Tudo é um zumbido em minha direção, não consigo prestar atenção em mais nada que não seja a respiração baixa e fraca de Alexander ao meu lado. A ambulância percorre todo o trajeto até o hospital com uma velocidade que poderia ser maior.Sinto o meu corpo todo vibrar com adrenalina que ainda há dentro de mim. Foco os meus pensamentos e desejos apenas em Alexander. O rosto pálido dele está sujo de sangue e ferimentos, além do restante do corpo também.Isso é minha culpa. Totalmente minha culpa. Se eu tivesse contado a verdade para Alexander antes da viagem, ela não teria acontecido e ele estaria bem, talvez com o coração partido, mas bem, vivo. Lágrimas voltam a escorrer pelo meu rosto e eu tento me controlar para não chorar mais de novo.Assim que chegamos no hospital, Alexander é levado para a sala de cirurgia. A minha preocupação se densifica junto com o remorso. Ando de um lado pelo outro na sala de espera, sem saber mais o que fazer.“Aria…” Caelum me chama de repente, me trazendo
O feitiço de transformação é como uma segunda pele que já se molda ao meu toque, familiar, sinuoso. Me encaro no espelho, vendo minha face se desvanecer e tomar os contornos suaves e sem brilho daquela garota insípida, Aria. Minha pele impecável e o olhar afiado desvanecem, e em segundos, dou lugar à expressão tímida e aos traços desinteressantes dela. Um suspiro de nojo escapa, uma repulsa quase palpável cresce ao ver minha beleza obliterada pela face comum, patética, da mãe dedicada e esquecível.Mas cada detalhe é essencial para o plano. A transformação é uma fachada, o artifício que abre caminho para o que deve ser feito. Logo, enquanto meus mercenários lidam com a frágil Aria e o tolo do Alexander, eu tenho uma tarefa ainda mais importante: capturar aqueles bastardos. Os pequenos são cruciais para o ritual de salvação de Syltirion. O tempo está contra mim; não posso me dar ao luxo de gerar um herdeiro de Caelum, muito menos suportaria tal tarefa agora. Estes dois servirão bem ao
“Acorda, Elo, acorda” A voz do meu irmãozinho soa urgente e ansiosa enquanto ele sacode meu ombro. Abro os olhos, mas a visão ao meu redor é turva, tudo parece enevoado por uma sensação de medo crescente que começa a se espalhar no meu peito. Eu mal consigo respirar.“Onde estamos, Thor?” pergunto assustada, olhando envolta. O lugar é sombrio, com paredes de pedra bruta e irregular, cobertas por umidade e musgo que exala um cheiro pungente e desagradável.Ele me encara, seus olhos arregalados e marejados.“Eu não sei…” ele responde com a voz trêmula. “Mas a mamãe estava estranha, não estava?” A dúvida e a confusão estampadas em seu rosto me fazem engolir em seco.Nego com a cabeça com a sua questão. Ela não era nossa mãe, isso eu sabia.“Não era a mamãe, era uma mulher com a máscara da mamãe.” Me encolho e abaixo o tom de voz. Precisamos sair daqui, irmãozinho,” digo com a voz tremula.Thorne se levanta e anda pelo pequeno quarto que estamos. A vontade que eu tenho é de chorar e chama
“É bom que vocês já tenham um veredito para a anulação do meu casamento. Porque eu juro para os deuses, se não tiverem… eu vou trucidar cada um de vocês e achas lycans melhores,” eu ameaço com irritação na voz.Cada membro do conselho real me encara assustado e eu acho isso revigorante. Cansei de ser paciente, de ser rei benevolente. Isso não me trouxe nada de bom, apenas dor de cabeça e traições.“Estamos trabalhando nisso, Majestade. Entramos em contato com o reino de Syltirion e ainda não tivemos retorno. Precisamos fazer isso com cuidado, para que não aconteça uma guerra entre os dois reinos.” Finn responde com a voz tremula.“Foda-se guerra entre nós dois. Já está para estourar uma guerra civil dentro do meu próprio país! Se vocês não anularem o meu casamento com Seraphina ainda esse mês, eu mesmo chuto ela para fora daqui e coloco outra no lugar, entenderam?” respondo com berro que faça as janelas da sala estremecerem.Antes que haja uma resposta, Asher surge da porta com o rosto
O momento em que descubro a paternidade dos meus filhos é um turbilhão de emoções que nunca achei que enfrentaria. Meu peito parece prestes a explodir quando alcanço Caelum e vejo Thorne e Elowen emergirem do tronco oco da árvore. O cenário ao nosso redor parece congelar: o bosque denso, envolto em penumbra, onde o silêncio é quebrado apenas pelos murmúrios das folhas e o som abafado dos nossos passos.Os pequenos rostinhos deles estão cobertos de sujeira, o medo estampado em seus olhares grandes e assustados. Eles se agarram um ao outro, como se o mundo fosse uma ameaça constante. Para eles, Caelum não é um pai; ele é uma figura imponente, quase bestial, alguém que exala poder e perigo, mesmo quando não diz uma palavra. Mas então eles me veem. A tensão em seus corpinhos frágeis diminui. Seus olhares brilham com reconhecimento e esperança.Antes mesmo de conseguirem dar o primeiro passo, eu me movo. Cada músculo do meu corpo implora para encurtar a distância entre nós. Quando os alcanç
Droga, droga, droga! A cada batida das minhas asas, sinto o peso da frustração que cresce em meu peito. O vento frio da manhã corta minha forma de pássaro, mas nem isso consegue apagar o calor da raiva que queima dentro de mim. Meus olhos, aguçados na transformação, enxergam claramente o momento em que Caelum se aproxima das crianças. Meu coração, mesmo endurecido por anos de cálculo e estratégia, dá um salto involuntário. Ele os encontrou.Achei que seria mais rápida. Achei que minha inteligência, minha magia, minha habilidade em manipular as peças desse jogo infernal me colocariam à frente. Mas não. Aqueles dois pirralhos foram ligeiros, escaparam de mim e, de alguma forma, foram direto para ele. Como se o destino estivesse determinado a cuspir na minha cara. Viro abruptamente no ar, batendo as asas com força enquanto me afasto da cena.Meu único pensamento é chegar ao castelo. Cada rajada de vento parece uma bofetada, uma lembrança cruel de que meu plano, cuidadosamente arquitetado
“Aria, achei um absurdo o que você fez!” minha mãe declara com indignação na voz.Eu a encaro sem entender do que ela está falando. Meus filhos estão finalmente seguros, deitados em suas camas, o som suave de suas respirações ecoando em minha mente como um lembrete frágil de que, pelo menos por agora, eles estão protegidos. Mas meu corpo não consegue relaxar; meus músculos ainda estão tensos, e meu coração martela com a lembrança de tudo o que aconteceu.Viro-me para encará-la, a testa franzida de cansaço e irritação.“Do que você está falando agora, Lyra?” questiono sem paciência.Minha mãe me acompanha até meu quarto e se senta na poltrona que há perto da porta. Ela bufa e balança a cabeça, como se estivesse reunindo palavras afiadas para disparar contra mim. Seu olhar carrega toda a reprovação que ela acumulou ao longo dos anos, como se eu fosse uma decepção ambulante.“Você recusar a oferta do rei! Aria, a essa hora todos nós estaríamos no palácio, vivendo do bom e do melhor! Como
“Isso é algo que muda totalmente o cenário, Majestade.” Finn declara com surpresa na voz. Há também preocupação, algo que ele tenta esconder, mas que transparece em cada palavra.“Eu sei, por isso preciso que vocês agilizem logo a anulação do meu casamento. Preciso me casar com Aria o mais rápido possível. A segurança dos meus filhos depende disso,” informo, sem paciência, deixando claro que minha tolerância está no limite.Minha voz reverbera pelas paredes, ecoando como um trovão. Os olhos dos conselheiros me seguem enquanto ando de um lado para o outro, incapaz de conter a inquietação que me domina. A raiva que sinto de Aria ainda pulsa, ainda que uma parte de mim deseje que não seja assim. A fúria que sinto parece aumentar a cada segundo, um incêndio que consome tudo em seu caminho. Meus punhos se cerram, e cada músculo do meu corpo se tenciona. A imagem de Aria, com aquele olhar desafiador, invade minha mente. Como ela consegue ser tão teimosa? Como ousa me desafiar ao ponto de pr