Marcelo.O mundo parecia prestes a parar, a ficar silencioso enquanto o rosto lindo de quem eu mais amava se contorcia em lágrimas.Odiava vê-la chorar e saber que eu era o causador de sua dor e lágrimas estava fazendo meu peito doer.Eu havia mentido, tinha omitido quem era e ela havia descoberto isso da pior maneira e agora sofria por mim.Por ter sido irresponsável e ter atravessado a rua sem olhar.Tentei falar e tossi, meu peito e corpo todo estão doloridos.— Marcelo, por favor, não morra. — Thalia suplicou, se debruçou sobre mim com os olhos repletos de lágrimas, desespero.Doeu-me ser o causador da dor tão profunda e sincera que estampava seu rosto.Eu estava quebrando a promessa que fiz de não fazê-la sofrer.— Ai, meu Deus. — Ouvi os gritos de socorro de Mariah, mas só me importava a mulher desesperada diante de mim.— Me perdoa. Eu não queria mentir, mas temi que me afastasse. — Pedi entre tosse. Sangue começou a encher minha boca e, mesmo não querendo, cuspi, sujando-a.—
Thalia.No hospital, após o acidente...— Oi! Como se sente? — Olhei para a pessoa que se aproximava de mim e sorri fracamente.— Não sei. É tudo tão confuso e complicado. — Abaixei a cabeça, minha voz era baixa, quase um sussurro.— Foi uma surpresa saber que meu filho estava com alguém. Não que eu achasse que ele jamais se apaixonaria, mas ainda assim me pegou desprevenida. Ele não nos contou nada. — Seu olhar vagou para o quarto à nossa frente.— Não sei os motivos dele para ter escondido isso e quero acreditar que não era por ter vergonha de mim, mas de qualquer forma, o que tínhamos não existe mais. — A dor perfurou meu peito assim que as palavras escaparam dos meus lábios.— Ele a ama. — Sua afirmação fez meu peito dar um solavanco e ergui o olhar até o seu.— Há dias havia notado uma mudança significativa em meu filho, mas pensei ser algo da minha cabeça, porém o que aconteceu hoje deixou claro que, sim, ele havia se apaixonado, que estava amando alguém. Amando você.— Não acre
Marcelo.Abro os olhos lentamente, lutando contra a escuridão que parece envolver minha mente. Minha visão está embaçada e uma luz fraca brilha acima de mim, criando contornos turvos ao redor do que presumo ser o teto. Um zunido constante preenche meus ouvidos, como se estivesse ouvindo o mundo através de uma concha marinha.Tento mover-me, mas uma sensação de peso e rigidez me prende. Meus músculos protestam contra o movimento, como se eles tivessem há tempos adormecido. Sinto uma pressão em meu peito, como se algo estivesse me mantendo ancorado à cama macia abaixo de mim.Respiro fundo e busco no fundo da minha mente o que poderia estar acontecendo comigo. É quando as memórias começam a surgir, lentamente se formando em minha mente confusa. Um lampejo de luz, o som de pneus deslizando sobre o asfalto, Thalia e Mariah gritando por mim, o impacto do veículo contra meu corpo, a sensação de voar pelo ar e a dor que isso me causou.Fui atropelado!O ar me falta e busco respirar com avide
Marcelo.— Marcelo, irmão, você está acordando — diz Mateus, com sua voz empolgada, embora embargada pela emoção.— Você nos assustou pra valer, cara. Estamos tão felizes que você está bem. — Segue falando, as palavras saem atropeladas de sua boca e vejo que luta para conter as lágrimas.Eu tento falar, mas minha voz sai fraca e rouca. Minha boca está seca, a garganta queima e arranha. Sinto como se estivesse lutando para me manter consciente. Meu irmão me oferece um gole d'água, e eu bebo avidamente, sentindo o líquido frio descer por minha garganta. Ele pede que tome em pequenos goles, mas quero muito me livrar da queimação em minhas cordas vocais.— Como está a Thalia? — Forço minha voz a sair e verbalizo a pergunta que ressoa em minha mente desde que voltei à consciência.Preciso ter certeza de que ela está bem, que nada lhe aconteceu. Thalia estava comigo na hora do acidente. Eu me lembro vagamente de sua voz gritando por mim, de suas lágrimas e palavras de amor e conforto. De se
Thalia.Olhei para fora do carro e mordi os lábios, em nervosismo. Meu coração batia acelerado, estava lutando contra meus anseios. O dia estava se findando e o sol começava a se pôr no horizonte, dando lugar à lua cheia que iluminaria a cidade e deixaria o céu ainda mais lindo.Soltei um suspiro e vi o momento em que a mãe de Marcelo saiu do hospital. Hoje ele havia acordado, isso aconteceu pela manhã, mas eu ainda não havia tido coragem de vir vê-lo. Desde o acidente, eu passava boa parte dos meus dias no hospital ao seu lado, na esperança de que acordasse, mas ao saber que havia acordado, temi como reagiria ao vê-lo. Meu coração estava aliviado por ele estar bem, mas ainda doía sua mentira.Fui enganada por Diego, ele havia mentido para me levar para a cama e Marcelo sabia o quanto isso me deixou mal, me machucou, mas ele não teve consideração e acabou por fazer o mesmo no final de tudo. Porém, eu sabia que, apesar de os dois terem mentido, Marcelo o fez para me ajudar, enquanto Di
Thalia.Eu hesitei na entrada do quarto do hospital, mas logo abri a porta e entrei. Meu coração batia forte contra o peito enquanto observava Marcelo deitado na cama, seus olhos perdidos no teto. Nossos olhos se encontraram por um breve momento, e foi como se o tempo congelasse.Marcelo quebrou o silêncio ao me dar “oi” com um sorriso fraco despontando nos lábios cheios. Meu estômago se contorcia em nós, lutando contra a torrente de emoções que me invadia ao vê-lo acordado. Esperei tanto por isso que agora não sabia como agir.— Vai ficar aí parada? — Seu sorriso ampliou.Eu dei um passo hesitante para dentro do quarto, meus pés pesados como chumbo.— Marcelo... — minha voz saiu em um fio sussurrante, carregada de emoção contida.— Thalia... — a voz dele, suave como uma brisa, me fez tremer por dentro. — Estou tão feliz que você esteja aqui.Eu me aproximei lentamente da cama, meus olhos nunca deixando os dele. Cada passo era um conflito interno, uma batalha entre o desejo de correr
Capítulo 1 Thalia.Batuquei os dedos, nervosamente, sobre a mesa, mordendo o lábio inferior numa tentativa frustrada de conter a ansiedade que me assolava. Finalmente, a porta se fechou atrás de nós, proporcionando um refúgio do barulho insistente vindo da sala de espera, que estava começando a me irritar.Respirei fundo, enquanto meus olhos se fixavam nos meus dedos. Havia feito as unhas, ou melhor, as havia pintado com um discreto tom de rosa-claro, sempre preferi tons mais sutis e discretos, e ao examinar mais detalhadamente, notei uma pequena cutícula levantada no canto da unha do meu dedo mindinho.Sem pensar, levei a mão à boca e tentei remover a cutícula com os dentes, fazendo uma careta ao puxar e sentindo um pouco de dor pela ação que acabou ferindo o cantinho da minha unha. Sabia que não deveria fazer aquilo, mas o tédio e a ansiedade obtinham o poder de me fazer agir impulsivamente. Em outras palavras, eu fazia merda quando estava entediada. Manter o controle era um desaf
Capítulo 2Thalia.— Eu não vou fazer exame algum porque eu não estou grávida! Exijo que refaça os exames, esses devem ter sido trocados, porque não tem como eu estar esperando um bebê se eu nunca fiz sexo! — Ok, eu já havia tido momentos íntimos com um homem, mas nada que corresse o risco de uma gravidez. Foram apenas algumas sarradas, mão boba, mas nada de penetração, nada que me fizesse acreditar que um bebê estava crescendo dentro de mim.Doutor Rodrigo soltou um suspiro, se sentou e levou os dedos à têmpora. Sua expressão era um misto de raiva, frustração e tédio. Ele cerrou os olhos em minha direção e começou a falar com mais calma para ver se eu conseguia compreender o que ele estava falando.Senti-me uma criança birrenta enquanto o pai tentava explicar pela décima vez que não podia colocar o dedo na tomada ou levaria um choque. Bom, eu estava realmente chocada. — Não estou afirmando que acredito em você, já que nunca havia me deparado com um caso assim, mas é possível ter eng