Sophie Narrando
Saí da Ferraz com uma esperança de que pode ser a minha Chance. Assim que cheguei em casa, Elizandra já estava lá. Como sempre, preocupada comigo. — Já fez a comida, né? — perguntei, sorrindo ao sentir o cheirinho vindo da cozinha. — Claro! Sabia que você ia chegar exausta. Fiz aquela sopa que você gosta — respondeu ela, com aquele jeitinho acolhedor. Comemos juntas, conversamos um pouco sobre o dia, mas o cansaço me venceu. Tomei um banho rápido e fui direto para o quarto. Nem tive tempo de pensar muito. Apaguei assim que encostei a cabeça no travesseiro. Acordei com o celular tocando. Ainda estava escuro e, quando olhei as horas, vi que eram 5:47 da manhã. Meu coração disparou ao ver no visor: Ferraz Engenharia. — Alô? — atendi com a voz ainda sonolenta. — Bom dia, senhorita Sophie? Aqui é a secretária da Ferraz. Estou ligando para informar que a vaga é sua. Precisamos que esteja na construtora às 8:00 em ponto. O Senhor Ferraz odeia atrasos. — Nossa… Muito obrigada! Eu estarei lá sim. Obrigada pela oportunidade! — respondi, tentando soar mais acordada do que realmente estava. Assim que desliguei, pulei da cama como se tivesse levado um choque. Tomei um banho rápido, daqueles que a gente nem sente a água direito de tanta pressa. Vesti minha saia lápis preta, uma blusa social branca e calcei meu scarpan nude. Optei por uma maquiagem leve, apenas o básico para parecer apresentável. Enquanto chamava o Uber, peguei minha bolsa, meu tablet e borrifei um pouco do meu perfume preferido, só um pouquinho, nada muito forte. Quando olhei pela janela, vi que o carro já estava parado em frente ao prédio. Desci correndo. Ainda bem que moro no segundo andar e que o elevador colaborou dessa vez. Entrei no carro e pedi para o motorista ir o mais rápido possível, dentro do permitido, claro. Cheguei na porta da Ferraz às 7:03. Coração acelerado, mãos um pouco trêmulas, mas eu estava pronta. — Vai dar tudo certo, Sophie — murmurei para mim mesma antes de entrar. É um novo começo. Talvez até um recomeço. Mas, acima de tudo, é a minha chance. E eu não vou desperdiçar. Quando cheguei na recepção principal, o segurança já me informou que havia um crachá separado para mim. Peguei o cartão de acesso com meu nome e respirei fundo. O dia mal tinha começado e meu estômago já estava revirando de nervoso. Mas mantive a postura e subi até o andar da presidência. Assim que o elevador se abriu, dei de cara com o senhor Ferraz parado bem em frente à porta de sua sala. Ele estava impecável como nas fotos da internet, alto, terno alinhado, olhar firme e frio. Muito frio. — Bom dia — cumprimentei com um tom educado, olhando para ele e para a secretária executiva que estava sentada à mesa ao lado. Ele simplesmente virou o rosto, entrou na sala e bateu a porta atrás de si. Fiquei alguns segundos sem reação, mas logo a secretária se levantou e se aproximou de mim. — Não liga, querida. Ele é assim mesmo. Não cumprimenta ninguém. Assenti com a cabeça e sorri sem graça. Sinceramente? Que tipo de chefe age assim? Ela me conduziu até minha mesa e começou a me explicar sobre os compromissos do dia. A rotina ali era puxada, mas eu já esperava. Ela também comentou sobre uma petição que o senhor Ferraz redigiu ontem à noite, e que ele queria uma segunda revisão antes de protocolar. — Ele quer que você leia com atenção e envie os comentários por e-mail. Mas antes, é bom você se apresentar oficialmente. B**e na porta, ele vai autorizar a entrada. Engoli seco e caminhei até a porta da sala. Bati duas vezes. — Pode entrar — respondeu ele lá de dentro, com a voz firme e grave. Ao entrar, mantive a postura profissional. — Senhor Ferraz, estou com sua agenda do dia e gostaria de repassar com o senhor. Me aproximei da mesa e coloquei o tablet sobre ela, virado para ele. Foi nesse momento que nossas mãos se tocaram, mesmo que de leve. Instintivamente, recuei. Não queria que ele pensasse que eu estava sendo invasiva ou tentando algum tipo de aproximação. — Perdão — murmurei. Ele apenas me lançou um olhar rápido, sem expressão alguma. Se aquilo o incomodou ou não, não demonstrou. — Diga ao financeiro que quero os dados consolidados até às oito e meia. Sem achismos, só números. — Claro, senhor — Falei de forma clara e objetiva. Ele apenas assentiu com a cabeça. — Organize os documentos da reunião das onze. Quero todos os dados em mãos até às dez e meia. — Sim, senhor. Saí da sala e voltei para minha mesa, determinada a cumprir cada uma das tarefas com eficiência. Afinal de contas, eu estava ali para isso: para trabalhar, aprender e mostrar meu valor. Durante a manhã, acompanhei o senhor Ferraz em duas reuniões. E posso afirmar, com toda certeza do mundo: ele é frio. Não só no olhar, mas também nas palavras. Cada frase sua vinha com uma precisão cirúrgica, mas sem qualquer traço de empatia ou gentileza. A maneira como ele analisava as pessoas fazia minha espinha gelar. — A proposta é falha. Refaçam e me tragam algo que valha a pena — ele disse em uma das reuniões, sem sequer levantar a voz, mas com uma frieza que calou a sala. Eu observava tudo atentamente, anotando pontos importantes, tentando entender a forma como ele conduzia os negócios. Uma parte de mim admirava aquela postura firme, mas a outra... a outra sentia um calafrio só de imaginar o que se passava por trás daquele olhar que parecia atravessar qualquer um. É, meu primeiro dia mal começou, e eu já entendi que trabalhar com o senhor Ethan Ferraz não será nada fácil. — Vá almoçar, e volte no horário, não tolero atrasos, logo após o almoço, tenho um compromisso externo e quero que me acompanhe. — Sim, Senhor. Ele saiu andando na frente, e eu fiquei para trás, estranho para esse homem é pouco.Ethan Narrando A manhã foi bem produtiva. A nova assistente se mostrou tão competente quanto o currículo prometia. Segura, profissional, sabe a hora de se calar. Gosto dessas características, não tenho paciência para gente que fala demais ou se perde nos próprios passos. Assim que terminei minha última reunião do turno da manhã, saímos da sala de Conferência. — Vá almoçar, e volte no horário, não tolero atrasos, logo após o almoço, tenho um compromisso externo e quero que me acompanhe. — Sim, Senhor. Ela assentiu com um leve movimento de cabeça, saí andando, tenho um compromisso. Deixei a construtora, o restaurante ficava a duas quadras, onde o novo investigador me esperava. Escolhi um lugar discreto, nada muito chamativo. O assunto exigia discrição. Ele já estava sentado, consultando algo em uma pequena pasta. Se levantou assim que me viu. — Sr. Ferraz. Uma honra. — Sem formalidades — disse, apertando sua mão. — Pode me chamar de Ethan. Sentamos. Pedi meu prato habitual, e
Sophie Narrando Eu posso dizer que esse primeiro dia foi um verdadeiro teste. E, sinceramente? Acho que passei. Meu Deus, que homem difícil! Não que ele seja péssimo, longe disso. É educado, cortês até, mas é fechado, sério, sem expressão nenhuma. Quando abre a boca, parece que cada palavra é medida, e dita como se fosse um chicote estalando no ar. Apesar disso, preciso reconhecer: ele é extremamente profissional. Exigente, sim. Mas também justo. Durante a visita à obra, estávamos naquele container que funciona como escritório, apertado, abafado e com cheiro de café velho, quando algo inesperado aconteceu. O engenheiro responsável pela obra, um tal de Rafael Mendonça, me olhou de um jeito estranho. Daqueles olhares que fazem a gente querer sair correndo pra tomar banho e se livrar da sensação ruim. Arrepiei inteira. Tentei disfarçar, focar nos papéis, fingir que não percebi. Mas acho que o senhor Ferraz percebeu. Sem dizer uma palavra, ele se levantou da cadeira, veio até onde eu
Ethan Narrando O relógio marcava 5h30 quando o alarme tocou. Me levantei sem hesitar. Uma rotina rígida me acompanhava há anos, e hoje não seria diferente. Após uma corrida leve de trinta minutos na esteira, tomei um banho gelado, uma prática que mantinha minha mente alerta. O espelho embaçado do banheiro refletia meu semblante inexpressivo. Sequei o rosto, ajeitei o cabelo com precisão e vesti um terno cinza escuro alinhado, camisa branca impecável e gravata azul-marinho. No closet, ajustei o Rolex no pulso, calcei os sapatos italianos e conferi os documentos na pasta de couro. Um último olhar para o espelho. Postura reta. Olhar firme. Estava pronto. O carro me esperava na garagem. Durante o trajeto revisei relatórios no tablet, enquanto o motorista seguia em silêncio. Ao chegar à sede da Ferraz Engenharia, subi direto para o andar da presidência. Hoje o Jhon chega de suas férias, ele fez uma viagem internacional para descansar, mas conseguiu fechar um negócio milionário. Vamos c
Ethan Narrando O dia foi um verdadeiro pandemônio. Não parei nem por dez minutos. Entre reuniões, ligações e visitas inesperadas, a agenda parecia cada vez mais fora de controle. No meio do caos, liberei a Sophie na hora do almoço, mas pedi que, assim que terminasse de comer, voltasse direto para a empresa. Sua hora de almoço seria devidamente recompensada como hora extra. Ela não reclamou, como sempre, eficiente e profissional.Jhon, que andava por perto, se ofereceu para almoçar com ela, provavelmente numa tentativa de escapar da sala quente de reuniões, mas mandei ele entrar comigo no escritório. Pedi para a Sophie, antes de sair, solicitar dois pratos executivos e mandar entregar na empresa. Ela fez isso com a agilidade de sempre e, em poucos minutos, já estava fora.Fechei a porta, puxei a cadeira e encarei Jhon, que já tinha um caderno de anotações aberto na mesa.— Vamos direto ao ponto — comecei, soltando um suspiro cansado. — O projeto da filial em Salvador está travado. O e
Sophie Narrando Nunca imaginei que fosse fazer uma mala tão rápido. Mal tive tempo de entender que realmente ia viajar com o Sr. Wilker e outro engenheiro, e já estava com a cabeça a mil, segundo dia de trabalho, e já recebo essa missão tão importante. O Senhor Ferraz havia me mandado uma mensagem dizendo que o motorista estava a caminho da minha casa para me levar direto ao aeroporto. Não sabia se essa viagem seria rápida ou não, então joguei umas roupas básicas, documentos, meu tablet, o carregador, alguns itens de higiene e finalizei com um blazer, por precaução. Tomei um banho correndo, me arrumei com uma roupa confortável, porém apresentável, e desci com a mala de rodinhas na mão.Ainda deu tempo de mandar uma mensagem para Elizandra:— Liz, vou viajar a trabalho, o Sr. Ferraz me avisou de última hora. Te explico depois, beijo!Na portaria, fiquei esperando o motorista que chegou em menos de dez minutos. Entrei no carro e seguimos em direção ao aeroporto, em completo silêncio.
Ethan Narrando Trabalhei a tarde inteira, mas minha mente insistia em me trair. Por mais que tentasse focar nos relatórios, contratos e projeções, os rostos de Jhon, Pedro e Sophie me invadiam a cada minuto. Eles estavam a caminho de Salvador para resolver o impasse da obra embargada, e eu odiava depender de terceiros, mesmo quando esses terceiros eram minha melhor equipe.Já era começo da noite quando Clara entrou na minha sala.— Doutor Ethan, estou indo. Já deu meu horário.Levantei os olhos por um segundo e apenas assenti com a cabeça. Clara já estava acostumada com minhas respostas curtas. Às vezes, um gesto meu valia mais do que mil palavras. Ela saiu sem esperar mais nada.Olhei para o relógio. Oito da noite e nenhuma posição concreta. Peguei o celular e enviei uma mensagem para Sophie.— Alguma novidade?A resposta veio quase instantaneamente.— Ainda estamos em reunião.Isso só aumentou minha inquietação. Reunião às oito da noite. Algo estava mais complicado do que previmos.
Sophie Narrando Saímos da reunião sem avanço algum. Nenhuma novidade, nenhuma definição, nenhum acordo. O clima era pesado, e mesmo o Pedro, que geralmente tenta suavizar o ambiente, parecia desanimado. Sr. Wilker já foi direto:— Ethan, não vai gostar nada de saber disso.Dei um passo à frente, mantendo a postura profissional, mas já um pouco incomodada com aquele clima de tensão.— O Sr. Ferraz me mandou mensagem durante a reunião, e eu preciso dar um posicionamento para ele.Sr. Wilker apenas me olhou com expressão cansada e disse:— Só diga que mais tarde eu ligo pra ele.Assenti. Assim que saímos do prédio, mandei a mensagem. Curta, objetiva, clara. E como de costume, a resposta dele veio do mesmo jeito: seca.“OK.”Sem pontuação, sem emoji, sem nenhuma pista de humor ou reação. Apenas aquilo. OK. Tão Ethan Ferraz.Seguimos para o hotel. Eu já estava subindo no elevador quando Sr. Wilker nos chamou.— Ei, vocês dois! Que tal jantar comigo? Tem um restaurante aqui perto, culinári
Ethan Narrando O som do despertador cortou o silêncio do quarto às 5:30 em ponto. Me levantei sem hesitar. Nunca gostei de perder tempo. Fiz minha rotina matinal com precisão: banho gelado, barba feita, terno impecável. Às 7h em ponto, desci para o café. A reunião estava marcada para as 9h, e eu precisava revisar, pela última vez, a proposta que elaborei na madrugada.Pedro e John chegaram quase juntos. Automaticamente procurei Sophie com os olhos, mas ela não estava ali.— Cadê a Sophie? — John perguntou enquanto se servia de café.Pedro deu de ombros.— Ainda não a vi. Posso mandar uma mensagem pra ela, se quiser.Balancei a cabeça.— Deixe ela descansar. Ela cumpriu muito bem o papel dela ontem à noite.Nos sentamos e começamos a comer. Conversávamos sobre os ajustes finais da proposta quando senti uma presença se aproximando. Levantei o olhar, e lá estava ela.Sophie entrou no restaurante com a postura impecável de uma secretária executiva, do tipo que faz homens perderem o foco