Manuela narrando
Cheguei na casa de Léo e interfonei com o senhor Rogério, que era o porteiro do apartamento de Léo. Como ele já me conhecia, me deixou subir sem problemas. Eu costumava vir aqui quando era mais nova.
— Manu? Desculpa perguntar, mas você tá bem? - seu Rogério se aproximou e me perguntou.
— Sim, senhor Rogério. Eu só poderia pedir para o senhor me ajudar com essas malas? Preciso colocá-las no elevador.
— Claro que sim, ajudarei você. - ele colocou minhas malas no elevador, se despediu e voltou ao seu posto.
É incrível como um porteiro com quem conversei apenas algumas vezes percebe que algo está errado, enquanto minha mãe e meu pai, que me deram a vida, estão pouco se lixando. Como eles puderam me expulsar, sabendo que estou grávida e sozinha no mundo, sem a mínima consideração pela menina que eles viram crescer.
Apertei o andar de Léo até chegar a ele. Peguei meu celular e liguei para que ele abrisse a porta.
— Leonardo, abre aí a sua porta.
— Como assim, onde você está?
— Só abre a porta, Léo, por favor.
Ele abriu a porta e deu de cara comigo com uma expressão terrivel. Assim que o vi, comecei a chorar sem parar.
— Ei, o que foi, prima? O que aconteceu? - perguntou Léo.
— Me abraça, Léo, eu só preciso disso. - Depois de alguns longos minutos nos abraçando, ele me mandou entrar.
— Me dá essas malas, e agora me explica o que aconteceu, Manu.
— Foi horrível, Léo. - eu chorava. Minha mãe descobriu e me expulsou de casa. Meu pai não fez nada para impedir isso.
— Calma, eu ainda estou aqui contigo, Manuela.
— Obrigado, irmão. - sorri fraco.
— Eu me culpo, cara! Você não sabe o quanto eu me culpo por não ter te vigiado naquela festa... E o pior, foi eu que levei o Felipe até lá. Se eu não tivesse levado, droga. - esmurrou a parede e passou a mão entre os cabelos.
— Ei, para, a culpa não foi sua eu ja tenho dezenove anos deveria saber o que fazer, Léo. Eu que fui uma... enfim. Mas como você conhece esse Felipe, um traficante, Léo?
— Eu o conheci na escola, na época em que estudávamos juntos quando éramos mais novos. Eu não sabia que o pai dele era bandido e dono de morro, ninguém sabia. Até que um dia ele se abriu comigo, contou tudo, inclusive que ele seria o futuro sucessor do pai. Para mim, ele era só mais um garoto normal.
— E mesmo sabendo que ele era um bandido, você ainda continuou amigo dele?
— Sim, ele era um cara legal. Eu não ia fazer isso, até porque ele não era um "bandido", Manu. O pai dele era. Não podemos julgar as pessoas pelo que são seus pais.
— Como eu pude me deitar comum bandido, dono de morro? Meu Deus, é um ultraje.
— Ele pode ser tudo isso, Manuela, mas tenha certeza de que ele é uma pessoa boa e não vai te deixar na mão. Eu mesmo vou falar com ele. Melhor que seus pais que expulsaram voc~e com uma mão na frente e outra atrás.
— Eu quero fugir, desejo tanto não ter esse filho.
— Para, você não pode dizer isso, louca. O filho não tem culpa de nada. Agora senta aí, relaxa. Come algo, toma um banho e para de pensar negativo.
— Tá. - fui até o quarto que Léo preparou para mim.
Fui até o pequeno banheiro que havia ali no apartamento, liguei o chuveiro e deixei a água molhar meus cabelos e acalmar meus pensamentos. "Se é que isso é possível".
Vesti uma das poucas calças jeans que trouxe, era uma preta justa que, se eu não me engano, estava ficando apertada em mim. M*****a gravidez! Coloquei uma blusa e prendi os cabelos em um coque. Meus olhos vermelhos ardiam de tanto chorar por dias.
Estendi minha toalha no pequeno varal e me sentei no sofá. Léo não estava em casa, devia ter ido para algum lugar.
— Que linda, em. - Léo chegou com um sorriso no rosto.
— Linda nada, olha para mim. - sorri.
— Manu, você sorrindo fica linda, não chorando. Mas eu trouxe comida para gente. - Ele abriu uma sacola com macarrão com queijo e coca-cola, minha comida preferida.
— Ai, Léo, agora me animei. Vamos atacar logo isso! - rimos.
Comi dois pratos, estava com tanta fome que parecia que não comia há dias. Esse bebê está querendo me deixar gorda, tenho certeza.
— Mas, Manu... Tem um assunto que eu quero conversar contigo.
— O quê? - disse enquanto terminava de comer.
— Felipe precisa saber sobre esse filho, você sabe, né?
— O quê? Você está louco, né? Se depender de mim, ele nunca vai saber de mim.
— Manuela, você sabe que não vai conseguir se manter. Eu poderia te ajudar, mas o salário que ganho mal dá para fazer uma compra do mês. Quem paga meu aluguel são meus avós.
— Eu sei, mas sei lá... Eu posso trabalhar.
— Trabalhar? Você está grávida, e o bebê vai precisar de você por mais ou menos um ano. Sem contar o quanto você vai gastar com ele. E você nunca fez nada na vida, nunca nem varreu um chão.
— Ai que droga, isso parece um filme de terror. - me olhei no espelho que havia na parede da sala e comecei a chorar.
— Não fale isso! Deixa as coisas comigo, tá? Eu gosto de você demais e só quero seu bem.
— Meu bem é que você não conte para ele!
— Manu, vai dormir, tenta descansar um pouco.
Fui para o quarto e fiquei imaginando o quanto meus pais estavam me odiando. Por que tudo isso, Deus?Eu poderia ter perdido a virgindade e não ficar grávida. Mas por que eu tinha que ficar grávida? Que ódio.
Que azar.
Léo narrandoUma semana se passou desde que Manu chegou aqui, e eu estava me sentindo devastado por tudo o que estava acontecendo com minha prima. A dor em meu peito era insuportável.Eu a amo de todo o meu coração, cara. Não posso acreditar que deixei que isso acontecesse com ela. Mas eu e Felipe vamos ter uma conversa séria. Ah, com certeza vamos!Saí de casa bem cedo, deixando Manu dormindo, mas antes passei em seu quarto para dar uma olhada nela. Ela estava dormindo como um anjo, parecendo tão frágil e inocente, como se o mundo ao seu redor não estivesse desmoronando.Peguei a chave do meu carro, um veículo antigo, mas que ainda funcionava bem. Desde que meu pai "perdeu tudo", nunca mais pude desfrutar dos antigos luxos que tínhamos. Saí de casa e liguei para Felipe, avisando que já estava a caminho.— Felipe, estou indo aí, beleza?— Falou, Léo, mas como assim você nunca mais veio aqui no Vidigal? Agora decide me visitar? — ele falou com um tom de desconfiança em sua voz.— É um
**Felipe narrando:**Assim que sou soube que estava prestes a ser "papai", não consigo pensar em outras coisas.Me sentei no sofá da minha sala e fiquei usando maconha... A única coisa que me relaxa.De repente, vi a porta se abrindo rapidamente e dei de cara com o capiroto do PL, meu primo e um dos únicos parentes além de Galego, meu primo insuportável e arrombado.— Pô cofoi, vai invadir a propriedade do ladrão é? — falei revirando os olhos.— Eu que o diga, uma hora dessas você se drogando aí.— Ih, rouba a brisa não Paulo Lucas. — puxei a fumaça do cigarro.— Tá estressado é?— Tô, pra caralho. Mas veio fazer o quê aqui? Nem dez da manhã são ainda.— Alá, tá me expulsando, já vou. — fez-se de ofendido e ia saindo.— Ih, deixa de frete PL. Senta aí e bora fumar mais comigo.— Eu não sou igual a você, que se droga toda hora.— Nossa, me ofendeu. — dei um sorrisinho sarcástico.— O desgraçado do Galego tá provocando de novo.— Não suporto esse filho da puta! O que ele fez agora?
Manuela Hoje era o dia em que eu teria que ir para essa droga de lugar... Ai, que ódio. Queria poder fugir ou implorar para o Léo me deixar ficar aqui. Mas não dava. Vesti qualquer roupa, fiz um coque nos cabelos e calcei uma sapatilha. Para quê me arrumar para ir para essa favela de gente pobretona? — Vamos? — Léo me chamou. — Sim. — falei com desdém. Estava com ódio, muito ódio. Léo não podia me entregar a esse bandido assim, e se ele me matar? Entramos no carro, e eu fui o caminho todo enjoada. Esse bebê está me trazendo problemas... Andamos mais um pouquinho e fomos chegando à tal favela. Eu não sabia nada sobre favelas, nunca tinha pisado meus sapatos caríssimos em uma, mas sei que é um lugar onde tem criminalidade. Pelo menos é o que minha mãe dizia destas pessoas sempre que passava algo na tv. Não sei como Léo teve coragem de se envolver com esse pessoal.Minha vida se tornou um inferno! Tudo por causa desse infeliz, esse monstro, bandido, não tenho nem palavras para des
Felipe narrando: Essa patricinha tá me enchendo o saco, falar sério. Nem chegou aqui direito e já tá me esculhambando, ai Felipe como você foi idiota de não ter se cuidado. Acordei meio sonolento, essa vida de dono de morro é foda, mano. Tem que acordar cedo porque se deixar pra os moleques resolverem as paradas, eles só fazem merda. Tomei um banho rápido e frio pra despertar, vesti uma bermuda jeans, uma camisa da Oakley e calcei minha Kenner. Coloquei minhas correntes de ouro, me olhei no espelho e tô palozo pra caralho. Saí do meu quarto e passei no corredor, cheguei na frente dela e passei em frente à porta da entojada lá. Continuei andando, mas me bateu uma curiosidade e eu voltei lá. Abri a porta devagar e ela está lá deitada em posição fetal, dormindo. Ela até parece um anjo. Seus cabelos loiros estão bagunçados, mas mesmo assim, ela ainda continua bonita. Ah, pensamentos ridículos. Me sinto confuso com tudo isso. Como foi que acabamos nessa situação? Eu nunca imaginei qu
Felipe. Destravei a glock e mirei no alvo. É sempre bom treinar meu tiro...— Já vai Fp? — Magno perguntou enquanto eu tirava o colete à prova de balas.— Já parceiro, tô cheio de coisas pra fazer.— Tipo o quê?— Dormir e comer. — disse dando risada.— Queria ter essa vida boa tua aí.— Que vida boa cara? Vida mó difícil a minha. Só hoje que tô de folga.— Pior que é, essa vida de bandido é difícil...— Até porque se o crime fosse fácil, não existiria trabalhador. — pisquei pra ele e saí.Não vim de moto hoje, porque minha bebê tá no conserto. Poderia vir com outra, mas prefiro mil vezes a minha que está consertando.Desci o morro tranquilamente, várias pessoas me dando moral, cumprimentando... As putas quase se jogando pra mim, mas só como quem eu quero.Já estava quase chegando em casa quando Bárbara me parou no meio da rua.— Felipe, precisamos conversar! — parou em minha frente.— Que é, Bárbara? Sai da minha frente, caralho. Nossa conversa só é na cama.— Que história é essa, Fe
Flávia narrandoEra hoje. O dia em que eu voltaria ao Vidigal, finalmente, para rever meu irmão, que eu nem me lembrava direito de sua face, só nos vemos por Skype.Estou no auge dos meus 16 anos, e não que eu me ache, tá ligado? Fui criada com minha tia e sempre tive liberdade para fazer o que me desse na telha. Agora decidi voltar para o morro, para rever Felipe e viver no Vidigal.Muitas pessoas falam do morro, que lá só é lugar de crime, dizem que o morro é lugar de bandido, matador, mas não é nada disso. Pelo que minha tia sempre me contou, minha mãe largou tudo para viver com meu pai. Ela era filha de ricos da zona sul e abandonou tudo para morar na favela. Sinto muito orgulho da minha mãe e do meu pai.— Tchau, tia, eu te amo... E pode ter certeza que eu volto aqui pra te visitar! — disse, pegando minhas malas.— Eu vou sentir saudades, Fla... — minha tia me deu um abraço apertado.— Eu também. A senhora é a mãe que eu não tive.— Vai logo. Não gosto de despedidas. Me ligue tod
Manu narrandoEu estava um caco, minha cara nem eu mesma reconhecia. Meu cabelo tava um trapo, sentia falta da minha cabeleira pessoal, das minhas inúmeras roupas de grife, de ir passar uma tarde inteira no shopping gastando o dinheiro do meu pai com coisas fúteis.— Quer comer algo, Manu? — Nanda me perguntou e eu neguei.Eu e ela criamos o que pode se chamar de amizade, ela é uma ótima pessoa mesmo morando nessa droga de lugar.— Ai Nanda, minha barriga parece que vai revirar!— É assim mesmo, depois você se acostuma.— Eu nunca vou me acostumar com esse bebê!— Ele é seu filho... Eu sei que está sendo difícil pra você. Também engravidei cedo de um bandido. Infelizmente é a triste realidade da maioria das meninas do morro.— E o que aconteceu com seu filho?— Eu o criei, enfrentei o abandono dos meus pais e do pai dele... Você tem sorte que o Felipe ainda é um rapaz decente que não te abandonou.— Preferia que ele não ligasse, o odeio... — suspirei de ódio. — E o seu filho Nanda, on
Felipe narrandoDepois de trazer minha irmã pra casa, eu fui fazer uns negócios .. Se é que me entendem.Fui pegar uma mina, Adriely . Já que aquela maluca da Beatriz tá de ondinha, deixa ela assim. Passar uns dias ela tá de volta que nem uma cadela.- Amor, vamos ficar juntos hoje o dia todo?- Que dia todo Adriely, o que eu queria você já me deu.- Nossa Felipe, isso é jeito ?- Cê quer o quê, que eu te trate com amor? Que eu te assuma? Se liga você é uma qualquer. - Você é o único homem da minha vida. - Aaaah, sei . - sorri ironicamente.Vaza do meu escritório . - Não me chama mais! - ela saiu batendo os pés. Mulher é uma porra viu! Só fica falando de papo de namoro, de assumir tomar no cú. Namorar pra mim é perda de tempo.Me levantei e fui até a boca principal, dei o papo pra Menor me trazer uma já pronta ... E só fiquei lá brisando e pensando na vida.Pode nem parecer, mais eu tô animado pra caralho com o meu filho. Será que ele vai puxar aos cabelos loiros da mãe? Ou meus