Manuela narrandoCheguei na casa de Léo e interfonei com o senhor Rogério, que era o porteiro do apartamento de Léo. Como ele já me conhecia, me deixou subir sem problemas. Eu costumava vir aqui quando era mais nova.— Manu? Desculpa perguntar, mas você tá bem? - seu Rogério se aproximou e me perguntou.— Sim, senhor Rogério. Eu só poderia pedir para o senhor me ajudar com essas malas? Preciso colocá-las no elevador.— Claro que sim, ajudarei você. - ele colocou minhas malas no elevador, se despediu e voltou ao seu posto.É incrível como um porteiro com quem conversei apenas algumas vezes percebe que algo está errado, enquanto minha mãe e meu pai, que me deram a vida, estão pouco se lixando. Como eles puderam me expulsar, sabendo que estou grávida e sozinha no mundo, sem a mínima consideração pela menina que eles viram crescer.Apertei o andar de Léo até chegar a ele. Peguei meu celular e liguei para que ele abrisse a porta.— Leonardo, abre aí a sua porta.— Como assim, onde você est
Léo narrandoUma semana se passou desde que Manu chegou aqui, e eu estava me sentindo devastado por tudo o que estava acontecendo com minha prima. A dor em meu peito era insuportável.Eu a amo de todo o meu coração, cara. Não posso acreditar que deixei que isso acontecesse com ela. Mas eu e Felipe vamos ter uma conversa séria. Ah, com certeza vamos!Saí de casa bem cedo, deixando Manu dormindo, mas antes passei em seu quarto para dar uma olhada nela. Ela estava dormindo como um anjo, parecendo tão frágil e inocente, como se o mundo ao seu redor não estivesse desmoronando.Peguei a chave do meu carro, um veículo antigo, mas que ainda funcionava bem. Desde que meu pai "perdeu tudo", nunca mais pude desfrutar dos antigos luxos que tínhamos. Saí de casa e liguei para Felipe, avisando que já estava a caminho.— Felipe, estou indo aí, beleza?— Falou, Léo, mas como assim você nunca mais veio aqui no Vidigal? Agora decide me visitar? — ele falou com um tom de desconfiança em sua voz.— É um
**Felipe narrando:**Assim que sou soube que estava prestes a ser "papai", não consigo pensar em outras coisas.Me sentei no sofá da minha sala e fiquei usando maconha... A única coisa que me relaxa.De repente, vi a porta se abrindo rapidamente e dei de cara com o capiroto do PL, meu primo e um dos únicos parentes além de Galego, meu primo insuportável e arrombado.— Pô cofoi, vai invadir a propriedade do ladrão é? — falei revirando os olhos.— Eu que o diga, uma hora dessas você se drogando aí.— Ih, rouba a brisa não Paulo Lucas. — puxei a fumaça do cigarro.— Tá estressado é?— Tô, pra caralho. Mas veio fazer o quê aqui? Nem dez da manhã são ainda.— Alá, tá me expulsando, já vou. — fez-se de ofendido e ia saindo.— Ih, deixa de frete PL. Senta aí e bora fumar mais comigo.— Eu não sou igual a você, que se droga toda hora.— Nossa, me ofendeu. — dei um sorrisinho sarcástico.— O desgraçado do Galego tá provocando de novo.— Não suporto esse filho da puta! O que ele fez agora?
Manuela Hoje era o dia em que eu teria que ir para essa droga de lugar... Ai, que ódio. Queria poder fugir ou implorar para o Léo me deixar ficar aqui. Mas não dava. Vesti qualquer roupa, fiz um coque nos cabelos e calcei uma sapatilha. Para quê me arrumar para ir para essa favela de gente pobretona? — Vamos? — Léo me chamou. — Sim. — falei com desdém. Estava com ódio, muito ódio. Léo não podia me entregar a esse bandido assim, e se ele me matar? Entramos no carro, e eu fui o caminho todo enjoada. Esse bebê está me trazendo problemas... Andamos mais um pouquinho e fomos chegando à tal favela. Eu não sabia nada sobre favelas, nunca tinha pisado meus sapatos caríssimos em uma, mas sei que é um lugar onde tem criminalidade. Pelo menos é o que minha mãe dizia destas pessoas sempre que passava algo na tv. Não sei como Léo teve coragem de se envolver com esse pessoal.Minha vida se tornou um inferno! Tudo por causa desse infeliz, esse monstro, bandido, não tenho nem palavras para des
Felipe narrando: Essa patricinha tá me enchendo o saco, falar sério. Nem chegou aqui direito e já tá me esculhambando, ai Felipe como você foi idiota de não ter se cuidado. Acordei meio sonolento, essa vida de dono de morro é foda, mano. Tem que acordar cedo porque se deixar pra os moleques resolverem as paradas, eles só fazem merda. Tomei um banho rápido e frio pra despertar, vesti uma bermuda jeans, uma camisa da Oakley e calcei minha Kenner. Coloquei minhas correntes de ouro, me olhei no espelho e tô palozo pra caralho. Saí do meu quarto e passei no corredor, cheguei na frente dela e passei em frente à porta da entojada lá. Continuei andando, mas me bateu uma curiosidade e eu voltei lá. Abri a porta devagar e ela está lá deitada em posição fetal, dormindo. Ela até parece um anjo. Seus cabelos loiros estão bagunçados, mas mesmo assim, ela ainda continua bonita. Ah, pensamentos ridículos. Me sinto confuso com tudo isso. Como foi que acabamos nessa situação? Eu nunca imaginei qu
Felipe. Destravei a glock e mirei no alvo. É sempre bom treinar meu tiro...— Já vai Fp? — Magno perguntou enquanto eu tirava o colete à prova de balas.— Já parceiro, tô cheio de coisas pra fazer.— Tipo o quê?— Dormir e comer. — disse dando risada.— Queria ter essa vida boa tua aí.— Que vida boa cara? Vida mó difícil a minha. Só hoje que tô de folga.— Pior que é, essa vida de bandido é difícil...— Até porque se o crime fosse fácil, não existiria trabalhador. — pisquei pra ele e saí.Não vim de moto hoje, porque minha bebê tá no conserto. Poderia vir com outra, mas prefiro mil vezes a minha que está consertando.Desci o morro tranquilamente, várias pessoas me dando moral, cumprimentando... As putas quase se jogando pra mim, mas só como quem eu quero.Já estava quase chegando em casa quando Bárbara me parou no meio da rua.— Felipe, precisamos conversar! — parou em minha frente.— Que é, Bárbara? Sai da minha frente, caralho. Nossa conversa só é na cama.— Que história é essa, Fe
Flávia narrandoEra hoje. O dia em que eu voltaria ao Vidigal, finalmente, para rever meu irmão, que eu nem me lembrava direito de sua face, só nos vemos por Skype.Estou no auge dos meus 16 anos, e não que eu me ache, tá ligado? Fui criada com minha tia e sempre tive liberdade para fazer o que me desse na telha. Agora decidi voltar para o morro, para rever Felipe e viver no Vidigal.Muitas pessoas falam do morro, que lá só é lugar de crime, dizem que o morro é lugar de bandido, matador, mas não é nada disso. Pelo que minha tia sempre me contou, minha mãe largou tudo para viver com meu pai. Ela era filha de ricos da zona sul e abandonou tudo para morar na favela. Sinto muito orgulho da minha mãe e do meu pai.— Tchau, tia, eu te amo... E pode ter certeza que eu volto aqui pra te visitar! — disse, pegando minhas malas.— Eu vou sentir saudades, Fla... — minha tia me deu um abraço apertado.— Eu também. A senhora é a mãe que eu não tive.— Vai logo. Não gosto de despedidas. Me ligue tod
Manu narrandoEu estava um caco, minha cara nem eu mesma reconhecia. Meu cabelo tava um trapo, sentia falta da minha cabeleira pessoal, das minhas inúmeras roupas de grife, de ir passar uma tarde inteira no shopping gastando o dinheiro do meu pai com coisas fúteis.— Quer comer algo, Manu? — Nanda me perguntou e eu neguei.Eu e ela criamos o que pode se chamar de amizade, ela é uma ótima pessoa mesmo morando nessa droga de lugar.— Ai Nanda, minha barriga parece que vai revirar!— É assim mesmo, depois você se acostuma.— Eu nunca vou me acostumar com esse bebê!— Ele é seu filho... Eu sei que está sendo difícil pra você. Também engravidei cedo de um bandido. Infelizmente é a triste realidade da maioria das meninas do morro.— E o que aconteceu com seu filho?— Eu o criei, enfrentei o abandono dos meus pais e do pai dele... Você tem sorte que o Felipe ainda é um rapaz decente que não te abandonou.— Preferia que ele não ligasse, o odeio... — suspirei de ódio. — E o seu filho Nanda, on