Levou um bom tempo para me controlar, embora ainda estivesse trêmula. Deixei os recibos sobre a televisão e saí à procura de Trevor. Não havia sinal dele no pátio, e uma sensação de apreensão me tomou por inteiro. Corri até a ravina, esperando encontrá-lo sentado sob alguma árvore, mas o lugar estava completamente deserto. A preocupação aumentava a cada passo. Voltei para casa, mas não entrei.Quando contornei o pátio, parei de repente. O alívio me imobilizou.As três crianças estavam sentadas nos degraus da varanda, silenciosas, com a tensão estampada nos rostinhos pequenos. Ryan levantou a cabeça assim que me viu.— Vamos ter de voltar? — perguntou, com a voz trêmula.Forçando um sorriso tranquilizador, me sentei junto a eles e segurei as mãos de Ryan.— Não, querido. Não há motivo para vocês se preocuparem, está bem? Não é nada que eu não possa resolver.— Papai fez uma coisa ruim, não foi? — Trevor indagou, o corpo inteiro tremendo de choque.— Sim. — Segurei seu queixo e fiz com
Eu sabia que a manhã seguinte não seria fácil, mas enfrentar o gerente do banco e admitir a situação em que Derek nos deixara parecia um pesadelo. Passei as horas antes do encontro com o estômago embrulhado, pensando em como contar a alguém, um estranho, que eu precisava de um empréstimo para cobrir as dívidas de meu marido. Quando finalmente entrei no banco, minhas pernas pareciam feitas de chumbo, e minha garganta estava seca como areia.Assim que me sentei na frente do gerente, tentei manter a compostura, mas sentia cada músculo do meu corpo tenso. Para minha surpresa, ele era muito mais simpático do que eu imaginava. Contei sobre as dívidas de Derek, sobre como só agora eu havia descoberto o tamanho do problema. Ele ouviu sem qualquer reação de julgamento, apenas assentindo com a cabeça, como se tivesse ouvido histórias como a minha mil vezes antes.— Vou precisar que preencha este formulário com seus bens e dívidas, Sra. Simpson — disse ele, passando-me os papéis.Minha mão tremi
Quando Liz entrou, todo o ar gelado do lado de fora parecia ter vindo com ela.— Posso entrar? — perguntou, tirando o casaco com pressa.Olhei para ela, fingindo uma seriedade que estava longe de sentir.— Por que não poderia? A menos que esteja com alguma doença contagiosa...Liz revirou os olhos e se aproximou, colocando o casaco na cadeira mais próxima.— Bem, eu só não sabia se uma costureira famosa como você ainda queria se misturar aos plebeus.Soltei uma risada, balançando a cabeça.— Do que você está falando, Liz? Acordou de bom humor hoje?Ela apoiou as mãos na cintura, com um sorriso maroto.— Fui até a cidade buscar minha correspondência e, no caminho, me encontrei com a Sra. Brandon. Ela estava em êxtase, completamente fascinada pelas suas criações. Juro, Holly, ela falava de você como se fosse a próxima Christian Dior!— Não a leve tão a sério — respondi, sorrindo. — Ela é exagerada em tudo.— Posso dar uma olhada no vestido da noiva?Cruzei os braços, fitando-a com falsa
Grady estava de volta à cidade há uma semana, e minha mente, que eu tanto lutei para manter em paz, havia se transformado em um turbilhão. Tudo o que o tempo e a distância tinham conseguido apagar foi esmagado em um instante quando o vi saindo da oficina. Aquele único vislumbre foi suficiente para trazer à tona todas as lembranças que eu enterrei com tanto esforço. Desde então, minhas noites eram longas e insones, preenchidas por uma enxurrada de memórias que derrubavam minhas frágeis defesas. A possibilidade de esbarrar com ele em qualquer lugar me deixava ansiosa, quase temerosa de sair de casa. Com o coração ainda pesado, atravessei a rua em direção ao banco. O dia estava nublado, refletindo meu estado de espírito. Quando entrei, havia poucos clientes nos guichês, o que foi um alívio. Me aproximei do balcão, depositei o pacote de compras no chão e desabotoei meu casaco, tentando aliviar o calor causado mais pela ansiedade do que pela temperatura. Logo uma atendente de cabelos gr
Depois do jantar, as crianças saíram para brincar no pátio, e eu as observei pela janela da cozinha enquanto terminava de lavar as panelas. Os meninos estavam completamente imersos em sua diversão, criando um elaborado sistema de canais para drenar as poças de água entre o pátio e o jardim da Sra. Potter. Eles usavam qualquer coisa como desculpa para entrar no canal mais fundo, e Ryan estava se divertindo ao ver até onde conseguia afundar antes que suas botas se enchessem de água. Eu sabia que, em pouco tempo, eles voltariam encharcados da cintura para baixo. Voltei a atenção para as panelas com a mente distante. Agora que o nervosismo inicial havia se dissipado, conseguia ver tudo com mais clareza. Grady não esperava que eu descobrisse o que ele fez, então, é claro, ele não esperava um agradecimento. Mas agora que eu sabia, minha consciência não me deixava em paz. Eu precisava agradecer. Nunca mais teria tranquilidade comigo mesma se não fizesse isso. Terminei de arrumar a cozinha
Depois de mais uma noite no trabalho, eu caminhava para casa com passos lentos, tentando não pensar no quanto minha vida parecia monótona. Cada dia era uma repetição do outro, mas naquela noite algo estava prestes a ser diferente, mesmo que eu ainda não soubesse disso.O cheiro fresco da primavera ainda pairava no ar, mas o frio da noite já começava a dominar, formando uma fina camada de gelo sobre as poças na calçada. Levantei a gola do casaco e enfiei as mãos nos bolsos, tentando me proteger do vento gelado. Foi quando ouvi meu nome, uma voz familiar que fez meu coração parar por um segundo.— Holly.Eu congelei no lugar, incapaz de me mover. Grady O’Neil estava ali, à minha frente, com o braço apoiado na porta aberta do carro. Ele parecia diferente... mais magro, mais cansado. Sua presença me atingiu como uma onda, e por um momento, eu não consegui dizer nada.— Oi, Grady — murmurei, finalmente encontrando minha voz.Ele me olhou por um instante, os olhos sérios e intensos.— Eu qu
Eu estava perdida em meio à tensão crescente. Grady estava diante de mim, sua expressão sombria e os olhos faiscando com uma raiva que me fazia estremecer. Sua pergunta ressoou no ar como uma lâmina afiada.— Pode me explicar o motivo disto? — ele perguntou, a voz dura como aço.— Eu... eu queria agradecer — murmurei, quase sem força, enquanto sentia a garganta apertar.— Por quê? Sentiu-se na obrigação? — Ele não tentou esconder a amargura em suas palavras.Respirei fundo, tentando me manter firme, mesmo que minhas mãos tremessem.— Porque significou muito para mim saber o que você fez.Ele riu, mas foi um riso frio, cortante.— Sem essa, Holly. Nada que eu faça significa alguma coisa para você.O silêncio que se seguiu foi insuportável. Eu mal conseguia respirar, lutando contra as lágrimas que insistiam em cair. Não queria demonstrar tanta fraqueza, mas não consegui evitar.— Você vai vender a oficina? — perguntei com a voz baixa, quase inaudível.Ele me encarou, os olhos estreitos,
Eu não conseguia desviar os olhos de Grady enquanto ele me segurava, enquanto sua voz se entrelaçava na minha, quase um murmúrio completo de emoção.— Não posso deixá-la. Eu tentei, mas não posso.Aquelas palavras invadiram cada canto do meu coração, me desmontando por dentro. Meus movimentos se tornaram instintivos, naturais. Meus quadris o acolheram, e eu me perdi no calor dele, no abandono completo de qualquer racionalidade.Mesmo depois, enquanto meu corpo descansava sob o dele, eu me sentia alerta, gravando cada detalhe. O peso do seu corpo era um consolo. O cheiro da sua pele, misturado ao suor, me envolvia de uma forma que só ele conseguia. Minha mão explorava lentamente as costas nuas de Grady, cada toque revelando o que havia dentro de mim.Eu queria que aquele momento durasse para sempre. Era o tipo de coisa que parecia ao mesmo tempo infinita e quebradiça, e meu coração se apertava ao perceber sua fragilidade.Grady gemeu baixinho, mexendo-se para se afastar. Meu coração qu