Samantha
O som da campainha chamou minha atenção enquanto eu dobrava minhas últimas peças de roupa para colocar dentro da mala.
— Sam, está pronta? — a voz da Elle soou no corredor próximo ao quarto alguns momentos depois.
— Quase — eu cantarolei.
Ela abriu a porta, revirando os olhos ao me encontrar apenas de calcinha e sutiã e com a toalha envolta dos cabelos.
— Você nem se vestiu ainda!? Isso é típico — ela suspirou — se apresse seu pedacinho de gravidez, ou você não vai ficar apresentável a tempo. Logo as garotas estarão aqui!
— Você percebe a loucura disso tudo? — eu soltei, procurando uma roupa que servisse em mim — além disso, não é minha culpa, eu passei os últimos minutos ajoelhada no chão do banheiro ao lado do vaso sanitário. Não tive muita opção.
Quando descobriram sobre minha gravidez e minha mudança, as garotas com quem eu dançava decidiram fazer um chá de bebê antecipado como despedida. Apesar de afirmar que considerava aquilo uma grande loucura, afinal eu estava apenas no terceiro mês de gestação, mas eu me sentia agradecida por aquele gesto. Elas eram a coisa mais próxima de uma família que eu tinha no momento, e eu me afastaria delas também.
A ansiedade ameaçou tomar conta de mim por um momento ao pensar que no dia seguinte eu embarcaria para Denver, onde Theon me buscaria de carro e me levaria para minha nova cidade. Eu não sabia o que esperar da minha vida a partir de amanhã, apenas tinha consciência de que tudo mudaria.
— Você está bem? Parece pálida — Elle se aproximou com o cenho franzido.
— Estou ótima — empurrei aqueles sentimentos para longe, colocando um sorriso no rosto em seguida ao pensar na noite que me esperava ao lado de minhas amigas — Você pode alcançar aquele vestido para mim?
— Esse verde? — ela revirou uma pequena pilha de roupas que eu tinha separado para colocar na próxima mala que preencheria.
— Sim, esse mesmo — eu o apanhei de suas mãos, me vestindo para ajudar Charlie a preparar tudo.
Elle foi para a sala, me deixando sozinha para terminar de me arrumar. Alguns minutos depois, eu estava com as duas, organizando as rosquinhas e garrafas de cerveja para as garotas — e suco de laranja para mim — em um isopor com gelo no balcão. Não seria nada elaborado, nós pediremos algumas pizzas, terminaremos de empacotar minhas últimas caixas e aproveitaremos a companhia uma da outra.
Elas não demoraram muito para chegar, cada uma trazendo um presente que seria útil para meu bebê. Logo nós estávamos reunidas no chão da sala, comendo pizza e rosquinhas, conversando e rindo, lembrando de alguns momentos que passamos juntas.
— Vamos, eu aposto que ela vai esquiar o tempo todo, eu estou com inveja — May suspirou em certo momento, comentando sobre minha iminente mudança para Aspen.
— May, não seja estúpida — Kim gargalhou — você acha mesmo que ela vai esquiar grávida?
— Ela não ficará grávida para sempre — ela insistiu — em sete meses o bebê nasce!
— E ela vai colocar o bebê em um canguru e esquiar com ele? — Charlie a provocou.
— Bem, sempre existe o pai para cuidar dele um pouco — ela suspirou, tentando se justificar, enquanto eu decidi encerrar aquele assunto de uma vez.
— Não importa, eu não planejo esquiar nos próximos meses — eu garanti — mas vocês podem me visitar e esquiar se desejarem.
— Já basta desse assunto — Elle se levantou, indo até o quarto de Charlie enquanto falava — eu e as meninas preparamos algo especial para você, Samantha.
Eu franzi o cenho, aguardando até que ela retornasse para a sala, carregando uma cesta cheia dos mais diversos produtos, os colocando em minha frente. Eu ajoelhei, passando a revirar a cesta, pegando em minhas mãos alguns óleos de banho, hidratantes, maquiagem.
— Nós juntamos tudo o que você precisa para manter sua beleza, mesmo estando grávida — Carrie sorriu, apanhando um livro em seguida.
— "Bebê, manual do proprietário" — eu li o título em voz alta — o que é isso?
— São instruções para você saber cuidar do bebê, Sam — Charlie esclareceu.
— E vocês acham que eu vou precisar disso? — eu revirei os olhos.
Não é como se eu precisasse fazer um curso para cuidar do bebê, certo? As pessoas têm filhos sem saber o que fazer o tempo todo e ficam bem!
— Eu acho que é sempre bom ter uma ajuda — Elle insistiu.
— Eu acho que isso é besteira, nós ficaremos bem sem livro nenhum — eu garanti, me esticando para pegar um dos embrulhos que as garotas tinham trazido — eu posso abrir?
— Claro que pode — May sorriu sem graça, antes de me entregar um pacote de tamanho razoável — esse foi meu.
Eu rasguei o papel de presente sem muita cerimônia, observando uma espécie de cama de cachorro. Eu sorri em agradecimento apesar de não ter a mínima ideia do que significava aquilo.
— Obrigada, May.
— Isso é para o cachorro do bebê? — Katie externou minha dúvida, me deixando um pouco aliviada.
— Não — May riu — a moça da loja disse que é para colocar o bebê, é um ninho redutor.
— Não é para isso que serve o berço? — eu franzi o cenho.
— Não olhe para mim, eu comprei o que a vendedora avisou que seria útil — ela deu de ombros, enquanto eu apanhava outro presente.
— Esse é o meu e eu sei que é útil — Elle cantarolou enquanto eu retirava uma máquina esquisita de dentro da caixa.
— Extrator elétrico de leite? — eu li a descrição me chocando um pouco — Para que serve isso?
— Para tirar leite — ela declarou o óbvio.
— Isso não é trabalho do bebê? — eu insisti.
— Samantha, acredite em mim, você vai precisar — ela garantiu — minha irmã tem e diz que é a melhor coisa que ela comprou.
— Tudo bem — eu concordei um pouco descrente, ainda observando a máquina.
Aquilo parecia ser desconfortável!
— Esse é o meu — Charlie me empurrou mais um presente, e dessa vez eu realmente não soube o que era, já que estava tudo escrito em chinês.
— O que é isso?
— É um esterilizador — ela explicou apenas para aumentar ainda mais minha confusão.
— Alguém me dá aquele manual de bebê — eu murmurei, arrancando risos das garotas.
No dia seguinte, Charlie e Elle me levaram até o aeroporto, aguardando que eu embarcasse em direção à minha nova vida.
— Você contou a seus pais sobre a mudança? — Charlie perguntou enquanto aguardávamos a chamada de meu voo.
— Sim. Minha mãe gostou disso, ela sempre achou que eu fosse melhor que Vegas — eu respondi em meio a um suspiro, me sentindo ansiosa.
— Suponho que você não tenha contado o motivo da mudança — Elle insinuou.
— Não, eles não precisam saber — eu dei de ombros.
— Sério? Seus pais não precisam saber que serão avós? — Charlie ergueu as sobrancelhas.
Deixei um suspiro cansado escapar ao olhar ao redor. Eu sabia que minha amiga tinha razão, mas ela não entendia como meus pais podiam ser assustadores. Se eles descobrem a situação que eu me meti...
— Eu vou contar a eles na hora certa — eu garanti.
— E quando será isso? Quando o bebê nascer? — Elle me provocou.
— Pode ser uma boa ideia — eu zombei — eu também posso esperar o bebê começar a falar para que ele possa contar aos avós.
— Você não tem jeito — Charlie balançou a cabeça — e como você vai se virar?
— Não sei, eu vou dar um jeito, eu acho. Meus pais vão me ajudar por alguns meses, eu só preciso conseguir um emprego.
— Eu vou te visitar em breve — ela prometeu ao ouvir o anúncio de meu voo, fazendo com que eu me levantasse — espero que esse lugar realmente valha a pena.
— Eu também espero — eu admiti abraçando as duas — eu sentirei falta de vocês.
— Nos avise quando chegar — Elle instruiu — e nos conte cada detalhe de sua viagem.
— Eu prometo — eu garanti me afastando das duas.
O voo foi calmo, e duas horas após embarcar, eu cheguei a Denver com o coração disparado. Era isso, estava feito.
Parti para uma cidade desconhecida, para junto de pessoas desconhecidas, para completar a maior loucura de minha vida. Mas agora eu não tenho como voltar atrás.
Eu olhei em volta ao sair da área de desembarque do aeroporto empurrando um carrinho com toda minha mudança, que não era muita, à procura de Theon. Eu franzi o cenho ao passar por uma gárgula que "enfeitava" o ambiente, aquilo era a coisa mais feia que eu já vira. Alguém achou mesmo que seria uma boa decoração?
Eu me sentei em um dos assentos vagos, esperando que o pai do meu filho aparecesse. Após alguns minutos sem que ele desse as caras, decidi ligar, mas antes que a chamada completasse, ele surgiu ofegante em meu campo de visão. E para minha total surpresa, ele estava acompanhado.
A mulher ao seu lado era mais baixa que ele, tinha o cabelo escuro na altura dos ombros e traços delicados.
Essa é a namorada dele!?
— Samantha, sinto muito! — ele se desculpou, me cumprimentando com um meio abraço — teve um acidente na I70 e acabamos ficando presos no engarrafamento.
— Claro, não tem problema — eu respondi sem graça diante do olhar analítico da mulher.
Ele não me falou mais nada sobre a situação dele com a namorada, acho que no fim ela decidiu continuar com ele. Só não esperava que ele a trouxesse sem me avisar, eu gostaria de ter me preparado para isso.
— Você não vai me apresentar, Theon? — ela se manifestou enquanto eu me afastava a uma distância respeitosa.
Eu não quero dar nenhum motivo para essa mulher me odiar, já não basta ter engravidado do namorado dela.
— Desculpe, Samantha essa é a Calíope, minha irmã — Ele explicou enquanto ela estendia a mão para mim.
— Oh, eu não sabia que você tinha uma irmã — Eu me apressei em cumprimentá-la.
Ok, pelo menos ela não tem motivos para me odiar!
— É um prazer conhecer a mãe do meu futuro sobrinho ou sobrinha — ela sorriu cordialmente apertando minha mão.
Sim, a tia do meu filho! Ele terá outras tias ou tios? Eu não sei nada sobre ele, nós realmente não nos conhecemos.
Deus, que loucura eu estou cometendo?
Samantha— Você está pronta? — Theon questionou, interrompendo meu devaneio.— Claro — eu calei a minha voz interior que gritava que aquilo era a maior besteira que eu já tinha feito em minha vida.Eu tinha dado um passo em direção ao desconhecido, e precisava enfrentar a situação. Tudo consequência de uma irresponsabilidade, e eu tinha que assumir minha culpa e aceitar as mudanças.Não é hora de me arrepender!Theon logo assumiu o controle do carrinho de malas, me levando em direção à saída. Ele não queria permitir que eu fizesse nenhum esforço e eu me senti agradecida por aquilo. De uma forma ou de outra, era como se ele estivesse cuidando de mim.Sua irmã caminhou ao meu lado em silêncio o tempo todo. Aquela situação me incomodava um pouco, mas eu não sabia o que dizer para quebrar aquele silêncio desconfortável.— Então, Calíope, você tem outros irmãos? — decidi tentar conhecê-la um pouco melhor.— Nós somos quatro irmãos — ela me observou com uma expressão indecifrável, enquanto
Samantha No fim, acabei me esforçando para dormir o restante do caminho, controlando o enjoo e a falta de ar que me acometia de tempos em tempos enquanto subíamos para Aspen. A estrada se tornou mais íngreme e estreita, e era rodeada pelos altos picos. Nós passamos pela entrada de Aspen três horas depois de sair de Denver, e eu me sentia exausta pela viagem e por tudo o que tinha acontecido nela, o que eu mais queria era me deitar e dormir. Theon dirigiu pelas ruas charmosas da cidade, me deixando encantada enquanto as contemplava. Eu poderia transformar aquele lugar em meu lar. Não importa se Theon, Calíope, ou todos os Adamos do mundo me odiarem, eu vou lutar para encontrar meu próprio lugar sem precisar da aprovação deles. Nós seguimos até uma área residencial enquanto eu observava as inúmeras lojas com o nome Adamos espalhadas pela cidade. É impressão minha ou essa família infestou a cidade? Theon parou na frente de uma bela casa de madeira. Aquela, com certeza não era a casa
TheonEu saí da casa de Samantha após carregar suas bagagens sem nenhuma dúvida sobre meu destino. Eu tentei não piorar as coisas na presença dela, mas eu não deixaria tudo o que aconteceu de lado. Alguns minutos depois eu estava tocando a campainha da casa de Adam.— Theon... Você esqueceu alguma coisa com a Callie? — Meu amigo perguntou, se surpreendendo com minha presença.Eu abri caminho e fui até a cozinha, que era o único cômodo com a luz acesa. Callie estava sentada na bancada, segurando uma taça de vinho, à vontade na casa de seu namorado.— Theon, o que... — Nós temos alguns assuntos para resolver, vamos — eu a cortei, cruzando os braços, torcendo para que ela facilitasse minha vida.— Theon, o que aconteceu? — Adam parou ao meu lado, alternando o olhar entre sua namorada e eu.Callie suspirou, não parecendo muito disposta a me acompanhar.— Theon, podemos conversar amanhã?— Callie, nós vamos resolver isso agora, nem que eu tenha que te jogar no ombro e te levar para casa —
TheonNo dia seguinte, eu levantei cedo e fiz um café, me preparando para iniciar o dia. Enviei uma mensagem para Samantha, combinando tudo para o encontro com a diretora Ronald. Espero que dê tudo certo!Alguns minutos depois, eu saí de casa, caminhando até a casa de Samantha para apresentar um pouco da cidade a ela. Andei às poucas quadras que separavam nossas casas, e logo estava tocando sua campainha.Ela atendeu a porta usando uma calça jeans, suéter preto e o cabelo preso em um rabo de cavalo com alguns fios soltos caindo em seu rosto. Ela tinha um brilho de suor na testa, revelando estar se esforçando com algo.— Oi Apolo, pensei que viria mais tarde — ela sorriu.— Desculpe, estou atrapalhando alguma coisa? — questionei um pouco sem graça.Samantha abriu caminho para que eu entrasse na casa, e logo descobri o que causou o seu cansaço, todas as malas e caixas que eu trouxe ontem, estavam abertas no meio da sala e grande parte já estava vazia.— Espero que você não esteja carre
TheonNós dois caminhamos em silêncio, mas pelo menos o clima entre nós parecia um pouco mais ameno.— Quando você começa a trabalhar? — eu perguntei.— A Srª Ronald pediu para eu voltar amanhã para pegar a relação de turmas e me organizar melhor até segunda, vou trabalhar apenas por meio período — ela explicou.— Se você precisar de qualquer coisa, pode me ligar — garanti enquanto atravessava a rua para chegar ao mercado.Eu ajudei Samantha a conseguir tudo o que precisava, e quando estávamos passando pelo caixa, um rosto conhecido se aproximou.— Oi Theon — Harper colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, parecendo um pouco sem graça ao nos observar.Droga, o que eu não precisava era apresentar Samantha assim, ainda mais depois do que aconteceu entre nós.— Oi Samantha — ela a cumprimentou, para minha surpresa.Ela sabe quem Samantha é!?— Oi Harper — Samantha enrubesceu, desviando o olhar.Elas se conhecem!?— Theon, eu queria falar com você — Harper prosseguiu enquanto eu me se
SamanthaEu fechei a porta após me despedir de Theon, colocando as sacolas de compras no chão e encostando a testa na madeira antes de respirar fundo. O que foi aquilo? Eu enlouqueci!? De manhã eu disse a Harper que não se preocupasse comigo, pois eu não interferiria em seu relacionamento, e algumas horas depois eu beijo o namorado dela!?Qual é o seu problema, Samantha? Claro que o beijo não teria acontecido se ele não quisesse, mas foi como ele mesmo falou. Apenas o calor do momento. Sim, preciso tirar isso de minha mente, não é certo, não posso permitir que meu coração vá por esse caminho.Mas aquele beijo foi tão bom. O que isso significa?— Isso significa que o cara tem um bom beijo — falei para mim mesma em voz alta, me desencostando da porta e indo até à cozinha, após apanhar as sacolas no chão — você sempre soube disso, Samantha, o beijou dezenas de vezes! Sim, e aquilo não era a única coisa que ele fazia bem, isso eu sei com certeza. Harper é uma mulher de sorte.—
SamanthaOs dias seguintes passaram rápido, Delphine voltou no dia seguinte, e no outro. Ela me ajudou a comprar as coisas necessárias para começar as aulas, e fez inúmeras perguntas sobre minha vida.Eu não encontrei mais com Theon naquela semana, arrumei tudo e pude enfim me sentir em casa. Na segunda, eu acordei cedo, tomei café e pensei em como seria aquela aula. Eu trabalharia apenas no período da tarde, então usei a parte da manhã para arrumar tudo. Entrei na escola me sentindo um pouco perdida. Eu odiava os primeiros dias.— Você precisa de ajuda? — a garota da secretaria se aproximou.Eu a observei, ela era uma mulher preta, com traços delicados, olhos doces, cabelos bem escuros e curtos e um sorriso contagiante. Uma bela garota, se soubesse dançar e estivéssemos em Vegas, Elle a recrutaria sem pensar duas vezes. — Acho que sim — eu sorri — é meu primeiro dia, e eu não sei o que fazer.— Eu me chamo Dominic Carter — ela se apresentou — qualquer coisa que você precisar, você
Theon— Eu não acredito que ela fez isso! — Lara exclamou quando eu relatei que Callie tinha apresentado Harper a Samantha sem que eu soubesse.Nós estávamos tendo uma relativa onda de calor para aquela época do ano, e as ruas estavam cheias de pessoas aproveitando a manhã de sol ameno e temperatura que beirava os 25 graus. Lara aproveitou para caminhar com Daphne e eu encontrei as duas perto da loja enquanto saía para o almoço. Desde que descobri sobre o que Callie fizera, eu evitava ir à casa de minha mãe. Eu ainda não tinha certeza de que poderia conversar com minha irmã sem dizer coisas que eu me arrependeria mais tarde, e realmente ofende-la dessa vez, então preferi manter distância.— Ela fez — eu afirmei consternado — no fim não foi tão ruim, já que graças a isso Harper e eu nos acertamos, mas Samantha não precisava passar por algo assim.— E você já falou com a Callie? — ela perguntou.— Se eu falar com ela agora, nossa conversa não será nem um pouco civilizada — eu admiti —