Dezessete

— Ah... besteira. — diz. Ele passa a mão pelo cabelo. — Hmmm... mamãe acha que não devo me envolver com ninguém perto de viajar.

— Ah... mas foram apenas dois beijos né?

Diz que não. Diz que significou muito mais.

— Claro que não. — ele olha para as nossas mãos. Nossos dedos estavam entrelaçados. — Quando eu me envolvo com alguém, é porque eu quero mais. Muito mais. Mas nós sabemos que não dá pra ir tão rápido. — assinto. — Afinal vou pra uma turnê de oito meses, e... temos que ver se você me atura.

Gargalho.

— Realmente temos que ver isso.

Ele morde o lábio e solta minha mão. Em seguida passa o braço na minha cintura, me puxando para mais perto.

— Podemos nos conhecer melhor. — sussurra, se aproximando mais.

— Concordo. — viro o rosto e ele beija minha bochecha. Posso sentir seu sorriso se formando. — Fale mais sobre você.

— Oras, você não descobriu meu romance com Adam? Como não sabe mais sobre mim?

Faço careta.

— Quando comecei a ler aquilo não parei. É viciante sua vida homossexual.

— Emily eu não sou...

— Eu sei. Bem, acho né.

— É sério! — ele j**a a cabeça pra trás. — Aquelas meninas são doidas. Elas veem coisas onde não tem!

— Eu sei, Louis. Só fiquei mexida com aquela história. Aquelas fotos.

Ele faz careta.

— Vamos falar de você. — minha vez de fazer careta. — Prometo não falar dos seus pais.

Respiro fundo.

— Pode perguntar.

— Mesmo? — assinto. — O que aconteceu?

Dou mais uma respirada funda.

— Não conheci minha mãe. Ela morreu quando deu à luz à mim. — começo. — Fui criada pelo meu pai a minha vida toda. Éramos melhores amigos. Eu contava qualquer coisa a ele, até sobre meninos. Ele sempre me aconselhou. Nunca me julgou. Quando eu... terminei com meu ex-namorado, papai me comprou chocolate e nós assistimos aqueles programas de descobrir o preço das coisas. — um pequeno sorriso aparece no meu rosto. — Mas ele ficou muito doente. Não sei o que aconteceu, que ele adoeceu do nada e teve que ser internado. Passou três meses em uma cama de hospital. Faz cinco, que ele morreu. — uma lágrima teimosa escorre pelo meu rosto, mas Louis faz questão de secá-la. — Fui viver com minha tia. Irmã dele. Mas ela me esgotou. Ela é obesa, então não faz nada. Só sabe ficar na frente da tv e engordando mais. Um belo dia conheci sua mãe, a ajudei a controlar as gêmeas e ela me convidou pra trabalhar aqui. Contratei uma enfermeira pra minha tia e deixei aquela vida para trás.

— Você é muito forte. — seu sorriso cresce.

— Obrigada.

— Posso fazer outra pergunta?

— Sim.

— Por que seu namoro acabou?

— Não falo disso! — digo ríspida e me levanto.

— Ei Emily!

— Desculpe ser grossa, mas sobre o David eu não falo.

— Tudo bem! — ele agarra meu rosto. — Não vou forçá-la a falar o que não quer.

Suspiro.

— Obrigada.

Ele me abraça.

— O dia que se sentir à vontade para falar, estarei pronto para ouvir.

— Eu sei.

Ele beija minha testa e se afasta.

— Vou tomar banho. — diz. — Não demoro.

— Tudo bem.

Ele sorri e dá a volta no sofá. Quando Louis sobe as escadas, eu desabo no sofá e suspiro.

O que foi isso Emily? Está apaixonada?

— Não. — sussurro para a minha consciência.

Mas vai ficar. Questão de tempo. Muito pouco tempo.

Levanto do sofá e pego o pacote de pipoca que ainda estava no chão e a lata da mesa. Levo para a cozinha e jogo no lixo. Volto para a sala e torno a ver tv, esperando ansiosamente por Louis.

[...]

— Vamos juntos! — Louis diz. — Ayla adora você. Ela não para de falar isso.

— Okay! Vou pegar uma jaqueta.

Corro para o quartinho e procuro minha jaqueta preta. Quando a acho, visto-a rapidamente e volto para a sala. Louis já vestia a sua.

Nós saímos da casa e andamos lado a lado. A neve que caia, era bem pouca.

— Por que acha que Ayla gosta de mim?

— Porque ela fala. — diz. — No caminho da escola, eu perguntei o porquê daquele abraço dela. Aí ela disse que gostava muito de você e não queria que você fosse embora.

— Ela é um amor. — digo e ele sorri. — Como o irmão.

— E a babá.

Ele pisca.

— Não pisca pra mim.

— Por que não?

— Me provoca coisas.

— Coisas? — ele ergue a sobrancelha.

— É. Coisas.

— Que tipo de coisas?

— Ora Louis! — bato uma mão na outra. — Coisas.

Ele ri.

Nós atravessamos a rua e ele fala com dois homens que estavam na porta de uma padaria. Em poucos minutos paramos na frente da escola das meninas. Faltava cinco minutos para a saída delas. Louis se encosta na parede e cruza os braços. Ele me olhava.

— O que foi?

— Nada. — ele ergue uma sobrancelha e sorri. — Gosto de olhar pra você.

— Há. Posso pedir uma coisa?

— Sim.

— Canta alguma música? Da sua banda.

— Aqui? — assinto. — Okay.

Ele olha para o céu, provavelmente pensando em qual ele iria escolher. Depois ele limpa a garganta e começa.

Eu havia entrado em um transe profundo, a partir do momento que as primeiras palavras saíram da boca de Louis. Ele tinha uma voz doce, suave... envolvente. Em todo momento ele olhou pra mim. As vezes fechava os olhos, para atingir as notas mais altas, fora isso, seus olhos não largavam os meus.

— Oh meu Deus! — finalmente algo sai da minha boca. — Que perfeição.

Olho em volta e vejo todas as pessoas que esperavam a saída das crianças, baterem palmas para Louis.

— Não fiz o meu melhor. — diz.

— Se isso não foi o seu melhor, fico ansiosa para ouvir quando for.

Ele sorri.

O portão é aberto e as crianças começam a sair. Logo vejo duas cabeças loiras idênticas correrem na nossa direção.

— FOME! — gritam. — Lou, vamos almoçar fora?

— Não da. As meninas estão na rua. Compramos algo e levamos pra casa.

Elas dão de ombros e Ayla pega minha mão. Lis pega a de Louis e ele cruza nossos braços.

[...]

— NÃO SEI ONDE ESTÁ! — Ayla grita e olha embaixo da cama.

— Calma meu amor. Vamos olhar de novo na sapateira.

Já estava na hora delas irem para a casa da amiguinha e Ayla queria uma bota preta, que não sabia onde estava.

— SEM ELA EU NÃO VOU!

— Nós vamos achar Ayla. Se acalme.

— O que houve?

Olho para Louis, que havia acabado de entrar no quarto.

— Ela está procurando uma bota. — digo. — Mas não sabe onde está.

— AH. — ela grita. — Lembrei.

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