Acordei em uma casa completamente desconhecida e, ao olhar ao meu redor, tudo voltou à minha memória. Não consigo acreditar na besteira que fiz, meu Deus.
Olhei debaixo do lençol e percebi que estava sem roupas. Levantei, cobrindo-me com o lençol, peguei minhas roupas do chão e me vesti, completamente atordoada.— Você ainda está aqui? — ele me olhou com desprezo e eu fiquei sem reação.— Já estou indo, não precisa me expulsar! O que eu estava pensando quando fiquei com você, seu idiota?— Ah, você veio aqui porque quis, garota, e nem mesmo disse que era virgem. — ele revirou os olhos.— Nojo de você. — lancei-lhe um olhar de desprezo, calcei meus saltos e saí do apartamento dele imediatamente.— Ontem você não parecia estar com nenhum nojo. Pelo contrário. — ele piscou para mim.Ódio, ódio. - pensei.Não posso acreditar no que fiz. Entreguei-me a um completo desconhecido. O que vão pensar de mim agora? Calma, Manuela, esqueça que isso aconteceu, retome sua vida e acabou. Eu só precisava apagar essa noite desastrosa da minha vida e tudo seguiria normalmente.Esqueça que um dia conheceu esse Felipe e que veio aqui.Chamei um Uber e, esgotada, cheguei em casa. Minha intimidade doía e eu me sentia suja por ter feito aquilo com aquele... ser desprezível. Ele só tinha beleza por fora, pois por dentro era um idiota. Eu tinha me guardado por tanto tempo, para agora desperdiçar tudo.— Onde você estava? — minha mãe perguntou com uma expressão nada amigável.— Eu... estava na casa da Paula, como falei.— Hmm, com essa roupa e essa cara?— me questionou encarando meu vestido de festa. — Enfim,você pode se arrumar.— Para quê? — questionei.— Eu estou com dor de cabeça.— Aula de inglês, Manuela Montenegro! Você não se responsabiliza por nada mesmo, né, garota? Você é um desgosto, tenha modos. — ela praticamente cuspiu as palavras.Joguei-me na cama, completamente "indisposta" para ir a essa m*****a aula que eu odiava.— 15 minutos para você estar pronta. — minha mãe voltou e gritou na porta do meu quarto.Levantei-me e dirigi-me ao meu amplo banheiro, tomei um banho, lavando meus cabelos e tentando limpar pelo menos meu corpo daquela noite imprudente. Abri meu closet, escolhi uma calça jeans, uma camiseta polo da nova coleção da minha mãe que a propósito era estilista e insuportável, calcei meus Vans e desci.— Alex está te esperando. Preste atenção na aula, porque eu e seu pai não estamos pagando nada à toa para você desperdiçar.— Ok. — revirei os olhos e estava prestes a sair.— Espere! Eu e seu pai vamos a um jantar de negócios, então fique em casa, você está de castigo.— Mas como assim? Por que está me colocando de castigo? — a olhei sem entender nada.- Não discuta, Manuela. Vá para a sua aula, pelo menos assim você ganha algo de bom. - assenti e saí.Já não basta tudo o que passei, agora ainda vou ficar de castigo. Às vezes, preferia ser pobre, mas pelo menos ter uma família que me amasse. Ter dezenove anos e ser comandada desta maneira era horrível.Minha mãe saiu e me deixou sozinha. Eu queria tanto chorar, chorar até não poder mais. Eu imaginei que minha primeira vez seria algo como uma cena de novela ou sei lá, não que seria assim. O cara praticamente me expulsou de lá como se eu fosse insignificante.Saí de casa para ir ao curso. Minha mãe dizia que saber inglês era extremamente importante para as minhas "relações", ela projetava que eu fosse perfeita e me cobrava por isso, o que era extremamente esgotante.— Na hora certa, você me busca. - sorri para Alex,o motorista e saí do carro.Fiz minha m*****a aula de inglês e, como sempre, me saí bem nas atividades. Pelo menos disso a Senhora Mirelle não tinha do que reclamar.Cheguei em casa exausta, tomei um banho e me joguei na cama. Peguei meu iPhone, mas essa droga estava descarregada, já que quando cheguei da festa nem o toquei. Conectei-o ao carregador e mandei uma mensagem para a Paula."Paula?"" Oi, amiga, para onde você foi ontem?""Eu... Paula, eu fiquei com um cara. Aquele Felipe.""Gente, não acredito, Manuela Montenegro! Safadinha."Mas espera, ficou como? "" Eu me entreguei a ele, Paula, e agora?"" Meu Deus, vem aqui em casa para conversamos sobre isso, como foi?""Bom, foi horrível. Estou de castigo, proibida de sair. ""Por quê? Sua mãe descobriu que você ficou com ele? "" Não mas depois conversamos. Meu celular vai desligar e estou na aula de inglês. Beijos."Encerrei a troca de mensagens e desliguei o celular e fiquei pensando no que aconteceu comigo. Ah, m*****a festa idiota, se não fosse por isso, eu estaria numa boa, com minha virgindade intacta, nada disso estaria acontecendo.Me ajeitei na cama e tentei dormir... O que não adiantou em nada, tive um sonho, ou melhor, um "pesadelo" com aquele Felipe. O desgraçado, ai, o perfume dele, o jeito dele, o beijo dele não saem da minha cabeça.Ele é um idiota. Percebi isso pela forma como ele me tratou depois de ter tirado minha virgindade. Imbecil.Olhei para o lado, procurando meu celular, e não achei, mas estava aqui. Parei de procurar quando o furacão chamado "minha mãe" entrou no meu quarto, praticamente gritando.— O que é isso, Manuela? - ela entrou gritando com meu celular nas mãos.— O quê? - fingi não entender, realmente não estava entendendo.— Essa conversa com a Paula. - ela me mostrou a conversa e gelei na hora.— Mãe, eu posso explicar, foi só um... - nem terminei de falar e senti um tapa no meu rosto.— Você quer se tornar uma prostituta? Vá para um bordel. Mas não aqui, não na minha casa. Se isso se repetir, Manuela... Eu não sei do que sou capaz de fazer com você. - ela segurou meu braço e me jogou na cama.Ela sempre me humilhava.— Saia desta casa apenas com a minha permissão. - ela disse e saiu do quarto batendo a porta.Chorei, chorei como se nunca tivesse chorado na minha vida.De repente, tudo mudou. Minha vida está uma droga, não pode ficar pior!Uma semana se passou desde aquele incidente terrível. Minha mãe não para de me controlar, ela confiscou meu celular e me proíbe de sair de casa. Agora, é apenas da escola para casa para mim.Eu não sei o que está acontecendo comigo, droga. Estou enjoada, me sentindo mal, meu estômago embrulha facilmente com qualquer coisa que como. Quer dizer, se eu conseguir comer.— Manuela? - meu pai se aproximou.— Oi, pai. - dei um sorriso forçado.— Posso saber o que está acontecendo?— O quê? - fingi não entender, realmente não estava entendendo.— O clima entre você e Mirelle.— É... Você sabe como é minha mãe, pai.— Ok, vou para a empresa, tchau. - ele deu um beijo no topo da minha cabeça e saiu.Meu pai era um bom homem, mas mal nos encontrávamos, pois ele trabalhava demais. E quando estava em casa, "minha mãe" enchia o saco.Hoje é sábado, pelo menos não tenho que ir para a escola. Depois de tudo isso, Paula e Luísa mal falam comigo, ou me evitam, ou apenas trocam palavras.**Duas semanas
Mais um dia de tortura indo para aquela escola, e eu não conseguia me concentrar em nada. Calcei um Vans branco com listras pretas, fiz um rabo de cavalo nos cabelos e passei uma maquiagem simples para tentar disfarçar minha cara de choro. Peguei os livros das respectivas matérias de hoje e desci.Meus pais já tinham ido para o trabalho, dei bom dia a Dulce e já ia saindo de casa quando ela me chamou para um canto.— Manu? Você tem que comer algo.— Dulce, desculpa, mas eu não quero comer. Não sinto vontade de fazer nada, só chorar.— Mas você tem que se alimentar. Isso faz mal.Ela tinha razão, e se eu estivesse grávida? E se passasse mal na escola, todos iriam saber do meu desprazer!Entrei no carro e fui em silêncio... Não tinha mais prazer em nada na vida. Por que? Por que tudo isso estava acontecendo comigo?Ao chegar no colégio, fiquei sentada mexendo no celular até que Paula chegou perto de mim.— O que você quer? — disse seca.— Eu vim te pedir desculpas!— Pelo quê mesmo? — f
Eu não quero ter esse bebê, não quero, mas ao mesmo tempo lembro do que Dulce me falou... É só uma criança. Mas estou com medo, triste e sem saber de nada. Estou grávida de um dono de morro. Deus, isso não pode ser verdade. Se já queria morrer, agora que sei que estou grávida de um traficante, piorou as consequências um milhão de vezes.Pensei em tirar essa criança, pensei em tirar a vida, pensei em tantas coisas... Mas nada disso parecia ser uma boa solução. Só besteiras. Toda vez que pensava em abortar, lembrava do que Dulce havia me dito. Eu sou tão jovem, não estou preparada para este fardo.Ou então, já sei, poderia pedir para minha mãe viajar, ter esse filho lá e entregá-lo para adoção bem longe de mim. Estou me sentindo péssima!— Alô? — atendi o telefone assim que tocou.— Oi, Manu, como cê tá? — era Léo.— Não posso dizer que estou bem, né. — suspirei. — Estou um caco.— Manu, fica calma. Eu estou com você, ouviu?!— Eu sei, Léo, eu te amo.— Também, loirinha. Eu tenho que i
Manuela narrandoCheguei na casa de Léo e interfonei com o senhor Rogério, que era o porteiro do apartamento de Léo. Como ele já me conhecia, me deixou subir sem problemas. Eu costumava vir aqui quando era mais nova.— Manu? Desculpa perguntar, mas você tá bem? - seu Rogério se aproximou e me perguntou.— Sim, senhor Rogério. Eu só poderia pedir para o senhor me ajudar com essas malas? Preciso colocá-las no elevador.— Claro que sim, ajudarei você. - ele colocou minhas malas no elevador, se despediu e voltou ao seu posto.É incrível como um porteiro com quem conversei apenas algumas vezes percebe que algo está errado, enquanto minha mãe e meu pai, que me deram a vida, estão pouco se lixando. Como eles puderam me expulsar, sabendo que estou grávida e sozinha no mundo, sem a mínima consideração pela menina que eles viram crescer.Apertei o andar de Léo até chegar a ele. Peguei meu celular e liguei para que ele abrisse a porta.— Leonardo, abre aí a sua porta.— Como assim, onde você est
Léo narrandoUma semana se passou desde que Manu chegou aqui, e eu estava me sentindo devastado por tudo o que estava acontecendo com minha prima. A dor em meu peito era insuportável.Eu a amo de todo o meu coração, cara. Não posso acreditar que deixei que isso acontecesse com ela. Mas eu e Felipe vamos ter uma conversa séria. Ah, com certeza vamos!Saí de casa bem cedo, deixando Manu dormindo, mas antes passei em seu quarto para dar uma olhada nela. Ela estava dormindo como um anjo, parecendo tão frágil e inocente, como se o mundo ao seu redor não estivesse desmoronando.Peguei a chave do meu carro, um veículo antigo, mas que ainda funcionava bem. Desde que meu pai "perdeu tudo", nunca mais pude desfrutar dos antigos luxos que tínhamos. Saí de casa e liguei para Felipe, avisando que já estava a caminho.— Felipe, estou indo aí, beleza?— Falou, Léo, mas como assim você nunca mais veio aqui no Vidigal? Agora decide me visitar? — ele falou com um tom de desconfiança em sua voz.— É um
**Felipe narrando:**Assim que sou soube que estava prestes a ser "papai", não consigo pensar em outras coisas.Me sentei no sofá da minha sala e fiquei usando maconha... A única coisa que me relaxa.De repente, vi a porta se abrindo rapidamente e dei de cara com o capiroto do PL, meu primo e um dos únicos parentes além de Galego, meu primo insuportável e arrombado.— Pô cofoi, vai invadir a propriedade do ladrão é? — falei revirando os olhos.— Eu que o diga, uma hora dessas você se drogando aí.— Ih, rouba a brisa não Paulo Lucas. — puxei a fumaça do cigarro.— Tá estressado é?— Tô, pra caralho. Mas veio fazer o quê aqui? Nem dez da manhã são ainda.— Alá, tá me expulsando, já vou. — fez-se de ofendido e ia saindo.— Ih, deixa de frete PL. Senta aí e bora fumar mais comigo.— Eu não sou igual a você, que se droga toda hora.— Nossa, me ofendeu. — dei um sorrisinho sarcástico.— O desgraçado do Galego tá provocando de novo.— Não suporto esse filho da puta! O que ele fez agora?
Manuela Hoje era o dia em que eu teria que ir para essa droga de lugar... Ai, que ódio. Queria poder fugir ou implorar para o Léo me deixar ficar aqui. Mas não dava. Vesti qualquer roupa, fiz um coque nos cabelos e calcei uma sapatilha. Para quê me arrumar para ir para essa favela de gente pobretona? — Vamos? — Léo me chamou. — Sim. — falei com desdém. Estava com ódio, muito ódio. Léo não podia me entregar a esse bandido assim, e se ele me matar? Entramos no carro, e eu fui o caminho todo enjoada. Esse bebê está me trazendo problemas... Andamos mais um pouquinho e fomos chegando à tal favela. Eu não sabia nada sobre favelas, nunca tinha pisado meus sapatos caríssimos em uma, mas sei que é um lugar onde tem criminalidade. Pelo menos é o que minha mãe dizia destas pessoas sempre que passava algo na tv. Não sei como Léo teve coragem de se envolver com esse pessoal.Minha vida se tornou um inferno! Tudo por causa desse infeliz, esse monstro, bandido, não tenho nem palavras para des
Felipe narrando: Essa patricinha tá me enchendo o saco, falar sério. Nem chegou aqui direito e já tá me esculhambando, ai Felipe como você foi idiota de não ter se cuidado. Acordei meio sonolento, essa vida de dono de morro é foda, mano. Tem que acordar cedo porque se deixar pra os moleques resolverem as paradas, eles só fazem merda. Tomei um banho rápido e frio pra despertar, vesti uma bermuda jeans, uma camisa da Oakley e calcei minha Kenner. Coloquei minhas correntes de ouro, me olhei no espelho e tô palozo pra caralho. Saí do meu quarto e passei no corredor, cheguei na frente dela e passei em frente à porta da entojada lá. Continuei andando, mas me bateu uma curiosidade e eu voltei lá. Abri a porta devagar e ela está lá deitada em posição fetal, dormindo. Ela até parece um anjo. Seus cabelos loiros estão bagunçados, mas mesmo assim, ela ainda continua bonita. Ah, pensamentos ridículos. Me sinto confuso com tudo isso. Como foi que acabamos nessa situação? Eu nunca imaginei qu