“Meu rei, você poderia passear comigo por alguns instantes antes de o jantar ser servido? A noite está tão bela, não acha?” Questiono com uma voz tranquila e meiga. O papel de esposa amável e uma rainha benevolente são postas em prática nessa noite.Caelum me observa, a frieza em seu olhar é afiada como lâmina, sua expressão de desconfiança me diz tudo. Ele não é tolo, sabe que cada palavra minha esconde intenções ocultas, mas, mantendo o sorriso polido, ele confirma e oferece seu braço. Eu aceito, entrelaçando o meu no dele, e juntos nos afastamos dos poucos convidados que circulam pelo salão.Meu sangue ferve. A mera lembrança da presença de Aria, de sua sobrevivência constante, me atormenta como uma praga. Ela não se cansa de existir? Não sente medo do destino que a espera? Parece ser uma maldição que essa mulher continue viva, desafiando todas as minhas tentativas de removê-la de nossas vidas, de arrancá-la desse círculo sagrado.“O que a sua meretriz está fazendo aqui, Caelum?” e
Só preciso resistir aqui, aguentar os comentários venenosos e os sorrisos falsos da Rainha Seraphina por mais alguns minutos. Esse pensamento se repete na minha mente como um mantra, uma tentativa desesperada de controlar o tumulto que cresce dentro de mim a cada frase dela, cada palavra impregnada de uma gentileza falsa.Alexander senta ao meu lado e tenta defender-me, interrompendo a Seraphina com comentários firmes e afiados, mas a influência dele parece se desintegrar diante da presença impiedosa da rainha e dos pais dele, que se juntam a ela com olhares de desprezo mal disfarçados. Em torno de nós, outros convidados murmuram, lançando-me olhares de julgamento que tornam o ambiente ainda mais sufocante.Minha ansiedade cresce, agitando-se como uma tempestade sob a superfície, exigindo que eu controle a respiração, que segure a vontade de me levantar e abandonar essa mesa.Seraphina, com aquele sorriso imóvel, continua suas insinuações, e cada palavra dela parece envenenar o ar ao
Minha vontade de me levantar da mesa e ir atrás de Alexander e Aria se agita dentro de mim como uma corrente descontrolada. Mas há olhares demais, tensão demais, e cada vez que penso em sair, sinto o peso de centenas de olhos cravados em mim, prontos para perceber qualquer sinal de hesitação ou fraqueza. Meu pé esquerdo bate no chão em um ritmo ansioso, ecoando a impaciência que cresce em mim.Olho para Seraphina e vejo como ela exala triunfo com a cena posta diante do jantar. O seu objetivo de humilhar Aria na frente de toda essa gente, foi muito bem-sucedido.Por um momento, sinto que mais uma camada da minha cegueira em relação à Seraphina se desfaz, como se um véu começasse a cair de forma lenta e dolorosa. Antes, eu sentia culpa por desejar Aria, uma culpa quase paralisante, acreditando que Seraphina não merecia esse tipo de traição. No entanto, o comportamento dela nos últimos meses tem revelado um lado sombrio, um lado que até então eu relutava em aceitar. Suas acusações cada v
O beijo de Caelum não me pegou de surpresa, mas ainda assim, a intensidade do ato, de me entregar ao calor da sua presença e ao feitiço dos seus lábios, me deixa desnorteada. É como se algo em mim se partisse e se libertasse ao mesmo tempo, num turbilhão de sensações que me envolve por completo. A cada instante que passa, sinto minhas emoções se desenrolarem à flor da pele, misturadas e confusas, uma tempestade que ecoa na batida descompassada do meu coração. Minha mente, porém, não cessa de gritar um alerta, um aviso persistente de que estou me afundando em algo que nunca deveria ter começado. Esse momento, por mais delicioso e hipnotizante que seja, carrega uma proibição, uma linha que sei que não deveria cruzar.Ainda assim, meu corpo, teimoso e impulsivo, quer mais. Quer prolongar o contato, quer absorver cada segundo desse beijo, cada ínfimo detalhe da sensação de ter Caelum assim tão próximo, como se por um breve momento ele pudesse ser meu, como se eu pudesse ignorar a realidad
A viagem de volta para casa com Alexander é impregnada por um silêncio que parece vivo, denso, sufocante. O olhar dele, tão profundo quanto o oceano, carrega o remorso e a decepção que foi o jantar. Sinto a culpa enraizar-se em minha alma, queimando como ácido, corroendo as camadas de qualquer justificativa ou autocomplacência que eu possa ter construído.“Me desculpa pelo o que a minha mãe falou ontem…” Alexander quebra o silêncio já faltando poucos quarteirões para chegar na minha casa. “Na verdade, eu peço perdão toda a noite de ontem. A rainha foi uma vadia sem coração. Não sei como Caelum consegue se manter com ela,” ele comenta com incredulidade na voz.Ao ouvir o nome de Caelum e de Seraphina, meu corpo responde de forma involuntária. Sinto um arrepio gelado percorrer minha espinha, meu estômago se revirando como se houvesse um nó impossível de desfazer. Seraphina não é apenas uma presença; é uma ameaça constante, uma sombra que paira sobre mim, causando um medo irracional que s
Alexander não mentiu quando disse que iria recompensar pelo o desastre que foi o jantar com sua família. O lugar que ele escolheu é um refúgio perfeito: uma cabana rústica e acolhedora, perdida no meio de uma floresta silenciosa, cercada pela imensidão verde e pelos sussurros tranquilos da natureza.“Você sabe quanto tempo faz que eu não ouço isso?” Minha voz soa baixa, quase um sussurro, enquanto fico parada do lado de fora do carro, admirando o som da natureza.Alexander levanta uma sobrancelha, seu tom curioso.“Não ouve o quê?” Ele pergunta enquanto desliza as mãos pela minha cintura, me abraçando ainda mais forte por trás. Ele está tão perto que sinto o ritmo tranquilo de sua respiração, e isso, por um breve momento, me faz esquecer o peso das mentiras e dos segredos que guardo.“Silencio. É tão silencioso, não tem vozes de outros funcionários, de filhos, de mãe, nada. Apenas… natureza,” confesso com um suspiro. Ignorando na realidade o grito da verdade querendo sair de dentro de
“Você não faz ideia do quanto eu sonhei com isso,” Alexander fala com a voz mais branda e suave.Estamos sentados na varanda da cabana, envoltos pelo aroma do café e do pão fresco, enquanto o cenário à nossa volta é banhado pela luz dourada do sol da manhã. Os primeiros raios brincam entre as árvores, criando sombras que dançam sobre a mesa de madeira rústica onde repousa nosso café da manhã farto — frutas coloridas, croissants e uma jarra de suco que reflete a cor vibrante do dia. Sinto o calor suave do sol sobre minha pele e inspiro profundamente, absorvendo o ar fresco que carrega o cheiro das árvores e do campo. Olho para Alexander e sorrio, um sorriso que surge com uma leveza rara, como se fosse a primeira vez em muito tempo que me sinto assim, verdadeiramente em paz. Sua presença preenche o espaço ao meu redor, trazendo uma calmaria que acalma o tumulto em meu coração, um sentimento que parece tão simples e, ao mesmo tempo tão intenso.“Acho que nem nos meus sonhos mais loucos,
“Karin, eu não sei mais o que fazer!” eu grito frustrada, arremessando o abajur do nosso quarto contra a parede. O som do impacto ecoa, reverberando pelas paredes como um reflexo da minha própria fúria. Fragmentos de vidro caem aos meus pés descalços, e o quarto parece tremer junto comigo. “Aquela vadia ainda está viva! Como aquela humana patética conseguiu sobreviver ao ataque dos lobisomens?”Ando de um lado para o outro, descalça, sentindo o frio do chão de pedra sob meus pés, o que apenas intensifica minha raiva. A frieza do chão contrasta com o calor crescente em meu corpo, e cada passo é um eco de minha indignação. Minhas unhas cravam-se nas palmas das mãos enquanto cruzo o quarto, buscando de alguma forma liberar a fúria que cresce dentro de mim.A cada movimento, meus olhos capturam a figura de Karin, sentado na poltrona de couro no canto do quarto. Ele está ali, quase inerte, apenas me observando. Seu corpo exala uma calma desconcertante, contrastando intensamente com a tempe