As portas do Salão Principal da Corte se abriram com um estalo que ecoou como um trovão ancestral. Meu coração batia tão alto que mal ouvia os murmúrios cortantes que se espalhavam entre os bancos e degraus de pedra escura. Havia dezenas deles; duques, condes, barões e lordes. Vampiros de sangue puro, alguns com mais de mil anos de vida, todos com olhos inquisidores voltados para mim.Mas ao meu lado estava ele. Cyrus.E ao verem sua figura poderosa, o silêncio se fez instantaneamente.Vestido com o negro escarlate da realeza, a capa longa arrastando pelo chão de mármore negro como fumaça viva. Sua aura era como um eclipse; densa, hipnotizante e insuportável para os fracos. Conforme nos aproximávamos do trono, os presentes se curvavam, mesmo contra a vontade. Era como se a própria noite se dobrasse diante dele. Não havia ninguém ali que pudesse enfrentar sua força, sua rapidez ou sua fúria.Sentamo-nos lado a lado, no trono alto de veludo vermelho, feito de ouro branco envelhecido,
— Marcel… — meu sussurro escapou sem que eu percebesse, como um feitiço antigo quebrando sua cela de silêncio.O nome dele queimava em minha garganta como fel. O corpo do vampiro agonizante jazia à minha frente, mas eu não enxergava mais o sangue em sua pele nem a fumaça negra que ainda saía das queimaduras místicas das marcas de garras profundas em seu tórax. Tudo o que sentia era o cheiro. Aquele cheiro que eu pensava ter deixado para trás, enterrado junto com meus gritos em celas de pedra e noites sem lua. Dias em que eu passava me arrastando sobre meus pés descalços, com a dor das lacerações em minhas intimidades bloqueado o meu raciocínio, de tão intensas.Noites na sala de jogos, o cheiro pungente de semem imundo sobre meu corpo. A dor de cada estupro, de cada tapa, e cada soco. Meu corpo coçava inteiro, como se aquela sujeira voltasse instantaneamente. Eu estava imersa naquele cheiro. O cheiro de Marcel Lockhart.Minhas mãos, antes firmes, tremeram violentamente. Recuei um pa
Empregada Antes do dia clarear eu já estava na casa da alcatéia. Precisava ajudar a preparar o café da manhã de todos, e hoje eu sabia que as coisas seriam ainda mais difíceis, por causa dos convidados. A cozinheira gritava com todos, a cozinha estava quente e cheia de fumaça. Alguém tinha queimado alguma coisa. Encarregada de preparar o bacon e os ovos, eu me concentrei no que fazia ignorando todos, como eles faziam comigo. - Ei, você, escrava. – gritou a cozinheira. – Largue isso. O Alfa te convocou ao salão de jogos. Um arrepio sinistro percorreu minha espinha. Da última vez que estive naquele lugar, Alexander quase não me deixou sair viva. Ele me amarrou nua de cabeça para baixo, e rebateu bolas de beisebol contra o meu corpo, como se isso não bastasse, o alfa chamou Marcel e ordenou que ele me desse uma surra por não ser uma boa diversão. Caminhei na direção da sala de jogos tremendo, eu ainda estava muito machucada do dia anterior. Talvez esse fosse meu fim. Bati e es
Não sei por quanto tempo fiquei amarrada naquela mesa, coberta de esperma, sangue e suor. Marcel mantinha seu olhar sobre mim, pronto para recomeçar aquela tortura.Percebi há muito tempo que ele tinha prazer somente no meu sofrimento, isso o excitava demais. - Eu vou te partir ao meio, minha coisinha safada. – meu companheiro me disse enquanto soltava as cordas que prendiam meus tornozelos. Fui puxada para a beirada da mesa de bilhar. Mas de repente alguém bateu na porta, interrompendo a todos. O alfa vestiu suas calças e caminhou até lá. Marcel se vestiu rapidamente, ligando seu link mental com os guardas. - Estamos sob ataque meu alfa! Alguma coisa está dizimando a alcateia! – um dos guardas gritou. O silêncio pairou sobre a sala, podia sentir que eles estavam se preparando para contra atacar. Afinal de contas, eram todos alfas, os mais poderosos dos territórios vizinhos. Um calafrio percorreu meu corpo febril, senti como se algo gelado tomasse conta da sala. Meu corpo enrij
Minha consciência ia e vinha, se perdendo no que aconteceu e temendo encontrar o monstro de olhos vermelhos. Revivi memórias dos dias anteriores em que eu caminhava em direção ao escritório da alcatéia segurando uma bandeja de bebidas com toda a minha força.Sentia que poderia desabar a qualquer momento, mesmo assim tentava fazer o meu trabalho para que nada desse errado. Por que se isso acontecesse seria o meu fim. - Sirva e saia, sua coisa imunda. – a voz autoritária do alfa Alexander ressoou pela sala. Deixei cada copo de bebida na frente de cada convidado, alguns deles não disfarçavam sua devassidão e me tocavam, enfiando a mão por baixo do meu vestido gasto. O conselho das matilhas começou, e eu saí o mais rápido que pude daquela sala. Quanto mais tempo ficava perto deles, mais chances teria de ser um alvo. Fechei a porta atrás de mim, com um suspiro silencioso. - O que está fazendo aí parada, seu pedaço de merda inútil?! – abaixei a cabeça imediata
Uma figura alta, imponente, e intimidadora me olhava com desinteresse. Ele tem cabelos dourados como sol, que descem até seus braços fortes; as íris cintilantes como o ouro, e a pele branca como a mais fina porcelana, sem nenhum detalhe que estrague sua perfeição. Os traços de seu rosto são milimetricamente proporcionais, a boca parece macia como um pêssego maduro, o lábio superior ligeiramente inclinado para cima, numa representação de sua superioridade. Ele vestia preto dos pés à cabeça. As abotoaduras do punho da camisa reluziam contra a luz, revelando a joia de que era feita. O terno era sob medida, o colete de veludo negro tinha botões de dourados trabalhados. Não havia capa e nem coroa, mas instintivamente eu sabia que esse homem era de algum tipo de realeza. Os olhos dele faiscaram, quando eu me movia inquieta. Por alguma razão eu senti o cheiro estranho que provinha dele me nocautear, como se estivesse embriagada. - Não tem um nome? – ele perguntou, me analisando abertame
Ravena Gemi nos meus sonhos tenebrosos. O abismo em que eu estava era um dos meus piores pesadelos. - Onde pensa que vai, minha coisinha sem vergonha? – congelei segurando as coisas que ia usar. Balde e esfregões. O som daquela voz me revirava o estômago. Marcel se aproximou, com aquele sorriso detestável no rosto. Eu fechei os olhos pedindo a deusa que me livrasse das mãos dele só dessa vez. Mas acho que até ela me considerava um ser indigno e maligno, porque as garras de Marcel afundaram em meus braços, e sua boca engoliu a minha. Já era tarde quando finalmente consegui sair da casa da matilha. Minhas mãos e pernas estavam cheias de sangue e sujeira, minha boca estava seca e fedia como uma latrina. Minha cabana ficava às margens da floresta, e era a única coisa que eu tinha para chamar de meu. Entrei sentindo o frio me castigar, esquentar a água no fogo ia demorar demais, eu precisava me lavar logo. Assim que a tina estava cheia de água, entrei dentro sem me importar c
Quando o carro contornou o jardim bem cuidado, foi possível um vislumbre das laterais. Os muros pareciam não ter fim. - O que.. o que é esse lugar? - Este é o meu reino. – ele respondeu com displicência. O mesmo homem que me carregou abriu a porta do carro para nós. O homem de cabelos dourados saltou primeiro e em seguida olhou para mim com uma expressão fria e desinteressada. - Leve ela para o meu anexo. Envie a Callie para ajudar no que for necessário. Em duas horas ela deve se apresentada à corte. O outro homem também tinha traços perfeitos. Seus cabelos negros como as penas de um corvo eram fartos até os ombros. Ele vestia roupas caras mas sem nenhuma joia, seus olhos eram negros e brilhantes. - Alteza... - Sei o que vai dizer. Esqueça isso, ela não tem cheiro e pode passar facilmente por uma humana. Diga a eles que trouxemos uma nova consorte, como todos queriam. - Como ela poderia ser sua nova consorte, alteza? Ela não é da nossa espécie, a própria deusa condenar