Capítulo 2
Thalia.
— Eu não vou fazer exame algum porque eu não estou grávida! Exijo que refaça os exames, esses devem ter sido trocados, porque não tem como eu estar esperando um bebê se eu nunca fiz sexo! — Ok, eu já havia tido momentos íntimos com um homem, mas nada que corresse o risco de uma gravidez. Foram apenas algumas sarradas, mão boba, mas nada de penetração, nada que me fizesse acreditar que um bebê estava crescendo dentro de mim.
Doutor Rodrigo soltou um suspiro, se sentou e levou os dedos à têmpora. Sua expressão era um misto de raiva, frustração e tédio. Ele cerrou os olhos em minha direção e começou a falar com mais calma para ver se eu conseguia compreender o que ele estava falando.
Senti-me uma criança birrenta enquanto o pai tentava explicar pela décima vez que não podia colocar o dedo na tomada ou levaria um choque. Bom, eu estava realmente chocada.
— Não estou afirmando que acredito em você, já que nunca havia me deparado com um caso assim, mas é possível ter engravidado mesmo sendo virgem. — Arregalei tanto meus olhos que me questionei como eles não pularam do meu rosto.
Ele havia enlouquecido, só podia ser.
— Não... isso é loucura. — Segui negando.
— Thalia, é possível engravidar mesmo sem ter havido penetração, mas só se os dois estiveram sem roupas e o homem ejacular sem estar devidamente protegido. Isso pode acontecer se a mulher estiver no período fértil e houver ejaculação do parceiro na vagina, ou muito próximo dela, e o esperma escorrer para dentro do canal vaginal. Nestes casos, a gravidez é rara de acontecer, mas não impossível.
— Mas não existe o hímen que impede isso? Quer dizer, se a mulher é virgem, a gravidez deveria ser algo impossível, não?
— É preciso lembrar que a virgindade se resume a uma mulher que nunca teve contato íntimo com uma pessoa, seja do sexo oposto ou não. E, embora exista a presença do hímen, que fica na entrada da vagina na maioria das mulheres virgens, nele existe uma fissura que possibilita a saída da menstruação, pois não é totalmente fechado como muitos pensam. Ou, o que ocorre em alguns casos, o hímen ser flexível e não se romper com facilidade, mas se abrir facilmente com os movimentos feitos na hora da pegação, permitindo assim a entrada do esperma e resultando em uma gravidez não desejada.
— Ai, meu Deus! Então, eu posso mesmo estar grávida? — Minha voz saiu alarmada.
— Não tenho dúvidas e, por isso, preciso fazer o ultrassom.
— Não vai enfiar nada em mim. — Quase gritei e o médico se controlou para não rir. — Nós podemos fazer aquela que é na barriga? — Tentei amenizar meu tom de voz. Mas eu queria mesmo era gritar. E xingar, eu queria muito xingar.
Puta que pariu mil e quinhentas vezes, eu só podia estar em um pesadelo.
— A ultrassonografia pélvica, sim, nós podemos fazê-la. Mas se estiver com poucas semanas, talvez não dê para detectar muita coisa.
— Não há problema.
Ele se levantou e fiz o mesmo. O doutor Rodrigo me ajudou a deitar na maca e levantei a blusa. Depois, colocou o gel gelado em minha barriga e iniciou o exame. O médico começou a mexer no aparelho e, a cada clique de seus dedos nos botões do aparelho, parecia que meu coração iria sair pela boca. Ele passeou com o aparelho na minha barriga mais algumas vezes e depois soltou a bomba que por pouco não me mandou para o plano superior.
Quase conheci Jesus de perto. Misericórdia!
— Parabéns. Você está realmente grávida, está com 10 semanas (como muitos dizem, dois meses de gestação). O coração do bebê está formado e ele mede cerca de quatro centímetros de ponta a ponta. Está do tamanho que lembra um tomate-cereja. — Ele sorriu, feliz, ao me dar a notícia. O doutor Rodrigo estava feliz de verdade.
Como? Como ele me dizia isso com um sorriso tão grande nos lábios? Eu estou grávida, cacete! Grávida sem ter transado. Isso era uma tragédia!
Uma piada do destino que não cansava de me foder. E não do jeito bom, aquele que deixa as pernas bambas e te faz tocar o céu, mas do jeito que te faz se perguntar o porquê de haver nascido.
Era realmente uma loucura. Uma viagem do caralho.
— Ai, meu Deus, doutor... — minha voz se perdeu em meio ao choro que me rompeu. Ele me ajudou a se levantar.
— Fique calma. Vou pegar um copo de água. Pode ligar para o pai do bebê se quiser.
E foi aí que meu choro aumentou e tomou conta da sala. Além de grávida, sendo virgem, eu também seria mãe solo.
Que vida fodida essa minha.
Não tem como piorar.
Assim que concluí o pensamento, o som de mensagem ecoou pela sala. Olhei na direção do toque e vi o visor do meu celular acender e depois ele vibrar. Limpei um pouco o rosto, arrumei minha blusa e desci da maca, indo pegar o aparelho que estava sobre a mesa, ao lado da minha bolsa.
Com o celular em mãos, segui limpando as lágrimas que caíam sem parar e, assim que abri o aplicativo de mensagens, vi serem da minha supervisora. Eram cinco torpedos, cinco mensagens com mais de 20 palavras que acabariam com a minha positividade, se é que eu ainda a tinha.
Gabriela Veiga. 13:00 — Seu contrato foi encerrado, Thalia. Sinto muito, mas você foi uma das pessoas dispensadas pela nova gestão. O aviso prévio será pago, mas não precisa voltar ao hotel. Espero que fique bem e logo entro em contato. Beijos.
Agora eu tinha certeza, nada está tão fodido que não possa foder ainda mais.
Capítulo 3Marcelo.Passado.Parei meu carro no estacionamento da casa noturna e desci. Do lado de fora, sorri ao ver meu irmão e estendi a mão para bater na sua em um cumprimento descontraído.— E aí, mano, veio encher a cara também? — questionou sorrindo.— Na verdade, eu vim impedir que você faça alguma besteira. Ele fez uma careta.— Sabe que não sou disso. Posso estar no fundo do poço, mas jamais me colocaria em risco ou faria isso com pessoas inocentes. — Sua fala saiu ríspida, ele havia se chateado com meu comentário e não podia julgá-lo. Soltei um suspiro.— Eu sei, mano. Me desculpa, mas não custa me certificar, não é? — Ele assentiu, mas sem esconder sua chateação. Mateus era médico, neurologista, para ser mais específico, então salvar vidas era sua função, sua missão na terra, mesmo que nem sempre conseguisse isso.— Vamos entrar, moças fofoqueiras, ou vão ficar aí a noite toda fofocando? — Gabriel, nosso amigo e dono da casa noturna, se aproximou e nos chamou, fazendo um
Capítulo 4.Marcelo.Passado - Meses depois...Acordei com o som estridente da campainha que não parava de tocar. Cocei os olhos e me obriguei a levantar. Ao chegar na porta do meu apartamento, abri-a e dei de cara com Andressa aos prantos.— O que...— Ai, Marcelo. — Se jogou em meus braços.— O que houve?— Estou com tanto medo. — Seu choro era sentido.Fechei a porta atrás de nós e a levei para o sofá.— Andressa, o que houve? Está me assustando.— Eu... — Me olhou, mas logo desviou o olhar. — Tenho medo do que pensará de mim.— Me diga o que houve, sabe que pode confiar em mim.Ela ergueu os olhos e, de sua boca, saiu algo que mudaria minha vida.— Estou grávida. — soltou, me deixando atômico e sem reação.— Eu estou grávida, Marcelo. — repetiu, acredito para ter certeza de que eu a ouvira.Eu já tinha ouvido, ouvi com muita clareza, só não sabia como reagir ao que havia acabado de sair de sua boca. — O quê? — minha voz se elevou e ela se levantou, tomando distância de mim.— Es
Capítulo 5.Marcelo.Passado - Dois meses depois...Os arranha-céus da cidade iluminavam o céu noturno enquanto eu dirigia pela estrada quase deserta. O brilho das luzes da cidade parecia piscar e dançar, como se estivessem tentando me acalmar após um dia exaustivo de trabalho. Como CEO, os dias eram sempre longos e cheios de desafios e surpresas. E algumas nada agradáveis, como descobrir um roubo de quase duzentos mil reais de uma das minhas contas empresariais. Mas eu sempre encontrava conforto ao pensar em Andressa, minha noiva, que me esperava em casa.Ela e a minha família eram as pessoas em quem eu mais confiava e não havia motivos para pensar o contrário. Ao estacionar o carro na garagem, respirei fundo, tentando deixar para trás o estresse do dia.Peguei minha pasta e as chaves, caminhando em direção à porta da frente. Ao abrir a porta, fui recebido pelo silêncio. Estava tudo estranhamente quieto para uma mulher que vivia em casa, se preparando para a chegada do nosso filho, e
Capítulo 6.Thalia.Passado.A manhã em São Paulo estava quente. Me abanei com a capa do caderno enquanto esperava o sinal tocar, sentada no pátio com minhas colegas. O uniforme do colégio era de um tecido leve, mas nem isso parecia ajudar a aplacar o calor que nos consumia lentamente.— Não dá para viver assim! — reclamei, enquanto passava a mão pela testa suada. — Esse calor está de matar, parece que estou dentro de uma frigideira com óleo fervendo. — Bufei, louca para tomar um banho. Minhas amigas riram. Camila, que sempre tinha um comentário debochado, respondeu:— Ué, Thalia, aproveita que você é nossa chefe de cozinha e faz um ovo frito no asfalto! — Debochou.— Só se for com o fogo do seu rabo! — rebati, sarcástica, rindo junto com as outras, menos Camila, que fechou a cara depois do meu comentário.Eu gostava de cozinhar, sempre que tinha alguma comemoração na escola, fazia os doces ou salgados. Estar ali com elas era sempre divertido. Mas claro, nem tudo era perfeito. Tinha
Capítulo 7Thalia Passado - Horas depois...Sentada no sofá da sala, com um livro aberto no colo, deixei minha leitura de lado para observar aquele momento que aquecia meu coração. O cheiro de alho refogado pairava no ar, misturando-se ao som da música suave que minha mãe cantarolava. As cortinas leves balançavam com a brisa que entrava pela janela aberta, trazendo consigo o perfume das flores do jardim.Como sempre, minha mãe já estava na cozinha, mexendo uma panela sobre o fogão, preparando nosso jantar. Ela cantava uma melodia qualquer, mas sua voz era tão doce que parecia composta especialmente para aquele momento. Meu pai, Efraim, entrou pela porta com um sorriso largo em seu rosto bonito, mas já marcado por algumas rugas.Antes de chegar à cozinha, ir abraçar e demonstrar à mamãe todo seu amor e a saudade que sentira dela, ele passou por mim. Estava ansiosa por vê-lo, já que hoje tínhamos almoçado sem ele, pois estava trabalhando e não pôde se juntar a nós nessa refeição sagrad
Capítulo 8.Thalia.Presente...Meu coração estava apertado depois das lembranças que vieram à minha mente. A dor de não ter minha mãe em minha vida era esmagadora. Ainda mais depois do que eu acabara de descobrir.Sentei-me na cadeira, tentando manter a compostura enquanto digeria tudo o que havia acabado de saber. Hoje era um daqueles dias em que tudo parecia dar errado. Para ser sincera, minha vida inteira vinha sendo uma sequência interminável de dias ruins. Há meses, eu estava com o aluguel atrasado, e o síndico já tinha me ameaçado com a expulsão mais vezes do que eu podia contar.Desde que minha mãe morreu, há dez anos, minha vida virou de cabeça para baixo. Meu pai, devastado pela perda,afundou-se na bebida. Saímos do bairro em que vivíamos confortavelmente e fomos parar em um lugar decadente, morando em um prédio caindo aos pedaços. Dinheiro era escasso, e eu tive que amadurecer rápido, começando a trabalhar antes mesmo de completar 18 anos.Por anos, minha rotina foi solitár
Capítulo 9.Thalia.Presente.Como eu conseguiria criar uma criança? Como poderia ser mãe se estava prestes a perder o único teto que tinha sobre minha cabeça? A pergunta ecoava em minha mente, repetindo-se como um mantra cruel. Deus, bebês gastam muito. Fraldas, roupas, consultas médicas... Até o que parecia pequeno tornava-se gigante no meu bolso vazio.Meus pensamentos começaram a girar como um redemoinho. Os cálculos, os cenários, as alternativas — tudo me levava de volta ao mesmo ponto: o fracasso parecia inevitável. Cada preocupação parecia pesar uma tonelada, pressionando meu peito, e o ar começou a me faltar.Eu estava sufocando.O que seria de nós dois? Eu, uma mulher que mal conseguia sustentar a si mesma, teria que dar conta de uma vida que dependia de mim para tudo. A ideia era esmagadora.Desespero me dominou, tomando conta de cada célula do meu corpo. Minhas mãos tremiam e minha visão ficou turva. A vontade de fugir — não apenas da situação, mas de mim mesma — era quase
Capítulo 10.Marcelo.Encostado na parede áspera de concreto e tentando ignorar o vento que soprava contra minha camisa, eu busco normalizar minha respiração. Meus olhos, quase fechados por causa da luz forte que ilumina essa manhã ensolarada, acabaram de se chocar com uma cena que parecia ter saído direto de um maldito comercial de família feliz.A poucos metros, uma mulher segurava um bebê enrolado em uma manta azul clara, rindo enquanto o marido dela brincava com um garoto que devia ter uns quatro anos. O moleque gargalhava alto enquanto era jogado para o alto e segurado de volta nos braços do pai. A mulher os observava com um olhar cheio de carinho, os olhos brilhando como se o amor dela pudesse iluminar o mundo.Eu desviei o olhar, mas não consegui escapar daquela sensação incômoda que parecia prender minha atenção. A alegria deles me atingia de um jeito estranho, como se esfregasse na minha cara o que eu não tinha e nunca teria.Suspirei, tentando ignorar, mas minha mente já est