Eu tentava esconder a ansiedade enquanto segurava a mão de Megan, esperando Grady e os meninos se juntarem a nós. Meu estômago estava um nó, e o desejo de estar em casa, lavando roupas ou limpando o fogão, era quase irresistível. Qualquer coisa parecia mais fácil do que enfrentar o que estava por vir.A porta da frente se abriu antes que eu alcançasse os degraus, e uma mulher grisalha apareceu. Bastou um olhar para perceber que ela era a mãe de Grady. A semelhança entre eles era inegável — o mesmo sorriso caloroso, os mesmos olhos vivos.— Já estava começando a pensar que vocês haviam se perdido! — disse ela, envolvendo Grady em um abraço tão acolhedor que senti uma pontada de saudade de algo que nunca tive. Ela deu um beijo em seu rosto e, sorrindo, continuou: — Por que será que você sempre me parece mais alto do que da última vez?— Talvez eu ainda esteja em fase de crescimento — respondeu ele, rindo. Seu tom era descontraído, mas cheio de carinho. Então ele se virou para mim. — Hol
Assim que Megan respondeu um tímido "sim" ao elogio, eu percebi como Grady tinha o dom de acalmar os corações ao seu redor. Ele colocou a mão no ombro da menina e a puxou gentilmente para perto, como se prometesse protegê-la de qualquer coisa.— Vamos lá para dentro ver o que tem de bom? — ele perguntou.Os olhos de Megan brilhavam de empolgação, e ela aceitou a mão dele com um sorriso discreto. Eu os segui, observando aquele pequeno gesto que me tocou mais do que deveria. Era uma cena que eu sabia que ficaria gravada em minha memória.Trevor e Ryan, por sua vez, levaram apenas alguns segundos para se misturarem ao grupo barulhento de meninos. Megan, porém, precisou de um pouco mais de tempo. No início, os garotos mais velhos franziram a testa diante da ideia de ter uma menina entre eles, mas não demorou muito para que sua determinação suave conquistasse a todos.Joanne teve a ideia de reunir as crianças na sala e, em questão de minutos, estavam todos assistindo a um filme na Netflix.
Megan entrou na sala exatamente quando me sentei entre Luke e Grady. Ela se aproximou dele e entregou-lhe uma lata de blocos de armar.— Você abre a tampa para mim? — ela pediu, com um sorriso tímido.Grady colocou sua xícara sobre a mesa e tirou a tampa de metal com facilidade.— Está se divertindo, querida? — ele perguntou, com uma voz suave.— Estou, mas os meninos fazem muito barulho. Era nítido que Megan parecia estar cada vez mais cansada. Grady então afastou-se um pouco, criando espaço no sofá.— Sente-se aqui ao meu lado e brinque com os blocos no braço do sofá. — Ele a convidou, de maneira gentil.Megan não hesitou e rapidamente se acomodou no espaço que ele preparou para ela, seu pequeno corpo quase desaparecendo entre os estofados. Eu os observava, o rosto sério, uma sensação desconfortável apertando meu peito. A aproximação de Megan a Grady parecia tão natural, mas, por alguma razão, não conseguia deixar de me sentir insegura.Levantei os olhos para ver Joyce me observand
Eu o encarei com uma sensação de raiva e frustração. Que diferença pode fazer uma explicação? — perguntei, tentando manter a calma, mas minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.Ele me olhou diretamente, a mandíbula tensa.— Talvez eu não queira deixar você com ideias erradas.Eu ri, mas sem humor algum, sentindo o sarcasmo escorrer pelas palavras que saíram da minha boca.— Não tenho ideias erradas, Grady. Não estou procurando por refeições grátis, se é o que você acha. Só estou tentando levar a minha vida da melhor maneira que posso. — As palavras saíram como uma explosão, cheias de tudo que eu vinha acumulando há tempos. — Não estou à procura de um pai relutante para os meus filhos, nem de alguém que me salve cada vez que cair de cara no chão!— Era esse tipo de ideia errada que eu queria evitar. — A firmeza na voz dele só alimentou minha raiva.Senti o calor subindo pelas minhas bochechas enquanto eu me levantava, já incapaz de ficar sentada ali.— É mesmo, Grady? — questio
Grady me encarava com intensidade, e eu sentia as palavras dele perfurarem uma barreira que eu nem sabia que existia.— Isso não é verdade — murmurei, tentando soar firme, mas minha voz vacilou.— É sim, Holly. — Ele deu um passo à frente, hesitando antes de continuar, mas não me poupou. — Você já teve alguém na sua vida em quem realmente confiasse? Uma amiga íntima? Alguém com quem pudesse dividir tudo, sem reservas?Minha garganta apertou. A resposta estava clara na minha mente, mas eu não tinha forças para dizê-la em voz alta. Cruzei os braços, tentando conter um tremor que não era de frio. Não confiei em ninguém assim. Não me permiti.Grady soltou um suspiro pesado, como se carregasse o peso de minha resposta não dita.— Holly, eu sei que falei muitas besteiras, que agi como um idiota algumas vezes. Mas sempre acreditei que poderíamos resolver isso. Que, de alguma forma, conseguiríamos.Olhei para o chão, porque encarar aqueles olhos azuis cheios de frustração e mágoa era demais.
O vento frio de outono arrancava as últimas folhas ressecadas das árvores lá fora. Eu observava tudo pela janela, sentindo o vidro gelado na testa, como se aquilo pudesse me ancorar. O céu cinzento parecia uma extensão do meu humor. Era primeiro de novembro, e fazia duas semanas que Grady havia partido.Duas semanas de dias longos e noites ainda mais desoladoras.A cada toque do telefone ou batida na porta, meu coração pulava, torcendo para que fosse ele. Mas não era. Sempre não era. Repeti esse ritual muitas vezes, sempre me agarrando a uma esperança vazia. Em um momento de desespero, na noite anterior, cheguei a ligar para ele. A voz gravada na secretária eletrônica foi a única resposta que recebi. Desliguei antes mesmo de terminar a mensagem.Era inútil. Ele havia dito tudo o que tinha para dizer e, claramente, não pretendia voltar.Suspirei e olhei para o relógio de pêndulo na parede. Tinha duas horas até que as crianças voltassem da escola. Precisava usar bem esse tempo.Dias atr
Eu estava atordoada. Meus dedos tremiam enquanto passava os olhos sobre os papéis que Stan havia me entregado. O primeiro documento era uma Xerox de um recibo de cartão de crédito. Quase quinhentos dólares. Uma loja de artigos de rodeio em Billings, Montana. Um par de botas de couro e duas calças jeans. Era a assinatura de Derek ali. Não havia como negar.Minha visão ficou turva por um instante, mas eu precisava olhar o próximo papel. Outro recibo. Dessa vez, oitenta e oito dólares, gastos em um quarto de hotel. A data era uma semana antes de sua morte. Meu coração apertou, mas não havia tempo para lamentos. Mais recibos, alguns de valores pequenos, outros de somas maiores. Mas o que mais me chocou foi a quantidade.Fechei os olhos, tentando vencer a tontura que ameaçava me dominar. Quando os abri, fixei meu olhar em Stan e, com uma voz que nem parecia minha, perguntei:— Quanto?— Mais de cinco mil dólares.O chão pareceu desaparecer sob meus pés. Minhas mãos tremiam enquanto apertav
Levou um bom tempo para me controlar, embora ainda estivesse trêmula. Deixei os recibos sobre a televisão e saí à procura de Trevor. Não havia sinal dele no pátio, e uma sensação de apreensão me tomou por inteiro. Corri até a ravina, esperando encontrá-lo sentado sob alguma árvore, mas o lugar estava completamente deserto. A preocupação aumentava a cada passo. Voltei para casa, mas não entrei.Quando contornei o pátio, parei de repente. O alívio me imobilizou.As três crianças estavam sentadas nos degraus da varanda, silenciosas, com a tensão estampada nos rostinhos pequenos. Ryan levantou a cabeça assim que me viu.— Vamos ter de voltar? — perguntou, com a voz trêmula.Forçando um sorriso tranquilizador, me sentei junto a eles e segurei as mãos de Ryan.— Não, querido. Não há motivo para vocês se preocuparem, está bem? Não é nada que eu não possa resolver.— Papai fez uma coisa ruim, não foi? — Trevor indagou, o corpo inteiro tremendo de choque.— Sim. — Segurei seu queixo e fiz com