(06:45 a.m)
Aquele era o quarto cigarro que fumava dentro dos dez minutos que estava ali sentada no banco em frente ao colégio. Com o tempo que fazia não era tão estranho estar de moletom.
A atenção que tinha no cigarro entre os dedos foi tirada no mesmo instante que senti um perfume amadeirado pouco conhecido pelo meu olfato.
—O que faz aqui sozinha? – suspirei pesadamente ainda olhando o nada, mas aquilo não pareceu intimidar o garoto que se sentou ao meu lado —Sei que a gente acabou de se conhecer e ao que parece você não gosta muito de mim, mas fiquei realmente preocupado ontem. Quer conversar?
—Certas coisas são melhores guardar para si mesmo. – minha voz saiu baixa enquanto voltava o cigarro para os lábios.
—Tudo bem, mas se mudar de ideia sabe onde me encontrar.
Charlie se levantou entrando no prédio e com um suspiro longamente pesado fiz o mesmo.
Nos corredores todos me olhavam da maneira de sempre, com nojo, medo e muitos outros sentimentos que eu apenas ignorava. Entrando na sala avistei o garoto sentado em uma das carteiras do fundo, e mesmo com certo receio me sentei ao seu lado.
—Isso não significa que gosto de você. – falei me recostando a cadeira.
—Eu não disse nada. – o olhei quando riu baixo.
—Vai no show? – perguntei sem desviar o olhar dele.
—Com certeza, não perco por nada, mas você tem alguns convites extras? Se não se importar que eu leve alguns amigos. – o sorriso que ele deu era fofo e isso jamais poderia negar.
Assenti mexendo na mochila e tirando mais alguns convites do bolso, quando lhe entreguei o garoto deu-me uma piscadela sorrindo, agora, de lado. Franzi o cenho mesmo sentindo o rosto esquentar e virei para frente o mais rápido que pude.
(...)
Depois da última aula resolvi deixar alguns materiais e livros no armário, mas assim que o abri vários pacotes de camisinha caíram aos meus pés. Respirei fundo maneando a cabeça enquanto cada aluno naquele espaço dava risada do acontecido, principalmente o capitão do time de futebol.
Trevor Collins era um babaca.
Ele se aproximou devagar ainda dando risada e pegou um dos vários preservativos, me olhava com deboche encostado no armário ao lado do meu.
—Parece que a noite de alguém vai ser longa e muito divertida, não é? – o garoto gargalhava junto dos outros a nossa volta.
Acabei soltando uma risada sarcástica enquanto tirava cada camisinha do meu armário, deixei o que precisava ali dentro e fechei a portinha de metal me virando para o idiota cheio de músculos.
—Só por curiosidade, essa palhaçada que você armou foi por que eu bati em uma das suas putinhas ou por não ter ido pra cama com você?
No mesmo instante as risadas pararam, principalmente a dele, mas foi a expressão em seu rosto que me fez gargalhar.
—Quem você pensa que é pra falar assim comigo? – Trevor deu um passo em minha direção, furioso, mas precisei apenas dar uma joelhada no meio de suas pernas para que fosse ao chão urrando de dor.
—Sou o pior pesadelo de quem mexer comigo.
Sorri de canto me afastando dele e caminhando para fora do colégio os olhares não eram os mesmos que recebia de manhã. O espanto pela atitude que tive estava em cada rosto ali presente.
A caminhada até em casa era tranquila, em meio ao embalo das músicas que tocavam me peguei lembrando do sorriso de Charlie e acabei dando um sorriso também, mas suspirei balançando a cabeça para afastar tais pensamentos.
(...)
(Charlie)
De longe eu via o que faziam com Sophia. Aquilo me dava raiva, mas eu não tinha muito o que fazer e tentava entender o por quê de tratarem ela dessa forma, ainda mais quando não havia feito nada com ninguém.
Respirei fundo buscando coragem para, ao menor, ir ajudá-la, mas a própria Sophia já havia se livrado da humilhação que faziam com ela.
—Charlie. – me assustei com o grito de Richard e todos riram de minha reação —Dormindo de olho aberto?
—Não, estava pensando.
Os três se entreolharam desconfiados e para minha própria proteção, escolhi ficar calado.
—Que isso aqui, Mitchell? – olhei para Kevin que estava lendo um dos convites que Sophia havia me dado.
—Peguei com uma garota da turma. – falei enquanto deitava na cama olhando para o teto —Pelo que ela disse é um show que vai ter.
—Show? Estou dentro. – TJ logo pegou um dos convites e os outros dois não ficaram para trás.
Passamos mais algum tempo conversando e mandando mensagem para alguns conhecidos, ficamos de nos encontrar no local do show antes que fossem embora.
Sozinho no quarto me peguei pensando na garota de novo. Havia ficado realmente preocupado com a cena da sacada e furioso com o que fizeram a ela no colégio. Queria saber o que se passava com ela para tentar ajudar, mas me aproximar dela era difícil.
Respirei fundo passando as mãos pelo rosto completamente pensativo e tentando não ter ela como motivo de tantos pensamentos.
(...)
(21:30 p.m)
A fila formada atrás de nós era enorme, com sorte conseguimos chegar cedo e ficaríamos perto do palco. Mais ou menos quinze minutos depois começaram a liberar a entrada do público.
O lugar era bem amplo com decoração alternativa e mais parecia um pub ao invés de uma casa de show.
Andamos até o palco e perto da bateria havia um garoto que não me era estranho, mas a animação de Richard com a beleza do instrumento me impedia de prestar atenção em qualquer outra coisa.
—Olha que bateria linda. – não conseguimos conter a risada diante aquela cena.
Um baterista admirado com uma bateria não deveria ser uma novidade.
Poucos minutos depois outros integrantes começaram a subir e se posicionar em seus lugares, o público parecia já estar familiarizado com a banda, mas olhando com mais atenção cada um deles comecei a notar que realmente já os conhecia e foi quando Sophia subiu ao palco que tive certeza.
A garota estava completamente diferente do que víamos nos corredores do colégio, parecia até ser outra pessoa. O figurino por completo a deixaram ainda mais bonita.
—Se a vocalista for solteira, pode ter certeza de que vou cair matando. – TJ tinha um enorme sorriso malicioso no rosto enquanto olhava para a garota.
Não fiz mais do que bufar enquanto revirava os olhos, mas quando voltei a atenção para a de cabelos roxos notei seu olhar fixo em mim. Os olhos castanhos que normalmente tinham tristeza agora pareciam brilhar de alegria.
Sorri de canto sendo retribuído com um aceno sutil.
Olhando em volta era contagiosa a animação das pessoas, notável a admiração por toda a banda e com certeza aquilo vinha pelo talento, mas naquele momento a minha admiração era pela vocalista e não apenas pela beleza como também pela força que tinha.
Uma pequena saudação foi o suficiente para deixar a todos enlouquecidos e os primeiros acordes apenas os deixaram ainda pior. A voz de Sophia era um tanto grave e ao mesmo tempo suave, algo que me lembrava muitas vocalistas de décadas passadas. Ela era atraente por completo e não apenas na voz.
Sophia era sexy sem ser vulgar e cada movimento que fazia chamava cada vez mais a atenção de cada pessoa ali presente, principalmente a minha.
Em um momento da música ela chegou perto de um dos guitarristas, dividia o microfone com ele os deixando em uma proximidade que me incomodou. Naquele momento quis estar tão perto dela quanto aquele garoto.
Mais um motivo para conquistá-la.
(...)
E então veio a última música, era um cover e Sophia parecia ainda mais animada. Os cabelos desarrumados e o corpo brilhando pelo suor, estava sexy e parecia pronta para acabar com o coração de qualquer um ali dentro.
A cada verso a euforia do público aumentava, a cada movimento dela eu ficava mais hipnotizado. Não era diferente com os outros homens, Sophia sabia envolver uma pessoa sem precisar tocá-la e isso estava claro em seus olhos.
Perto do fim da música a garota de cabelos roxos tinhas o olhar fixo no meu, se sentou a minha frente e envolveu meu corpo com as pernas puxando-me para perto. Os que estavam em volta gritavam cada vez mais eufóricos com a atitude dela e eu apenas fiquei sem reação.
Essa garota queria me levar a loucura e estava conseguindo.
(Charlie)O show havia terminado já fazia pelo menos vinte minutos, mas isso não diminuiu a animação das pessoas e tive de impressão de estarem com ainda mais energia.Richard depois de algum tempo de insistência conseguiu subir no palco junto de Kevin, conversavam com o casal da banda enquanto o meu baterista apreciava seu momento no instrumento que tanto admirou.Tom estava em meio a algumas garotas em um canto afastado, elas riam de alguma idiotice que o garoto falava e maneei a cabeça imaginando o que poderia ser.Eu olhava em volta prestando a atenção em cada canto procurando uma única pessoa que me interessava e depois de minutos encontrei Sophia no bar. Estava com outras roupas, os cabelos presos pareciam estar molhados e entre as mãos uma lata que notei ser de energético.Me aproximava devagar e as cenas do que fez na última música voltavam a mente como se estivessem acontecendo de novo, e mais uma vez tive a mesma vontade de tê-la pra mim.—Estou surpreso, foi um show e tanto
(Sophia)O último sinal havia tocado e não demorei a sair da sala, Charlie me acompanhou até mesmo no caminho para casa. Vez ou outra o garoto fazia alguma idiotice apenas para que eu desse risada, e dava muito certo.—Então, o que acha de a gente sair a tarde? Dar uma volta ou algo assim. – perguntou assim que chegamos em frente a minha casa.—Desculpa, mas não vou poder. Tenho que ir trabalhar daqui a pouco. – o sorriso que tinha no rosto se tornou triste em segundos e engoli em seco me sentindo mal por aquilo.—Tudo bem, uma próxima vez quem sabe. – ele acenou e me deu as costas.—Charlie. – no mesmo instante ganhei sua atenção e tive a impressão de ter visto uma ponta de esperança em seus olhos —Meus amigos e eu vamos passar o fim de semana fora, quer ir com a gente?—Com certeza.E lá estava ele, o sorriso que havia me encantado. Foi difícil não retribuir o ato e um tanto estranho me sentir envergonhada com sua resposta.(Charlie)Com certeza.O que diabos acabou de acontecer? O
(Charlie)Meu corpo queimava em desejo por ela e pelo olhar dela sabia que a garota sentia o mesmo, os olhos castanhos fixos nos meus diziam muita coisa e principalmente que ela me queria tanto quanto eu a queria.—Charlie. – sua voz interrompeu meus pensamentos e notei vergonha em suas feições —Acho melhor a gente voltar.—Ah, tudo bem. – me levantei a ajudando e arrumei minhas roupas —Desculpa.—Pelo quê?—Não sei, só achei que deveria me desculpar.—Tá tudo bem. – seu sorriso era pequeno e tímido, mas ainda era lindo.Sorri de volta pegando sua mochila e seguimos para a casa lado a lado, não ousei chegar tão perto dela, mesmo querendo. Tinha que respeitar o espaço dela.Encontrando os outros dentro da casa, as meninas arrumando a sala e os meninos na cozinha, e passamos o resto da noite e parte da madrugada assistindo filmes enquanto comíamos. Na hora de dividir os quartos acabei no mesmo cômodo que Scoth, enquanto isso Sophia ficou com Jane.Nada mais justo, mas o silêncio naquele
(Sophia)Eu não poderia ter começado o dia pior do que já estava.Depois de todo o choro do dia anterior acordei com uma insuportável dor de cabeça, mas não poderia fugir da escola. Diferente do trabalho que havia conseguido alguns dias de folga.Passando pelo portão principal avistei Charlie conversando com Gabrielle e meu sangue ferveu de raiva no mesmo instante, mas decidi respirar fundo e seguir caminho pelo corredor.Notei o garoto com certa esperança no olhar quando passei por eles, escolhi não fazer nada e continuar caminhando como se ambos não existissem, mas acabei parando no meio do caminho notando meus amigos virem em minha direção.Cada um mais apreensivo que o outro e Scoth com expressões sérias, o que era raro.—O diretor liberou a gente, vamos embora. – o garoto falou colocando as mãos nos meus ombros enquanto me levava para fora.A voz tão séria quanto suas feições.—Mas por quê? O que aconteceu? – perguntei confusa com a situação.Ao nosso lado, ainda perto dos armári
(Sophia)Qualquer um que a olhasse naquele momento se perguntaria; como uma mulher como ela não ajudou os filhos quando eles mais precisaram? Por muito tempo ouvi as pessoas cochichando e se perguntando como ela pode nos abandonar daquela forma.Pois bem, essa é Cordelia Mason, agora muito mais cuidada que antes, os cabelos escuros estavam loiros e muito bem-vestida.—Que isso minha linda, pode me chamar de mãe. – a mulher tentou se aproximar, mas recuei no mesmo instante.—Sei disso, mas por que será que não chamo? – sorri de forma debochada a olhando —Será que é por que você passou anos maltratando seus filhos e depois decidiu os trocar para viver com um homem rico?—Não foi bem assim. – ri baixo de sua fala e desviei o olhar dela por alguns segundos.—Não? Engraçado dizer isso porque ainda sei como é o peso da sua mão e tenho algumas marcas dos cintos que usou. – cruzei os braços a encarando e a vi engolir em seco —Mas não foi pra isso que vim, quero saber o que quer com a gente. P
(Sophia)Depois de passar o resto da tarde e parte da noite na companhia de Charlie o garoto teve de ir embora, a sensação de solidão durou apenas até ele me ligar. Passamos horas ao telefone, tantas que ele adormeceu e não tive coragem de desligar, fiquei ali ouvindo sua respiração e sorrindo como uma boba.Na manhã seguinte minha rotina foi a mesma; me arrumar e ir a escola.E lá estava, sentada no banco em frente ao prédio fumando meu cigarro, distraída com algumas composições. Ouvi passos se aproximando, mas não me atrevi a olhar, poderia ser qualquer pessoa da banda, Charlie ou até mesmo alguém que eu não queria ver. E caso fosse ele não teria mais como fugir.—Bom dia. – finalmente me virei para ver quem era e me deparei com um homem de cabelos escuros em roupas sociais —Você é Sophia Mason, certo?—Quem quer saber? – o olhei com desconfiança e esperando que não estivesse encrencada.—Me chamo Michael, sou produtor e empresário no ramo musical. – o homem apenas sorriu enquanto e
(Sophia)Assim que as aulas acabaram cada um seguiu caminho para sua casa enquanto Scoth e eu fomos direto para o trabalho.Passamos todo o expediente atendendo entre uma música e outra que cantávamos, o que agradava muito ao chefe por chamar atenção dos clientes e animar todo o local.—Vou conferir o estoque e você arruma as coisas por aqui, depois a gente vai embora. – o maior falou pegando a prancheta sobre o balcão.—Tudo bem. – e ele saiu, no mesmo instante comecei a arrumar a loja e o som do sininho da porta chamou minha atenção, mas ao me virar encontrei quem não queria —Só pode ser brincadeira.—Oi princesa. – sua voz ainda me causava arrepios, só que não mais como antes.—Já faz alguns anos que perdeu o direito de me chamar assim, não acha? – falei com seriedade o olhando da mesma forma, mas foi algo que ele não se importou.Na verdade, ele nunca se importou com nada.—Você é minha filha, Sophia, e a chamo da maneira que quiser. – soltei uma risada de suas palavras e as feiçõ
(Charlie)Dormir bem à noite foi quase impossível com o que havia acontecido, mas o que tornou tudo pior foi Sophia ter me visto com Gabrielle.De manhã senti tanta raiva quanto na noite anterior ao ver a garota de madeixas roxas ao lado do ex-namorado, meu sangue ferveu ao ver Sophia e Andrew aos risos enquanto fumavam. Muita coisa começou a rodar minha cabeça, mas preferi não fazer nada e segui para a sala mesmo sem ela. Pouco depois a garota entrou se sentando ao meu lado.—Arrumou um amigo novo? – perguntei ganhando a atenção de Sophia.—Desde quando você se preocupa com as amizades que eu faço? – seu cenho franziu e as feições ganharam seriedade.—A questão não é essa, só é estranho você o tratar tão mal em um dia e no outro agir como se fosse seu melhor amigo.—Conhece o significado de desculpa? – a olhei confuso e a garota deu de ombros —Andrew se mostrou arrependido e eu só o desculpei. Não me sinto mal com isso.—Claro, e já começa agir como se nada tivesse acontecido? – ante