Eu o encarei com uma sensação de raiva e frustração. Que diferença pode fazer uma explicação? — perguntei, tentando manter a calma, mas minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.Ele me olhou diretamente, a mandíbula tensa.— Talvez eu não queira deixar você com ideias erradas.Eu ri, mas sem humor algum, sentindo o sarcasmo escorrer pelas palavras que saíram da minha boca.— Não tenho ideias erradas, Grady. Não estou procurando por refeições grátis, se é o que você acha. Só estou tentando levar a minha vida da melhor maneira que posso. — As palavras saíram como uma explosão, cheias de tudo que eu vinha acumulando há tempos. — Não estou à procura de um pai relutante para os meus filhos, nem de alguém que me salve cada vez que cair de cara no chão!— Era esse tipo de ideia errada que eu queria evitar. — A firmeza na voz dele só alimentou minha raiva.Senti o calor subindo pelas minhas bochechas enquanto eu me levantava, já incapaz de ficar sentada ali.— É mesmo, Grady? — questio
Grady me encarava com intensidade, e eu sentia as palavras dele perfurarem uma barreira que eu nem sabia que existia.— Isso não é verdade — murmurei, tentando soar firme, mas minha voz vacilou.— É sim, Holly. — Ele deu um passo à frente, hesitando antes de continuar, mas não me poupou. — Você já teve alguém na sua vida em quem realmente confiasse? Uma amiga íntima? Alguém com quem pudesse dividir tudo, sem reservas?Minha garganta apertou. A resposta estava clara na minha mente, mas eu não tinha forças para dizê-la em voz alta. Cruzei os braços, tentando conter um tremor que não era de frio. Não confiei em ninguém assim. Não me permiti.Grady soltou um suspiro pesado, como se carregasse o peso de minha resposta não dita.— Holly, eu sei que falei muitas besteiras, que agi como um idiota algumas vezes. Mas sempre acreditei que poderíamos resolver isso. Que, de alguma forma, conseguiríamos.Olhei para o chão, porque encarar aqueles olhos azuis cheios de frustração e mágoa era demais.
O vento frio de outono arrancava as últimas folhas ressecadas das árvores lá fora. Eu observava tudo pela janela, sentindo o vidro gelado na testa, como se aquilo pudesse me ancorar. O céu cinzento parecia uma extensão do meu humor. Era primeiro de novembro, e fazia duas semanas que Grady havia partido.Duas semanas de dias longos e noites ainda mais desoladoras.A cada toque do telefone ou batida na porta, meu coração pulava, torcendo para que fosse ele. Mas não era. Sempre não era. Repeti esse ritual muitas vezes, sempre me agarrando a uma esperança vazia. Em um momento de desespero, na noite anterior, cheguei a ligar para ele. A voz gravada na secretária eletrônica foi a única resposta que recebi. Desliguei antes mesmo de terminar a mensagem.Era inútil. Ele havia dito tudo o que tinha para dizer e, claramente, não pretendia voltar.Suspirei e olhei para o relógio de pêndulo na parede. Tinha duas horas até que as crianças voltassem da escola. Precisava usar bem esse tempo.Dias atr
Eu estava atordoada. Meus dedos tremiam enquanto passava os olhos sobre os papéis que Stan havia me entregado. O primeiro documento era uma Xerox de um recibo de cartão de crédito. Quase quinhentos dólares. Uma loja de artigos de rodeio em Billings, Montana. Um par de botas de couro e duas calças jeans. Era a assinatura de Derek ali. Não havia como negar.Minha visão ficou turva por um instante, mas eu precisava olhar o próximo papel. Outro recibo. Dessa vez, oitenta e oito dólares, gastos em um quarto de hotel. A data era uma semana antes de sua morte. Meu coração apertou, mas não havia tempo para lamentos. Mais recibos, alguns de valores pequenos, outros de somas maiores. Mas o que mais me chocou foi a quantidade.Fechei os olhos, tentando vencer a tontura que ameaçava me dominar. Quando os abri, fixei meu olhar em Stan e, com uma voz que nem parecia minha, perguntei:— Quanto?— Mais de cinco mil dólares.O chão pareceu desaparecer sob meus pés. Minhas mãos tremiam enquanto apertav
Levou um bom tempo para me controlar, embora ainda estivesse trêmula. Deixei os recibos sobre a televisão e saí à procura de Trevor. Não havia sinal dele no pátio, e uma sensação de apreensão me tomou por inteiro. Corri até a ravina, esperando encontrá-lo sentado sob alguma árvore, mas o lugar estava completamente deserto. A preocupação aumentava a cada passo. Voltei para casa, mas não entrei.Quando contornei o pátio, parei de repente. O alívio me imobilizou.As três crianças estavam sentadas nos degraus da varanda, silenciosas, com a tensão estampada nos rostinhos pequenos. Ryan levantou a cabeça assim que me viu.— Vamos ter de voltar? — perguntou, com a voz trêmula.Forçando um sorriso tranquilizador, me sentei junto a eles e segurei as mãos de Ryan.— Não, querido. Não há motivo para vocês se preocuparem, está bem? Não é nada que eu não possa resolver.— Papai fez uma coisa ruim, não foi? — Trevor indagou, o corpo inteiro tremendo de choque.— Sim. — Segurei seu queixo e fiz com
A casa se erguia solitária no meio de um amplo terreno abandonado, onde o mato atingia mais de um metro de altura. A pintura branca, gasta pela contínua exposição ao tempo, estava descascando por toda a extensão das paredes, e a porta de tela, solta das dobradiças, estava caída na varanda. A madeira envelhecida dos batentes das janelas ainda revelava restos de tinta verde, e, de frente para a rua, um vidro quebrado brilhava como uma teia de aranha prateada sob o sol de fim de tarde. Apesar do mato, eu conseguia distinguir uma calçada de cimento em torno da residência, com plantas crescendo pelas rachaduras, revelando os vários meses de total negligência. Apenas as quatro grandes árvores alinhadas no fundo do terreno se salvavam da atmosfera de destruição e descaso que permeava todo o local.Apertei as mãos úmidas e respirei fundo antes de descer do caminhão, tentando disfarçar a profunda decepção que me invadiu. Por um breve instante, uma onda de pânico quase me dominou, mas consegui
Assim que a recém-chegada acenou para mim, abriu um sorriso ainda maior ao se aproximar. Era como se já nos conhecêssemos, e sua energia era quase contagiante. — Oi! Você é a Holly, certo? Eu a reconheci pelas fotos que sua avó me mostrava. Já estou aqui esperando desde cedo e achei que vocês não viriam mais! — Ela estendeu a mão quando chegou perto o suficiente. Seu rosto irradiava uma alegria genuína, refletindo sua natureza extrovertida. — Sou Liz Crawford, moro a duas casas daqui, descendo a rua. Seja bem-vinda a Jennings. — Obrigada — respondi, devolvendo o sorriso. — Também achei que não chegaríamos mais. Foi uma viagem longa. — Imagino, ainda mais com crianças, não é? — Liz riu, parecendo entender perfeitamente o que eu passara. — Os meus brigam, discutem e reclamam até estarmos a uns dez quilômetros de casa. Só então encostam a cabeça no banco e dormem. — Os meus passaram os últimos mil e duzentos quilômetros brigando pela janela. — Suspirei, lembrando da jornada exaustiv
Eu nunca me senti tão pressionada como no dia em que fui conversar com o advogado. Precisava urgentemente arranjar uma babá para as crianças. Não era justo continuar dependendo da boa vontade de Liz por muito tempo, mesmo sabendo que minhas condições financeiras estavam longe de permitir isso. Mas como eu pagaria? Acabara de gastar uma quantia considerável para instalar um telefone, e minhas economias estavam acabando depressa. Depois de comprar mantimentos e outros produtos essenciais para a casa, restaram-me exatamente quinhentos e quarenta dólares. Se eu controlasse rigorosamente cada centavo, poderia manter a família por mais umas seis semanas.— Sra. Simpson, o Sr. Brown vai recebê-la agora — avisou a secretária.Respirei fundo e, tensa, peguei a bolsa antes de me dirigir ao escritório que ela indicou. O homem magro, parado junto à escrivaninha abarrotada de papéis, levantou-se ao me ver entrar e estendeu a mão com um sorriso amistoso.— Sou Ned Brown. Seja bem-vinda à nossa cida