Parte 1...
Eu parei minha Ferrari preta em frente da empresa, na sombra.
O vento quente me dá um tapa na cara depois de chegar aqui com ar-condicionado, no maior conforto. Cara, eu detesto calor. Por mim a cidade inteira teria ar-condicionado. Ontem estava quente, mas hoje está ainda mais.
Ao pisar no tapete de boas-vindas as grandes portas de vidro se afastam e eu dou um passo para dentro. Escuto risinhos e viro a cabeça. Do outro lado, na parte de carros utilitários, estão três garotas quase babando olhando para mim.
Sorrio de volta e retiro meus óculos para que possam ver que não sou nenhum dos meus dois irmãos mais novos. Elas se espantam, mas continuam sorrindo e se mexendo toda, mostrando o corpo.
Norman e Normando são irmãos gêmeos. Nós três nos parecemos muito. O cabelo castanho é o mesmo e os traços físicos também. Mas assim que as pessoas que sabem a diferença, vêm meus olhos azuis, se ligam que não sou um deles. Os dois têm olhos castanhos com um leve toque de verde. Fora isso, tem que olhar bem para saber que eu não sou um chefe de cozinha cheio de talentos culinários e nem um autor famoso e modelo.
No entanto, tenho muitos outros talentos. Me tornei um CEO famoso por conseguir tirar água de pedra, por assim dizer.
Quando meu pai faleceu há quatro anos, a Cars Company era uma concessionária de carros comuns, para venda normal. Eu assumi a empresa, mudei algumas coisas, fiz investimentos e meti a cara a trabalhar diariamente, até que tudo começou a andar como eu queria e planejara.
Hoje somos a melhor e maior concessionária de veículos de luxo de toda América Latina. Recebemos vários prêmios de excelência em negócios e relacionamento com clientes.
Agora eu tenho filiais em lugares como Paris, Quebec, Chicago, Dubai e Buenos Aires. Todas com grande lucro e renome. Isso causa muita inveja em concorrentes que vira e mexe criam mentiras sobre nossos produtos e filiais, querendo derrubar nosso nome.
Eu tenho que ficar sempre atento. Hoje em dia é muito fácil manipular a mente de uma pessoa. Ainda mais se ela tiver preguiça mental e se conformar em acreditar no que leu no w******p.
Chega a ser ridículo a quantidade de fake news que rola nessas redes sociais. Algumas são tão absurdas que sinto pena da pessoa que acredita, pois só pode ser burra mesmo.
Quando ganhamos o prêmio de excelência pelo terceiro ano consecutivo, muitas mentiras rondaram pelo w******p e i*******m, dizendo que vendemos carros batidos, com defeito de fábrica e outras coisas.
Acionei a equipe de advogados da empresa e cada um dos que se envolveram diretamente foram processados. Dá trabalho, mas uma hora se descobre de onde partiu o fake e eu sempre começo com um processo.
O que vem depois depende do outro lado.
Minha mãe teima em dizer que o dinheiro me corrompeu e me deixou frio. Talvez isso seja verdade. Mas o que acontece realmente, é que quando eu comecei a prestar atenção em como as pessoas são más e egoístas, passei a me distanciar delas.
Evito misturar as coisas. Especialmente prazer com trabalho. Quer dizer, tirando as meninas que eu trago para meu escritório para uma transa rapidinha de alívio. Mesmo sendo errado, eu sou uma pessoa que penso primeiro em mim e se der tempo, penso no outro.
Minha mãe diz que eu mudei quando comecei a ganhar mais dinheiro e fiquei famoso por meu trabalho. Segundo ela eu me tornei irresponsável com minha vida e que não penso no futuro.
É claro que eu penso no futuro, senão eu não teria porque fazer tanta grana e melhorar ainda mais minha vida. Acho que de tanto ouvir as reclamações dela sobre casamento, estou ficando um pouco delirante.
E também, porque eu vou ficar me preocupando tanto com isso se eu tenho possibilidade de fazer e ter o que eu quiser?
Vi um de meus funcionáriso me chamando lá em cima no escritório e pisquei para as garotas. Subi as escadas e parei antes de entrar na sala, olhando para elas lá embaixo que ainda estavam ligadas em mim.
Como sempre. Sorri e acenei com a cabeça, entrando. André me esperava com uma pasta aberta e o computador ligado. Queria me mostrar os novos carros que tinham sido encomendados e que chegaram nessa manhã.
Gostei de saber que logo cedo já tinha sido pedido um iate e dois helicópteros por encomenda. Isso iria fazer minha conta aumentar. Sou honesto sobre meus lucros. Isso eu aprendi com meu pai.
Não tiro mais do que o necessário para continuar com o negócio funcionando de vento em popa e isso também é um diferencial da empresa. Quem se torna cliente nosso sabe que não vamos meter a faca em um valor seja de um carro ou como agora, de um iate. A empresa é correta.
Ele ficou mostrando as fotos e configurações de cada carro e explicando sobre as vendas. O normal de sempre. Foi aí que meus olhos bateram em cima de uma Ferrari maravilhosa que tinha chegado no lote de pedidos para aquele trimestre.
Perfeita. Cor externa cinza grafite e dentro chocolate. Rodas em design moderno. O carro era lindo, elegante e chique.
— Esse já tem comprador?
— Ainda não.
— Já fez a vistoria dele?
André pegou o telefone e ligou para a área de vistoria de chegada que ficava na parte de trás do prédio. Falou com o responsável, esperou a resposta e então me disse que tinha acabado de sair da vistoria e tinha sido aprovada totalmente.
Claro, por mim também. Sorri. Eu queria esse carro agora. Adoro carros esportivos, mas minha queda maior são Ferrarris. As linhas de seus modelos me chamam muito atenção, sem falar no conforto e segurança dos carros. E tem outra vantagem.
Eles correm muto e eu amo velocidade. Fiquei animado. Mandei separar que eu iria ficar com ela. André perguntou se era para mandar entregar em casa e eu disse que não precisava.
Mandei que levasse a que eu tinha chegado para a garagem lá de trás e pedi a chave dessa nova. Queria me divertir um pouco com ela. Tipo um moleque que ganha um brinquedo novo. Era assim que me sentia.
Mas, como na tarde anterior eu já tinha dado uma pulada no trabalho para ficar com as duas gatas que me aconpanharam no ménage, decidi que iria antes trabalhar, depois sairia para aproveitar o brinquedo novo.
Também seria bom para dar exemplo para os funcionários. Minha secretária tinha dado uma enrolada quando me procuraram porque eu estava na sala de reunião com as meninas.
Se o dono não trabalhava no que era seu, o que dirá os funcionários. E como eu exigia deles, tinha que também exigir de mim mesmo.
Fui para meu escritório e abri meu computador para ler os e-mails de trabalho e também os pessoais. Alguns eu nem abri, já fui deletando mesmo porque tem gente que manda muita bobagem também. Recebo até pedido de ajuda para coisas que não tem nada a ver com o que faço.
E quando quero ajudar, eu vou lá e faço. Não saio dando dinheiro por aí sem saber direito do que se trata. Tem muita gente descarada por aí que adora inventar necessidades e quando vamos ver, é golpe.
Me concentrei nas planilhas e pensei que depois do almoço eu iria tirar um tempinho para testar a nova aquisição. Tenho certeza de que vou ficar com ela por muito tempo.
Aliás, eu tenho outras que são de coleção e adoro cada uma delas. Estou até pensando em comprar uma casa maior do que minha cobertura onde moro agora, só para ter uma garagem grande para meus carros. Me sinto feliz como uma criança.
Luiz me ligou. Expliquei para ele meu plano sobre a namorada fake apenas para agradar minha mãe. Ele achou graça, mas começou a me encher de perguntas.
— Norton, você nem conhecia a garota. Como acha que ela vai aceitar sua ideia maluca?
— Simples. Dinheiro - respondi cínico.
— Pelo amor de Deus - riu mais — E você sabe se ela precisa tanto a ponto de fingir ser sua namorada?
— Ah, isso é fácil - disse arrogante — Eu vou namorar a garota realmente... Na mente dela, é claro - ri arrogante — Ela é pobre. Minha mãe é amiga da mãe dela desde jovem. As duas eram pobres, só que minha mãe teve mais sorte e se casou com meu pai. A mãe da garota não saiu de onde estava... Essas coisas... Não perguntei muito para minha mãe não achar que sou mais estranho do que ela já acha.
— É melhor não se envolver, deixa a garota em paz. E ela pode até ter um namorado, já pensou nisso?
— Não tem, perguntei à minha mãe. Vou jogar meu charme em cima dela, vai cair como as outras.
— Cara, você é muito arrogante, sabia?
— Sei - gargalhei — Luiz, eu preciso tirar minha mãe da minha cola, nem que seja por pouco tempo. Essa garota é a típica boazinha que ela adora, mas tenho minha dúvidas.
— Como assim?
— Ah, fala sério. Hoje em dia na idade dela, morando em um bairro péssimo, vai ser virgem?
— E o que tem a ver?
— Tudo. O mundo gira em torno do dinheiro. Acha que ela não consegue um pagante para as coisas que gosta de curtir e não pode pagar? E com a massificação de hoje, todas ficaram iguais.
— Não sei, não. Acho que você vai se meter em um problema.
— Que nada, vai ser divertido.
— Cuidado, amigo, cuidado. Não só com você, mas com a garota também.
Autora Ninha Cardoso
Está gostando do enredo? Vem mais conflitos por aí. Espero que continue lendo para saber o que vai acontecer com Cristina e Norton.
Parte 1...CristinaEu acordei e me espreguicei toda, olhando para meu teto. Um dia ele já foi branco eu acho, mas agora é meio cinza. Estalo os dedos dos pés e depois os das mãos. Ainda bem que dormi tão logo me deitei na cama.Ouvi vozes vindo da cozinha e me levantei. Hoje tenho um pouco mais de tempo, só vou entrar mais tarde porque fiz uma carga extra.Fui ao banheiro e lavei o rosto para despertar direito, escovei os dentes e o cabelo e fiz um rabo de cavalo. Eu tinha que cortar o cabelo, mas deixaria isso para o final do mês, quando recebesse meu salário.Entrei na cozinha e vi minha mãe conversando com Pauline. As duas quando começam a conversar vão longe. E pelo jeito Pauline tinha trazido mais coisas ainda do que disse que traria.No começo eu não gostava muito disso, era orgulhosa demais para aceitar, achava errado, mas depois isso passou. Minha mãe até reclamou muito comigo, que eu estava sendo orgulhosa demais e ela tinha razão.Quem precisa de algo e depende da ajuda de
Parte 2...Eu ajudava como podia. Nunca parei de estudar e nem deixava minhas notas baixarem. Sempre me lembrava das conversas com meu padrasto sobre sair dessa vida. Com certeza ter segurança financeira é o mais importante hoje em dia, nesse mundo tão capitalista.Aproveitei o que tinha aprendido com os cursinhos de arte e passei a vender panos de prato decorados com pintura e bordados. Também fazia peças decorativas para a casa em crochê e tricô.Aos poucos fui conseguindo encomendas. Como minha mãe trabalhava como doméstica, ela aproveitava para divulgar os meus trabalhos para a patroa dela e as amigas. Muitas vezes sei que elas compraram apenas para ajudar porque eram coisas mais simples, nada como elas eram acostumadas a ter em casa, mas nos ajudou muito.Fui melhorando com a prática e consegui que duas lojas de arte e artesanato vendessem meus trabalhos por comissão. Parei de fazer direto quando ficou complicado estudar, trabalhar e ainda passar horas fazendo as pintuas e bordad
Parte 1...Esperei o portão abrir completamente antes de entrar acelerando a nova Ferrari pelo caminho de entrada e parei na garagem da direita, ao lado de outros carros que já estavam lá.Eu sempre deixo dois aqui para trocar nos dias em que fico aqui com minha mãe. Meus irmãos fazem o mesmo, então a garagem está sempre ocupada, mas tem muitas vagas e são duas garagens cobertas.Desço e dou outra olhada na Ferrari. Linda. Maravilhosa. Ainda bem que eu vi antes de algum comprador entrar na empresa e a levar.Passei pelo hall de entrada e falei com a empregada que limpava um tapete. Segui para a cozinha para pegar algo gelado. Estou com sede. O dia mal começou e já está quente, imagine no meio da tarde como vai estar.As duas cozinheiras estavam cortando alguns legumes e me deram bom dia. Respondi e perguntei sobre minha mãe.— Ela saiu logo cedo - uma delas respondeu.— E disse para onde? - abri a geladeira de inox.— Só disse que iria visitar a velha amiga, Marlene.Eu solto um suspi
Parte 2...— Você tem liberdade sempre que quer e até demais - se inclinou para frente — Eu não esqueci de sua palhaçada com aquelas duas... Moças... - abanou a mão — Lá no seu escritório.Eu gargalhei com a cara feia dela.— Da próxima vez, bata na porta e espere a resposta.— Da próxima vez, tenha vergonha na cara. Safado.Eu gargalhei e entrei no banheiro. Bem, ela tinha razão.— Mãe, vou pensar se posso e te aviso. Eu tenho algo a resolver. Agora vou tomar uma ducha e nadar um pouco.Ela saiu e ouvi que ainda reclamava. Entrei na ducha rindo. Mas tinha algo nesse jantar que me deixou curioso. Desde quando ela queria que eu ficasse para receber alguma amiga?Aí tinha, com certeza. Abri o chuveiro forte e me enfiei embaixo. Depois eu pensaria nisso direito, agora vou nadar um pouco e depois me arrumar para uma festinha particular.Também tenho que falar com Luiz sobre o que acabei de decidir, com essa ida de minha mãe até o bairro da pobretona. Acho que ele vai gostar de saber meu p
CristinaEsquentei as panelas e já deixei tudo pronto para minha mãe, assim ela não teria que fazer nada. Me preocupo que se queime com a visão tão turva como ela está esses dias. E como é teimosa, espera que eu saia para fazer as coisas.Preciso urgente encontrar uma vaga para a cirurgia dela, mas o sistema de saúde está sobrecarregado. Me lembro de dona Laura. Seria bom ir até lá.— Mãe, eu volto daqui a pouco. Vou dar uma olhada na pressão da dona Laura e também aproveitar para ela me rezar um pouco.— Vai sim, filha. É sempre bom.— Deixe que eu preparo seu prato para a gente almoçar juntas - fui saindo da cozinha — Não vou demorar, viu.— Está bem.Troquei de roupa. Tirei o short curtinho que uso por uma bermuda maior. Prefiro evitar certas coisas. Apesar de saber que muitos me conhecem por aqui, vira e mexe tem alguém diferente na área e não confio.O certo seria que uma mulher pudesse ir e vir sem problema algum, em qualquer lugar, mas a realidade era outra. Então, como não ten
NortonEu sabia que aquele lugar não era meu quarto, apesar de muito bonito. Pisquei os olhos por causa da claridade que vinha da janela próxima. Virei a cabeça e senti uma pontada fina. Coisa da bebida, claro.Fechei os olhos de novo e respirei fundo para diminuir a sensação de peso na cabeça e estômago um pouco enjoado. Sinto muita sede e um gosto ruim na boca.Porra, estou de ressaca.Esfrego os olhos. Eu nem me lembro de ter bebido tanto ao ponto de ficar assim, mas pelo jeito foi o que fiz. Merda! Passei do ponto.Abro um olho e depois o outro devagar, focando nas cortinas claras que balançam com o vento que entra. Meu braço direito está dormente e tento mexer um pouco, mas um peso me impede.Percebo que é a garota da noite passada, deitada por cima dele. Estava nua e claro que eu fiz um esforço para erguer a cabeça e dar uma geral nela para conferir se eu não estava muito bêbado ontem.Era bonita. Corpão, completamente jogada por cima de mim. Com certeza tão bêbada quanto eu est
Parte 1...CristinaEu já estava saindo do escritório onde deixei as fichas dos pacientes fixos que tinha visitado e toda a lista de medicamentos que tinha usado, marcando cada unidade com sua quantidade exata.Patrícia iria rever tudo depois e dar a baixa. Segui para a ala das enfermeiras para tomar um banho e me trocar. Teria que enfrentar o ônibus até a casa de Tereza.Abri meu armário, falei com as colegas que estavam chegando para o turno e puxei a sacola grande com minha muda de roupa. Trouxe também um frasco pequeno de perfume que eu guardo para quando vou a um lugar diferente. Aqui no trabalho eu só uso alfazema mesmo. Eu gosto do cheiro e é mais barato do que um perfume de marca. Em casa uso sempre uma colônia fresquinha que eu adoro. Meu celular tocou. Era dona Pauline.Ela quase não ligava para mim. Será que estava ligando para desmarcar o jantar? Ai, se fosse seria ótimo porque eu já ia direto para casa e me jogava no sofá para assistir minhas séries. A noite prometia se
Parte 2...Me virei e vi Pauline se aproximando com um sorriso. Me deu um beijo no rosto.— Que bom que veio - apertou minha mão — Está tudo bem?— Está sim, obrigada - ajeitei o cabelo atrás da orelha e puxei mais o prendedor.— Olha, eu tenho que lhe mostrar algo antes. Venha comigo.Ela saiu e eu a segui. Então não seriam essas as almofadas, talvez outras. Eram tantas salas que com certeza ela teria vários tipos diferentes de almofadas. Talvez fosse uma encomenda grande.Ela me olhou e sorriu de novo. Foi na frente e eu atrás, passando pelos outros cômodos. Subimos por uma escada larga, com degraus de mármore. Passamos para o outro piso e ela seguiu por um corredor.Parou em frente a uma porta creme e abriu, me mandando entrar. Eu fiquei receosa. Seria uma biblioteca da casa ou algo assim?Só que ao entrar eu vi que era um quarto. Tinha a decoração delicada com tons claros e uma cama de ferro decorado com colchão alto, coberto por uma colcha muito bonita cheia de detalhes em renda.