Ethan Narrando O dia foi um verdadeiro pandemônio. Não parei nem por dez minutos. Entre reuniões, ligações e visitas inesperadas, a agenda parecia cada vez mais fora de controle. No meio do caos, liberei a Sophie na hora do almoço, mas pedi que, assim que terminasse de comer, voltasse direto para a empresa. Sua hora de almoço seria devidamente recompensada como hora extra. Ela não reclamou, como sempre, eficiente e profissional.Jhon, que andava por perto, se ofereceu para almoçar com ela, provavelmente numa tentativa de escapar da sala quente de reuniões, mas mandei ele entrar comigo no escritório. Pedi para a Sophie, antes de sair, solicitar dois pratos executivos e mandar entregar na empresa. Ela fez isso com a agilidade de sempre e, em poucos minutos, já estava fora.Fechei a porta, puxei a cadeira e encarei Jhon, que já tinha um caderno de anotações aberto na mesa.— Vamos direto ao ponto — comecei, soltando um suspiro cansado. — O projeto da filial em Salvador está travado. O e
Sophie Narrando Nunca imaginei que fosse fazer uma mala tão rápido. Mal tive tempo de entender que realmente ia viajar com o Sr. Wilker e outro engenheiro, e já estava com a cabeça a mil, segundo dia de trabalho, e já recebo essa missão tão importante. O Senhor Ferraz havia me mandado uma mensagem dizendo que o motorista estava a caminho da minha casa para me levar direto ao aeroporto. Não sabia se essa viagem seria rápida ou não, então joguei umas roupas básicas, documentos, meu tablet, o carregador, alguns itens de higiene e finalizei com um blazer, por precaução. Tomei um banho correndo, me arrumei com uma roupa confortável, porém apresentável, e desci com a mala de rodinhas na mão.Ainda deu tempo de mandar uma mensagem para Elizandra:— Liz, vou viajar a trabalho, o Sr. Ferraz me avisou de última hora. Te explico depois, beijo!Na portaria, fiquei esperando o motorista que chegou em menos de dez minutos. Entrei no carro e seguimos em direção ao aeroporto, em completo silêncio.
Ethan Narrando Trabalhei a tarde inteira, mas minha mente insistia em me trair. Por mais que tentasse focar nos relatórios, contratos e projeções, os rostos de Jhon, Pedro e Sophie me invadiam a cada minuto. Eles estavam a caminho de Salvador para resolver o impasse da obra embargada, e eu odiava depender de terceiros, mesmo quando esses terceiros eram minha melhor equipe.Já era começo da noite quando Clara entrou na minha sala.— Doutor Ethan, estou indo. Já deu meu horário.Levantei os olhos por um segundo e apenas assenti com a cabeça. Clara já estava acostumada com minhas respostas curtas. Às vezes, um gesto meu valia mais do que mil palavras. Ela saiu sem esperar mais nada.Olhei para o relógio. Oito da noite e nenhuma posição concreta. Peguei o celular e enviei uma mensagem para Sophie.— Alguma novidade?A resposta veio quase instantaneamente.— Ainda estamos em reunião.Isso só aumentou minha inquietação. Reunião às oito da noite. Algo estava mais complicado do que previmos.
Sophie Narrando Saímos da reunião sem avanço algum. Nenhuma novidade, nenhuma definição, nenhum acordo. O clima era pesado, e mesmo o Pedro, que geralmente tenta suavizar o ambiente, parecia desanimado. Sr. Wilker já foi direto:— Ethan, não vai gostar nada de saber disso.Dei um passo à frente, mantendo a postura profissional, mas já um pouco incomodada com aquele clima de tensão.— O Sr. Ferraz me mandou mensagem durante a reunião, e eu preciso dar um posicionamento para ele.Sr. Wilker apenas me olhou com expressão cansada e disse:— Só diga que mais tarde eu ligo pra ele.Assenti. Assim que saímos do prédio, mandei a mensagem. Curta, objetiva, clara. E como de costume, a resposta dele veio do mesmo jeito: seca.“OK.”Sem pontuação, sem emoji, sem nenhuma pista de humor ou reação. Apenas aquilo. OK. Tão Ethan Ferraz.Seguimos para o hotel. Eu já estava subindo no elevador quando Sr. Wilker nos chamou.— Ei, vocês dois! Que tal jantar comigo? Tem um restaurante aqui perto, culinári
Ethan Narrando O som do despertador cortou o silêncio do quarto às 5:30 em ponto. Me levantei sem hesitar. Nunca gostei de perder tempo. Fiz minha rotina matinal com precisão: banho gelado, barba feita, terno impecável. Às 7h em ponto, desci para o café. A reunião estava marcada para as 9h, e eu precisava revisar, pela última vez, a proposta que elaborei na madrugada.Pedro e John chegaram quase juntos. Automaticamente procurei Sophie com os olhos, mas ela não estava ali.— Cadê a Sophie? — John perguntou enquanto se servia de café.Pedro deu de ombros.— Ainda não a vi. Posso mandar uma mensagem pra ela, se quiser.Balancei a cabeça.— Deixe ela descansar. Ela cumpriu muito bem o papel dela ontem à noite.Nos sentamos e começamos a comer. Conversávamos sobre os ajustes finais da proposta quando senti uma presença se aproximando. Levantei o olhar, e lá estava ela.Sophie entrou no restaurante com a postura impecável de uma secretária executiva, do tipo que faz homens perderem o foco
Sophie Narrando Aquele foi, sem dúvida, um dos cafés da manhã mais difíceis da minha vida. Eu sentia os olhos frios do Sr. Ferraz em cima de mim, analisando cada movimento meu como se eu fosse mais um relatório técnico a ser revisado. Ainda assim, comi em silêncio, enquanto eles conversavam sobre a obra, propostas, termos técnicos, conversa de engenheiro. Como não entendo muito do assunto, achei melhor ficar calada e apenas observar.Assim que terminamos de comer, o Sr. Ferraz abriu o notebook e já começou a mostrar a proposta para o Sr. Wilker e o Pedro. Fiz anotações dos pontos que considerei importantes, com base nas experiências que já tive. Grifei onde achei que deveríamos prestar mais atenção e até refiz um gráfico, destacando os itens que, na minha opinião, pareciam mais críticos naquele momento.Fomos para a sala de reuniões do hotel, a que havia sido reservada exclusivamente para esse encontro. O fiscal da prefeitura já estava lá. Era tão gentil e educado quanto o Sr. Ferraz
Ethan Narrando Passei a manhã inteira em minha suíte, concentrado nos relatórios do último trimestre dessa Obra, antes do embargo. O silêncio era necessário. Não suporto interrupções, especialmente quando estou imerso em números e decisões que movimentam milhões. Só desci para o almoço porque seria grosseiro demais faltar. Almoçamos eu, John, Sophie e Pedro. Conversas superficiais. Pedro falando de investimentos, John fazendo piadas, e Sophie, apenas observando. Ela tem esse jeito silencioso de analisar tudo ao redor, mas seus olhos entregam mais do que ela imagina.Assim que terminamos, voltei para minha suíte. Não pretendia ser interrompido novamente, mas, claro, John não entende limites.Ele apareceu como sempre, batendo até que eu abrisse.— Você tá pegando pesado com a Sophie — ele disse, cruzando os braços como se fosse meu juiz.— Isso é coisa da sua cabeça — respondi, seco. E voltei para a mesinha, onelde meu notebook estava aberto.— Não, Ethan. Eu te conheço. E você tá mex
Sophie Narrando Chegamos ao Rio de Janeiro no início da noite. O voo foi maravilhoso, consegui descansar um pouco depois de toda a tensão dos últimos dias. Foi tanta pressão, tanta correria, que esse momento de pausa nas alturas foi quase um alívio. Esses dois dias foram intensos, não apenas pela responsabilidade do projeto, mas também pela presença do senhor Ferraz, o Dono das ferraduras mais afiadas.Assim que desembarcamos, ele se virou para mim com sua expressão impassível de sempre e disse:— Posso te dar uma carona até sua casa.Assenti, um pouco surpresa com o gesto. Não era o tipo de coisa que eu esperava dele, mas confesso que estava exausta e aceitar foi um alívio. O motorista já nos aguardava do lado de fora do aeroporto. Ele pegou minha mala com rapidez e, após eu informar meu endereço, digitou no GPS sem dizer uma palavra.Durante o trajeto, mantivemos o silêncio por alguns minutos, até que, de forma inesperada, o senhor Ferraz quebrou a barreira invisível entre nós com