Parte 1...
Norton
— Agora você quer que eu faça o que, Norton?
Eu estou almoçando em um de meus restaurantes preferidos, de frente para a praia, com meu amigo Luiz.
Comentei com ele sobre a ideia louca que me passou pela cabeça, sobre conseguir uma falsa namorada para que minha mãe me deixe em paz por um tempo.
— Quero que me consiga alguém para servir de namorada fake.
— Só para agradar sua mãe? - ele ri balançando a cabeça.
— Eu sei que isso é ridículo, mas se minha mãe gostar da garota e achar que eu tenho algo sério com ela, vai ficar mais tranquila e me deixar em paz - me inclino para a frente — E vai focar nos meus irmãos.
Luiz dá uma gargalhada. O garçon chega trazendo nosso pedido e se afasta. Eu digo mais ou menos o que quero.
— Minha mãe é muito religiosa - torço a boca — Daquele tipo que vai à igreja toda semana, que vê padre na tevê.. Essas baboseiras - rodo os olhos — Só isso já ocupa um pouco o tempo dela. O resto do tempo ela fica fazendo as caridades dela e depois me enchendo o saco.
— Mas como eu vou saber o que vai te agradar de fato? Não tem nenhuma mulher para o papel?
— Você está louco, Luiz - gargalho — Nenhuma das mulheres com quem eu saio dá para participar disso. Elas vão querer se aproveitar. Conheço bem o modo delas pensarem.
Encho meu copo e tomo um gole da cerveja gelada, refrescando o calor que faz. Nem aqui na praia o tempo dá uma folga. Até o vento está vindo quente.
— E você já pensou nesse plano maluco?
— Mais ou menos - fiz uma careta balançando o corpo — Eu acho que se conseguir alguém para o papel, que se encaixe no que minha mãe espera, ela pode ficar feliz e isso vai me dar uma folga.
— De quanto tempo?
— Ah... Sei lá... - dei de ombros — Pelo menos uns três meses. Depois eu vejo como fazer. O importante é ter uma folga inicial e depois disso eu posso planejar outra coisa.
Luiz deu risada jogando a cabeça para trás. Ele acha engraçado, mas eu sei o quanto é chato ter minha mãe na minha cola. Uma vez ou outra tudo bem, dá pra passar, mas ouvir a mesma conversa várias vezes começa a ficar cansativo e irritante.
Continuamos nossa conversa, tentando achar um ponto onde eu tivesse sorte, mas nenhuma das mulheres que citamos daria para desempenhar esse papel de coadjuvante de minha vida.
— Cara, eu sou teu amigo e gosto muito de você, mas preciso falar... Você é muito arrogante. Pelo amor de Deus - dá outra gargalhada.
— Me poupe, Luiz. Você também não é nenhum santo.
— Eu sei que não, mas inventar uma namorada é demais, né.
Eu torço a boca. Pode até ser, mas faço tudo para minha mãe parar com essa conversa mole de relacionamento.
— Vamos... Sugira nomes - bati as mãos rápido.
Luiz dá uma risada alta e balança a cabeça. Começa a citar nomes de conhecidas, mas vou descartando todas.
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Cristina
Finalmente cheguei na casa de Pauline. Tive que andar um pouco ainda, até chegar aqui, mas pelo menos o bairro aqui é mais seguro. E como não seria? É tudo tão diferente, parece outro país.
Um bairro tão bonito, de classe alta, com tudo organizado, praças cheias de flores, bancos de madeira, o asfalto lisinho. É assim. Uma diferença enorme do bairro onde eu moro.
Infelizmente a vida é assim, não posso reclamar porque isso não depende de mim.
Paro na guarita e digo meu nome para o rapaz que está no posto e ele liga lá para dentro. Depois de um momento ele vem abrir o portão de pedestre me deixando entrar.
— Obrigada - dou um sorriso de leve.
Vou caminhando até a porta da frente que já está aberta e a empregada me recebe com um sorriso.
— Oi, como está?
— Estou bem, obrigada - entro e paro ao lado dela.
— A dona pauline está lá na sala de visitas.
Agradeci e segui. Eu já estive aqui antes, faz muito tempo. Não sei como é a casa toda, mas conheço essa parte. Entrei na sala e vi Pauline sentada em um poltrona grande, perto da janela com uma revista na mão.
— Boa tarde, Pauline - disse com educação.
Ela levanta a cabeça e sorri ao me ver.
— Oi, querida, venha - faz um gesto com a mão — Veio mais cedo do que esperava.
— É que eu tenho aula na faculdade mais tarde e por isso aproveitei a folga quando saí do trabalho.
— E está tudo bem lá?
— Está sim.
Sentei na outra poltrona e fiquei conversando com ela um pouco. Foi bom para descansar as pernas e também a empregada apareceu trazendo um suco gelado que foi ótimo para mim. Ajudou a refrescar o calor.
Pauline é uma pessoa maravilhosa, mas eu fico um pouco tímida de estar ali com ela. Geralmente ela é quem vai em nossa casa para ver minha mãe e sempre leva algo para a gente. Nos ajuda muito.
Depois de uma meia hora ela me chamou até a cozinha. Tinha pedido que eu fosse lá para pegar uma encomenda para minha mãe.
— Eu poderia levar depois lá na sua casa, mas como é algo que podem precisar logo, eu decidi pedir que viesse até aqui. É caminho.
Não é bem meu caminho. Afinal, eu moro bem longe e tenho que pegar um ônibus diferente no terminal para vir até aqui, mas não ia reclamar por causa disso, ainda mais com ela.
— Eu estava no shopping e passei na farmácia para comprar um novo medidor de glicemia, porque o meu está desregulado e vi na prateleira esses remédios que sua mãe usa - pegou duas caixas dentro da gaveta de um dos armários — Como eu tinha outro compromisso, não deu para passar lá na sua casa, mas amanhã ou depois eu vou - me entregou as caixas.
— Agradeço - olhei os remédios — Minha mãe só tem meia caixa mesmo. Eu já ia comprar, mas estava esperando até o final da semana.
— Ah, viu que bom - sorriu e bateu em minha mão.
— Mamãe!
Ouvimos a voz forte de um dos filhos dela. Pauline respondeu alto que estava na cozinha e logo ele apareceu.
Eu não conheço os filhos dela pessoalmente. Já vi um deles na tevê, porque tem um programa de culinária. É um rapaz muito bonito. Mas os outros dois eu nunca os vi.
Ele entrou na cozinha e parou de vez ao me ver, me encarando.
Confesso que não sei definir bem se ele é bonito ou feio. É um homem diferente, eu diria. Magro e alto. Não o olhei muito, fico sem graça de encarar as pessoas por muito tempo. Desviei o olhar de novo para Pauline.
Parte 2...— Entre meu filho - ele sorri.— Quem é você? - ele pergunta.— Esta é a Cristina - Pauline pegou minha mão — Filha de minha boa amiga, Marlene. Eu já te falei sobre elas, não falei?Ele fez uma cara engraçada. Acho que se Pauline falou, ele com certeza não lembra de nada. Deu um sorriso curto e fez um gesto com a cabeça. Não sei porque, mas fiquei inquieta.— Acho que sim - deu de ombro, me olhando. Isso me deixa tímida — E o que faz aqui?— Norton... Isso é modo de falar?— Eu só fiz uma pergunta -abriu as mãos — Curiosidade.Fiquei um pouco corada. Eu sei porque sinto meu rosto ficar quente. Notei que ele tem olhos pretos muito bonitos.— Cristina veio aqui porque eu a chamei - Pauline explicou — Eu pedi que viesse para pegar umas coisas.— Mas a senhora não vai sempre lá?— Sempre não, Norton - ela fez um bico — Quando posso eu vou visitar minha amiga.Eu guardei as caixas do remédio em minha bolsa. Agradeci de novo e disse a ela que precisava ir. Ainda tinha que chegar
Parte 1...CristinaDepois que contei ao Luiz o meu plano e dele rir muito, dizendo que no final isso ia dar merda, desliguei e liguei direto para duas delícias que eu fico de vez em quando.Não são nada para mim, não existe nada além de intimidade crua. É só sexo e pronto.Elas me dão o que eu quero e eu devolvo com o que elas querem. Uma delas é a Simone. Uma negra linda, corpo perfeito e uma pele maravilhosa. Folgosa que só ela.A outra é a Lívia, uma loira de parar o trânsito. Olhos verdes brilhantes, uma bunda de enlouquecer, cintura fininha e toda trabalhada na academia. Um tesão. Qualquer um fica de olho quando ela passa.E não tem nada melhor do que olhar para os olhinhos verdes dessa loira linda, agachada em frente a mim, lambendo meu pau com sua língua rosada e aqueles lábios carnudos vermelhos. É uma visão capaz de tirar do sério até um monge.Enrolei seu cabelo loiro na mão para poder observar bem aquela boca tomando meu pau, engolindo tudo bem devagar, me encarando. Adoro
Parte 2...Aí não deu para segurar o riso e soltei uma gargalhada alta bem na cara dela que fez até um bico de raiva. Me fuzilou com o olhar. Mas foi bem engraçado, com certeza.— Fala sério, mamãe - mexi a cabeça rindo — Nos dias atuais é quase um milagre encontrar uma garota que seja virgem. A não ser que ela viva em um convento de freiras reclusas ou ainda seja muito pequena para ter relações sexuais - ri alto de novo — Seguro que sua garota virgem deu para o primeiro cara que piscou o olho para ela, atrás do muro da igreja onde foi rezar por santidade. Ai... Engraçado...— Ah, mas você é muito abusado mesmo - veio em minha direção — Você tem que se casar, Norton. Está perdido no mundo, sem sentido de vida. Não faz mais nada a não ser cuidar de seus negócios e se pegar com essas...Continuei a rir e sai da sala. Minha secretária que já sabia bem o que tinha acontecido, apontou para a sala de reuniões. Entrei e as duas garotas estavam lá, se arrumando para irem embora.— O que estão
Parte 3...— Diz isso porque ainda não encontrou a pessoa certa.— Não existe isso de pessoa certa, mamãe - balancei a cabeça.— Quando você abrir o olho, vai estar velho e sozinho - apontou o garfo para mim.— E desde quando ficar sozinho é algo ruim? Dona Pauline, eu não sou solitário - ri desdenhando — A senhora mesma viu isso. Tenho companhia na hora que eu quiser. É só estalar os dedos.— Misericórdia, meu Deus - ergueu as mãos olhando para cima.Eu ri de novo. Minha mãe é religiosa demais para os tempos atuais. Muito presa aos costumes de antes. E depois que meu pai morreu, ela ficou mais carente de atenção.Por isso passo alguns dias da semana aqui com ela, apesar de ter meu próprio apartamento. Quando não sou eu, meu irmão mais novo, Normam, fica aqui. Revezamos para lhe dar atenção. E atenção é algo que ela exige e muito de nós.Alguns dias ela está ótima, mas tem outros que seu lado italiano está mais forte e exagera em tudo. Até em sua hipocondria, o que acaba a levando a u
Parte 1...Cristina...Uma amiga que mora no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, tem temperaturas baixas e ela me enviou algumas fotos que tirou com a família na neve, em locais pelo estado, quando fizeram um passeio.Ai, como seria bom. Eu não conheço neve de verdade, só a falsa que colocam no shopping no final de ano para o Natal. Deve ser bem legal. Pelo menos é fria.Aqui é quente de pelar a pessoa, ainda mais quando chega perto do verão. Eu fico me acabando no calor e buscando por qualquer lugar que tenha pelo menos um ventilador. Apesar de ter nascido aqui, eu não consigo me acostumar com o calor quando fica demasiado.Sento perto da saída, assim posso cair fora logo quando chegar minha parada. Ainda vou ter que fazer a troca no terminal e pegar outro ônibus até chegar ao meu bairro. É muita gente e isso complica a troca de ônibus, por isso desço logo.No terminal eu salto apressada e o outro ônibus já está lá, quase saindo, esperando só que o pessoal suba. Pego um lugar de novo
Parte 1...Eu parei minha Ferrari preta em frente da empresa, na sombra.O vento quente me dá um tapa na cara depois de chegar aqui com ar-condicionado, no maior conforto. Cara, eu detesto calor. Por mim a cidade inteira teria ar-condicionado. Ontem estava quente, mas hoje está ainda mais.Ao pisar no tapete de boas-vindas as grandes portas de vidro se afastam e eu dou um passo para dentro. Escuto risinhos e viro a cabeça. Do outro lado, na parte de carros utilitários, estão três garotas quase babando olhando para mim.Sorrio de volta e retiro meus óculos para que possam ver que não sou nenhum dos meus dois irmãos mais novos. Elas se espantam, mas continuam sorrindo e se mexendo toda, mostrando o corpo.Norman e Normando são irmãos gêmeos. Nós três nos parecemos muito. O cabelo castanho é o mesmo e os traços físicos também. Mas assim que as pessoas que sabem a diferença, vêm meus olhos azuis, se ligam que não sou um deles. Os dois têm olhos castanhos com um leve toque de verde. Fora i
Parte 1...CristinaEu acordei e me espreguicei toda, olhando para meu teto. Um dia ele já foi branco eu acho, mas agora é meio cinza. Estalo os dedos dos pés e depois os das mãos. Ainda bem que dormi tão logo me deitei na cama.Ouvi vozes vindo da cozinha e me levantei. Hoje tenho um pouco mais de tempo, só vou entrar mais tarde porque fiz uma carga extra.Fui ao banheiro e lavei o rosto para despertar direito, escovei os dentes e o cabelo e fiz um rabo de cavalo. Eu tinha que cortar o cabelo, mas deixaria isso para o final do mês, quando recebesse meu salário.Entrei na cozinha e vi minha mãe conversando com Pauline. As duas quando começam a conversar vão longe. E pelo jeito Pauline tinha trazido mais coisas ainda do que disse que traria.No começo eu não gostava muito disso, era orgulhosa demais para aceitar, achava errado, mas depois isso passou. Minha mãe até reclamou muito comigo, que eu estava sendo orgulhosa demais e ela tinha razão.Quem precisa de algo e depende da ajuda de
Parte 2...Eu ajudava como podia. Nunca parei de estudar e nem deixava minhas notas baixarem. Sempre me lembrava das conversas com meu padrasto sobre sair dessa vida. Com certeza ter segurança financeira é o mais importante hoje em dia, nesse mundo tão capitalista.Aproveitei o que tinha aprendido com os cursinhos de arte e passei a vender panos de prato decorados com pintura e bordados. Também fazia peças decorativas para a casa em crochê e tricô.Aos poucos fui conseguindo encomendas. Como minha mãe trabalhava como doméstica, ela aproveitava para divulgar os meus trabalhos para a patroa dela e as amigas. Muitas vezes sei que elas compraram apenas para ajudar porque eram coisas mais simples, nada como elas eram acostumadas a ter em casa, mas nos ajudou muito.Fui melhorando com a prática e consegui que duas lojas de arte e artesanato vendessem meus trabalhos por comissão. Parei de fazer direto quando ficou complicado estudar, trabalhar e ainda passar horas fazendo as pintuas e bordad