Dez

Elizabeth disse que sabia o porquê de Louis ter dito que o banheiro de baixo estava ruim e me ofereceu o dele. Depois disso, ela fica o repreendendo. Diz que ele precisa se portar bem perto de mim. E agora isso. Ter me pedido para ficar, e não ir levar as meninas com Louis.

Era como se ela estivesse tentando me manter longe dele.

Balanço a cabeça e volto a lavar a louça. Depois que acabo tudo, seco minhas mãos e vou para a sala. Olho em volta e decido varrer o chão.

Estava quase acabando, quando escuto um celular tocar. Olho em volta e avisto o celular na mesinha perto da porta.

— ELIZABETH, LOUIS ESQUECEU O CELULAR AQUI E ESTÁ TOCANDO. — grito, segurando o aparelho.

— ATENDE PARA MIM EM! PODE SER UM DOS MENINOS.

Poderia ser. Mas não era. O nome que piscava na tela, era bem feminino.

Valeria.

— Alô? — atendo.

— Kia?

 Não... É a Emily.

— Emily? — ela faz uma pausa. — Louis está?

— Ele...

Antes que eu pudesse terminar de falar, ele entra. Estico o celular para ele.

— É a sua amiga, Valeria.

Ele meio que arregala os olhos, antes de agarrar no celular.

— Val?

Ele sai da sala e vai para a cozinha.

Volto a varrer a sala. Assim que termino, vou para a cozinha guardar a vassoura. Mas paro, assim que ouço Louis tocar no meu nome.

— Emily é a babá.

.....

— Porque é o que somos, Valeria.

.....

— Não sei. Talvez. Ela é tão...

— EMILY!?

Me afasto bruscamente da porta e olho para escada. Elizabeth estava me chamando. Subo as escadas correndo, preocupada com o que poderia ter acontecido. Entro em seu quarto sem pedir licença. Ela me olha bem na hora.

— Elizabeth, tudo bem?

— Sim. Eu...

— Ah... — passo a mão no rosto — Achei que...

Antes que eu pudesse acabar minha frase, Louis entra no quarto correndo e quase me derruba.

— TUDO BEM? — grita.

— Sim! — Elizabeth afirma, rindo. — Acho que não deveria ter gritado.

— Também acho. — falo junto com Louis.

Ela ri.

— Vou viajar. E queria que você me ajudasse com as malas.

— Viajar? — Louis pergunta. — Como assim?

— Uma lua de mel adiantada. Quando os gêmeos nascerem vai ficar difícil. Fico fora por um mês.

— Mas mãe, vou ficar aqui por um mês.

— Oh Louis. — ela passa a mão na barriga. — Eu posso voltar uma semana antes...

— Tudo bem. — ele diz. — Vá e aproveite.

Ela sorri e abraça o filho.

— Você será o responsável. — ela diz. — Mesmo que isso seja uma coisa que você não é.

— Mãe! — prendo o riso. — Para de rir, Emily! Sou muito responsável.

— Eu não fiz nada!

— Emily, — ela pega minhas mãos. — de olho nele. Se deixar Louis vestir as meninas, elas vão para a escola com roupa de festa.

Solto uma risada.

— Pode deixar.

— Eu não faço isso! — ele se defende. — Ayla disse que ia ter uma festa.

— Era apenas um festival de pipoca. — Elizabeth diz rindo. — E as gêmeas foram para a escola com vestidos de veludo.

— Oh Deus. — boto a mão na boca.

— Já chega de ridicularizar o Louis.

Elizabeth ri.

— Tudo bem, filho. Chega. — diz. — Agora desce. Emily vai me ajudar a arrumar as coisas.

Ele dá língua para a mãe e sai do quarto.

— Aqui embaixo tem uma mala grande. — ela aponta para a cama.

Eu me agacho e puxo a enorme mala. Largo-a na cama e a abro.

— Vou pegando as roupas no closet e você arruma para mim?

— Claro.

Elizabeth vai até o closet e alguns segundos depois, volta com algumas roupas em mãos. Ela me entrega e eu as coloco na mala.

[...]

— Pronto. — digo fechando a mala. — Tudo arrumado.

— Obrigada Emily.

— Não foi nada. — sorrio para ela. — É só isso?

— Sim. Pode descer e chamar Louis para mim?

— Tudo bem.

Sorrio sem mostrar dentes e saio do quarto.

Desço as escadas rapidamente e encontro Louis no bebendo algo no sofá. Me aproximo do sofá e ele me olha.

— Sua mamãe está chamando.

Ele sorri e tomba a cabeça.

— Mamãe está chamando?

— Sim. — afirmo. — Ela quer ver o bebê dela.

Ele deixa o copo na mesa e se levanta.

— Eu não sou um bebê.

— Ah, mas para Elizabeth é! Aqui você é apenas o filho dela. Aqui você tem que obedecê-la. — ele faz bico. — Inclusive quando ela manda você ficar longe de mim.

— O quê?

— Sei lá, mas tenho a impressão que Elizabeth não quer que nós... fiquemos muito próximos.

— É. — ele ergue as sobrancelhas. — Eu sei.

Ele passa por mim e vai para as escadas.

— Vai ver — falo e ele para — ela tem medo que você me seduza.

Ele está de cabeça baixa, mas me olha com um sorriso brincalhão no rosto.

— Será que um dia eu consigo?

Solto uma risada.

— Continue tentando. — pisco pra ele.       

[...]

Elizabeth havia pedido para que eu saísse sozinha para buscar as meninas e que as levasse direto para casa.

— Mas não tem sorvete hoje? — Ayla pergunta novamente.

— Não querida. Sua mãe pediu para irem direto pra casa.

— Por quê?

— Ela quer conversar com vocês.

— Foi a Lis! — Ayla acusa, mesmo sem nada para acusar. — Ela que brincou com a pasta de dente.

— Ayla! Sua linguaruda.

— Calma meninas. — balanço meus dois braços. — Creio que a mãe de vocês não saiba disso.

— Ufa.

Voltamos para casa com elas tagarelando algo sobre a festa do pijama de alguma amiguinha. Seria no final de semana.

Entramos em casa e eu seguro as mochilas delas, para que possam bater os sapatos sujos de neve no tapete.

Elizabeth desce com Louis. Ele me encara sorrindo e eu olho para o outro lado. Para o vaso de margaridas.

— Olá meus amores! — Elizabeth diz. — Como foi a aula?

— Chata. Mas temos uma boa notícia.

— E qual é?

— Lilly nos convidou para uma festa do pijama na casa dela. — Lis diz. — Vamos na sexta e voltamos domingo.

— Nós podemos ir? — Ayla pede.

— Tenho que ligar para a mãe de Lilly e ver se isso é verdade. — Elizabeth diz. — Se for, vocês podem.

— Obrigada, mamãe.

Elas pulam no pescoço da mãe, a abraçando forte.

Sinto um pequeno aperto no meu coração, ao assistir aquela cena. Era algo que eu nunca havia passado ou sentido.

O abraço da minha mãe.

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