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Capítulo 05 - algumas coisas não se resolvem por telefone

Samantha

Ouvi a porta da frente ser aberta antes de Charlie acender a luz, me encontrando encolhida no sofá.

— Sam, você ainda está acordada! — ela exclamou com preocupação.

Eu peguei meu celular, notando que já passava das duas da madrugada. Fiquei deitada aqui esperando Theon retornar a ligação e nem percebi o passar do tempo.

— Eu acho que dormi um pouco — eu me sentei.

— O que aconteceu? Por que você está aqui?

— Eu liguei pra ele — expliquei, sentindo meu rosto esquentar.

— Ohh, compreendo — ela se sentou ao meu lado.

Eu vinha fugindo dessa ligação desde que descobri a gravidez. As garotas tentavam me convencer a ligar para Theon desde minha consulta na última semana, mas eu sempre perdia a coragem no último momento, e hoje, revendo as fotos do ultrassom, decidi tentar.

— Como ele reagiu? — ela segurou minha mão.

— Da maneira esperada, eu acho — dei de ombros, desviando o olhar — Primeiro pensou que eu estava brincando, depois disse que precisa de um tempo e me ligaria mais tarde, e não ligou mais.

— Você acha que isso é um mau sinal? — ela me observou.

— Eu não sei — eu admiti — eu descobri há quinze dias e ainda estou surtando um pouco, não o julgaria por estar dançando pelado na neve ou algo do tipo.

Charlie riu ao meu lado, e não pude evitar acompanhá-la.

— Pelo que você contou sobre ele, seria uma boa visão — Charlie me provocou.

— Não, seria uma visão incrível — eu gargalhei, me sentindo um pouco melhor.

Não foi tão ruim, sua reação foi melhor do que eu esperava. Talvez ele me ligue amanhã. Ou depois.

— Bem, não deve ser fácil receber essa notícia por telefone — Charlie indicou que eu me deitasse em suas pernas.

— Não, não deve — eu suspirei.

Ela começou a mexer em meu cabelo, me oferecendo um pouco de conforto.

— Ele disse que não vai sumir — eu comentei fitando o vazio.

— Isso é bom, pelo menos é responsável.

— Ele é mais velho, acho que isso influencia — eu expliquei.

— Vai ficar tudo bem, Sam — ela declarou — você vai dar conta disso. Eu sei que vai.

— Espero que você esteja certa. Eu só me lembro do som do coração do bebê e do fato de ter alguém que depende de mim agora — eu virei meu rosto para encara-la — eu não o conheço e não posso dizer que me sinto toda maternal nesse momento, mas eu quero que ele fique bem.

Charlie me empurrou gentilmente para que eu me levantasse.

— E ele ficará bem, principalmente depois que a mãe dele dormir um pouco — ela me instruiu — Vamos Samantha, está tarde. Ele não vai ligar hoje.

Eu aceitei sua sugestão, indo para o quarto decidindo descansar. Acordei quase na hora do almoço no dia seguinte, sentindo como se meu estômago estivesse sendo corroído por ácido. Eu precisava comer algo urgente. 

Fui até a cozinha após escovar os dentes, onde Charlie estava preparando nosso café da manhã, tinha alguns ovos e tiras de Bacon espalhados pela bancada.

— Está se sentindo melhor? — minha amiga sorriu ao ver eu me aproximar.

— Vou me sentir melhor assim que comer alguma coisa — eu suspirei, observando tudo o que estava espalhado ali.

Eu adorava todas aquelas coisas, sempre adorei. Mas hoje eu não conseguia sequer olhar para o Bacon.

— Você quer outra coisa? — ela perguntou preocupada enquanto eu sentia meu estômago revirar.

— Não sei, talvez frango frito? — eu zombei assistindo minha amiga guardar o bacon quando o interfone tocou — Você está esperando alguém?

— Não — ela caminhou até o aparelho, enquanto eu apanhava um cookie em um pote na bancada — Quem é?

— Hã... Theon. Samantha está aí? — a voz soou do outro lado fazendo com que eu me engasgasse com o cookie.

— O que ele está fazendo aqui? — eu sussurrei para Charlie que me lançava um olhar confuso.

— Eu não sei! Deixo entrar? — ela sussurrou de volta.

— Eu não estou vestida! — Eu devolvi, apontando para a regata velha e comprida que eu usava como pijama.

— O que eu falo então?

— Com licença senhorita — uma voz desconhecida soou — se você continuar apertando o botão nós ouvimos tudo. Samantha, tenho certeza que meu primo já te viu... Aí...

— Samantha, nós podemos conversar? — Theon pediu um pouco ofegante — Você já almoçou?

— Ela vai descer — Charlie decidiu em meu lugar.

Eu corri para o quarto, tentando me arrumar o mais depressa possível, enquanto Theon me esperava na entrada. Ele viajou mesmo tantos quilômetros para falar comigo?

Eu coloquei uma calça de malha preta e uma blusa de alcinha, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e me apressei para sair, calçando uma sapatilha no caminho. Não demorei para chegar na portaria, onde Theon e um outro rapaz estavam me esperando.

— Oi — Eu alterei o olhar entre os dois, um pouco deslocada.

Eu não sabia como agir perto dele, e ele parecia estar sofrendo do mesmo mal, já que ficou me observando com ambas as mãos no bolso. Nem parecíamos as mesmas pessoas de semanas atrás, que não conseguiam manter as mãos longe um do outro sempre que estavam no mesmo ambiente. 

Seu olhar demorou um pouco em meu rosto antes de descer e se fixar em minha barriga. Foi seu amigo que impediu que a situação ficasse ainda mais desconfortável.

— Olá Samantha, eu sou Gregor Evangelous, primo do Theon. É um prazer conhecê-la — Ele estendeu a mão, apertando a minha com gentileza.

— É um prazer, foi você que se casou? — eu sorri de maneira educada.

— Exatamente, e como a criança foi concebida por minha causa, se for menino, deve se chamar Gregor — Ele piscou, fazendo meu rosto esquentar.

— Gregor eu te ligo quando terminar, você pode se enfiar em qualquer cassino que você encontrar até lá — Theon murmurou, parecendo irritado pela brincadeira do primo.

— E assim ele me expulsa. Foi um prazer Samantha. Parabéns pelo bebê — Ele acenou antes de se afastar.

Eu suspirei, olhando em volta sem saber como agir.

— Você conhece algum restaurante aqui perto? — Ele questionou, quebrando o silêncio.

— Sim, tem um na próxima quadra.

Nós caminhamos lado a lado sem falar nada. Eu pensava em como poderia começar aquela conversa, mas não fazia ideia do que dizer. Assim que chegamos, nós nos acomodamos em uma mesa, escolhendo o que pedir no cardápio e aproveitando aquele momento para reunir toda a coragem necessária para o que viria a seguir.

— Vocês já decidiram o que vão pedir? — Um jovem garçom quebrou o silêncio constrangedor que se instalou entre nós dois.

— Samantha?

— Eu não sei — eu suspirei alternando o olhar entre o salmão e um bife com legumes — eu não sei o que eu quero.

— Nada chamou sua atenção? — ele franziu o cenho.

— Na verdade, eu estou em dúvida entre o salmão e o bife — eu expliquei, sentindo meu rosto corar.

Desde quando eu perdi a capacidade de escolher entre dois pratos simples!?

— Nós queremos um salmão e dois bifes — ele decidiu, entregando o cardápio para o garçom — e dois sucos de laranja para beber?

— Pode ser — eu balbuciei confusa.

Ele acha que eu vou comer tudo isso?

O garçom se afastou, nos deixando ali sozinhos.

— Theon, eu não vou comer dois pratos!

— Você não precisa comer os dois agora. O que você não comer, pedimos para embalar para viagem — ele deu de ombros — eu não quero que você fique com vontade de nada depois.

— Eu não sei se é assim que funciona — eu revirei os olhos, contendo um pequeno sorriso.

Eu me senti bem com aquele mínimo gesto de cuidado. Elle e Charlie vinham tentando cuidar de mim nos últimos dias, mas era diferente quando esse cuidado partia do pai do meu filho.

— Não se preocupe, todo restaurante embala pra viagem — ele garantiu sorrindo.

— Eu estou falando da questão da vontade — eu devolvi — eu apenas estava em dúvida sobre os dois, não preciso comer os dois.

— Eu prefiro não arriscar — ele piscou, me roubando um pouco o fôlego, me lembrando exatamente o que nos trouxe a essa situação!

O silêncio voltou a reinar entre nós dois após isso. Era óbvio que teríamos que conversar em algum momento, mas não sabíamos como começar. 

Eu levei minha mão até minha barriga, a acariciando. Meu abdome, antes definido, já estava adquirindo outra forma, mostrando que tinha alguém vivendo ali. Charlie garantia que não tinha mudado muito, mas eu conseguia ver a diferença.

— Eu pensei que você me ligaria — eu comecei.

— Desculpe, eu pensei que seria melhor ter essa conversa pessoalmente — ele coçou a garganta — como você está?

— Estou bem — respondi timidamente — e você, como está digerindo tudo isso?

— Samantha, eu vou ser sincero com você...

— Você está surtando, não é? — eu desviei o olhar.

— Não é fácil, crianças não estavam nos meus planos pelos próximos anos — ele suspirou.

— Eu nem sei se crianças estavam nos meus planos — eu admiti — mas agora...

— Agora temos que lidar com isso — ele respirou fundo — Como você quer fazer, Samantha?

— Como? — eu pisquei atordoada com a pergunta direta.

É claro que precisávamos discutir aquilo, mas precisava abordar de uma maneira tão direta?

Por sorte, o garçom se aproximou da mesa com nossos pedidos, me dando um instante a mais para pensar no que responder.

— Tudo bem, Theon — eu suspirei ao notar o olhar sem graça do rapaz —  como eu te disse, nós podemos fazer o exame de DNA, eu já pesquisei e podemos fazer antes mesmo do bebê nascer, mas eu prefiro esperar, se você não se importar.

— Nós podemos esperar, faremos assim que o ele nascer — ele concordou antes de emendar — não que eu não confie em você, mas...

— A gente não se conhece — Eu desviei o olhar, apanhando os talheres na tentativa de me distrair.

— Eu não quis ofender — ele tentou consertar.

— Tudo bem, eu entendo — eu garanti sem encará-lo, sentindo um nó se formar em minha garganta.

Agora não, Samantha!

— Samantha, me desculpe, eu não queria ofender, de verdade — ele se apressou ao me ver piscar para afastar as lágrimas que ameaçavam brotar em meus olhos.

— Não ofendeu — eu neguei tentando cortar um pedaço do bife — sinto muito, são os hormônios, eu estou bem.

— Você tem certeza? — ele perguntou preocupado, me entregando um guardanapo de papel — eu sei que é difícil, mas nós precisamos falar sobre isso.

— Eu estou bem, de verdade — eu consegui me controlar — eu apenas estava apavorada nos últimos dias e agora que você está aqui.

— Você devia ter me ligado antes — ele alcançou minha mão por cima da mesa — sinto muito por você ter passado por isso sozinha. Se eu puder fazer qualquer coisa para que você se sinta melhor.

— Talvez possa me acordar e dizer que foi tudo um sonho? — Eu forcei um sorriso, recebendo outro em troca.

— Seria bom — ele riu — por que nós não comemos e falamos sobre isso depois?

— Obrigada — eu suspirei aliviada antes de me focar em alimentar o pequeno ser que não estava nem um pouco feliz dentro de mim.

Nós dois comemos em silêncio por alguns minutos, e pouco a pouco passei a me sentir melhor. Ele estava ali comigo apesar de tudo. Isso é um bom sinal, certo? Eu não estou sozinha.

— Eu recebi as fotos que você mandou ontem, você já está fazendo o pré-natal? — Theon quebrou o silêncio após alguns minutos, me observando com diversão enquanto eu alternava entre o peixe e a carne.

— Sim, comecei semana passada, Elle conseguiu uma consulta de emergência com sua médica — eu me forcei a engolir o que estava em minha boca.

— E como foi tudo? — ele parecia interessado.

— Estou de nove semanas agora, ela me passou algumas vitaminas e eu fiz outros exames. Está tudo bem.

— E quando nasce? — ele perguntou.

— No começo de março — contei, bebericando o copo de suco — mesmo mês do meu aniversário.

— Mesmo? Você faz aniversário em março? — ele sorriu.

Aquela pergunta me afetou, eu não sei nada sobre o homem com quem eu terei um filho!

— Deus, não sabemos nada um sobre o outro — eu gemi desgostosa.

Theon pareceu sem graça com aquele comentário.

— Eu acho que não — ele concordou — quando é seu aniversário, Sam?

— Vinte e cinco de março — eu suspirei — e o seu?

— Três de dezembro.

Mais uma vez aquele silêncio voltou a nos dominar. Nós nos concentramos em nossa comida, mas minha mente girava, pensando no que eu havia me metido ao engravidar daquele homem.

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