Parte 3...
— Diz isso porque ainda não encontrou a pessoa certa.
— Não existe isso de pessoa certa, mamãe - balancei a cabeça.
— Quando você abrir o olho, vai estar velho e sozinho - apontou o garfo para mim.
— E desde quando ficar sozinho é algo ruim? Dona Pauline, eu não sou solitário - ri desdenhando — A senhora mesma viu isso. Tenho companhia na hora que eu quiser. É só estalar os dedos.
— Misericórdia, meu Deus - ergueu as mãos olhando para cima.
Eu ri de novo. Minha mãe é religiosa demais para os tempos atuais. Muito presa aos costumes de antes. E depois que meu pai morreu, ela ficou mais carente de atenção.
Por isso passo alguns dias da semana aqui com ela, apesar de ter meu próprio apartamento. Quando não sou eu, meu irmão mais novo, Normam, fica aqui. Revezamos para lhe dar atenção. E atenção é algo que ela exige e muito de nós.
Alguns dias ela está ótima, mas tem outros que seu lado italiano está mais forte e exagera em tudo. Até em sua hipocondria, o que acaba a levando a uma depressão também, o que sempre nos preocupa.
Minha mãe tem uma mania por doenças e remédios, acumulando vários, mesmo sem precisar. Isso às vezes é até chato e cansativo, mas não tem jeito. E o pior é quando ela acha que tem uma doença misteriosa que nenhum médico descobre.
Já a levamos a um médico e ele a diagnosticou com Hipocondria. Um estado mental em que o paciente sofre de grande ansiedade sobre sua saúde física.
Ela crê que sofre de várias doenças, às vezes muitas ao mesmo tempo e que isso afeta seu corpo, sendo que nem tem sintomas ou algo realmente. É apenas em sua mente, mas não adianta falar.
Depois que meu pai sofreu com três ataques cardíacos, o último fulminante, ela desenvolveu essa condição. Porém, ela sempre acha que estamos errados e ela tem sim a doença da semana, já que são várias.
Eu vivo muito bem, apesar dela querer me colocar uma culpa boba por não ter compromisso. Não quero e não preciso. Vejo muitos amigos presos em um casamento, mas doidos para se livrarem da responsabilidade e alguns até traem suas esposas.
Pelo menos se eu não tenho compromisso, posso ficar com quem quiser e isso não será uma traição, não podem me cobrar.
Moro em um país lotado de lugares feitos para diversão, uma terra cheia de sol e praias onde todos os dias vejo mulheres de biquíni de um lado para outro. Meu apartamento é de frente para o mar, em um dos melhores bairros da cidade.
Vou ficar com uma garota e toda vez ter a obrigação de seguir o que ela quer. Tô fora.
Minha mãe é romântica como antigamente. Ainda acredita que existe o tal amor que vai durar para sempre. Pode até ser, mas comigo ainda não aconteceu e eu duvido que vá acontecer um dia.
Muitas pessoas não sabem nem o que quer dizer a palavra amor de verdade. Confundem atração e desejo com algo que não tem nada a ver com o que eu penso. Isso de amor é muito idealizado.
Vivendo em um estado onde só existem duas estações, verão e quente como o inferno. As outras são só um aviso de que as estações mudam. É natural aqui, as garotas andarem de roupa curta e usarem biquíni sempre que podem. E isso é bem tentador.
O calor era uma constante na temperatura, assim como nos corpos e por isso mesmo eu curtia todas as chances que tinha para me divertir com mulheres que queriam dividir esse corpo caliente.
Achei melhor mudar o assunto. Por mais que eu a ame, não tenho interesse nessa conversa de amor eterno e menos ainda quero me amarrar agora.
Sei bem do que essas mulheres gostam e o que as interessa realmente. Não sou mais um menino. O mundo gira em torno de dinheiro e é isso o que as mulheres mais gostam.
— O que queria me perguntar antes? Sobre o Norman?
Desviei a atenção para meu irmão mais novo. Vi sua feição mudar. Consegui dessa vez. Por um tempo ao menos.
— Já falei com seu irmão - voltou a comer —Norman vai fazer uma semana de gravação do programa dele em Natal.
— Beleza. Podemos ir até lá, é aqui do lado. Chegamos lá rapidinho e ainda podemos ficar uns dias se quiser. Assim mata sua saudade.
— É claro que eu vou - disse mais animada — Tem quatro meses que não vejo meu caçula, desde que ele foi gravar o programa em Santa Catarina.
— Mãe... - dei uma risada — É só ligar a tevê que pode ver o Norman com suas panelas, seus temperos, talheres e pratos.
— Seu irmão é um chef de cozinha muito conceituado. Não diga dessa forma, que parece que é só um programinha qualquer. Ele é bem famoso e muito procurado.
Eu ri balançando a cabeça. Tinha escapado por agora. Ela começou a falar sobre meu irmão e esqueceu de mim. Ainda bem.
Realmente acho que está na hora de dar uma parada para avaliar minha vida com relação a algumas coisas, em especial nisso de morar um tempo aqui com minha mãe.
Ela fica muito ligada em mim e isso aumenta a carência dela e quando algo sai diferente do que ela quer, acaba ficando estressada e nervosa e isso não é bom para a hipocondria dela. Tenho que falar com meus irmãos também.
E dar um jeito de começar meu plano o quanto antes.
Parte 1...Cristina...Uma amiga que mora no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, tem temperaturas baixas e ela me enviou algumas fotos que tirou com a família na neve, em locais pelo estado, quando fizeram um passeio.Ai, como seria bom. Eu não conheço neve de verdade, só a falsa que colocam no shopping no final de ano para o Natal. Deve ser bem legal. Pelo menos é fria.Aqui é quente de pelar a pessoa, ainda mais quando chega perto do verão. Eu fico me acabando no calor e buscando por qualquer lugar que tenha pelo menos um ventilador. Apesar de ter nascido aqui, eu não consigo me acostumar com o calor quando fica demasiado.Sento perto da saída, assim posso cair fora logo quando chegar minha parada. Ainda vou ter que fazer a troca no terminal e pegar outro ônibus até chegar ao meu bairro. É muita gente e isso complica a troca de ônibus, por isso desço logo.No terminal eu salto apressada e o outro ônibus já está lá, quase saindo, esperando só que o pessoal suba. Pego um lugar de novo
Parte 1...Eu parei minha Ferrari preta em frente da empresa, na sombra.O vento quente me dá um tapa na cara depois de chegar aqui com ar-condicionado, no maior conforto. Cara, eu detesto calor. Por mim a cidade inteira teria ar-condicionado. Ontem estava quente, mas hoje está ainda mais.Ao pisar no tapete de boas-vindas as grandes portas de vidro se afastam e eu dou um passo para dentro. Escuto risinhos e viro a cabeça. Do outro lado, na parte de carros utilitários, estão três garotas quase babando olhando para mim.Sorrio de volta e retiro meus óculos para que possam ver que não sou nenhum dos meus dois irmãos mais novos. Elas se espantam, mas continuam sorrindo e se mexendo toda, mostrando o corpo.Norman e Normando são irmãos gêmeos. Nós três nos parecemos muito. O cabelo castanho é o mesmo e os traços físicos também. Mas assim que as pessoas que sabem a diferença, vêm meus olhos azuis, se ligam que não sou um deles. Os dois têm olhos castanhos com um leve toque de verde. Fora i
Parte 1...CristinaEu acordei e me espreguicei toda, olhando para meu teto. Um dia ele já foi branco eu acho, mas agora é meio cinza. Estalo os dedos dos pés e depois os das mãos. Ainda bem que dormi tão logo me deitei na cama.Ouvi vozes vindo da cozinha e me levantei. Hoje tenho um pouco mais de tempo, só vou entrar mais tarde porque fiz uma carga extra.Fui ao banheiro e lavei o rosto para despertar direito, escovei os dentes e o cabelo e fiz um rabo de cavalo. Eu tinha que cortar o cabelo, mas deixaria isso para o final do mês, quando recebesse meu salário.Entrei na cozinha e vi minha mãe conversando com Pauline. As duas quando começam a conversar vão longe. E pelo jeito Pauline tinha trazido mais coisas ainda do que disse que traria.No começo eu não gostava muito disso, era orgulhosa demais para aceitar, achava errado, mas depois isso passou. Minha mãe até reclamou muito comigo, que eu estava sendo orgulhosa demais e ela tinha razão.Quem precisa de algo e depende da ajuda de
Parte 2...Eu ajudava como podia. Nunca parei de estudar e nem deixava minhas notas baixarem. Sempre me lembrava das conversas com meu padrasto sobre sair dessa vida. Com certeza ter segurança financeira é o mais importante hoje em dia, nesse mundo tão capitalista.Aproveitei o que tinha aprendido com os cursinhos de arte e passei a vender panos de prato decorados com pintura e bordados. Também fazia peças decorativas para a casa em crochê e tricô.Aos poucos fui conseguindo encomendas. Como minha mãe trabalhava como doméstica, ela aproveitava para divulgar os meus trabalhos para a patroa dela e as amigas. Muitas vezes sei que elas compraram apenas para ajudar porque eram coisas mais simples, nada como elas eram acostumadas a ter em casa, mas nos ajudou muito.Fui melhorando com a prática e consegui que duas lojas de arte e artesanato vendessem meus trabalhos por comissão. Parei de fazer direto quando ficou complicado estudar, trabalhar e ainda passar horas fazendo as pintuas e bordad
Parte 1...Esperei o portão abrir completamente antes de entrar acelerando a nova Ferrari pelo caminho de entrada e parei na garagem da direita, ao lado de outros carros que já estavam lá.Eu sempre deixo dois aqui para trocar nos dias em que fico aqui com minha mãe. Meus irmãos fazem o mesmo, então a garagem está sempre ocupada, mas tem muitas vagas e são duas garagens cobertas.Desço e dou outra olhada na Ferrari. Linda. Maravilhosa. Ainda bem que eu vi antes de algum comprador entrar na empresa e a levar.Passei pelo hall de entrada e falei com a empregada que limpava um tapete. Segui para a cozinha para pegar algo gelado. Estou com sede. O dia mal começou e já está quente, imagine no meio da tarde como vai estar.As duas cozinheiras estavam cortando alguns legumes e me deram bom dia. Respondi e perguntei sobre minha mãe.— Ela saiu logo cedo - uma delas respondeu.— E disse para onde? - abri a geladeira de inox.— Só disse que iria visitar a velha amiga, Marlene.Eu solto um suspi
Parte 2...— Você tem liberdade sempre que quer e até demais - se inclinou para frente — Eu não esqueci de sua palhaçada com aquelas duas... Moças... - abanou a mão — Lá no seu escritório.Eu gargalhei com a cara feia dela.— Da próxima vez, bata na porta e espere a resposta.— Da próxima vez, tenha vergonha na cara. Safado.Eu gargalhei e entrei no banheiro. Bem, ela tinha razão.— Mãe, vou pensar se posso e te aviso. Eu tenho algo a resolver. Agora vou tomar uma ducha e nadar um pouco.Ela saiu e ouvi que ainda reclamava. Entrei na ducha rindo. Mas tinha algo nesse jantar que me deixou curioso. Desde quando ela queria que eu ficasse para receber alguma amiga?Aí tinha, com certeza. Abri o chuveiro forte e me enfiei embaixo. Depois eu pensaria nisso direito, agora vou nadar um pouco e depois me arrumar para uma festinha particular.Também tenho que falar com Luiz sobre o que acabei de decidir, com essa ida de minha mãe até o bairro da pobretona. Acho que ele vai gostar de saber meu p
CristinaEsquentei as panelas e já deixei tudo pronto para minha mãe, assim ela não teria que fazer nada. Me preocupo que se queime com a visão tão turva como ela está esses dias. E como é teimosa, espera que eu saia para fazer as coisas.Preciso urgente encontrar uma vaga para a cirurgia dela, mas o sistema de saúde está sobrecarregado. Me lembro de dona Laura. Seria bom ir até lá.— Mãe, eu volto daqui a pouco. Vou dar uma olhada na pressão da dona Laura e também aproveitar para ela me rezar um pouco.— Vai sim, filha. É sempre bom.— Deixe que eu preparo seu prato para a gente almoçar juntas - fui saindo da cozinha — Não vou demorar, viu.— Está bem.Troquei de roupa. Tirei o short curtinho que uso por uma bermuda maior. Prefiro evitar certas coisas. Apesar de saber que muitos me conhecem por aqui, vira e mexe tem alguém diferente na área e não confio.O certo seria que uma mulher pudesse ir e vir sem problema algum, em qualquer lugar, mas a realidade era outra. Então, como não ten
NortonEu sabia que aquele lugar não era meu quarto, apesar de muito bonito. Pisquei os olhos por causa da claridade que vinha da janela próxima. Virei a cabeça e senti uma pontada fina. Coisa da bebida, claro.Fechei os olhos de novo e respirei fundo para diminuir a sensação de peso na cabeça e estômago um pouco enjoado. Sinto muita sede e um gosto ruim na boca.Porra, estou de ressaca.Esfrego os olhos. Eu nem me lembro de ter bebido tanto ao ponto de ficar assim, mas pelo jeito foi o que fiz. Merda! Passei do ponto.Abro um olho e depois o outro devagar, focando nas cortinas claras que balançam com o vento que entra. Meu braço direito está dormente e tento mexer um pouco, mas um peso me impede.Percebo que é a garota da noite passada, deitada por cima dele. Estava nua e claro que eu fiz um esforço para erguer a cabeça e dar uma geral nela para conferir se eu não estava muito bêbado ontem.Era bonita. Corpão, completamente jogada por cima de mim. Com certeza tão bêbada quanto eu est