As lembranças daquele beijo com Aria me perseguem como uma sombra constante, grudando na minha mente, implacáveis, invadindo cada pensamento, cada segundo dos meus dias. Tento apagar o gosto dela dos meus lábios e da minha memória com álcool, despejando copo após copo, na esperança de que a embriaguez ao menos apague o turbilhão de emoções que ela deixou em mim. Mas nada adianta. A ardência da bebida apenas alimenta minha raiva, minha frustração, fazendo cada recusa dela arder ainda mais fundo. A rejeição de Aria não fere apenas meu orgulho e minha vaidade — ela atravessa o meu peito como uma lâmina fria, fincando-se no meu coração, um órgão que eu achava ser imune a qualquer tolice emocional.Como ela ousa? Como Aria ousa me recusar, me dar sermões, negar o que eu ofereço? Ela, uma humana, ousa olhar para mim e dizer “não”. Sou o rei, o maldito rei, e posso ter quem eu quiser, a hora que eu quiser, seja uma lycan, uma enchatrix, ou uma humana, elas sempre caem aos meus pés. O poder q
Tudo é um zumbido em minha direção, não consigo prestar atenção em mais nada que não seja a respiração baixa e fraca de Alexander ao meu lado. A ambulância percorre todo o trajeto até o hospital com uma velocidade que poderia ser maior.Sinto o meu corpo todo vibrar com adrenalina que ainda há dentro de mim. Foco os meus pensamentos e desejos apenas em Alexander. O rosto pálido dele está sujo de sangue e ferimentos, além do restante do corpo também.Isso é minha culpa. Totalmente minha culpa. Se eu tivesse contado a verdade para Alexander antes da viagem, ela não teria acontecido e ele estaria bem, talvez com o coração partido, mas bem, vivo. Lágrimas voltam a escorrer pelo meu rosto e eu tento me controlar para não chorar mais de novo.Assim que chegamos no hospital, Alexander é levado para a sala de cirurgia. A minha preocupação se densifica junto com o remorso. Ando de um lado pelo outro na sala de espera, sem saber mais o que fazer.“Aria…” Caelum me chama de repente, me trazendo
O feitiço de transformação é como uma segunda pele que já se molda ao meu toque, familiar, sinuoso. Me encaro no espelho, vendo minha face se desvanecer e tomar os contornos suaves e sem brilho daquela garota insípida, Aria. Minha pele impecável e o olhar afiado desvanecem, e em segundos, dou lugar à expressão tímida e aos traços desinteressantes dela. Um suspiro de nojo escapa, uma repulsa quase palpável cresce ao ver minha beleza obliterada pela face comum, patética, da mãe dedicada e esquecível.Mas cada detalhe é essencial para o plano. A transformação é uma fachada, o artifício que abre caminho para o que deve ser feito. Logo, enquanto meus mercenários lidam com a frágil Aria e o tolo do Alexander, eu tenho uma tarefa ainda mais importante: capturar aqueles bastardos. Os pequenos são cruciais para o ritual de salvação de Syltirion. O tempo está contra mim; não posso me dar ao luxo de gerar um herdeiro de Caelum, muito menos suportaria tal tarefa agora. Estes dois servirão bem ao
“Acorda, Elo, acorda” A voz do meu irmãozinho soa urgente e ansiosa enquanto ele sacode meu ombro. Abro os olhos, mas a visão ao meu redor é turva, tudo parece enevoado por uma sensação de medo crescente que começa a se espalhar no meu peito. Eu mal consigo respirar.“Onde estamos, Thor?” pergunto assustada, olhando envolta. O lugar é sombrio, com paredes de pedra bruta e irregular, cobertas por umidade e musgo que exala um cheiro pungente e desagradável.Ele me encara, seus olhos arregalados e marejados.“Eu não sei…” ele responde com a voz trêmula. “Mas a mamãe estava estranha, não estava?” A dúvida e a confusão estampadas em seu rosto me fazem engolir em seco.Nego com a cabeça com a sua questão. Ela não era nossa mãe, isso eu sabia.“Não era a mamãe, era uma mulher com a máscara da mamãe.” Me encolho e abaixo o tom de voz. Precisamos sair daqui, irmãozinho,” digo com a voz tremula.Thorne se levanta e anda pelo pequeno quarto que estamos. A vontade que eu tenho é de chorar e chama
“É bom que vocês já tenham um veredito para a anulação do meu casamento. Porque eu juro para os deuses, se não tiverem… eu vou trucidar cada um de vocês e achas lycans melhores,” eu ameaço com irritação na voz.Cada membro do conselho real me encara assustado e eu acho isso revigorante. Cansei de ser paciente, de ser rei benevolente. Isso não me trouxe nada de bom, apenas dor de cabeça e traições.“Estamos trabalhando nisso, Majestade. Entramos em contato com o reino de Syltirion e ainda não tivemos retorno. Precisamos fazer isso com cuidado, para que não aconteça uma guerra entre os dois reinos.” Finn responde com a voz tremula.“Foda-se guerra entre nós dois. Já está para estourar uma guerra civil dentro do meu próprio país! Se vocês não anularem o meu casamento com Seraphina ainda esse mês, eu mesmo chuto ela para fora daqui e coloco outra no lugar, entenderam?” respondo com berro que faça as janelas da sala estremecerem.Antes que haja uma resposta, Asher surge da porta com o rosto
O momento em que descubro a paternidade dos meus filhos é um turbilhão de emoções que nunca achei que enfrentaria. Meu peito parece prestes a explodir quando alcanço Caelum e vejo Thorne e Elowen emergirem do tronco oco da árvore. O cenário ao nosso redor parece congelar: o bosque denso, envolto em penumbra, onde o silêncio é quebrado apenas pelos murmúrios das folhas e o som abafado dos nossos passos.Os pequenos rostinhos deles estão cobertos de sujeira, o medo estampado em seus olhares grandes e assustados. Eles se agarram um ao outro, como se o mundo fosse uma ameaça constante. Para eles, Caelum não é um pai; ele é uma figura imponente, quase bestial, alguém que exala poder e perigo, mesmo quando não diz uma palavra. Mas então eles me veem. A tensão em seus corpinhos frágeis diminui. Seus olhares brilham com reconhecimento e esperança.Antes mesmo de conseguirem dar o primeiro passo, eu me movo. Cada músculo do meu corpo implora para encurtar a distância entre nós. Quando os alcanç
Droga, droga, droga! A cada batida das minhas asas, sinto o peso da frustração que cresce em meu peito. O vento frio da manhã corta minha forma de pássaro, mas nem isso consegue apagar o calor da raiva que queima dentro de mim. Meus olhos, aguçados na transformação, enxergam claramente o momento em que Caelum se aproxima das crianças. Meu coração, mesmo endurecido por anos de cálculo e estratégia, dá um salto involuntário. Ele os encontrou.Achei que seria mais rápida. Achei que minha inteligência, minha magia, minha habilidade em manipular as peças desse jogo infernal me colocariam à frente. Mas não. Aqueles dois pirralhos foram ligeiros, escaparam de mim e, de alguma forma, foram direto para ele. Como se o destino estivesse determinado a cuspir na minha cara. Viro abruptamente no ar, batendo as asas com força enquanto me afasto da cena.Meu único pensamento é chegar ao castelo. Cada rajada de vento parece uma bofetada, uma lembrança cruel de que meu plano, cuidadosamente arquitetado
“Aria, achei um absurdo o que você fez!” minha mãe declara com indignação na voz.Eu a encaro sem entender do que ela está falando. Meus filhos estão finalmente seguros, deitados em suas camas, o som suave de suas respirações ecoando em minha mente como um lembrete frágil de que, pelo menos por agora, eles estão protegidos. Mas meu corpo não consegue relaxar; meus músculos ainda estão tensos, e meu coração martela com a lembrança de tudo o que aconteceu.Viro-me para encará-la, a testa franzida de cansaço e irritação.“Do que você está falando agora, Lyra?” questiono sem paciência.Minha mãe me acompanha até meu quarto e se senta na poltrona que há perto da porta. Ela bufa e balança a cabeça, como se estivesse reunindo palavras afiadas para disparar contra mim. Seu olhar carrega toda a reprovação que ela acumulou ao longo dos anos, como se eu fosse uma decepção ambulante.“Você recusar a oferta do rei! Aria, a essa hora todos nós estaríamos no palácio, vivendo do bom e do melhor! Como