Capítulo 4.
Marcelo.
Passado - Meses depois...
Acordei com o som estridente da campainha que não parava de tocar. Cocei os olhos e me obriguei a levantar. Ao chegar na porta do meu apartamento, abri-a e dei de cara com Andressa aos prantos.
— O que...
— Ai, Marcelo. — Se jogou em meus braços.
— O que houve?
— Estou com tanto medo. — Seu choro era sentido.
Fechei a porta atrás de nós e a levei para o sofá.
— Andressa, o que houve? Está me assustando.
— Eu... — Me olhou, mas logo desviou o olhar. — Tenho medo do que pensará de mim.
— Me diga o que houve, sabe que pode confiar em mim.
Ela ergueu os olhos e, de sua boca, saiu algo que mudaria minha vida.
— Estou grávida. — soltou, me deixando atômico e sem reação.
— Eu estou grávida, Marcelo. — repetiu, acredito para ter certeza de que eu a ouvira.
Eu já tinha ouvido, ouvi com muita clareza, só não sabia como reagir ao que havia acabado de sair de sua boca.
— O quê? — minha voz se elevou e ela se levantou, tomando distância de mim.
— Está vendo, eu sabia que não iria aceitar, estou indo embora.
Segurei seu braço antes que chegasse à porta.
— Não vai a lugar algum sem antes me explicar o que acabou de dizer.
— Não há o que explicar, Marcelo. Estou grávida.
— Mas... Como?
— Quer que eu te explique como são feitos os bebês? — Fechei a cara para seu sarcasmo.
— Não, claro que não, Andressa, eu não sou um idiota! Só que nós cuidamos. Sempre transamos com camisinha.
— Sim, eu sei. — Começou a gesticular e me virou às costas. — Jamais imaginei que algo assim podia ser real, mas nenhum método contraceptivo é cem por cento seguro. Eles falham, e a camisinha falhou.
Virou-se e me olhou.
— Não quero que pense que estou te dando um golpe, Marcelo. — Ela estava nervosa e agitada. — Não queria ser mãe agora, mas aconteceu e, mesmo que não queira assumir, eu não podia te esconder isso de você.
Estava parado, com os olhos sobre Andressa, mas parecia não a enxergar de fato.
Minha mente estava um caos.
Grávida? Um bebê? Parecia surreal.
Eu quero ter filhos, é claro. Construir uma família é um dos meus sonhos, mas não assim, não dessa forma.
— Eu... Vou embora.
— Não, só... Espera um pouco. — Pedi e me sentei no sofá.
Tentava colocar minha cabeça em ordem e não surtar depois de uma notícia dessas. Ela se sentou ao meu lado, mas manteve certa distância.
— Saiba que não fiz propositalmente, só... Aconteceu. Não queria ser mãe agora, Marcelo.
— Vai tirar? — Fixei meus olhos nos seus. Meu coração batia tão acelerado que chegava a ouvir seu som em meus ouvidos.
— Não! Jamais faria uma coisa dessas. — Colocou a mão na barriga. — É meu filho. Nosso filho. — Me olhou. — Eu o quero. — Não parecia estar falando apenas do bebê em sua barriga.
— Eu sempre quis ser pai, Andressa, jamais pediria para tirá-lo.
— Nunca me passou pela cabeça que pediria isso, só acredito que pense não ser seu.
— Mas é meu, não é? — Ela fez que sim com a cabeça.
Soltei um suspiro pesado, audível.
— Eu quero essa criança, Andressa, e... quero você também. Sei que estamos juntos há poucos meses, mas... eu me apaixonei por você.
— Marcelo...
— Eu quero que esse bebê tenha tudo. Venha morar comigo. — Estava decidido e nada me faria mudar de ideia.
— É muito recente. Não quero que se sinta obrigado a nada.
Segurei suas mãos.
— Eu te amo. Parece loucura, mas eu realmente te amo. — Ela pareceu surpresa.
— Eu... também te amo, Marcelo. Eu quero ter esse bebê com você. Eu quero ficar com você.
Sorri e a beijei com fervor, louco para demonstrar o quanto a queria.
Começaria uma nova fase na minha vida. Começaria a minha família. Uma que eu iria amar, cuidar e proteger com a minha vida se assim fosse possível.
Capítulo 5.Marcelo.Passado - Dois meses depois...Os arranha-céus da cidade iluminavam o céu noturno enquanto eu dirigia pela estrada quase deserta. O brilho das luzes da cidade parecia piscar e dançar, como se estivessem tentando me acalmar após um dia exaustivo de trabalho. Como CEO, os dias eram sempre longos e cheios de desafios e surpresas. E algumas nada agradáveis, como descobrir um roubo de quase duzentos mil reais de uma das minhas contas empresariais. Mas eu sempre encontrava conforto ao pensar em Andressa, minha noiva, que me esperava em casa.Ela e a minha família eram as pessoas em quem eu mais confiava e não havia motivos para pensar o contrário. Ao estacionar o carro na garagem, respirei fundo, tentando deixar para trás o estresse do dia.Peguei minha pasta e as chaves, caminhando em direção à porta da frente. Ao abrir a porta, fui recebido pelo silêncio. Estava tudo estranhamente quieto para uma mulher que vivia em casa, se preparando para a chegada do nosso filho, e
Capítulo 6.Thalia.Passado.A manhã em São Paulo estava quente. Me abanei com a capa do caderno enquanto esperava o sinal tocar, sentada no pátio com minhas colegas. O uniforme do colégio era de um tecido leve, mas nem isso parecia ajudar a aplacar o calor que nos consumia lentamente.— Não dá para viver assim! — reclamei, enquanto passava a mão pela testa suada. — Esse calor está de matar, parece que estou dentro de uma frigideira com óleo fervendo. — Bufei, louca para tomar um banho. Minhas amigas riram. Camila, que sempre tinha um comentário debochado, respondeu:— Ué, Thalia, aproveita que você é nossa chefe de cozinha e faz um ovo frito no asfalto! — Debochou.— Só se for com o fogo do seu rabo! — rebati, sarcástica, rindo junto com as outras, menos Camila, que fechou a cara depois do meu comentário.Eu gostava de cozinhar, sempre que tinha alguma comemoração na escola, fazia os doces ou salgados. Estar ali com elas era sempre divertido. Mas claro, nem tudo era perfeito. Tinha
Capítulo 7Thalia Passado - Horas depois...Sentada no sofá da sala, com um livro aberto no colo, deixei minha leitura de lado para observar aquele momento que aquecia meu coração. O cheiro de alho refogado pairava no ar, misturando-se ao som da música suave que minha mãe cantarolava. As cortinas leves balançavam com a brisa que entrava pela janela aberta, trazendo consigo o perfume das flores do jardim.Como sempre, minha mãe já estava na cozinha, mexendo uma panela sobre o fogão, preparando nosso jantar. Ela cantava uma melodia qualquer, mas sua voz era tão doce que parecia composta especialmente para aquele momento. Meu pai, Efraim, entrou pela porta com um sorriso largo em seu rosto bonito, mas já marcado por algumas rugas.Antes de chegar à cozinha, ir abraçar e demonstrar à mamãe todo seu amor e a saudade que sentira dela, ele passou por mim. Estava ansiosa por vê-lo, já que hoje tínhamos almoçado sem ele, pois estava trabalhando e não pôde se juntar a nós nessa refeição sagrad
Capítulo 8.Thalia.Presente...Meu coração estava apertado depois das lembranças que vieram à minha mente. A dor de não ter minha mãe em minha vida era esmagadora. Ainda mais depois do que eu acabara de descobrir.Sentei-me na cadeira, tentando manter a compostura enquanto digeria tudo o que havia acabado de saber. Hoje era um daqueles dias em que tudo parecia dar errado. Para ser sincera, minha vida inteira vinha sendo uma sequência interminável de dias ruins. Há meses, eu estava com o aluguel atrasado, e o síndico já tinha me ameaçado com a expulsão mais vezes do que eu podia contar.Desde que minha mãe morreu, há dez anos, minha vida virou de cabeça para baixo. Meu pai, devastado pela perda,afundou-se na bebida. Saímos do bairro em que vivíamos confortavelmente e fomos parar em um lugar decadente, morando em um prédio caindo aos pedaços. Dinheiro era escasso, e eu tive que amadurecer rápido, começando a trabalhar antes mesmo de completar 18 anos.Por anos, minha rotina foi solitár
Capítulo 9.Thalia.Presente.Como eu conseguiria criar uma criança? Como poderia ser mãe se estava prestes a perder o único teto que tinha sobre minha cabeça? A pergunta ecoava em minha mente, repetindo-se como um mantra cruel. Deus, bebês gastam muito. Fraldas, roupas, consultas médicas... Até o que parecia pequeno tornava-se gigante no meu bolso vazio.Meus pensamentos começaram a girar como um redemoinho. Os cálculos, os cenários, as alternativas — tudo me levava de volta ao mesmo ponto: o fracasso parecia inevitável. Cada preocupação parecia pesar uma tonelada, pressionando meu peito, e o ar começou a me faltar.Eu estava sufocando.O que seria de nós dois? Eu, uma mulher que mal conseguia sustentar a si mesma, teria que dar conta de uma vida que dependia de mim para tudo. A ideia era esmagadora.Desespero me dominou, tomando conta de cada célula do meu corpo. Minhas mãos tremiam e minha visão ficou turva. A vontade de fugir — não apenas da situação, mas de mim mesma — era quase
Capítulo 10.Marcelo.Encostado na parede áspera de concreto e tentando ignorar o vento que soprava contra minha camisa, eu busco normalizar minha respiração. Meus olhos, quase fechados por causa da luz forte que ilumina essa manhã ensolarada, acabaram de se chocar com uma cena que parecia ter saído direto de um maldito comercial de família feliz.A poucos metros, uma mulher segurava um bebê enrolado em uma manta azul clara, rindo enquanto o marido dela brincava com um garoto que devia ter uns quatro anos. O moleque gargalhava alto enquanto era jogado para o alto e segurado de volta nos braços do pai. A mulher os observava com um olhar cheio de carinho, os olhos brilhando como se o amor dela pudesse iluminar o mundo.Eu desviei o olhar, mas não consegui escapar daquela sensação incômoda que parecia prender minha atenção. A alegria deles me atingia de um jeito estranho, como se esfregasse na minha cara o que eu não tinha e nunca teria.Suspirei, tentando ignorar, mas minha mente já est
Capítulo 11.Marcelo.Sorri ao ouvir os gritos de alegria do meu irmão. Ele havia acabado de sair da sala de partos, viera comemorar com nossa família a chegada de Ravi, que nascera para nos encher de alegria e unir ainda mais os seus pais.Mateus e Mariah tiveram um começo conturbado e, por pouco, ele não perdeu o nascimento do próprio filho. Agora eles estavam bem, felizes, e Ravi só iria acrescentar mais felicidade à relação deles.— Parabéns, irmão. — O abracei. — Obrigado, mano. Não sabe como estou feliz com o nascimento do meu filho.— Fico muito feliz por vocês, irmãos. Por você e pela Mariah. Vocês merecem toda a felicidade do mundo depois de tudo o que passaram.— Você também merece, Marcelo. Acredite quando digo que há algo especial à sua espera por aí. Era o momento dele e não iria estragar isso falando das minhas dores. O trauma que passara no passado era grande demais e a dor ainda está latente em meu ser. Se não fosse por minha família, não saberia o que teria sido
Capítulo 12.Marcelo.Segui para o estacionamento e retirei a chave do bolso da minha calça. Apertei o botão e destravei o carro, abri a porta e entrei. Conferi as horas no relógio em meu pulso e suspirei. Já passava das duas da tarde e eu ainda nem havia almoçado. Teria que parar em um restaurante para comer algo, pois minha barriga já começava a reclamar pela falta de alimento.Liguei o carro e saí do estacionamento. Ao me afastar do hospital, meus olhos focaram em uma bunda avantajada, desenhada pela calça jeans apertada e se movimentando à medida que sua dona caminhava.— Uma bela bunda. — falei e sorri de lado.Estava há alguns dias sem foder e a falta de sexo já começava a dar sinais.Ao passar pela dona da bunda gostosa, vi ser a mesma jovem, que trombei quando saía da ala da maternidade, e resolvi ignorá-la. Porém, algo me impediu de acelerar o carro e permaneci olhando-a pelo retrovisor. Fingi parar no sinal e vi o momento em que ela se sentou no ponto de ônibus. Estava mais