Ravena
Gemi nos meus sonhos tenebrosos. O abismo em que eu estava era um dos meus piores pesadelos. - Onde pensa que vai, minha coisinha sem vergonha? – congelei segurando as coisas que ia usar. Balde e esfregões. O som daquela voz me revirava o estômago. Marcel se aproximou, com aquele sorriso detestável no rosto. Eu fechei os olhos pedindo a deusa que me livrasse das mãos dele só dessa vez. Mas acho que até ela me considerava um ser indigno e maligno, porque as garras de Marcel afundaram em meus braços, e sua boca engoliu a minha. Já era tarde quando finalmente consegui sair da casa da matilha. Minhas mãos e pernas estavam cheias de sangue e sujeira, minha boca estava seca e fedia como uma latrina. Minha cabana ficava às margens da floresta, e era a única coisa que eu tinha para chamar de meu. Entrei sentindo o frio me castigar, esquentar a água no fogo ia demorar demais, eu precisava me lavar logo. Assim que a tina estava cheia de água, entrei dentro sem me importar com o frio. Esfreguei meu corpo com o sabão de lavar roupas que eu trazia da lavanderia, até arder minha pele arder. Minhas partes íntimas doíam mais que o resto de mim. Nunca ia me acostumar com aquilo, eu me sentia ainda mais nojenta todas as vezes que Marcel me usava daquela forma. Esse era o preço que tinha que pagar por ser gananciosa demais. Como Marcel gostava de me relembrar, eu tinha que fazer o que ele quisesse e quando quisesse, porque ele era meu companheiro, e não teve escolha ao ser acasalado com uma amaldiçoada que matou os próprios pais, e nem sequer podia se transformar. Quando eu era só uma menina, ouvia a conversa das outras empregadas falando do vínculo de companheiros. Elas falavam de um jeito que me fez desejar crescer desesperadamente só para ter o meu, e finalmente ser salva da vida que eu levava. Sai da tina, me enrolando no lençol velho que usava como toalha. Ele estava cheio de manchas do meu sangue. Outra mancha vermelha surgiu, uma das feridas nas minhas costas estava aberta de novo. Alguma coisa me puxava para fora daquele sonho, que nada mais era do que dolorosas lembranças. Abrir os olhos parecia um esforço além de minhas capacidades. Não sei por quanto tempo eu dormi, mas quando finalmente consegui focar minha visão, estava de volta dentro de um carro. Senti a presença dele antes mesmo de ver sua figura imponente e nobre. - Olhe pela janela, conheça sua nova casa. – a voz dele se propagou dentro do carro como um eco pressionando todo o meu corpo. Obedeci suas instruções, e me deparei com uma floresta escura que me atraia como um imã. - Essa é a floresta de Northshore. Você está em meus domínios agora, lobinha. Tive a impressão de que isso era um aviso, mas eu estava fascinada demais pelos tons de verde escuro, as sombras das árvores se projetando na relva verde. A paisagem que se descortinava era impressionante, eu que nunca sai do território da minha alcatéia, estava maravilhada com o que via. O carro fez uma curva sinuosa e a vegetação se tornou mais abundante. Por um instante, me pareceu que havia pessoas entre as árvores, belas, rápidas e letais. Mas logo descartei essa impressão, eu estava vendo coisas. Chegamos a uma subida íngreme que levava a um tipo de túnel, com uma ponte de pedra bastante antiga, depois da escuridão havia uma planície enorme. Um castelo rochoso de aspecto medieval cortava a paisagem. A construção gigantesca tinha um ar sombrio e ao mesmo tempo vibrante, torres e janelas recortadas para cima contra o céu escuro do crepúsculo. Sacadas e passarelas dividiam suas extremidades. Eu nunca vi uma construção tão grande e impressionante em toda a minha vida. Aquilo parecia uma cidade.Quando o carro contornou o jardim bem cuidado, foi possível um vislumbre das laterais. Os muros pareciam não ter fim. - O que.. o que é esse lugar? - Este é o meu reino. – ele respondeu com displicência. O mesmo homem que me carregou abriu a porta do carro para nós. O homem de cabelos dourados saltou primeiro e em seguida olhou para mim com uma expressão fria e desinteressada. - Leve ela para o meu anexo. Envie a Callie para ajudar no que for necessário. Em duas horas ela deve se apresentada à corte. O outro homem também tinha traços perfeitos. Seus cabelos negros como as penas de um corvo eram fartos até os ombros. Ele vestia roupas caras mas sem nenhuma joia, seus olhos eram negros e brilhantes. - Alteza... - Sei o que vai dizer. Esqueça isso, ela não tem cheiro e pode passar facilmente por uma humana. Diga a eles que trouxemos uma nova consorte, como todos queriam. - Como ela poderia ser sua nova consorte, alteza? Ela não é da nossa espécie, a própria deusa condenar
- N.. não? - Não, você está aqui para um propósito muito pior do que ser uma simples empregada. – a mulher veio de encontro a eles, ela era alta, loira, olhos verdes claros e uma expressão de desagrado nítida em seu rosto bonito. – Você é a nova consorte do rei vampiro. Sabe o que isso significa, Ravena Cairos? O meu novo nome foi pronunciado com todo o desdém que uma pessoa poderia usar. Bem, eu nunca fui querida por ninguém, esse tipo de tratamento não era novidade. - Não... eu não.. - Quer dizer que antes de um mês você vai estar implorando para que acabem com sua vida miserável mas não vai encontrar nenhuma misericórdia. E então, quando achar que pedir por sua morte não é o bastante... - Pare Callie! – Nathaniel interviu, segurando o cotovelo da mulher loira. – Não deve dizer essas coisas, vai irritar seu irmão. - Tanto faz. – ela jogou os cabelos perfeitamente alinhados para trás. – Vamos, você fede como um rato de esgoto. Se virou, caminhando para uma outra porta, do lad
Eu não sabia o que era uma consorte, mas de alguma forma devia ser melhor do que ser uma empregada da Lua Negra. Lá eu não tinha salário, tudo o que eu recebia era um pouco de comida e um galão de óleo para usar na minha cabana como combustível para duas lamparinas. Comecei a ser espancada desde pequena, então já sabia o que esperar quando alguém se irritava comigo. Acho que a gente se acostuma, como uma ferida que está sempre ali. A única coisa que nunca consegui me acostumar foi a sensação nauseante de ódio por mim mesma toda vez que Marcel me tocava. Esfregando meu corpo naquela banheira tão sofisticada, lavando minha pele com sabonete de verdade, pensei em quanto queria ver a cabeça dele decepada junto aos outros alfas. Aquele homem nojento me contou que era meu companheiro quando completei dezessete anos. Eu fiquei feliz, não sentia nada do que as pessoas diziam que era natural sentir com o vínculo, mas eu realmente acreditei que tinha encontrado o amor da minha vida. El
Um grande espelho na parede de pedra do quarto de vestir mostrava uma imagem que não condizia com o que eu sabia sobre mim. A mulher loira me fez vestir um vestido vermelho de um tecido tão bonito e macio que eu tive medo de estragar com o toque dos meus dedos ásperos.Havia renda adornando as mangas e o decote, ele lembrava o estilo medieval. Sapatos de salto de veludo vermelhos, meias de seda preta. E roupas de mulher. Sim, calcinha e sutiã de um material que eu nunca tinha visto e tocado. Nunca tive essas coisas, minhas calcinhas eram feitas por mim mesma, e geralmente eram de algodão ou malha de algum tecido descartado.Não sabia por que estavam me vestindo como uma boneca enfeitada, mas pensei que se ficasse calada, não apanharia. Nunca fiquei tanto tempo sem levar um tap@, um chute ou um soco.- Está na hora, vamos. – Callie, a loira me chamou de minha admiração boba. Um relógio antigo no canto da parede marcava quase meia noite. O que fariam comigo a essa hora? Era algum
Cyrus ValackO pescoço alvo e macio se inclinou para mim, expondo suas artérias pulsantes, afastei os cabelos finos e claros daquela criança que me oferecia de bom grado seu sangue doce.A carne macia cedeu a minha boca, e o gosto intenso daquele rico néctar desceu pela minha garganta. A menina sorriu feliz apesar da dor que sentia, elas sempre sorriam. {Cyrus?} Nathaniel me chamava pela comunicação mental que unia todos os meus súditos. Não respondi, e bloqueei sua busca por minha presença. Meu primeiro ministro me procurava por um único motivo; para que eu cumprisse o propósito da celebração na corte mais cedo.A esta altura ele já sabia que a nova consorte estava abandonada no meu quarto, e eu havia saído assim que a deixei inconsciente na minha cama. A criança lupina sucumbiu à pressão da minha presença antes mesmo de sair da corte. Carregá-la até o quarto foi o mesmo que levar uma pena entre os dedos. Seu corpo esquálido e maltratado não era a única coisa que foi massacrada.
RavenaOs sonhos estranhos e desconexos com o rei dos vampiros me faziam sentir uma infinidade de emoções desconhecidas. Até mesmo meu corpo reagia de forma diferente àqueles estímulos da minha mente.Acordei suada, sentindo meus músculos se esticarem ao extremo, meus ossos estalavam como se estivessem se movendo fora do padrão correto. Me sentei no colchão macio assustada. O que estava acontecendo comigo? Olhei em volta e meus olhos quase saltaram das órbitas. Não estava mais naquele primeiro quarto que eu achei bonito demais, digno de uma rainha. Eu estava em um lugar ainda mais luxuoso, com paredes revestidas com tecidos nobres, castiçais de ouro com velas perfumadas emanando um suave perfume.Cortinas altas de veludo vermelho escuro adornavam as três janelas da abóbada gigantesca. Uma mesa grande de madeira antiga com cadeiras elegantes entalhadas com detalhes dourados, estava forrada de frutas, pão, vinho, queijo e água. O quarto era tão grande que eu conseguia ver seu
CyrusNão era um momento divertido, mas não poderia evitar o sorriso que surgiu em meus lábios. Me coloquei atrás dela em menos de um segundo, observando seus movimentos frágeis e vacilantes enquanto abaixava as mangas do vestido. Sem que ela percebesse, desatei o nó de seu corpete e esperei que o amontoado de tecido deslizasse por seu corpo magro.Sua pele era uma mapa dividido em uma infinidade de cicatrizes, marcas mais recentes e feridas não saradas. Os ossos de suas costelas se projetavam para fora, cotovelos, escapula e coluna espinhal; todos eles evidentes como os galhos secos de uma árvore.Essa loba vivia como uma escrava e não como uma empregada. Olhei para suas pernas que tremiam violentamente, fazendo a lingerie farfalhar em sua pele. O cheiro de seu medo era intenso e vibrante. Os lobos eram uma raça forte com um grande poder curativo. Mas Ravena, além de não ter cheiro, não se curava. Ela estava oscilando entre a vida e a morte há muito tempo.Em séculos de existênci
O gosto dela era muito intenso e doce. Seus lábios aveludados não ofereceram resistência aos meus, mas tão pouco se moveram em retribuição. Me aprofundei em sua boca, sentindo a textura de sua língua pequena, quente e vacilante; explorando ainda mais sua doçura surpreendente.Desejei que ela enlaçasse o meu pescoço, que nossas bocas se fundissem com a mesma vontade febril que me acometia. Toquei seu corpo, buscando algum sinal de desejo, qualquer reação que poderia me libertar completamente.Mas não houve nenhuma. Ravena permanecia parada, estática, me permitindo fazer o que quisesse com ela, como se fosse uma boneca sem vida. Senti o desequilíbrio de minha energia, meus poderes estavam em conflito pela fome desenfreada. O controle nunca foi difícil para mim, sempre fui excepcional nesse aspecto; mas agora eu só queria me enterrar nessa loba esquálida e usar seu corpo até que seu cheiro não se desgrudasse mais de minha pele. Se não parasse agora, iria consumir Ravena completamente.