Thalia.Olhei para fora do carro e mordi os lábios, em nervosismo. Meu coração batia acelerado, estava lutando contra meus anseios. O dia estava se findando e o sol começava a se pôr no horizonte, dando lugar à lua cheia que iluminaria a cidade e deixaria o céu ainda mais lindo.Soltei um suspiro e vi o momento em que a mãe de Marcelo saiu do hospital. Hoje ele havia acordado, isso aconteceu pela manhã, mas eu ainda não havia tido coragem de vir vê-lo. Desde o acidente, eu passava boa parte dos meus dias no hospital ao seu lado, na esperança de que acordasse, mas ao saber que havia acordado, temi como reagiria ao vê-lo. Meu coração estava aliviado por ele estar bem, mas ainda doía sua mentira.Fui enganada por Diego, ele havia mentido para me levar para a cama e Marcelo sabia o quanto isso me deixou mal, me machucou, mas ele não teve consideração e acabou por fazer o mesmo no final de tudo. Porém, eu sabia que, apesar de os dois terem mentido, Marcelo o fez para me ajudar, enquanto Di
Thalia.Eu hesitei na entrada do quarto do hospital, mas logo abri a porta e entrei. Meu coração batia forte contra o peito enquanto observava Marcelo deitado na cama, seus olhos perdidos no teto. Nossos olhos se encontraram por um breve momento, e foi como se o tempo congelasse.Marcelo quebrou o silêncio ao me dar “oi” com um sorriso fraco despontando nos lábios cheios. Meu estômago se contorcia em nós, lutando contra a torrente de emoções que me invadia ao vê-lo acordado. Esperei tanto por isso que agora não sabia como agir.— Vai ficar aí parada? — Seu sorriso ampliou.Eu dei um passo hesitante para dentro do quarto, meus pés pesados como chumbo.— Marcelo... — minha voz saiu em um fio sussurrante, carregada de emoção contida.— Thalia... — a voz dele, suave como uma brisa, me fez tremer por dentro. — Estou tão feliz que você esteja aqui.Eu me aproximei lentamente da cama, meus olhos nunca deixando os dele. Cada passo era um conflito interno, uma batalha entre o desejo de correr
Capítulo 1 Thalia.Batuquei os dedos, nervosamente, sobre a mesa, mordendo o lábio inferior numa tentativa frustrada de conter a ansiedade que me assolava. Finalmente, a porta se fechou atrás de nós, proporcionando um refúgio do barulho insistente vindo da sala de espera, que estava começando a me irritar.Respirei fundo, enquanto meus olhos se fixavam nos meus dedos. Havia feito as unhas, ou melhor, as havia pintado com um discreto tom de rosa-claro, sempre preferi tons mais sutis e discretos, e ao examinar mais detalhadamente, notei uma pequena cutícula levantada no canto da unha do meu dedo mindinho.Sem pensar, levei a mão à boca e tentei remover a cutícula com os dentes, fazendo uma careta ao puxar e sentindo um pouco de dor pela ação que acabou ferindo o cantinho da minha unha. Sabia que não deveria fazer aquilo, mas o tédio e a ansiedade obtinham o poder de me fazer agir impulsivamente. Em outras palavras, eu fazia merda quando estava entediada. Manter o controle era um desaf
Capítulo 2Thalia.— Eu não vou fazer exame algum porque eu não estou grávida! Exijo que refaça os exames, esses devem ter sido trocados, porque não tem como eu estar esperando um bebê se eu nunca fiz sexo! — Ok, eu já havia tido momentos íntimos com um homem, mas nada que corresse o risco de uma gravidez. Foram apenas algumas sarradas, mão boba, mas nada de penetração, nada que me fizesse acreditar que um bebê estava crescendo dentro de mim.Doutor Rodrigo soltou um suspiro, se sentou e levou os dedos à têmpora. Sua expressão era um misto de raiva, frustração e tédio. Ele cerrou os olhos em minha direção e começou a falar com mais calma para ver se eu conseguia compreender o que ele estava falando.Senti-me uma criança birrenta enquanto o pai tentava explicar pela décima vez que não podia colocar o dedo na tomada ou levaria um choque. Bom, eu estava realmente chocada. — Não estou afirmando que acredito em você, já que nunca havia me deparado com um caso assim, mas é possível ter eng
Capítulo 3Marcelo.Passado.Parei meu carro no estacionamento da casa noturna e desci. Do lado de fora, sorri ao ver meu irmão e estendi a mão para bater na sua em um cumprimento descontraído.— E aí, mano, veio encher a cara também? — questionou sorrindo.— Na verdade, eu vim impedir que você faça alguma besteira. Ele fez uma careta.— Sabe que não sou disso. Posso estar no fundo do poço, mas jamais me colocaria em risco ou faria isso com pessoas inocentes. — Sua fala saiu ríspida, ele havia se chateado com meu comentário e não podia julgá-lo. Soltei um suspiro.— Eu sei, mano. Me desculpa, mas não custa me certificar, não é? — Ele assentiu, mas sem esconder sua chateação. Mateus era médico, neurologista, para ser mais específico, então salvar vidas era sua função, sua missão na terra, mesmo que nem sempre conseguisse isso.— Vamos entrar, moças fofoqueiras, ou vão ficar aí a noite toda fofocando? — Gabriel, nosso amigo e dono da casa noturna, se aproximou e nos chamou, fazendo um
Capítulo 4.Marcelo.Passado - Meses depois...Acordei com o som estridente da campainha que não parava de tocar. Cocei os olhos e me obriguei a levantar. Ao chegar na porta do meu apartamento, abri-a e dei de cara com Andressa aos prantos.— O que...— Ai, Marcelo. — Se jogou em meus braços.— O que houve?— Estou com tanto medo. — Seu choro era sentido.Fechei a porta atrás de nós e a levei para o sofá.— Andressa, o que houve? Está me assustando.— Eu... — Me olhou, mas logo desviou o olhar. — Tenho medo do que pensará de mim.— Me diga o que houve, sabe que pode confiar em mim.Ela ergueu os olhos e, de sua boca, saiu algo que mudaria minha vida.— Estou grávida. — soltou, me deixando atômico e sem reação.— Eu estou grávida, Marcelo. — repetiu, acredito para ter certeza de que eu a ouvira.Eu já tinha ouvido, ouvi com muita clareza, só não sabia como reagir ao que havia acabado de sair de sua boca. — O quê? — minha voz se elevou e ela se levantou, tomando distância de mim.— Es
Capítulo 5.Marcelo.Passado - Dois meses depois...Os arranha-céus da cidade iluminavam o céu noturno enquanto eu dirigia pela estrada quase deserta. O brilho das luzes da cidade parecia piscar e dançar, como se estivessem tentando me acalmar após um dia exaustivo de trabalho. Como CEO, os dias eram sempre longos e cheios de desafios e surpresas. E algumas nada agradáveis, como descobrir um roubo de quase duzentos mil reais de uma das minhas contas empresariais. Mas eu sempre encontrava conforto ao pensar em Andressa, minha noiva, que me esperava em casa.Ela e a minha família eram as pessoas em quem eu mais confiava e não havia motivos para pensar o contrário. Ao estacionar o carro na garagem, respirei fundo, tentando deixar para trás o estresse do dia.Peguei minha pasta e as chaves, caminhando em direção à porta da frente. Ao abrir a porta, fui recebido pelo silêncio. Estava tudo estranhamente quieto para uma mulher que vivia em casa, se preparando para a chegada do nosso filho, e
Capítulo 6.Thalia.Passado.A manhã em São Paulo estava quente. Me abanei com a capa do caderno enquanto esperava o sinal tocar, sentada no pátio com minhas colegas. O uniforme do colégio era de um tecido leve, mas nem isso parecia ajudar a aplacar o calor que nos consumia lentamente.— Não dá para viver assim! — reclamei, enquanto passava a mão pela testa suada. — Esse calor está de matar, parece que estou dentro de uma frigideira com óleo fervendo. — Bufei, louca para tomar um banho. Minhas amigas riram. Camila, que sempre tinha um comentário debochado, respondeu:— Ué, Thalia, aproveita que você é nossa chefe de cozinha e faz um ovo frito no asfalto! — Debochou.— Só se for com o fogo do seu rabo! — rebati, sarcástica, rindo junto com as outras, menos Camila, que fechou a cara depois do meu comentário.Eu gostava de cozinhar, sempre que tinha alguma comemoração na escola, fazia os doces ou salgados. Estar ali com elas era sempre divertido. Mas claro, nem tudo era perfeito. Tinha