Manuela narrandoAlguns longos meses se passaram após a bem-sucedida inauguração da minha boutique. Era incrível como a vida podia mudar tanto em tão pouco tempo. Eu, que um dia fui apenas uma menina perdida, sem saber como lidar com uma gravidez e abandonada por meus pais, agora estava construindo tanta coisa boa. O meu preconceito com o morro, era algo que eu não consigo entender, hoje eu vejo que aqui existem pessoas melhores, bem melhores do que o meio sujo onde eu vivia entre os ricos.Minha vida ainda era marcada por traumas difíceis de superar, desde o sequestro até minha vida com Mirelle, mas quando eu olhava ao redor e via tudo o que eu e meu neguinho havíamos construído, percebia que nada disso importava mais. Cada desafio que enfrentei me tornou mais forte, e eu estava determinada a criar o que eu mereço.Enquanto eu estava na cozinha, pensandosobre tudo e os obstáculos que havia superado, ouvi a voz de Felipe me chamando. Sua expressão parecia preocupada e apressada.— Amo
Acordei às seis da manhã para mais um dia cansativo, entre tantos outros. Eu morava em uma mansão considerada perfeita, em um dos bairros mais exclusivos da Zona Sul do Rio de Janeiro, o Leblon. Cresci cercada por mansões luxuosas, prédios de alto padrão, celebridades e empresários influentes, e meus pais eram um deles.— Manu, você tem que se arrumar. — Dulce apareceu em meu quarto e eu apenas a olhei.Dulce era uma das empregadas que trabalhavam aqui em casa. Ela me criava desde pequena, já que meus "pais" não cumpriam esse papel frequentemente. Minha mãe, Mirelle Montenegro, só pensava em moda, dinheiro e status. Meu pai era até amoroso em certos pontos, mas fazia todas as vontades da minha mãe e acabava se tornando fútil igual a ela.Certa vez, perguntei à minha mãe por que ela agia com tanto descaso comigo. "Por que, se eu não for dura com você, você vai ser uma ninguém, pobre e amargurada. É isso que você quer ser?", foram as palavras dela. Bom, não podia mudar de pais.— Já est
Acordei em uma casa completamente desconhecida e, ao olhar ao meu redor, tudo voltou à minha memória. Não consigo acreditar na besteira que fiz, meu Deus.Olhei debaixo do lençol e percebi que estava sem roupas. Levantei, cobrindo-me com o lençol, peguei minhas roupas do chão e me vesti, completamente atordoada.— Você ainda está aqui? — ele me olhou com desprezo e eu fiquei sem reação.— Já estou indo, não precisa me expulsar! O que eu estava pensando quando fiquei com você, seu idiota?— Ah, você veio aqui porque quis, garota, e nem mesmo disse que era virgem. — ele revirou os olhos.— Nojo de você. — lancei-lhe um olhar de desprezo, calcei meus saltos e saí do apartamento dele imediatamente. — Ontem você não parecia estar com nenhum nojo. Pelo contrário. — ele piscou para mim. Ódio, ódio. - pensei.Não posso acreditar no que fiz. Entreguei-me a um completo desconhecido. O que vão pensar de mim agora? Calma, Manuela, esqueça que isso aconteceu, retome sua vida e acabou. Eu só prec
Uma semana se passou desde aquele incidente terrível. Minha mãe não para de me controlar, ela confiscou meu celular e me proíbe de sair de casa. Agora, é apenas da escola para casa para mim.Eu não sei o que está acontecendo comigo, droga. Estou enjoada, me sentindo mal, meu estômago embrulha facilmente com qualquer coisa que como. Quer dizer, se eu conseguir comer.— Manuela? - meu pai se aproximou.— Oi, pai. - dei um sorriso forçado.— Posso saber o que está acontecendo?— O quê? - fingi não entender, realmente não estava entendendo.— O clima entre você e Mirelle.— É... Você sabe como é minha mãe, pai.— Ok, vou para a empresa, tchau. - ele deu um beijo no topo da minha cabeça e saiu.Meu pai era um bom homem, mas mal nos encontrávamos, pois ele trabalhava demais. E quando estava em casa, "minha mãe" enchia o saco.Hoje é sábado, pelo menos não tenho que ir para a escola. Depois de tudo isso, Paula e Luísa mal falam comigo, ou me evitam, ou apenas trocam palavras.**Duas semanas
Mais um dia de tortura indo para aquela escola, e eu não conseguia me concentrar em nada. Calcei um Vans branco com listras pretas, fiz um rabo de cavalo nos cabelos e passei uma maquiagem simples para tentar disfarçar minha cara de choro. Peguei os livros das respectivas matérias de hoje e desci.Meus pais já tinham ido para o trabalho, dei bom dia a Dulce e já ia saindo de casa quando ela me chamou para um canto.— Manu? Você tem que comer algo.— Dulce, desculpa, mas eu não quero comer. Não sinto vontade de fazer nada, só chorar.— Mas você tem que se alimentar. Isso faz mal.Ela tinha razão, e se eu estivesse grávida? E se passasse mal na escola, todos iriam saber do meu desprazer!Entrei no carro e fui em silêncio... Não tinha mais prazer em nada na vida. Por que? Por que tudo isso estava acontecendo comigo?Ao chegar no colégio, fiquei sentada mexendo no celular até que Paula chegou perto de mim.— O que você quer? — disse seca.— Eu vim te pedir desculpas!— Pelo quê mesmo? — f
Eu não quero ter esse bebê, não quero, mas ao mesmo tempo lembro do que Dulce me falou... É só uma criança. Mas estou com medo, triste e sem saber de nada. Estou grávida de um dono de morro. Deus, isso não pode ser verdade. Se já queria morrer, agora que sei que estou grávida de um traficante, piorou as consequências um milhão de vezes.Pensei em tirar essa criança, pensei em tirar a vida, pensei em tantas coisas... Mas nada disso parecia ser uma boa solução. Só besteiras. Toda vez que pensava em abortar, lembrava do que Dulce havia me dito. Eu sou tão jovem, não estou preparada para este fardo.Ou então, já sei, poderia pedir para minha mãe viajar, ter esse filho lá e entregá-lo para adoção bem longe de mim. Estou me sentindo péssima!— Alô? — atendi o telefone assim que tocou.— Oi, Manu, como cê tá? — era Léo.— Não posso dizer que estou bem, né. — suspirei. — Estou um caco.— Manu, fica calma. Eu estou com você, ouviu?!— Eu sei, Léo, eu te amo.— Também, loirinha. Eu tenho que i
Manuela narrandoCheguei na casa de Léo e interfonei com o senhor Rogério, que era o porteiro do apartamento de Léo. Como ele já me conhecia, me deixou subir sem problemas. Eu costumava vir aqui quando era mais nova.— Manu? Desculpa perguntar, mas você tá bem? - seu Rogério se aproximou e me perguntou.— Sim, senhor Rogério. Eu só poderia pedir para o senhor me ajudar com essas malas? Preciso colocá-las no elevador.— Claro que sim, ajudarei você. - ele colocou minhas malas no elevador, se despediu e voltou ao seu posto.É incrível como um porteiro com quem conversei apenas algumas vezes percebe que algo está errado, enquanto minha mãe e meu pai, que me deram a vida, estão pouco se lixando. Como eles puderam me expulsar, sabendo que estou grávida e sozinha no mundo, sem a mínima consideração pela menina que eles viram crescer.Apertei o andar de Léo até chegar a ele. Peguei meu celular e liguei para que ele abrisse a porta.— Leonardo, abre aí a sua porta.— Como assim, onde você est
Léo narrandoUma semana se passou desde que Manu chegou aqui, e eu estava me sentindo devastado por tudo o que estava acontecendo com minha prima. A dor em meu peito era insuportável.Eu a amo de todo o meu coração, cara. Não posso acreditar que deixei que isso acontecesse com ela. Mas eu e Felipe vamos ter uma conversa séria. Ah, com certeza vamos!Saí de casa bem cedo, deixando Manu dormindo, mas antes passei em seu quarto para dar uma olhada nela. Ela estava dormindo como um anjo, parecendo tão frágil e inocente, como se o mundo ao seu redor não estivesse desmoronando.Peguei a chave do meu carro, um veículo antigo, mas que ainda funcionava bem. Desde que meu pai "perdeu tudo", nunca mais pude desfrutar dos antigos luxos que tínhamos. Saí de casa e liguei para Felipe, avisando que já estava a caminho.— Felipe, estou indo aí, beleza?— Falou, Léo, mas como assim você nunca mais veio aqui no Vidigal? Agora decide me visitar? — ele falou com um tom de desconfiança em sua voz.— É um