— Está bem. — Eu levantei devagar, forçando-me a afastar de Grady. Cada parte de mim queria continuar ali, perto dele, mas eu sabia que precisava de um pouco de distância. Quando consegui ficar de pé, ele segurou minha mão e beijou de leve o meu pulso. Eu desviei o olhar, sentindo o calor subir ao rosto, e saí rapidamente do banheiro. Resisti ao impulso de voltar para ele. Era difícil, eu sabia, e estava começando a perceber que estava me deixando levar mais do que deveria.Minutos depois, Grady apareceu na cozinha, abotoando a camisa. Ele olhou para as roupas que eu tinha colocado sobre a mesa e me olhou com um sorriso curioso.— Essas roupas me parecem vagamente familiares. Será que eu as esqueci aqui?Coloquei os pratos na mesa, tentando manter a calma e desviar o olhar para não me perder no seu. Sorri e respondi:— Não, você não as esqueceu. Elas precisavam de pequenos consertos, então eu as trouxe para arrumá-las.Grady ergueu as sobrancelhas em aprovação e, sem nem precisar fala
— Pouco à vontade. — Sussurrei, sentindo minha voz falhar por um instante. — Sim, pouco à vontade. — Grady repetiu, me olhando com atenção. — Por quê? — Ele perguntou, inclinando-se um pouco para mais perto. Minha garganta secou. Eu sabia que precisava responder, mas organizar meus pensamentos parecia impossível com ele tão perto. Respirei fundo e tentei ser honesta: — Porque não precisamos de mais pressão sobre nós neste momento. Ele franziu levemente as sobrancelhas. — É apenas esse o motivo? Sabia que ele podia perceber minha hesitação. Desviei os olhos, mordendo o lábio. — Não. Grady não me deixou escapar. — O que é então? — Sua voz era calma, mas me fazia sentir exposta, como se ele pudesse enxergar direto dentro de mim. Respirei fundo, reunindo coragem para encará-lo novamente. — Tenho medo de que eles me desaprovem. Podem achar que uma mulher com três filhos não é adequada para você. Para minha surpresa, Grady jogou a cabeça para trás e começou a rir co
Eu queria responder que havia sobrevivido sem água quente por cinco anos, mas sabia que não seria a melhor escolha. Aquele detalhe só pioraria as coisas. Então, mantive os olhos baixos enquanto me dirigia até uma cadeira e me sentava, tentando ignorar o nó que começava a se formar na minha garganta.Grady colocou a xícara sobre a pia e caminhou em minha direção com passos firmes, quase ameaçadores. Senti minha respiração acelerar.— Como acha que eu me sinto, sabendo que você mal consegue suprir as necessidades da sua casa? — Ele perguntou, em um tom de desaprovação. — Eu pensei que havia algo especial entre nós, Holly, mas você preferiria morrer de fome antes de me pedir ajuda.Aquele comentário foi como um golpe. Segurei a xícara com ambas as mãos, sentindo o calor do café não ser suficiente para aquecer o gelo que tomava conta de mim. Engoli em seco, tentando manter a compostura.— E o que você pensaria de mim, se eu tivesse pedido ajuda? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.
Algum tempo depois, quando consegui me recompor, voltei à sala. A cena que encontrei era quase surreal, um contraste completo com a tempestade que acabara de acontecer. A pequena cozinha parecia um mercado persa, com tecidos coloridos espalhados por todos os cantos. Liz e Kate estavam no centro da confusão, disputando pedaços de seda como duas crianças brigando por um brinquedo. Fiquei de lado, observando-as com um leve sorriso. Era quase terapêutico vê-las discutindo sobre estilos e estampas, como se o mundo fosse feito apenas de cores e texturas. — O que você acha, Holly? — Liz perguntou, segurando um corte de seda multicolorida e virando-se para mim com olhos brilhantes. — Não vai ficar melhor em mim do que em Kate? Observei as duas. Pareciam gêmeas à primeira vista, exceto por Kate ser mais miúda e magra. Decidi que não era sábio me intrometer nessa disputa. — De onde tirou essa conclusão? — Kate questionou, arqueando uma sobrancelha. — Não interessa. Eu quero este tecido
Quando a noite finalmente caiu, Tammy chegou à minha casa logo após o jantar. Suas bochechas estavam coradas pelo vento frio, e ela carregava seu típico sorriso caloroso, o tipo que sempre conseguia me tranquilizar, mesmo nos dias mais difíceis.— Pronta para encarar o escritório? — ela perguntou, tirando o cachecol e pendurando-o na cadeira perto da porta.— Pronta é uma palavra forte — respondi, tentando aliviar o peso que sentia nos ombros. — Mas vou encarar, de qualquer jeito.Ela riu baixinho, caminhando até a cozinha, onde Megan estava brincando com os meninos.— O que vocês estão aprontando por aqui? — Tammy perguntou, abaixando-se para abraçá-los.— Estamos desenhando! — Megan exclamou, segurando uma folha cheia de rabiscos coloridos.Os meninos mostraram seus desenhos também, animados com a visita de Tammy. A cena aqueceu meu coração por um momento, me lembrando que, mesmo com todas as dificuldades, eu tinha algo precioso para proteger: meus filhos.Tammy ergueu o olhar na mi
— Vamos entrar, querida — murmurou, tentando suavizar a situação. — Grady já foi embora, por que não vem me ajudar?Holly estendeu a mão para pegar a filha, mas Megan se soltou de seu abraço assim que o som do caminhão ficou mais próximo. O veículo estacionou do outro lado da rua, e Grady desceu, atravessando a calçada em direção a elas.— Eu ia para a cidade pegar a correspondência e pensei se Megan gostaria de dar um passeio comigo.— Eu quero! — Megan exclamou, seus olhos brilhando de entusiasmo.Holly olhou para a filha e sentiu a dor apertar ainda mais seu peito. Coisas tão simples, como um sorriso ou um gesto masculino, eram capazes de significar o mundo para aquela criança. Um nó se formou na garganta de Holly, e ela sentiu que não conseguiria mais conter as lágrimas. Queria virar as costas e desaparecer antes que Grady percebesse o que estava acontecendo, mas, no momento em que ela começou a se virar, Grady olhou diretamente para ela.Ele a observou por um instante, depois fra
A casa se erguia solitária no meio de um amplo terreno abandonado, onde o mato atingia mais de um metro de altura. A pintura branca, gasta pela contínua exposição ao tempo, estava descascando por toda a extensão das paredes, e a porta de tela, solta das dobradiças, estava caída na varanda. A madeira envelhecida dos batentes das janelas ainda revelava restos de tinta verde, e, de frente para a rua, um vidro quebrado brilhava como uma teia de aranha prateada sob o sol de fim de tarde. Apesar do mato, eu conseguia distinguir uma calçada de cimento em torno da residência, com plantas crescendo pelas rachaduras, revelando os vários meses de total negligência. Apenas as quatro grandes árvores alinhadas no fundo do terreno se salvavam da atmosfera de destruição e descaso que permeava todo o local.Apertei as mãos úmidas e respirei fundo antes de descer do caminhão, tentando disfarçar a profunda decepção que me invadiu. Por um breve instante, uma onda de pânico quase me dominou, mas consegui
Assim que a recém-chegada acenou para mim, abriu um sorriso ainda maior ao se aproximar. Era como se já nos conhecêssemos, e sua energia era quase contagiante. — Oi! Você é a Holly, certo? Eu a reconheci pelas fotos que sua avó me mostrava. Já estou aqui esperando desde cedo e achei que vocês não viriam mais! — Ela estendeu a mão quando chegou perto o suficiente. Seu rosto irradiava uma alegria genuína, refletindo sua natureza extrovertida. — Sou Liz Crawford, moro a duas casas daqui, descendo a rua. Seja bem-vinda a Jennings. — Obrigada — respondi, devolvendo o sorriso. — Também achei que não chegaríamos mais. Foi uma viagem longa. — Imagino, ainda mais com crianças, não é? — Liz riu, parecendo entender perfeitamente o que eu passara. — Os meus brigam, discutem e reclamam até estarmos a uns dez quilômetros de casa. Só então encostam a cabeça no banco e dormem. — Os meus passaram os últimos mil e duzentos quilômetros brigando pela janela. — Suspirei, lembrando da jornada exaustiv