Início / Romance / Um presente de Las Vegas / Capítulo 03 - Uma ligação pode mudar sua vida
Capítulo 03 - Uma ligação pode mudar sua vida

Theon

Eu saí do restaurante de minha irmã observando o sol que se punha atrás dos picos que em breve estariam cobertos de neve que cercavam Aspen. Minha família e eu nos estabelecemos na cidade há doze anos quando viemos da Grécia a convite da tia de meu pai Nia Evangelous, que era dona de um Resort e estação de Esqui nos arredores de Aspen. Desde então, meus pais vinham abrindo uma rede de comércios ali.

Eu gerenciava as lojas de esporte na neve, enquanto Callie gerenciava o restaurante com minha mãe. Lara voltara de Portland há alguns meses quando se formou na universidade, e para nossa surpresa, ela estava com uma filha em seus braços. 

Aquilo fora um grande choque para todos, principalmente por não sabermos nada a respeito do pai da criança. De qualquer maneira, nós fizemos o possível para apoiá-la na criação daquela criança, nunca a deixaríamos sozinha. Eu nem imagino o que faria se estivesse na mesma situação que ela. 

E Evangeline, que estava prestes a se formar, retornava regularmente para nos visitar, e quase sempre, trazia alguns amigos para aproveitar tudo o que Aspen tinha para oferecer aos turistas.

Apertei um pouco ao meu redor o sobretudo que usava. Estávamos na segunda semana de setembro e a temperatura começava a cair, principalmente no fim da tarde, quando o vento baixava ainda mais a sensação térmica. Eu adorava a vida que eu levava ali, e há algumas semanas melhorara ainda mais.

— Querido, me espera — Harper me chamou, saindo do restaurante em seguida, segurando meu braço, me fazendo sorrir.

— Você estava tão animada conversando com minha irmã que pensei que você preferiria ficar — expliquei, passando o braço ao seu redor.

Harper e eu tínhamos começado um relacionamento após o casamento de meu primo Gregor na metade de agosto. Nós dois éramos velhos amigos e eu sempre soube dos sentimentos dela por mim, mas me sentia um pouco relutante em começar algo que poderia estragar a amizade que cultivamos todos esses anos. Contudo, eu estava errado, estávamos juntos há quase um mês e eu não poderia estar mais feliz.

É de se esperar que o começo seja assim, pelo menos.

— Eu estava combinando algo com ela para o fim de semana. Estamos pensando em descer pra Denver para fazer algumas compras — ela sorriu, se aconchegando a mim.

— Vão amanhã ou no domingo? — questionei, a guiando pela rua, indo na direção da minha casa.

— Amanhã, e vamos sair bem cedo — ela se desvencilhou de mim ao chegar na esquina que levaria ao seu apartamento — então dormirei em minha cama hoje, meu bem.

Eu franzi o cenho com aquela resposta, eu tinha alguns planos para a noite e minha irmã estragou tudo, mas eu já tinha sido avisado para não me intrometer na amizade das duas, então decidi não protestar. 

Harper foi a primeira amiga da minha irmã mais velha quando chegamos à cidade. As duas tinham a mesma idade e logo se identificaram. O fato de minha irmã namorar o primo de Harper, Adam Goodwill, as aproximou ainda mais. 

Quando contei para Callie sobre Harper e eu, a primeira coisa que ela fez, foi me avisar que se eu magoasse a amiga dela, ela cuidaria pessoalmente de me deixar estéril. Não que ela precisasse se preocupar com isso, eu nunca pensaria em desrespeitar ou enganar minha namorada tendo crescido em meio a tantas mulheres. De fato, eu não era dado a loucuras nessa área, sendo minha aventura em Vegas com Samantha minha maior e única exceção.

— Vamos, eu vou te deixar em casa — eu a puxei de volta para meus braços acenando para a velha Senhora Peterson que estava saindo da mercearia.

Nós caminhamos até a portaria de seu apartamento, quando meu celular começou a tocar. Eu me desvencilhei dela, alcançando o aparelho no bolso da calça. Franzi o cenho ao ver a foto de Samantha estampada na tela. Não tivemos nenhum contato desde que voltei para o Colorado, e apesar de ter garantido que entraria em contato caso retornasse à Vegas, eu não entendia o motivo daquela chamada.

— Quem é? — Harper perguntou despreocupada, procurando a chave dentro da bolsa.

— Ninguém — eu rejeitei a chamada, antes de colocar o celular no modo silencioso.

De qualquer forma, eu não poderia atender na presença de Harper. Se Samantha voltasse a me ligar, eu explicaria a minha nova situação e pediria que ela não voltasse a telefonar.

— O que foi? O Gasparzinho está te ligando? — ela zombou antes de se esticar e beijar meu rosto.

— Mais ou menos isso — ofereci um sorriso sem graça — mas não é nada importante. 

— Eu te vejo amanhã à noite? — ela aceitou aquela resposta sem questionar, para meu alívio. 

— Claro — meu sorriso se alargou um pouco, apesar de notar que ela não me convidou para entrar.

Nós nos despedimos e eu caminhei sozinho, observando o céu alaranjado pelo pôr do sol. O vento bagunçou meus cabelos enquanto eu observava o céu. 

Peguei meu celular para conferir o horário, mas encontrei três chamadas perdidas de Samantha ali.

Eu notei Adam e Gregor vindo ao meu encontro pela rua quase deserta e decidi terminar de vez com aquilo. Estava prestes a retornar a ligação de Samantha quando meu celular voltou a tocar.

Será que ela está no Colorado? Por qual razão ela me ligaria após tanto tempo?

— Adamos.

— Theon, Oi! — Sua voz soou ansiosa — Sou eu, Samantha. Não sei se você se lembra de mim, nós nos conhecemos...

— Em Las Vegas, sim, é claro que eu me lembro de você, Samantha. Como você está? — eu a interrompi, cumprimentando com um aceno de cabeça os dois rapazes que pararam ao meu lado.

— Eu estou... bem... — ela falou depressa — não... não estou, estou... eu não sei!

Ela soltou uma gargalhada nervosa, aumentando minha confusão.

O que está acontecendo com essa mulher!?

— Você está ou não está bem?

— E você, como você está, Apolo? — ela ignorou minha pergunta.

— Eu estou bem — eu respondi, sem saber como continuar aquela conversa.

Samantha e eu nos demos muito bem durante os dias que ficamos juntos. Ela era bonita, sexy, divertida e muito quente. Tão quente que quase não tivemos tempo para conversar durante aquela semana. A coisa mais pessoal que eu sabia sobre ela era seu sobrenome!

O silêncio prevaleceu do outro lado da linha, fazendo eu me perguntar se ela teria desligado na minha cara.

— Desculpe, eu não deveria ter ligado — ela gemeu, antes de encerrar a chamada sem me dar a chance de me despedir.

— Quem era? — Adam perguntou enquanto eu encarava o aparelho confuso.

Ligação esquisita!

— Samantha.

— A dançarina que te roubou dos amigos? — Adam zombou.

— Ela não me roubou de ninguém — eu murmurei, retomando meu caminho, sendo prontamente acompanhado pelos dois.

— Eu discordo. Era minha despedida de solteiro, você deveria estar conosco o tempo todo, e nós mal te vimos depois da primeira noite — Gregor gracejou — eu só te perdoei porque ela era muito gostosa!

— Você não deveria ligar para ela. Callie te mataria se soubesse — Adam zombou.

— Não fui eu quem ligou, foi ela. E Callie não tem que saber de nada, porque eu não tenho interesse em ninguém além de Harper.

Foi quando meu telefone voltou a tocar.

— Alguém está com saudades — Gregor cantarolou ao meu lado — Você deixou uma boa impressão, primo.

Eu revirei os olhos, o ignorando ao atender a chamada.

— Desculpa eu ter desligado, eu preciso falar com você — Samantha soltou antes mesmo que eu falasse qualquer coisa.

— Você pode falar — comecei, pensando em lhe avisar de uma vez que eu estava em um novo relacionamento, mas acabei reconsiderando. 

Talvez ela só estivesse com algum problema.

— Theon, eu estou evitando essa ligação nos últimos quinze dias e isso tem sido um inferno pra mim — tive a impressão de ouvi-la fungar.

— Você está chorando?

— Me desculpa, eu só não sei como começar e… eu sinto muito — todas minhas dúvidas se foram, ela estava mesmo chorando.

Eu parei de caminhar, me preocupando com ela. Samantha tinha algum problema sério e se pensa que posso ajudá-la de alguma forma, eu devo ouvir seu pedido.

— Samantha, o que aconteceu? — eu tentei transmitir alguma tranquilidade para a garota.

— Você pode vir para Vegas neste fim de semana? — ela implorou.

— Samantha… — eu suspirei.

— Por favor.

— Eu não posso.   

Não importa o problema que ela pensa que tem. Eu não posso me envolver dessa forma.

— Theon, eu realmente preciso te contar algo, e seria melhor se você viesse — ela insistiu.

— Se você quer me contar algo, é melhor falar por aqui mesmo — respirei fundo — Eu não pretendo voltar a Vegas tão cedo.

— Estou grávida — ela soltou de uma vez, me deixando sem fala.

Eu pisquei atordoado enquanto minha mente processava o que ela tinha acabado de dizer, sem conseguir encontrar voz para formular uma resposta coerente.

— O quê? — foi o máximo que saiu enquanto meu ritmo cardíaco acelerava.

— Sei que isso é repentino e você mal me conhece — ela continuou — mas eu te garanto que você foi a única pessoa com quem eu estive nos últimos meses.

— Você está brincando comigo. Essa é a sua ideia de pegadinha? — eu forcei um sorriso.

Era isso, tinha que ser uma brincadeira!

Uma brincadeira de péssimo gosto!

— Não estou — sua voz falhou um pouco — olha eu te mando as fotos dos exames e... Se você tiver qualquer dúvida que é seu, eu não me importo de fazer um exame de DNA, eu só não quero ter que lidar com isso sozinha!

Eu senti uma tontura me acometer enquanto eu ouvia suas palavras, desabei em um banco que tinha na beira da calçada, fazendo com que Adam e Gregor, de quem eu tinha até esquecido a presença, me olhassem preocupados. 

Minha mente vagou para nosso último encontro, naquele clube. Eu nem sequer tinha me lembrado do preservativo naquele momento.

— Eu sei que você deve estar pirando, porque eu estou. E não sei o que fazer — o desespero voltou a tomar conta de sua voz.

— Ok, olha... Fica calma — eu consegui formular — eu vou... eu vou digerir isso e volto a te ligar, tudo bem?

— Você está bem? — ela perguntou apreensiva.

— Eu apenas preciso de um tempo, eu falo com você em breve — eu insisti, torcendo para ela aceitar aquela resposta, enquanto fazia mentalmente as contas de quanto tempo havia passado desde a despedida de solteiro.

— Está bem, só não suma, por favor — sua voz soou desolada.

Sumir? O que ela pensa? Que eu fingiria que isso não aconteceu, e viveria minha vida tranquilamente ignorando um provável filho meu?

Eu jamais faria algo assim!

— Eu não vou sumir, apenas me dê um tempo — eu garanti antes de desligar.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App