Capítulo 5 Northshore

Ravena

Gemi nos meus sonhos tenebrosos. O abismo em que eu estava era um dos meus piores pesadelos.

- Onde pensa que vai, minha coisinha sem vergonha? – congelei segurando as coisas que ia usar. Balde e esfregões.

O som daquela voz me revirava o estômago. Marcel se aproximou, com aquele sorriso detestável no rosto. Eu fechei os olhos pedindo a deusa que me livrasse das mãos dele só dessa vez.

Mas acho que até ela me considerava um ser indigno e maligno, porque as garras de Marcel afundaram em meus braços, e sua boca engoliu a minha.

Já era tarde quando finalmente consegui sair da casa da matilha. Minhas mãos e pernas estavam cheias de sangue e sujeira, minha boca estava seca e fedia como uma latrina.

Minha cabana ficava às margens da floresta, e era a única coisa que eu tinha para chamar de meu. Entrei sentindo o frio me castigar, esquentar a água no fogo ia demorar demais, eu precisava me lavar logo.

Assim que a tina estava cheia de água, entrei dentro sem me importar com o frio. Esfreguei meu corpo com o sabão de lavar roupas que eu trazia da lavanderia, até arder minha pele arder.

Minhas partes íntimas doíam mais que o resto de mim. Nunca ia me acostumar com aquilo, eu me sentia ainda mais nojenta todas as vezes que Marcel me usava daquela forma.

Esse era o preço que tinha que pagar por ser gananciosa demais.

Como Marcel gostava de me relembrar, eu tinha que fazer o que ele quisesse e quando quisesse, porque ele era meu companheiro, e não teve escolha ao ser acasalado com uma amaldiçoada que matou os próprios pais, e nem sequer podia se transformar.

Quando eu era só uma menina, ouvia a conversa das outras empregadas falando do vínculo de companheiros. Elas falavam de um jeito que me fez desejar crescer desesperadamente só para ter o meu, e finalmente ser salva da vida que eu levava.

Sai da tina, me enrolando no lençol velho que usava como toalha. Ele estava cheio de manchas do meu sangue. Outra mancha vermelha surgiu, uma das feridas nas minhas costas estava aberta de novo.

Alguma coisa me puxava para fora daquele sonho, que nada mais era do que dolorosas lembranças.

Abrir os olhos parecia um esforço além de minhas capacidades. Não sei por quanto tempo eu dormi, mas quando finalmente consegui focar minha visão, estava de volta dentro de um carro.

Senti a presença dele antes mesmo de ver sua figura imponente e nobre.

- Olhe pela janela, conheça sua nova casa. – a voz dele se propagou dentro do carro como um eco pressionando todo o meu corpo.

Obedeci suas instruções, e me deparei com uma floresta escura que me atraia como um imã.

- Essa é a floresta de Northshore. Você está em meus domínios agora, lobinha.

Tive a impressão de que isso era um aviso, mas eu estava fascinada demais pelos tons de verde escuro, as sombras das árvores se projetando na relva verde. A paisagem que se descortinava era impressionante, eu que nunca sai do território da minha alcatéia, estava maravilhada com o que via.

O carro fez uma curva sinuosa e a vegetação se tornou mais abundante. Por um instante, me pareceu que havia pessoas entre as árvores, belas, rápidas e letais. Mas logo descartei essa impressão, eu estava vendo coisas.

Chegamos a uma subida íngreme que levava a um tipo de túnel, com uma ponte de pedra bastante antiga, depois da escuridão havia uma planície enorme. Um castelo rochoso de aspecto medieval cortava a paisagem.

A construção gigantesca tinha um ar sombrio e ao mesmo tempo vibrante, torres e janelas recortadas para cima contra o céu escuro do crepúsculo. Sacadas e passarelas dividiam suas extremidades.

Eu nunca vi uma construção tão grande e impressionante em toda a minha vida. Aquilo parecia uma cidade.

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