(Charlie)
O show havia terminado já fazia pelo menos vinte minutos, mas isso não diminuiu a animação das pessoas e tive de impressão de estarem com ainda mais energia.
Richard depois de algum tempo de insistência conseguiu subir no palco junto de Kevin, conversavam com o casal da banda enquanto o meu baterista apreciava seu momento no instrumento que tanto admirou.
Tom estava em meio a algumas garotas em um canto afastado, elas riam de alguma idiotice que o garoto falava e maneei a cabeça imaginando o que poderia ser.
Eu olhava em volta prestando a atenção em cada canto procurando uma única pessoa que me interessava e depois de minutos encontrei Sophia no bar. Estava com outras roupas, os cabelos presos pareciam estar molhados e entre as mãos uma lata que notei ser de energético.
Me aproximava devagar e as cenas do que fez na última música voltavam a mente como se estivessem acontecendo de novo, e mais uma vez tive a mesma vontade de tê-la pra mim.
—Estou surpreso, foi um show e tanto. – ditei já ao lado dela e ganhei sua atenção —O som de vocês é legal.
—Só o som foi legal? – seu sorriso sutil era sedutor e me causou um frio na barriga.
—Claro que não. – me aproximei um pouco mais a cercando no balcão deixando nossos rostos o mais próximo que meu limite permitia —Gostei bem mais da vocalista e tenho certeza de que me sentiria frustrado se não recebesse a atenção que estou procurando. Afinal, acho que sou o fã número um dela agora.
Ela riu baixo maneando a cabeça e seu olhar mais uma vez se prendeu ao meu, mais uma vez notei a leve tristeza neles, mas também havia uma ponta de luxúria devido a proximidade que havia nos colocado.
Não percebi em qual momento me perdi em seu olhar e envolvido naquele momento baixei a visão para seus lábios, mas Sophia notou e sorrindo de canto mordeu o lábio inferior leve e sensualmente.
—Não faz isso. – minha voz saiu baixa.
—Não fazer o quê? – a cada segundo seu sorriso se tornava mais malicioso, percebi que ela estava se divertindo com toda aquela situação.
—Me seduzir. – pus a destra em sua cintura e puxei corpo para mais perto do meu.
—Mas não estou fazendo nada. – Sophia se aproximou e achei que iria me beijar, mas seus lábios foram até meu pescoço deixando um beijo no mesmo —Ainda.
Só a voz dela foi necessária para me fazer gemer, a garota riu baixo e saiu de meus braços deixando-me com uma estranha sensação de vazio e ainda mais vontade de provar da sua boca.
Passando as mãos pelos cabelos percebi uma pequena folha presa a minha pulseira, tinha um número de celular e seu nome escrito logo embaixo.
—Inacreditável. – ri baixo pegando o celular do bolso e salvando o contato.
Logo em seguida disquei o número e assim que começou a chamar olhei cada canto do estabelecimento em busca da menina.
(Sophia)
De longe eu o observava.
Não sabia ao certo em que momento decidi que seria uma boa ideia me envolver com ele, mesmo que não fosse uma relação séria ou algo parecido, mas passei o dia todo pensando nele e me perguntando, por que não tentar?
Ele parecia realmente preocupado comigo e parecia querer me ajudar de verdade, por que não tentar?
Eu acompanhava o garoto e sorria junto dele, mas acabei dando uma risada baixa quando o vi levar o celular até o ouvido e então o meu começou a tocar no bolso. Assim que peguei o aparelho não precisei atender para notar que Charlie havia me encontrado e a alegria em seu enorme sorriso me contagiou.
Maneei a cabeça caminhando até as escadas do segundo andar, havia menos gente ali e todos casais que gostavam da privacidade. Charlie me seguia a passos firmes.
—Será que agora você consegue dar um pouquinho de atenção ao seu fã? – a voz dele soou baixa me fazendo arrepiar.
Escorada ao parapeito tudo que ele fez para nos deixar próximos foi repetir a cena do bar, o que me tirou um sorriso de lado.
—Só se for um bom fã.
—Isso só pode ser brincadeira. – o garoto riu baixo dando uma leve mordida no lábio —O que aconteceu pra ter decidido me dar uma chance?
—E quem disse que estou te dando uma chance? – o vi franzir o cenho e aproximei um pouco mais nossos rostos —É apenas diversão, o que acha?
—Já é alguma coisa. – e então ele acabou com o pouco espaço que havia entre nós.
Os lábios dele eram macios e quentes, o beijo tinha uma mistura gostosa de ternura e desejo. Paramos apenas pela falta de ar, mas isso não o impediu de pegar em minha cintura para nos aproximar ainda mais. Se é que era possível.
Voltamos a nos beijar e suas mãos passaram a contornar minha cintura, faziam também um caminho desconhecido pelas minhas costas e sorri em meio ao ósculo.
—Se soubesse que ia acabar assim não teria sido tão idiota quando nos conhecemos. – ri baixo junto a ele.
—E talvez não estaria aqui me beijando. – toquei seus cabelos sorrindo de lado.
—Faz sentido. – maneei a cabeça e lhe dei um beijo rápido já me afastando —Te vejo amanhã?
—Quem sabe.
Sorri de canto sendo retribuída, o maior beijou as costas de minha mão e finalmente consegui me afastar indo encontrar com meus amigos.
No caminho para casa fiquei apenas perdida em meio aos pensamentos e com um sorriso bobo no rosto, Scoth havia percebido e não disse nada, apenas riu baixo comigo.
(...)
Ao chegar em casa notei que todos já dormiam, então procurei fazer o mínimo de barulho possível. Fui para meu quarto e suspirei pesadamente assim que passei pela porta, peguei meu pijama indo tomar um banho.
Debaixo da água lembrei da noite incrível que tive, não apenas com o show como também o pouco tempo que passei com Charlie e, como fiz durante toda a noite, sorri espontaneamente. Já trocada fui para a cama e olhava as estrelas pela janela.
Lembrei das cicatrizes em meu braço e as toquei sentindo-me aliviada por não ter repetido o ato durante aquele banho.
Respirei fundo sorrindo mais uma vez e de um jeito que não fazia a tanto tempo, ainda mais longe do meu grupo.
(06:30 a.m)
Tinha acabado de sair de casa e caminhava para a escola, os fones tocavam uma música alta e eu estava distraída prestes a acender o primeiro cigarro do dia quando senti um abraço em meus ombros, junto ao ato tive meu cigarro tirado dos lábios.
—Que isso? – me afastei do garoto e ri baixo maneando a cabeça —É mais abusado do que pensei.
—Você gosta, admita. – Charlie deu de ombros sorrindo de lado.
—Agora está agindo como um idiota. – voltei a caminhar com ele ao meu lado —Quem disse pra você que gosto de garotos abusados?
—Não falei que você gosta de garotos abusados, falei que você gosta que eu seja abusado. Ou vai negar? – franzi o cenho me virando para ele e o garoto deu de ombros —Se não gostasse não teria deixado eu te beijar.
Maneei a cabeça dando uma breve risada baixa e o puxei para um beijo rápido, nada comparado com o que fizemos depois do show, até porque ninguém precisava saber e estávamos em frente ao colégio. Já tinha problemas demais com a diretoria para criar mais um.
—Isso responde sua pergunta? – questionei olhando em seus olhos.
—Até demais.
Nossa risada acabou chamando a atenção de alguns alunos que estavam por perto, mas apenas ignoramos e caminhamos juntos até a aula, o que chamou ainda mais a atenção de cada um que nos via junto.
Ajudávamos um ao outro durante as matérias e entre as aulas conversávamos sobre qualquer assunto que vinha a cabeça, como música, filme ou momentos bobos que passamos.
Charlie era um cara legal, divertido e que se preocupa com as pessoas que gosta, ao menos foi o que pareceu pelas conversas que tínhamos, mas isso não diminuiu o medo que eu tinha.
Medo de me entregar e acabar me decepcionando mais uma vez.
(Sophia)O último sinal havia tocado e não demorei a sair da sala, Charlie me acompanhou até mesmo no caminho para casa. Vez ou outra o garoto fazia alguma idiotice apenas para que eu desse risada, e dava muito certo.—Então, o que acha de a gente sair a tarde? Dar uma volta ou algo assim. – perguntou assim que chegamos em frente a minha casa.—Desculpa, mas não vou poder. Tenho que ir trabalhar daqui a pouco. – o sorriso que tinha no rosto se tornou triste em segundos e engoli em seco me sentindo mal por aquilo.—Tudo bem, uma próxima vez quem sabe. – ele acenou e me deu as costas.—Charlie. – no mesmo instante ganhei sua atenção e tive a impressão de ter visto uma ponta de esperança em seus olhos —Meus amigos e eu vamos passar o fim de semana fora, quer ir com a gente?—Com certeza.E lá estava ele, o sorriso que havia me encantado. Foi difícil não retribuir o ato e um tanto estranho me sentir envergonhada com sua resposta.(Charlie)Com certeza.O que diabos acabou de acontecer? O
(Charlie)Meu corpo queimava em desejo por ela e pelo olhar dela sabia que a garota sentia o mesmo, os olhos castanhos fixos nos meus diziam muita coisa e principalmente que ela me queria tanto quanto eu a queria.—Charlie. – sua voz interrompeu meus pensamentos e notei vergonha em suas feições —Acho melhor a gente voltar.—Ah, tudo bem. – me levantei a ajudando e arrumei minhas roupas —Desculpa.—Pelo quê?—Não sei, só achei que deveria me desculpar.—Tá tudo bem. – seu sorriso era pequeno e tímido, mas ainda era lindo.Sorri de volta pegando sua mochila e seguimos para a casa lado a lado, não ousei chegar tão perto dela, mesmo querendo. Tinha que respeitar o espaço dela.Encontrando os outros dentro da casa, as meninas arrumando a sala e os meninos na cozinha, e passamos o resto da noite e parte da madrugada assistindo filmes enquanto comíamos. Na hora de dividir os quartos acabei no mesmo cômodo que Scoth, enquanto isso Sophia ficou com Jane.Nada mais justo, mas o silêncio naquele
(Sophia)Eu não poderia ter começado o dia pior do que já estava.Depois de todo o choro do dia anterior acordei com uma insuportável dor de cabeça, mas não poderia fugir da escola. Diferente do trabalho que havia conseguido alguns dias de folga.Passando pelo portão principal avistei Charlie conversando com Gabrielle e meu sangue ferveu de raiva no mesmo instante, mas decidi respirar fundo e seguir caminho pelo corredor.Notei o garoto com certa esperança no olhar quando passei por eles, escolhi não fazer nada e continuar caminhando como se ambos não existissem, mas acabei parando no meio do caminho notando meus amigos virem em minha direção.Cada um mais apreensivo que o outro e Scoth com expressões sérias, o que era raro.—O diretor liberou a gente, vamos embora. – o garoto falou colocando as mãos nos meus ombros enquanto me levava para fora.A voz tão séria quanto suas feições.—Mas por quê? O que aconteceu? – perguntei confusa com a situação.Ao nosso lado, ainda perto dos armári
(Sophia)Qualquer um que a olhasse naquele momento se perguntaria; como uma mulher como ela não ajudou os filhos quando eles mais precisaram? Por muito tempo ouvi as pessoas cochichando e se perguntando como ela pode nos abandonar daquela forma.Pois bem, essa é Cordelia Mason, agora muito mais cuidada que antes, os cabelos escuros estavam loiros e muito bem-vestida.—Que isso minha linda, pode me chamar de mãe. – a mulher tentou se aproximar, mas recuei no mesmo instante.—Sei disso, mas por que será que não chamo? – sorri de forma debochada a olhando —Será que é por que você passou anos maltratando seus filhos e depois decidiu os trocar para viver com um homem rico?—Não foi bem assim. – ri baixo de sua fala e desviei o olhar dela por alguns segundos.—Não? Engraçado dizer isso porque ainda sei como é o peso da sua mão e tenho algumas marcas dos cintos que usou. – cruzei os braços a encarando e a vi engolir em seco —Mas não foi pra isso que vim, quero saber o que quer com a gente. P
(Sophia)Depois de passar o resto da tarde e parte da noite na companhia de Charlie o garoto teve de ir embora, a sensação de solidão durou apenas até ele me ligar. Passamos horas ao telefone, tantas que ele adormeceu e não tive coragem de desligar, fiquei ali ouvindo sua respiração e sorrindo como uma boba.Na manhã seguinte minha rotina foi a mesma; me arrumar e ir a escola.E lá estava, sentada no banco em frente ao prédio fumando meu cigarro, distraída com algumas composições. Ouvi passos se aproximando, mas não me atrevi a olhar, poderia ser qualquer pessoa da banda, Charlie ou até mesmo alguém que eu não queria ver. E caso fosse ele não teria mais como fugir.—Bom dia. – finalmente me virei para ver quem era e me deparei com um homem de cabelos escuros em roupas sociais —Você é Sophia Mason, certo?—Quem quer saber? – o olhei com desconfiança e esperando que não estivesse encrencada.—Me chamo Michael, sou produtor e empresário no ramo musical. – o homem apenas sorriu enquanto e
(Sophia)Assim que as aulas acabaram cada um seguiu caminho para sua casa enquanto Scoth e eu fomos direto para o trabalho.Passamos todo o expediente atendendo entre uma música e outra que cantávamos, o que agradava muito ao chefe por chamar atenção dos clientes e animar todo o local.—Vou conferir o estoque e você arruma as coisas por aqui, depois a gente vai embora. – o maior falou pegando a prancheta sobre o balcão.—Tudo bem. – e ele saiu, no mesmo instante comecei a arrumar a loja e o som do sininho da porta chamou minha atenção, mas ao me virar encontrei quem não queria —Só pode ser brincadeira.—Oi princesa. – sua voz ainda me causava arrepios, só que não mais como antes.—Já faz alguns anos que perdeu o direito de me chamar assim, não acha? – falei com seriedade o olhando da mesma forma, mas foi algo que ele não se importou.Na verdade, ele nunca se importou com nada.—Você é minha filha, Sophia, e a chamo da maneira que quiser. – soltei uma risada de suas palavras e as feiçõ
(Charlie)Dormir bem à noite foi quase impossível com o que havia acontecido, mas o que tornou tudo pior foi Sophia ter me visto com Gabrielle.De manhã senti tanta raiva quanto na noite anterior ao ver a garota de madeixas roxas ao lado do ex-namorado, meu sangue ferveu ao ver Sophia e Andrew aos risos enquanto fumavam. Muita coisa começou a rodar minha cabeça, mas preferi não fazer nada e segui para a sala mesmo sem ela. Pouco depois a garota entrou se sentando ao meu lado.—Arrumou um amigo novo? – perguntei ganhando a atenção de Sophia.—Desde quando você se preocupa com as amizades que eu faço? – seu cenho franziu e as feições ganharam seriedade.—A questão não é essa, só é estranho você o tratar tão mal em um dia e no outro agir como se fosse seu melhor amigo.—Conhece o significado de desculpa? – a olhei confuso e a garota deu de ombros —Andrew se mostrou arrependido e eu só o desculpei. Não me sinto mal com isso.—Claro, e já começa agir como se nada tivesse acontecido? – ante
(Sophia)Meus braços ardiam enquanto o sangue descia junto com a água do banho, minha cabeça doía de tanto ter chorado.Depois do ocorrido com Charlie fui ao velho parque para tentar organizar meus pensamentos, mas minha solidão não durou muito e Andrew apareceu com meus amigos em seu encalço. Todos se juntaram para discutir e gritar, tanto comigo quanto com o garoto, e não aguentando aquela situação apenas me levantei pegando a mochila. Scoth gritava meu nome enquanto eu caminhava para casa.Não tinha pressa e qualquer um poderia até dizer que estava me arrastando.Passei o resto do dia trancada no quarto com o mínimo de iluminação e as músicas sempre baixas, tudo apenas contribuía para que meu estado piorasse.E piorou.Quando dei por mim estava em meio a um surto de choro que me levou a mais um dia de feridas abertas, de todos os tipos.Pela manhã ainda me sentia péssima, mas levantei arrumando tudo e fiz meus curativos antes de seguir para a escola. Ao chegar avistei Andrew logo n