viver só esperando ela pagar tudo, muito menos as despesas do mês. Saio todos os dias cedo. Chuva, sol, tanto faz. De segunda a domingo, corro atrás de emprego. Nos finais de semana, estou fazendo um bico de garçonete numa hamburgueria aqui na Barra. O pessoal lá é legal, mas o que ganho mal dá pra cobrir metade das contas. Mesmo assim, não posso parar. Hoje, enquanto caminhava com meu maço de currículos na mão, dei uma risada sozinha. — Já pensou se me chamassem pra trabalhar na Ferraz Engenharia? — falei comigo mesma, com um sorriso cansado
Ethan Narrando Olhei para o relógio em meu pulso. Já passava das vinte e duas horas. A sala estava em silêncio, exceto pelo leve tique-taque do relógio de parede e o zumbido baixo do ar-condicionado. Entrevistas finalizadas. Currículos impecáveis, discursos ensaiados, sorrisos forçados. Nenhuma surpresa. Apenas uma delas me passou a determinada confiança que procuro. Sophie Collins. Jovem, objetiva, centrada. Não é que eu confie nela, ainda não, mas algo me diz que vale o teste. Talvez ela seja a pessoa certa. Peguei o celular e digitei uma mensagem rápida para minha secretária. — Ligue para Sophie Collins amanhã cedo. Diga que quero ela aqui, pontualmente às oito. Guardei o aparelho no bolso interno do paletó e levantei. Peguei meu casaco, desliguei as luzes do escritório e saí sem olhar para trás. O silêncio da noite me acompanhava no elevador até o térreo. O motorista já me esperava do lado de fora. Entrei no carro sem dizer uma palavra. O trajeto até minha casa foi rápido. A
Sophie Narrando Saí da Ferraz com uma esperança de que pode ser a minha Chance.Assim que cheguei em casa, Elizandra já estava lá. Como sempre, preocupada comigo.— Já fez a comida, né? — perguntei, sorrindo ao sentir o cheirinho vindo da cozinha.— Claro! Sabia que você ia chegar exausta. Fiz aquela sopa que você gosta — respondeu ela, com aquele jeitinho acolhedor.Comemos juntas, conversamos um pouco sobre o dia, mas o cansaço me venceu. Tomei um banho rápido e fui direto para o quarto. Nem tive tempo de pensar muito. Apaguei assim que encostei a cabeça no travesseiro.Acordei com o celular tocando. Ainda estava escuro e, quando olhei as horas, vi que eram 5:47 da manhã. Meu coração disparou ao ver no visor: Ferraz Engenharia.— Alô? — atendi com a voz ainda sonolenta.— Bom dia, senhorita Sophie? Aqui é a secretária da Ferraz. Estou ligando para informar que a vaga é sua. Precisamos que esteja na construtora às 8:00 em ponto. O Senhor Ferraz odeia atrasos.— Nossa… Muito obrigada
Ethan Narrando A manhã foi bem produtiva. A nova assistente se mostrou tão competente quanto o currículo prometia. Segura, profissional, sabe a hora de se calar. Gosto dessas características, não tenho paciência para gente que fala demais ou se perde nos próprios passos. Assim que terminei minha última reunião do turno da manhã, saímos da sala de Conferência. — Vá almoçar, e volte no horário, não tolero atrasos, logo após o almoço, tenho um compromisso externo e quero que me acompanhe. — Sim, Senhor. Ela assentiu com um leve movimento de cabeça, saí andando, tenho um compromisso. Deixei a construtora, o restaurante ficava a duas quadras, onde o novo investigador me esperava. Escolhi um lugar discreto, nada muito chamativo. O assunto exigia discrição. Ele já estava sentado, consultando algo em uma pequena pasta. Se levantou assim que me viu. — Sr. Ferraz. Uma honra. — Sem formalidades — disse, apertando sua mão. — Pode me chamar de Ethan. Sentamos. Pedi meu prato habitual, e